Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

30 de abril de 2006

Já Sabe

Domingo é aquele dia.
Dia de conferir o que escreve o único membro da Academia Brasileira de Palavras (localizada no subsolo, da outra, menos importante), no já manjado “Um Macaco Fonia”.

29 de abril de 2006

"Disease-Mongering": Que ... é Essa?


Jornais médicos (principalmente os independentes) têm alertado sobre uma crescente prática da indústria farmacêutica: a “criação” ou o exagero de doenças (ou mesmo de sintomas que não são exatamente doenças) veiculadas na mídia (médica e leiga), para que possam ter seus lucros aumentados com a venda de remédios para estas condições.
É o que tem sido chamado de “disease-mongering” (“promoção da doença”) pela imprensa, um termo já relativamente difundido.
Exemplos claros (embora nem de longe os únicos) são: a “criação” do transtorno disfórico menstrual (a famosa “TPM”), que ultimamente ganhou o status de algo que deve ser medicado, a valorização excessiva da “síndrome das pernas irriquietas”, a transformação dos altos índices do colesterol sangüíneo ou da própria obesidade em “doença”, o exagero no diagnóstico de doenças como a depressão, a ansiedade, o transtorno bipolar, o TDAH, etc.
E tome remédio!
Veja que complicado é isso. Quando escrevemos sobre assuntos médicos em meios como este, não temos, é claro, interesses da indústria farmacêutica por trás. Mas... e os divulgadores mais importantes, são livres para serem críticos?

28 de abril de 2006

Mundo WebCão


Não sei quantos puderam assistir ao programa da apresentadora Oprah Winfrey na TV por satélite (GNT) sobre o aliciamento de jovens pela Internet. A história inacreditável de Justin, um menino de 13 anos gradualmente seduzido para cometer as maiores barbaridades sexuais.
Alguns pontos discutidos foram tão importantes para quaisquer pais (problemas como os de Justin tipicamente acontecem quando pais acham que estão livres do risco, como foi mostrado), que eu faço questão de repassar aqui:
Quando pais compram WebCams (câmeras acopladas ao computador) para seus filhos costumam imaginar: Que bacana, meu filho vai poder conversar com pessoas (supostamente crianças e adolescentes) do mundo todo! Dentro da rede há uma quantidade enorme de adultos especializados em seduzir crianças (no início sempre de forma “inocente”, amistosa apenas, com elogios e solicitações banais) para serem usadas das formas mais escabrosas imagináveis.
Entre os investigados pelo FBI americano estão indivíduos “acima de qualquer suspeita” como advogados, policiais e, acreditem, vários pediatras (pessoas que têm como mister lidar com crianças diariamente!) que se especializam (inclusive com troca de experiências via Web) na arte da sedução.
O repórter investigativo do New York Times revelou que o sonho de todo pedófilo é ter acesso direto a menores de idade através de WebCams instaladas em seu quartos.
Portanto, ele recomenda, não há motivo plausível para manter um acessório deste tipo em computadores que são usados por menores, especialmente se há momentos em que usam o computador de forma solitária.

27 de abril de 2006

Claro como a Urina


Se você quiser desperdiçar, sei lá, vinte reais no laboratório, tudo bem.
Mas, se conseguir visualizar com clareza algo escrito numa folha de papel colocada por trás de um frasco transparente onde a urina foi recentemente coletada, pode jogar fora esta urina e ir fazer outra coisa.
Porque, embora a turbidez (aspecto “sujo”) da urina possa ser provocada por vários fatores como a alimentação, por exemplo, a sua ausência (urina clara) praticamente afasta a possibilidade de infecção urinária.
E, descartada a ida ao laboratório, estou aceitando doações.

26 de abril de 2006

Mandamentos


Em relação ao cocô do bebê, não está escrito em nenhuma tábua:

1) Não evacuarás mais de 2 a 3 vezes ao dia
2) Não evacuarás esverdeado
3) Não evacuarás aguado
4) Não deixarás de evacuar todos os dias. Ou então:
5) Não deixarás de evacuar a cada 2 (ou 3, ou 4, ou até 7 ou 8) dias
6) Não emitirás gases malcheirosos
7) Não se espremerás antes, durante ou após evacuares
8) Não gemerás
9) Não ficarás todo(a) vermelhinho(a) ao fazeres estas coisas
10) Não assarás a “portinha da saída”

Tudo isto (não ao mesmo tempo, claro) pode acontecer, que não é pecado!
Exceto, talvez, a coisa do...
Não!

25 de abril de 2006

É Chio ou Ronco?


Com freqüência, os pais dizem:
-Tá com “chio no peito”.
Mas, sem querer ser chato, é “chio” ou “ronco”?
-Têm importância?
Tem.
Porque se é “ronco” (barulho mais grosseiro, de “catarro no peito”), mais comum, normalmente o significado é apenas esse: catarro mesmo (por dentro do nariz – muitas vezes percebido no peito pela entrada de ar em rebuliço – ou nos brônquios).
Já quando é “chio”(barulho mais parecido com um “assovio”ou um “miado”, mais fino, quase sempre com falta de ar mais evidente), há estreitamento dos brônquios por “inchaço” (mas também por secreção), na maioria das vezes devido à asma ou bronquite.

24 de abril de 2006

É Fogo


São cerca de vinte anos quase apanhando dos pais de crianças com febre quando digo: dêem banhos, façam compressas, ou deixe com um pouquinho de febre, que faz até bem (menos em crianças com história de convulsão febril).
-Queremos remédio!
Então quais são as opções?
Paracetamol (acetaminofem):
-Ah, mas não baixa a febre direito ! O efeito dura pouco!
Certo, mas é a opção mais segura (ainda assim, é remédio – tem efeitos colaterais!).
Então (e somente então): dipirona.
-Ah, é bom, funciona bem. Mas diz que tem risco, né?
Tem, como todo remédio (Conhece algum que não tem? Ah, tem o... Claro que tem risco!).
Ou o “novo” (no mercado brasileiro): ibuprofeno.
-Também funciona bem. Não tem tanto risco, né?
Como que não?
Então a decisão de qual medicação usar (como sempre) não é assim tão fácil quanto possa parecer.
Informe-se (mas veja bem onde, essa é a grande dificuldade!) e, acima de tudo, converse com o médico de sua confiança.

23 de abril de 2006

Lembrando...

...que domingo é dia!
De quê?
Claro! De conferir mais um inédito capítulo do livro eletrônico "Um Macaco Fonia", do mesmo autor maldito de "A Nau Ardente" e "Perseguida na Areia", dois livros censurados no período mais afro-americano (negro, vai) da ditadura lulista.

22 de abril de 2006

Assassinos


Dentre todos os pecados, o da gula é o que menos dura na consciência: em no máximo cinco ou seis horas, nosso estômago ronca novamente, e estamos prontos pra cair em nova tentação.
Sobra o rastro dos quilos, das dobras a mais.
E aí reside a injustiça: os chamados “de metabolismo lento”, os que carregam na cintura a soma dos pecados cometidos, pagam a penitência pela vida toda, a cada minuto são lembrados dos seus excessos, eles mesmos transformados num.
Os magros, não. São, muitos deles, como assassinos em série. “Matam” a sangue frio generosas porções do que quer que lhes atravesse o caminho, sem se preocuparem com sentimentos de culpa, ocultação de evidências ou reprovação da sociedade. E ainda por cima, zombam constantemente dos que são pegos em flagrante.
Um estudo já “antiguinho” (de 1999) na afamada Science mostra que a grande diferença entre os que são chamados de “metabolismo lento” e os outros não está, na verdade, no metabolismo propriamente, e sim no gasto energético não percebido como: a manutenção postural, os gestos do dia-a-dia e outras atividades como lavar roupa, varrer a casa, etc.
O significado disto (mais como uma curiosidade do que como algo que possa ter grandes implicações práticas) não é que magros fazem mais atividades necessariamente, mas as fazem com maior gasto energético.
Um dos indivíduos estudados (uma mulher) chegou a apresentar, quando sua dieta era acrescida de 1000 calorias/dia, gasto calórico involuntário (sem qualquer exercício físico além das atividades normais diárias) de 692 calorias/dia a mais. Sobraram apenas pouco mais de 300 calorias para “estoque”. É uma “máquina” de queima calórica beirando a perfeição.
Ô “vara-pau” abençoada! - diriam muitos.

21 de abril de 2006

Pé na Tábua!


*É horrível traduzir piada, mas acho que esta vale a pena:
-Me ignore, é somente minha alergia a amendoim (“nut allergy”, que no inglês também poderia significar “alergia a loucos”)

As reações anafiláticas (reações alérgicas graves, às vezes com risco de morte) não são, felizmente, eventos vistos a toda hora, mas podem aparecer com o uso de medicações comuns (como penicilinas, amoxicilinas, cefalosporinas e várias outras), transfusões de sangue, picadas de inseto, ingestão de alimentos e até mesmo com exercícios físicos.
Mais do que ficarmos apavorados com esta possibilidade, devemos aprender a reconhecer o seu aparecimento.
Normalmente num período curto (geralmente menos do que 15 minutos) após ter sido deflagrada, iniciam-se os sintomas:
• mal-estar (“sensação estranha”)
• agitação
• “vermelhidão”
• palpitação
• coceiras pelo corpo
• sensação de formigamento
• latejamento das orelhas
• tosse
• chio no peito
• inchaço em alguma área do corpo
• dificuldade para respirar
No caso de algo ingerido, podem aparecer:
• náuseas
• vômitos
• diarréia
Claro que nem sempre todos estes sintomas aparecem.
O que é preciso saber é que, assim como muitos casos melhoram rapidamente, muitos pioram rapidamente (questão de poucos minutos). Por isso, a assistência médica deve ser providenciada prontamente (principalmente em casos de alergia séria anterior).

20 de abril de 2006

Saiu Calado


-Não sei, doutor, a irmã dele também demorou um pouco pra começar a falar. Mas, também, quando “desembestou”... Tinha que pedir pra parar!
Esta “desembestada” costuma acontecer por volta dos 18 meses (1 ano e meio). Porém, para alguns, vai acontecer apenas ao se aproximar dos 30 meses (2 anos e meio). A partir daí, se não ocorreu, já há atraso no desenvolvimento da linguagem.
Situações de risco são: infecções de ouvido de repetição, outros casos de atraso na família, baixo nível socioeconômico, e pais pouco estimuladores.
Avaliação sem perda de tempo deve ser feita por profissional especializado quando:
• há ausência de balbucio (“fala de bebê”) ou apontar ou fazer gestos até 1 ano
• a criança não fala palavra nenhuma com 1 ano e 4 meses
• não fala frases (mesmo que bem curtas) com duas palavras até 2 anos (como “dá qui”, “vem cá”, “vai lá”)
• há regressão (“volta para trás”) evidente na fala ou comportamento social em qualquer idade

19 de abril de 2006

Cobertor Pequeno


Um estudo recente confirmou o que já observamos frequentemente na prática:
Crianças que operam amídalas e adenóides por causa de dificuldade respiratória noturna (roncos intensos, paradas respiratórias prolongadas durante o sono) apresentam, após a cirurgia, ganho de peso (ganho médio de 6 kg neste estudo).
O motivo verificado:
Crianças com hipertrofia de adenóides e amídalas dormem muito mal, agitando-se constantemente. Durante o dia, são crianças agitadas, irrequietas (é uma possível causa para o TDAH). Com tudo isto, gastam muita energia, de forma involuntária.
Ao corrigirem a obstrução ficam “calminhas”, diminuindo assim o gasto calórico diário.
É um preço que se paga, até porque naquelas que já têm sobrepeso, o aumento de peso após a cirurgia pode fazer com que parte da dificuldade respiratória retorne.
Ainda assim, o risco das complicações de saúde e o ônus escolar (ninguém aqui falou de ônibus escolar!) justificam o tratamento cirúrgico.

18 de abril de 2006

E a Polêmica Continua...


Tentando encerrar a polêmica (pelo menos por enquanto, visto que as verdades científicas são transitórias) sobre a saúde óssea infantil, um estudo de março de 2005 abrangeu quase tudo o que se sabe até hoje.
O que se pode concluir é:
Quer que suas crianças e adolescentes tenham ossos sempre fortes?
Façam com que sejam ativos fisicamente (exercícios com carga são os melhores nesse sentido, mas somente após o crescimento estar completo), mantenham uma ingestão mínima de cálcio (sem necessidade de exagero), controlem a ingestão de sal, mantenham uma dieta equilibrada de proteínas (excessos e carências fazem mal ao osso), limitem a ingestão de cafeína (um ponto ainda polêmico), evitem o fumo, cuidem com o uso de anticoncepcionais (adolescentes, é claro).
Outro fator de risco é o peso, visto que indivíduos muito magros tendem a estimular pouco o desenvolvimento ósseo.
-Só isso? perguntarão pais indignados.
Claro que ninguém precisa seguir a risca estes conselhos. Mas quanto mais nos aproximarmos destas metas, melhor. Caso contrário, corremos o risco de termos uma geração de “encarquilhados” em termos ósseos no futuro (com todas as suas conseqüências para a qualidade de vida na terceira idade).
E a minha vovozinha osteoporótica que, na sua santa ignorância, achava que bastava tomar bastante leite!

17 de abril de 2006

Não Sou Judas, Mas Vivo Malhado


Para quem gosta de comer (quase todo mundo), talvez não haja nada mais estimulante para o apetite do que as alterações do humor (talvez nem mesmo um belo prato de lasanha).
Exercícios físicos são moedas de duplo lado: ao mesmo tempo em que servem para relaxar, liberar endorfinas (substâncias responsáveis por anestesiar dores e nos dar sensação de bem-estar), também podem ser uma “cruz” nas vidas de algumas pessoas.
E se é cruz, é melhor não carregá-la, definitivamente.
Porque sacrifício demais vai representar desrepressão após.
Onde?
Uma fatia de pizza para quem pensou: na comida.
Além disso, a propalada “melhora da auto-estima” propiciada pelos exercícios é muito relativa.
Quer maior fonte de angústia para quem não se sente bem dentro de roupinhas de ginástica do que se olhar no espelho e se achar “um bofe”?
Assim, atividade física deve ser sempre prazerosa para quem a pratica com finalidades de saúde. E mais: trabalhar a cabeça (principalmente na questão da auto-aceitação) pode ser muito mais importante e efetivo do que “trabalhar o corpinho”.

16 de abril de 2006

Lembrete

E não esqueça:

Domingo é dia de conferir mais um capítulo do livro do vencedor do Prêmio Putzer de Literatura, "Um Macaco Fonia".
Corra, é de graça! (se bem que eu não vejo graça nenhuma em nada daquilo...)

15 de abril de 2006

Memórias de Um Médico Interiorano


Sou um fracasso comercial assumido. Talvez pela descendência polonesa, tenho até certo orgulho disso. Polacos olham os bem-sucedidos um pouco de lado, mostrando desprezo. Médico rico, então, é sacrílego.
Adoro distribuir “isso num dá nada”s e “pode ficar tranqüilo”s. Chego a mandar paciente embora da sala de espera, pra desespero da secretária.
-Vai consultar por causa disso? pergunto, boicotando o pão das minhas próprias criancinhas.
Nos dias atuais, no entanto, têm ficado difícil. Pais, mães, avós, tias querem sair dos consultórios com “alguma coisa”.
Os “alguma coisa”s que fazem mais sucesso são os de nome longo, aqueles que só podem ser ditos por siglas: TDAH, TOC, SCI, por exemplo. Ou aqueles que são diagnosticados com certeza por algum exame laboratorial, que a família do paciente possa expor em vidro sobre vidro na ante-sala, acima do vaso chinês.
Foi-se embora o tempo romântico, tempo em que não havia convênios. Levávamos o porco ou o peru para casa, déssemos ou não déssemos diagnósticos mirabolantes. E se pedíssemos exames inúteis, de nome empolado, o tamanho do bicho era o mesmo (não dava direito a nem mais uma azeitona na farofa)!

14 de abril de 2006

Tremedeira


Convulsões febris (convulsões “provocadas” pela presença de febre, sem infecção na própria “fonte” da convulsão, ou seja, no sistema nervoso) são sempre assustadoras, pois mesmo benignas na maioria dos casos, são convulsões mesmo assim!
Ainda mais porque pegam de surpresa pais que até então não estavam se preocupando com “este tipo de coisa”.
Todas as crianças com febre podem ter convulsão por causa da própria febre?
Não. Por isto, existe uma frase usada para se entender o problema: “tem convulsão febril quem pode, e não quem quer”, significando que apenas crianças com uma sensibilidade maior dos neurônios (as células cerebrais) disparam a convulsão na presença de febre.
Estas crianças pertencem a uma minoria (cerca de 4% da população infantil, e apenas entre os 3 meses e os 5 anos de idade).

13 de abril de 2006

Onde Há Fumaça


Não precisávamos de mais motivos para desencorajar o “vício maldito”, mas sempre aparecem mais.
Um estudo grande, importante, evidenciou uma associação relativamente nova: entre o fumo e a presença da intolerância à glicose (o exame que define a presença da diabete tipo 2).
Em quinze longos anos de observação, a presença de exames alterados foi cerca de 22% maior em fumantes, mesmo quando excluídas outras causas (componentes do cigarro induzem a alterações genéticas que alteram o funcionamento da insulina).
Agora, o pior: fumantes passivos apresentaram índices de alterações muito próximas aos dos fumantes ativos. Ou seja, crianças que crescem respirando fumaças dos cigarros dos seus pais acrescentam agora uma nova e enorme preocupação: a de que venham a se tornar diabéticos também por esta razão.

12 de abril de 2006

Guerrinha


O que é uma “íngua”?
Além de artérias e veias, outros vasos (chamados de vasos linfáticos) se distribuem pelos tecidos do corpo, todos eles com fluxo direcionado ao coração*.
Dentre outras funções, eles levam germes de regiões infectadas (mesmo que dificilmente percebidas, como as pequenas feridas da pele) até a “próxima estação de defesa”, os linfonodos.
Estes linfonodos contêm células responsáveis pela eliminação dos germes. Quando a “guerra” entre germes (vírus, fungos ou bactérias) e as células de defesa torna-se mais “séria”, estes linfonodos crescem: são as linfadenites (termo médico) ou as “ínguas” (termo popular, mais utilizado para as linfadenites da região inguinal – a virilha).
Se as células de defesa ganham a “guerra”, há a melhora espontânea da “íngua”. Em alguns casos, no entanto, há a necessidade de tratamento com remédios ou drenagem cirúrgica.
*Por este motivo, as linfadenites são mais próximas do coração do que as infecções que as causaram (por exemplo, feridas nos pés provocam “ínguas” na região da virilha, feridas na cabeça provocam “ínguas” no pescoço).

11 de abril de 2006

Humaquinanização


Uma pesquisa interessante foi publicada na revista Pediatrics de janeiro deste ano, mostrando como a tecnologia vai devagarinho (ou depressinha, no mais das vezes) penetrando no nosso cotidiano:
Pais de pacientes com crise de asma que buscavam o setor de emergência de um grande hospital preenchiam um questionário sobre a condição dos filhos (como estavam evoluindo os sintomas ultimamente, uso de medicações recentes, sintomas percebidos por eles, etc.) numa máquina igualzinha às máquinas de operações bancárias. Estas, então, sugeriam o procedimento a ser adotado pelos médicos atendentes (no extrato fornecido).
Adivinha o que aconteceu?
A maioria dos médicos “não deu muita bola” para as recomendações da máquina e a insatisfação com a orientação médica (ou a falta dela) aumentou!
Minhas interpretações a respeito:
• Os médicos acharam que “quem manda aqui sou eu, não essa #*&$ de máquina!” (se eu fosse fazer uma pesquisa, tenho certeza que essa alternativa seria a mais votada)
• Médicos, assim como qualquer pessoa, ainda olham com desconfiança para inovações tecnológicas (até porque o “input” informativo é sempre humano - e o ser humano erra frequentemente)
• A informação que os pais receberam “da máquina” os colocaram em posição de discutir tratamentos, o que provavelmente ampliou conflitos entre pais e médicos
E, último, mas não menos importante:
• O departamento de emergência nunca vai ser o local ideal para se discutir o tratamento não-emergencial de doenças
Uma angústia (minha também):
Um departamento de emergência já não tem tanta máquina? Precisa pôr mais uma, ainda por cima criadora de conflitos? Não vai contra a corrente da humanização dos serviços médicos?
Cada um que pense.

10 de abril de 2006

Algo a Mais


Pais que têm filhos de baixa estatura e mais ou menos sabem que a condição é familiar (pelo menos um dos pais, avós, ou outro parente próximo também com baixa estatura) deveriam entender que a mera busca de um tratamento implica em sofrimento.
A estatura, como muitos outros atributos, é comparativa: para que alguém possa ser considerado baixo é preciso que outros sejam considerados altos, é óbvio.
Daí se deve compreender que baixa estatura, em muitos casos (muito mais do que parte da mídia – médica, inclusive – quer dar a entender), não é doença, portanto não é algo tratável.
Investigável sim (para afastar doenças genéticas, endócrinas, nutricionais até), mas tratável, na maioria dos casos, não.
Novas pesquisas têm aparecido no sentido de se tentar elevar a estatura de crianças saudáveis com baixa estatura familiar, todas elas com resultados decepcionantes (se não em termos de estatura final obtida, pelo menos em termos de potenciais efeitos colaterais de longo prazo, além do que não há espaço para remédios baratos nesta área).
Por este motivo, pais inteligentes inculcam valores mais importantes do que alguns centímetros a mais nos seus filhos. A frase é atribuída a Napoleão (não estou certo, não estava lá), um “baixinho” como muitos outros vitoriosos (claro que até certo ponto):
“A grandeza de um homem se mede da sobrancelha para cima” (isto falado em francês deve soar melhor ainda).

9 de abril de 2006

Renovação de Convite

Renovamos o convite à VSra. para a visitação do livro "Um Macaco Fonia" (link abaixo da seção "Arquivo", nesta página), com atualizações semanais, aos domingos, em hora indeterminada, exceto em caso de chuva ou crise criativa, situações vexatórias para as quais um novo telhado já está sendo providenciado.

Atenciosamente:

Adir, Etor e toda a diretoria.

8 de abril de 2006

Cena do Crime


...Agora, fraca demais inclusive para se sentir assustada, debatendo-se (embora sabendo ser inútil) com o que lhe resta da sua antiga força – imaginava-se forte, além de esperta, qualidades que só agora, no fim da vida, passou a questionar – dentro dessa pegajosa massa gelatinosa do interior do macrófago, pensa no quanto foi ingênua.
Ingênua por não ter percebido, na sua altivez, aquela falsa atitude distraída do seu “pretendente”. Tão falsa que – agora se lembra, na memória reavivada pela agonia – chegou a pensar em se esquivar, ou mesmo atravessar a rua.
Mas, não. Já havia enfrentado situações perigosas antes. Como naquela noite em que dois linfócitos T-helper , aparentemente bêbados, voltando de algum baile, a haviam assediado.
Saiu-se bem, na ocasião. Era uma bactéria nova, seguia uma dieta rica em pequenas e esparsas doses de antibióticos. Sentia-se dona do mundo, enfim...


Talvez seja exagero. É provável que a ação seja mais parecida com a de um videogame.
Não importa. Nosso sistema imunológico é fascinante, seja qual for o ritmo da história.
Macrófagos (dissimulados ou não), linfócitos (sóbrios, na maioria das vezes), plasmócitos, basófilos, etc. numa luta constante para nos livrar da protagonista acima e de outros “bichos”.
Com um exército assim tão dedicado e minuciosamente planejado, não deveríamos precisar mesmo recorrer à ajuda externa tão frequentemente (quanto provavelmente estejamos fazendo).
Não podemos ignorar o fato de que vivemos muito mais e melhor após a invenção do antibiótico. E é justamente por este motivo que devemos utilizá-lo de forma racional.



Curiosos, eritrócitos agrupam-se (como é seu hábito) no local da confusão.
-Vamos, vamos, gente, não há nada para se ver por aqui. Mexam-se ! – gritam os fibroblastos, cobrindo com uma camada de fibrina a rígida carcaça.

7 de abril de 2006

Entupido


Quando eu era criança (no tempo em que geladeira dava choque), a conduta médica em relação às amídalas era:
Hay amígdalas, tenemos que sacarla”.
As amídalas eram vistas quase que somente como um atrapalho. O que se considerava na época era que as amídalas iam provavelmente infeccionar seguidamente, com sofrimentos e riscos para a criança. Dessa forma, era necessário retira-las.
Hoje em dia, não. Sabe-se da importância em relação à função (é a porta de entrada imunológica das vias aéreas superiores). Há também uma disponibilidade maior de antibióticos, mesmo para infecções complicadas, que são raras.
Uma indicação de adenoamidalectomia (que nome, hein?) que tem aumentado, no entanto, é ainda o “atrapalho”. De outra natureza, porém: crianças que têm problemas sérios para respirar pelo tamanho de amídalas ou adenóides (estas últimas são como uma continuação do tecido amigdaliano, mais para cima, na parte posterior da cavidade nasal), dificuldades para se alimentar, ou dificuldades importantes no sono (roncos constantes, acordar freqüentes por falta de ar, sonolência excessiva durante o dia).

6 de abril de 2006

Mercado


Agora é moda: todas as profissões da área da saúde estão reivindicando a possessão do bloquinho de receitas, dentre elas a psicologia e enfermagem.
Comparou um colega americano em seu blog: é como se de repente, nos aviões, as comissárias de bordo dissessem que, por serem mais simpáticas e estarem em contato mais freqüente com os passageiros, assumiriam o comando das aeronaves.
A questão não deveria envolver reserva de mercado, mas é só do que se trata. Ou alguém tem dúvida de que as poderosas companhias farmacêuticas lucrarão com o direito da prescrição outorgado a mãos possivelmente menos dadas à minúcia ou ao escrúpulo? Mãos estas também cada vez mais ostentadas por um “Dr.”, pelo número cada vez maior de faculdades pouco recomendadas.
Durante todo o período da faculdade de medicina (tenho que dizer, não por gabolice: faculdade séria, chancelada) mostramos, ou deveríamos mostrar, desprezo pelo bloquinho. Muitos dos nossos professores não nos ensinavam o que prescrever para as condições que eram ensinadas, pela sábia decisão de considerar a prescrição um ato menor, que vinha apenas após tudo o mais estar sedimentado. Anos de estudo das disciplinas básicas levavam naturalmente ao pretenso domínio da arte de prescrever.
Alguém aí viu meu pára-quedas?

5 de abril de 2006

Não Me Vem com Conversa


Temos ouvido frequentemente:
-Crianças não são mais crianças.
Ou não estão podendo ser mais crianças, no sentido que dávamos antigamente à infância (andar livremente nas ruas, soltar pipa, jogar bola em qualquer campinho, etc.).
Talvez por isto (há a convicção quase generalizada, mas há poucas evidências científicas, até porque são difíceis de conseguir) os índices de depressão na infância têm sido alarmantes (as estatísticas situam-se entre 1% a quase 10% da população pediátrica).
De novo, o problema é a comprovação (pois amiúde é atípica, devido a dificuldades de manifestações emocionais por parte da criança) e, se não há comprovação – com exames, por exemplo – há dificuldade da aceitação do diagnóstico e, pior ainda, da necessidade de tratamento.
Um dos sintomas mais chamativos em crianças é a irritabilidade freqüente ou constante.
Outra coisa que chama a atenção é o excesso de queixas somáticas (os populares “Maria-das-dores” ou “João-das-dores” em crianças de aparência saudável*), principalmente se associado com sentimentos de desânimo, perda de apetite, irritabilidade, etc.
*Só lembrando que as “dores da alma” são muitas vezes mais sérias e importantes que as dores do corpo!

4 de abril de 2006

Da Prancheta


Todo ano, os vírus causadores das gripes (chamados de influenza) saem de fábrica com novos designs.
São as moléculas de superfície dos vírus que sofrem mutações, “enganando” o sistema imunológico.
Não fosse assim, nossos anticorpos reconheceriam prontamente os vírus e os eliminaria, como acontece com vírus mais “vagabundos” do que os da gripe clássica e vários tipos de bactérias.
Por este motivo é que vacinas da gripe têm que ser feitas todos os anos e vacinas para doenças bacterianas (difteria, pneumococo, coqueluche, etc.) se faz pra vida toda.

3 de abril de 2006

Linha de Montagem


Os bebês, alguns meses antes de nascer, passam por alguns “testes de fábrica”.
Um dos mais interessantes é o teste dos circuitos cerebrais, em que o bebê contrai-se todo já no útero materno e ainda após alguns meses de nascido.
É o que as mães costumam chamar de “se espremer”.
O cérebro comanda: “testar mexida de perna esquerda”, “testar fechamento das mãos”, “testar contração do corpo todo simultaneamente” (com o passar de alguns meses de vida extra-uterina, a necessidade destes testes vai diminuindo, e a criança vai parando de “se espremer”).
E é claro que em algumas destas contrações há a liberação de gases, que são abundantes no intestino do recém-nascido, só esperando uma “forcinha” para serem liberados.
De novo:
Alguém aqui pensou em “cólica”?

2 de abril de 2006

Convite:

Estréia hoje o “livro” de contos e crônicas “Um macaco Fonia”.
Será um capítulo por semana (confira o link).
Por isto, não insista. Já pediram de joelhos, já me ameaçaram de morte.
Já chegaram inclusive a me mandar um CD com sucessos do Calypso.
Não vou mudar, é só um capítulo por semana, não adianta.

Em 1995, passei por baixo da porta da casa do Tom Jobim a seguinte partitura para que ele fizesse algumas modificações (ainda não obtive resposta, continuo aguardando):

Advertência:
Não leve isto ao piano. Dizem que as cordas simplesmente recusam a se mexer ou, quando se mexem, emitem terríveis acordes de desacordo.
O sax aceita: toca um prolongado pum melodioso.

1 de abril de 2006

Neura


Um questionamento que os eventuais leitores deste blog (ou de qualquer outro informativo sobre saúde) devem de vez em quando estar se fazendo é o seguinte:
-Espere! Mas se fala tantas coisas sobre a saúde da criança, tanta doença e coisa e tal, então é provável que o meu filho tenha mesmo alguma coisa!
Desde que nascemos, já ao primeiro exame, depois com o teste do pezinho e por aí afora, estamos sempre tentando nos excluir dos que têm alguma coisa mesmo.
E, analisando estas freqüentes estatísticas (5% da população tem isto, 34% devem ter aquilo), é bem provável que realmente caiamos em algum grupo de alguma coisa.
Aí nossa torcida passa a ser outra: a de que esta coisa seja dos grupos das coisas mais benignas e, caso não seja, seja um caso mais benigno, de evolução mais branda, das coisas menos benignas.
Quanta coisa, hein? (não conte pra ninguém, o Big Blogger me ofereceu um prêmio pelo número de coisas que eu digitasse)
Informação em saúde (como em tudo o mais) é assim mesmo, velho (não sei a sua idade, ou mesmo se é do sexo masculino, só achei que a frase pedia um velho no final): nos informamos, nos preocupamos – muitas vezes à toa – e torcemos para apenas manter a informação guardada, para que seja somente mais uma informação, e também pra que não vire “neura”.
Amém.