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30 de junho de 2006

Que Dureza!


Possivelmente cerca de 2/3 dos casos de constipação (“intestino preso”) em crianças pequenas devem-se à intolerância ao leite de vaca.
É o que mostra um estudo* clássico do jornal médico mais famoso, o New England Journal of Medicine, de 1998.
A causa mais provável para o fato é a seguinte:
A intolerância provoca o aumento de células inflamatórias (principalmente os eosinófilos, células típicas das reações alérgicas) na parte final do intestino (canal anal). Esta “inflamação” provoca fissuras e inchaço doloroso nesta região, o que faz com que a criança tente evitar as evacuações, “se segurando até aonde dá”.
Sempre que as fezes demoram a ser eliminadas, o intestino aciona mecanismos de recuperação da água presente nestas fezes, tornando-as mais secas, piorando o intestino preso.
O teste mais fácil de ser realizado (difícil é convencer pais, avós e a “Tia Zilda” da necessidade) é a eliminação do leite de vaca – e derivados, como os iogurtes – da dieta por cerca de 2 semanas. Uma opção neste período é a substituição por “leites de soja” (embora cerca de 1/3 destes pacientes possam ter também intolerância à proteína da soja).

*(acesso ao texto integral – em inglês – com a senha: ConserveToday e o login: powwow)

27 de junho de 2006

Por Que O Jota Quest Faz Sucesso


“E se quiser saber pra onde eu vou
Pra onde for o sol
É pra lá que eu vou”

Três frases repetidas à exaustão. Sendo que duas delas são a mesma coisa dita de outra forma (...pra onde eu vou, é pra lá que eu vou). A receita simples da superficialidade, de algo que “pega” sem precisar de esforço. Acrescente-se alguns acordes, tenha o apoio da mídia massificada (“gostar de Jota Quest é que é o certo), e pronto! Sucesso garantido.
Nada mais a propósito para uma sociedade que cresce e se desenvolve na superficialidade. Não há tempo para nada. Estamos com pressa. Pressa para quê? Não sabemos, mas há que se ter pressa.
Uma característica que diferencia – para o mal ou para o bem - homens de outros animais é nossa vocação para o aprofundamento. Sempre necessitaremos de “algo mais”.
E quanto mais superficiais forem nossos nourriture de l’ame (“alimentos d’alma”, meu francês é um embuste, já vou avisando), de mais alimentos superficiais precisaremos. É a grande sacada da indústria fonográfica. E como de resto, das demais indústrias. Não é à toa que estudiosos da psicologia humana são hoje peças essenciais do marketing industrial.
-E isso tem algo a ver com a saúde, mané?
Pode ser difícil notar a relação. Porém, muitos de nós temos vivido na água rasa das relações humanas. Vivemos num mundo hedonista, do direito ao prazer, à satisfação imediatista, das relações rápidas, superficiais. Não é, claro, nossa culpa. Apenas que de vez em quando (mais do que nos damos conta, tenho a certeza) algo de fétido brota das profundezas – na forma de doenças, principalmente das chamadas psicossomáticas - sem sabermos direito o porquê.

23 de junho de 2006

A Gente Quer Só Comida


Nosso organismo foi “construído” para “detectar” alimentos que entram e serão transformados em nutrientes.
Quanto mais longe da definição de alimento estivermos (pegue-se, por exemplo, um “isopor” colorido e fedido, chamado popularmente de Chips), mais alterada será essa “detecção” do alimento pelo organismo, bagunçando as sensações de fome e saciedade posteriores.
Faça a experiência: o que dá maior saciedade (sensação mais intensa e prolongada de que a fome passou)? Um pacote de Chips ou um bom pão com queijo e presunto?
Além disso, qual é, desses dois alimentos, o mais nutritivo? Precisa responder?
-Ah, mas o pacote de Chips tem 145,4 calorias, e o pão com queijo e presunto tem...
Esqueça essa coisa de calorias e se nutra! A longo prazo, seu peso (mas principalmente sua composição corporal – o que você tem de músculos em relação ao que você tem de gordura, que no final das contas é muito mais importante) vai estar mais saudável.
Nas composições nutricionais das bugigangas do supermercado não constam (mas deveriam constar) a advertência mais importante:
O Ministério da Saúde adverte: isto não é “exatamente” um alimento!

*(este cartunzinho simplório é emblemático do paradigma da vida moderna: um cidadão “alimentando-se” com “junkie food” – algo como “porcaria de comida” - com a estante da casa abarrotada de “porcaria de romances”, com uma TV que mostra “porcarias de programas”, aparelho de som onde só se ouve “porcaria de música”, na parede, uma “porcaria de arte”. E o que está escrito na sua camiseta: “uma porcaria de vida”, enfim...)

20 de junho de 2006

Seu Filhinho Pode Estar Sendo Um Grande Filão

Vou colocar hoje o dedo numa das principais feridas da Pediatria (esta postagem é para plastificar e colar na geladeira, ao lado do endereço do disque-pizza):

Por que, nas mesmas situações (idade, ausência de exposição ao fumo, tempo de amamentação, freqüência escolar no mesmo turno, clima, etc.) duas crianças de famílias diferentes têm índices de infecções (resfriados, gripes, infecções de ouvido, bronquites, etc.) muitas vezes tão diferentes?
Por que algumas mães que “vivem com seus filhos doentes” ouvem de outras mães: “engraçado, com o meu filho dificilmente acontece alguma coisa”?
Esta é uma situação que se presta a um tremendo comércio da saúde nos dias atuais. Proliferam medicações para corrigir ou reforçar sistemas imunológicos: de “imunomoduladores” (caras pílulas de coisa nenhuma, sem qualquer real evidência científica que indique seu uso) a lactobacilos que serviriam para “reforçar a flora intestinal saudável” (até hoje apenas um bom argumento, mas que já vende muito).
A resposta às duas perguntas acima pode ser dada da seguinte maneira:
A freqüência de doenças –infecções, mormente - de uma criança pequena (e, de resto, de qualquer idade) é um termômetro de como “as coisas vão bem em casa”!
Famílias onde há uma situação financeira estável (não estamos falando de riqueza!), relações sociais saudáveis, pais cientes do seu papel, em suma, equilíbrio emocional, são famílias que levam seus filhos aos pediatras “para darem uma geral”, raramente por causa de doença (ou no máximo para infecções banais, que seus filhos “tiram de letra”). E não há remédio alopático, homeopático, simpático ou antipático, que seja mais importante que isto!
Em outra oportunidade explicaremos o motivo científico disto.
*Claro que, como em toda regra, há exceções, como por exemplo, nas crianças com reais imunodeficiências, que não são coisas de toda hora (mas que muitos pais preferem acreditar que seja o caso de seus filhos, pois é muito mais fácil acreditar nisto do que acreditar que a raiz do problema possa estar neles ou na sua condição social ou econômica. É natural, é humano.).

18 de junho de 2006

Não "Em Vão"


Assim como a morte do jogador Serginho do São Caetano serviu para alertar sobre os riscos da prática esportiva levada aos extremos, a morte do comediante Bussunda (de quem eu era um primevo fã, dos tempos de shows em pequenos bares do Rio de Janeiro há vinte anos) nos traz um exemplo médico acabado.
Uma de suas marcas registradas, seu enorme abdome (Jô Soares disse várias vezes que, quando ele próprio emagrecera há anos atrás, o condenaram de ter perdido juntamente a sua “graça”) era, como se sabe, a exibição dos seus fatores de risco cardíacos para quem quisesse ver.
Isto, somado à sua história familiar (tinha, segundo soube, antecedentes familiares de problemas cardíacos precoces) resultava na chamada “bomba relógio cardiológica”. Era uma questão de mais - mas não muito mais - ou menos tempo.
Outro fato digno de nota em relação à sua morte é a constatação de que sua personalidade, aparentemente sempre risonho, “tranqüilo” (um fator protetor conhecido para problemas cardíacos, embora saibamos que muitas dessas características pessoais possam ser apenas uma fachada) não o preveniu do prematuro fim.
...
...
Deitado na Cama:
Leia a entrevista com a famosa dupla sertaneja na ainda mais famosa revista Caras e Bocas (em “Um Macaco Fonia” deste fim de semana, agora com novo "leiautchi", com capítulos mais acessíveis).

16 de junho de 2006

Tem Fósforo Aí?


Antes da popularização do isqueiro (e da despopularização do cigarro) ouvíamos a pergunta o tempo todo na rua. (Lembro-me de ter sido indagado algumas vezes, mesmo sendo criança. Chance pequena para a maioria das crianças. Não para mim, um perigoso piromaníaco).
Mas, e o outro fósforo, aquele presente no nosso organismo, pra que serve?
É um dos sais minerais presentes na dieta, componente dos genes, do cérebro e do tecido nervoso (nestes locais, chamado de fósforo orgânico, combinado à outras moléculas).
O fósforo inorgânico (“puro”) representa a menor parte, a maioria combinada com o cálcio dos ossos. É este fósforo (o inorgânico) que é medido nos exames de laboratório. Nas crianças, costuma estar abaixo do normal nos casos de raquitismo (“ossos fracos”, mais frequentemente por deficiência de vitamina D).
-Mas o raquitismo não é por “falta de cálcio”?
O cálcio e o fósforo são como um casal apaixonado: querem viver juntinhos o tempo todo. Quando a vitamina D é pouca, o cálcio não “entra” no organismo (não é absorvido, “se perde” pelo intestino). E o fósforo vai junto.
Como o organismo se defende e acaba “roubando” cálcio dos ossos (pois o cálcio é essencial para muitas outras funções no organismo), os ossos enfraquecem. Por este motivo, a dosagem de cálcio no sangue dos raquíticos é muitas vezes normal.
Curiosidade: caso você pese cem quilos, um desses quilos é somente de fósforo (mais um e meio de cálcio)!

15 de junho de 2006

O Mundo é Uma Bolha


É evidente que Parreira teria um plano B. Ou vários planos B. Com Robinho, Juninho Pernambucano e até com Fred (que poderia tranquilamente ter sido substituído por uma estátua sua, visto que não deverá jogar mesmo que Ronaldo literalmente morra em campo).
Quem não dispõe de um plano B, no entanto, são as poderosas multinacionais que patrocinam a presença de Ronaldo em campo (Nike, Antártica, TIM, Santander, quem mais?). Não podem elas simplesmente apagar a famosa face dentuça e substituí-la pela do Robinho nos comerciais da Copa. Então teremos – mas nós somos apenas alguns poucos milhões – que assistir conformados a uma das mais patéticas fraudes esportivas: a presença apalermada de um ex-atleta na nossa seleção a atrapalhar o restante do time pela competição inteira.
Ronaldo paga (e já não é de agora) o alto preço dos juros da alma vendida ao diabo: seu organismo envelheceu (não somente engordou) numa velocidade parecida com a de seus antigos arranques em direção às áreas adversárias. Fruto de um anabolismo impressionante que o transformou de um menino franzino em um “touro” em pouquíssimo tempo no exterior. Isso não tem volta.
E a tragédia pessoal se completa pelo fato de que, tendo sido tratado como “fenômeno” desde a infância, não se preparou para o fracasso, para as vaias de um estádio, de um país inteiro.
(PS.: isto ainda é um blog para assuntos pediátricos, mas em tempos de Copa do Mundo eu não resisto...)

13 de junho de 2006

Candace de Novo


Já falei aqui da minha admiração pelas idéias da neurocientista Candace Pert.
Uma de suas convicções (uma “Reichiana” molecular*, como gosta de se definir), baseada nas suas experiências, é de que devemos expressar os nossos sentimentos, e não reprimi-los, sob pena de alimentarmos doenças tão graves quanto o câncer.
Segundo ela, nosso corpo (e não nosso cérebro, apenas) é um “poço de emoções”. A maioria destas emoções não são expressadas ao nível da consciência (ou seja, nem nos damos conta de que elas existem, apenas as sentimos). É função do cérebro represar (ou selecionar) emoções que fluem a toda hora de outras partes do corpo.
Com o tempo, tendemos a nos tornar doentes pelo aprisionamento destas emoções.
Como resolver isto?
Através de métodos chamados de catárticos, que tradicionalmente se referem a terapias. Mas métodos mais simples e baratos de catarse (o popular “botar pra fora”) existem aos montes, como, por exemplo, a prática de esportes em que as emoções aflorem de uma maneira ou de outra, a própria assistência (torcida) por esportes, um carteado, ou até, às vezes, na falta de uma bola, um chute no cachorro (por favor, gente, este último é o único método não recomendado, até porque aí quem vai precisar de terapia é o próprio!).
* Como todo “seguidor” de Wilhelm Reich (teórico da psicanálise, discípulo de Freud), também ela parece meio maluquinha. Ninguém é perfeito.

9 de junho de 2006

Quando a Menina Vira Moça


Parece nome de romance, mas é uma questão que volta e meia preocupa familiares e pediatras.
Como mostra um artigo sobre o assunto, as nossas tabelas de comparação de sinais de puberdade em meninas (o sinal indicativo da puberdade é o aparecimento do broto mamário, estágio 2 da figura) foram criadas em 1969 !(tabelas de Tanner)
De lá para cá, as coisas têm mudado. O início da puberdade tem apresentado uma tendência ao adiantamento (curiosamente só nas meninas). Então, o aparecimento do broto mamário em idades tão precoces quanto 7 anos na raça branca e 6 anos na raça negra (segundo mostrou um estudo mais amplo, recente, que é a atual referência obrigatória para o assunto) não costuma necessitar exames mais aprofundados ou qualquer tipo de tratamento, pois outra constatação curiosa é a de que a grande maioria destas “moças precoces” não vai ser muito mais baixa do que as que amadurecem mais tarde (visto que há uma compensação natural: quem inicia a maturação mais cedo vai estar na fase da puberdade por mais tempo, o que permite mais tempo de crescimento ósseo, ao contrário do que se imaginava até há bem pouco tempo).

6 de junho de 2006

Infidelidade Consciente


06 do 06 do 06. Que data interessante esta. E estaremos, se não me falha o cálculo, vivendo datas assim a cada 396 dias nos próximos (quantos?) 6 anos. Depois, pra nós, never more. Ou alguém aqui pretende viver até 3001?

Quem ainda não viu, veja “O Jardineiro Fiel” (um dos poucos filmes “para se pensar”, disponível nas locadoras, espremido entre vários “A Hora do Pesadelo 27” e muitos “Eca-Men”).
Apesar de ser uma obra de ficção baseada em outra, um dos recados que o filme passa é claro: companhias farmacêuticas não são boas samaritanas. Não são “amiguinhas”, como de resto nenhuma grande corporação é, como bem mostra o livro de Joel Bakan “The Corporation” (ilustrado com fartos exemplos da indústria farmacêutica).
Seu objetivo principal é gerar lucro, mesmo que para isso tenha que passar por cima de dilemas éticos do tamanho de um continente.
Eu, como médico, não me canso de lembrar disso. Acredito que outros colegas também deveriam fazê-lo, para que nossa relação (nossa, médicos, e companhias farmacêuticas) não sendo franca, direta – o que é impossível – pelo menos fosse como a daquele casal onde cada um tem plena consciência do mau-caráter do outro, o que é que se vai fazer?
Tentemos tirar o máximo proveito delas de onde dá, mas saibamos que no íntimo elas “não prestam” (só causam benefícios, que são muitos e inegáveis, quando por uma feliz coincidência casam interesses econômicos com interesses humanitários).

4 de junho de 2006

É a "Regra" Clara?


O globo terrestre precisa, a cada quatro anos, preencher o seu vazio interior com essa coisa de Copa.
Eu não.
Meu vazio é mais embaixo, se é que me entendem.
Por isso, vivo a próxima Copa do Mundo (um conflito mundial que já foi “de mentirinha”, hoje em dia nem tanto, onde, por uma feliz casualidade miscigenatória, somos a maior potência - países europeus já cogitaram a formação de um bloco para nos derrotar, mas aí lembraram que somos vizinhos da Argentina, deixaram para lá) desde o apito final da Copa anterior.
Nada mais apropriado, então, do que lermos algo (mais) sobre a Copa em “Um Macaco Fonia”.
* Quis pôr uma caricatura também do Kaká, que na minha humilde opinião, dividirá as glórias do Brasil na Copa com Ronaldinho Gaúcho. Não encontrei. A pergunta, então, que não quer calar é:
“Kem karicaturará Kaká?”

2 de junho de 2006

Vamos Falar de Ferro?

Algumas normas ministeriais e de secretarias de saúde insistem em transformar pediatras em seres não-pensantes (talvez porque – “alas”- estejamos mesmo deixando de sê-lo).
A última “moda” é o que vem embutido em algumas carteirinhas de saúde: a partir dos 6 meses de idade, leve seu bebê para a suplementação de ferro *(ponto final!).
Então, mães agora chegam ao pediatra pedindo - ou mandando: quero ferro! (ops!)
Será mesmo que todas as crianças precisam suplementação de ferro a partir dos 6 meses? Fomos “construídos” também com este “defeito”?
Aparentemente (fato ainda não confirmado), crianças com o sistema imune novato se beneficiam de algum grau de deficiência de ferro (não mais do que a deficiência “providenciada” pela natureza) no combate a alguns tipos de germes.
Alguns germes (bactérias, principalmente) também se alimentam de ferro. Se este está disponível em quantidades maiores nas células da pessoa infectada, as bactérias agradecem e podem dificultar a cura de certas infecções.
Doses acima de 2mg/kg/dia de ferro (doses usadas frequentemente) podem aumentar o risco de infecções importantes como a pneumonia, e mesmo doses mais baixas podem facilitar o aparecimento de doenças como a tuberculose e a Aids!
Além disso, o ferro é um pro-oxidante (aumenta a produção de radicais livres, causando um maior stress celular, com efeito potencial de danos ao material genético celular, notadamente nos indivíduos que não apresentam índices baixos de ferro no organismo). Há relatos inclusive de alguns tipos de câncer com uso prolongado de ferro.
Ou seja, é a velha receita de não haver receita pronta para nada. Há que se analisar a necessidade de suplementação caso a caso (e, veja, não estamos negando a necessidade em muitos casos).
E o paradoxo reside no fato de que serão justamente as mães com melhores condições sociais (as que podem “se dar ao luxo” de ler carteirinhas de saúde, cujos filhos costumam ter bons níveis de ferro) aquelas que estarão solicitando a suplementação.
* O ferro é o elemento usado no tratamento da anemia mais comum da infância.