Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

28 de julho de 2006

Pica e Esconde


Um novo artigo do jornal Pediatrics chama a atenção para a dificuldade na aceitação do diagnóstico da chamada “urticária papular”. Não porque seja um problema sério, mas porque os pais relutam em aceitar que aquelas lesões de pele que vão e voltam na pele dos seus filhos tenham relação com picadas de insetos.
Os autores do artigo nos mostram que a dificuldade tem razão de ser.
Primeiro, porque muitas vezes os insetos não estão por perto. Podem estar na proximidade da casa ou na casa de um parente visitado, por exemplo.
Segundo, porque insetos como o percevejo (Culex, “chupador de sangue” – veja a foto - cuja população tem aumentado no mundo inteiro) às vezes não levantam suspeitas (mosquitos e pulgas são mais frequentemente acusados).
Terceiro, porque as lesões de pele muitas vezes não têm relação temporal com as picadas (as lesões podem ser reações tardias – até algumas semanas – às picadas, ou podem reaparecer pela picada do inseto em outros lugares do corpo, por circulação do “veneno” no sangue).
Isso tudo pode levar os pais a uma procissão a médicos e exames. Ainda mais porque nenhum dos tratamentos disponíveis (antialérgicos e corticóides) é “grande coisa” em termos de efeito definitivo. Pais devem ser levados a entender que as lesões têm um tempo de duração e que há melhora do problema com a idade (normalmente até pelo menos os 10 anos).
Mais uma daquelas coisas que “quando casar” sara (ha, ha, muito engraçado...)

25 de julho de 2006

Água Mole...


Sem insulina para transportar a glicose para dentro das células do corpo, nosso sangue se transforma em algo parecido com uma garapa.
Dentre as várias conseqüências adversas, vasos sangüíneos do nosso rim vão aos poucos se cristalizando, funcionando tão bem quanto uma “maçã do amor” (a maior causa do uso de hemodiálise é a parada do funcionamento dos rins causada pela diabete).
Hoje em dia sabe-se que mesmo as células do cérebro funcionam de forma diferente na ausência de insulina. Este seria um mecanismo importante de perpetuação da obesidade: pacientes com “insulina deficiente” teriam inclusive o apetite diferente das demais pessoas.
Um grande problema é que a instalação da diabete tipo 2 não dá aviso. Nenhum alarme soa quando judiamos da nossa insulina, com lautas refeições (pais que nos informam orgulhosos que os filhos “comem que nem um leãozinho” deveriam nos comunicar o fato pesarosamente) ou com inatividade física, uso de anticoncepcional, fumo, etc.: nosso pâncreas (a “fábrica” da insulina) é um órgão melindroso.

É claro que de novo o componente genético tem grande importância. Mas o que se percebe atualmente é que mesmo em quem tem este componente “fraco” termina por desenvolver a diabete.
Por isso, pais com histórico de diabete na família (quem não tem?): falem menos em comida e mais em brincadeiras, esporte, natureza, etc. para seus filhos.

21 de julho de 2006

Não Faz Isso, Filhão!


Comportamentos de risco em adolescentes não costumam ter, ao contrário do que se pensa, origem na desinformação.
Os adolescentes de hoje são, na média, muito mais informados que os de épocas passadas.
Por que, então, se colocam em situações de risco com tanta freqüência?
Em parte pelo fenômeno denominado otimismo não-realista, que nada mais é do que a “velha” maneira de pensar: coisas ruins acontecem com outros, não comigo (muitos adultos também pensam assim). É um mecanismo de defesa psicológico, talvez para que não vivamos em pânico.
Outro motivo é o de que a balança: prazeres imediatos X conseqüências a longo prazo costuma pender muito mais para o lado da primeira, também natural nesta fase em que parecem ter toda uma vida pela frente. *
Ainda: o desenvolvimento da autonomia, próprio da fase, se afirma justamente no desafio das autoridades (pais, professores, autoridades legais).
Além disso, a influência do grupo costuma ser importante (e tanto mais quanto maior for a ligação com o grupo).
Mudanças de tais comportamentos (sejam eles sexuais, de conduta, etc.) exigem que os pais exerçam autoridade sim, porém com respeito aos valores dos adolescentes e à sua autonomia, ainda que esta deva ser limitada pela razão.
(nota: muitos dos jovens que levam a vida perigosamente são portadores de problemas psiquiátricos – às vezes não diagnosticados – como TDAH, transtorno bipolar, transtornos de personalidade e de conduta).
* lembremos que estas características são dependentes da incompleta formação do lobo pré-frontal.

18 de julho de 2006

Tudo Que é Bom Pro Koala...


A imagem evocada é toda ela inocente: nossas mães, preocupadas, passando aquela geleinha gelada de cheiro forte nos nossos peitos quando estávamos pra baixo.
“Remédios” (notem as aspas) como O Vick VapoRub® * têm o enorme poder de atravessar gerações justamente por isto. São um símbolo. Símbolo dos cuidados maternos, símbolo de odor marcante. Mas que, na melhor das hipóteses, não servem para nada.
Analisemos dois dos principais ingredientes (outros, como mentol, óleo de eucalipto e petrolato são parte do fetiche):
Terebintina: sintetizado da resina do Pinus, usada como solvente de tintas e na fabricação de vernizes. Pode provocar, quando inalado, salivação, fraqueza, incoordenação motora, sangramento nasal, convulsões, irritação das mucosas respiratórias, tosse, esforço respiratório (que pode não ser aparente até após várias horas do uso).
Cânfora: “parente” da terebintina, originalmente extraído da canforeira, usado como repelente de mariposas, é o que dá a sensação de “geladinho” (juntamente com o mentol). É rapidamente absorvido e produz alterações no sistema nervoso que vão de confusão mental (por este motivo o Vick tem sido usado associado ao ecstasy, para potencializar o “barato”) até convulsões. Sintomas respiratórios vão desde irritação de mucosas até a parada respiratória. A FDA (Foods and Drugs Admnistration, órgão governamental americano em última análise responsável pela liberação das medicações para o mundo inteiro, faz mais uma “vistinha grossa”** para a comercialização de produtos com cânfora, embora “desencoraje fortemente” o seu uso).
E tem gente (muita gente) que tem a “coragem” (leia-se ignorância, claro) de usar produtos semelhantes, como o Transpulmin®, na forma de supositório (a mucosa retal, por irritação provocada por tais substâncias, produz e elimina secreção mucosa, semelhante ao “catarro do peito”, o que dá a aparência de que o “remédio” realmente funciona). E, mais: a Pfizer, outra tremenda multinacional, acaba de lançar nos E.U.A. um "aparelhinho de parede" tipo Baygon para que as crianças durmam felizes com seus narizes mentolados e canforados!
*Fabricado pela poderosíssima Procter & Gamble, que desde o ano passado (graças às nossas preocupadas mamães) teve força suficiente para adquirir a Gillette, e que, dentre outras marcas é detentora da Braun (produtos de higiene e cozinha), Duracell, Oral-B, Pringles e Tampax.
** Como qualquer órgão com este poder, a FDA, dizem, tem seus corredores abarrotados de lobistas (taí uma ótima profissão para o seu filho, caso ele tenha muito cérebro e pouca consciência).

14 de julho de 2006

Tudo "Azul"


Finalmente você tem aquele belíssimo exemplar da raça no seu colo após planejá-lo por tanto tempo (ou não) e, ao invés de ficar alegre, feliz e satisfeita, você fica triste, chorando pelos cantos?
Saiba que, apesar da sensação ser frustrante, ocorre com uma freqüência muito grande: até 50-85% das novas mães experimentam o chamado “blues baby” (não, isso não é uma música do B.B. King!) ou “blues pós-parto”, um parente mais light da depressão pós-parto, de início em torno do 2º. dia após o nascimento do bebê e que costuma durar em torno de 2 semanas.
Os sintomas são: instabilidade do humor, choro fácil (seu, mas bebês não costumam gostar de um choro desacompanhado), ansiedade, cansaço, insônia, irritabilidade e perda de apetite.
O aparente motivo principal é a brusca mudança nos níveis de hormônios após a gestação.
Sintomas muito intensos ou prolongados são sugestivos de problemas mais sérios, como a própria depressão pós-parto, a psicose pós-parto ou outras doenças orgânicas como os problemas de tireóide (que muitas vezes são precipitados pela gravidez).
Mães novatas devem buscar conversar sobre seus sentimentos. Familiares (e médicos) devem estar prontos para ouvi-las.

11 de julho de 2006

Sangue & Urina


(não é nome de filme)
Células do sangue (hemácias) às vezes aparecem na urina de crianças. Quando são apenas células (descobertas no exame de urina), na maioria das vezes não têm causa definida e não têm maiores conseqüências, principalmente se forem de curta duração (por isto deveriam ter um acompanhamento por um certo período).
Já quando há sangue visível a olho nu, a chance de algum problema médico é muito maior (veja na figura as possíveis causas).
Ainda assim, a causa mais freqüente nos dois casos (sangramento visível ou não) é a eliminação de quantidades maiores de cálcio na urina (a chamada hipercalciúria, situação benigna, mas que em alguns casos pode evoluir para cálculos urinários – as “pedras” nos rins ou de outras partes do aparelho urinário).

7 de julho de 2006

Mentes Afiadas em Corpos Atrofiados


Com o desenvolvimento da medicina e de novas tecnologias, a partir de certo momento pareceu que a faixa etária das novas gerações só faria aumentar.
Não é o que está se vendo, pelo contrário.
Juntamente com os avanços, vieram tortos estilos de vida.
Relacionamentos neuróticos e/ou superficiais, consumo excessivo de sal e calorias, inatividade ou atividades físicas sofridas, midiocracia (o governo da mídia), etc., minam avanços.
Como pediatras, temos nos deparado com o dilema do tratamento de doenças crônicas já na infância. Decisão dificílima, compreensão por parte dos pais e pacientes mais difícil ainda.
Por isso, a chave - de novo - é a velha prevenção.
Prevenção que deve vir do berço, com o conhecimento, a educação dos pais.
Enquanto isso, a puericultura (momento que, embora já meio tarde, tem sido propício para a educação, a criação e mudança de hábitos) é vista por muitos como “a cara arte de pesar bebezinhos*”.
* Um exemplo curioso disto é o que ocorre muitas vezes nos Postos de Saúde. Pobres mães deseducadas que, após terem seus filhos pesados e medidos, encaminham-se para a porta da saída, satisfeitas. (“Já tenho uma balança, para quê pediatra?”, concluem, ignaras).

4 de julho de 2006

Dez Testados

Talvez você quisesse um, mas vou dar a você dez motivos para não fazer “teste para alergia à penicilina” nas farmácias:
1) Um teste cutâneo (na pele) não descarta a possibilidade de reação alérgica grave à penicilina.
2) Os testes cutâneos devem ser feitos com diluições mínimas (diluição de cem vezes para pacientes supostamente alérgicos).
3) Testes de alergia à drogas devem ser feitos com profissionais e medicação prontos para reverter um caso de alergia, caso este aconteça.
4) Pouquíssimos casos de erupção (vermelhidão, normalmente) de pele vão significar reações alérgicas sérias, como as anafilaxias (reações com risco de morte se não tratadas prontamente).
5) Nos dias atuais, vivemos “tomando antibióticos” involuntariamente através do uso destes medicamentos nos alimentos produzidos em larga escala, como mostra um preocupante artigo do Pediatrics (o que pode fazer com que casos de alergia aumentem, mesmo com a própria ingestão alimentar).
6) Outros antibióticos de uso muito freqüente como as amoxicilinas e cefalosporinas, além de outros medicamentos que não são antibióticos (mesmo tomados pela boca!) podem também induzir reações alérgicas severas.
7) As penicilinas injetáveis são usadas em larga escala há várias décadas (foram os primeiros antibióticos a surgirem), com uma freqüência muito pequena de reações alérgicas graves.
8) Reações anafiláticas, com risco de morte, podem aparecer por picadas de insetos ou até mesmo com alimentos comuns como leite de vaca, ovos, amendoins, etc.(alguém pensa nisso na hora de dar um alimento com amendoim para o seu bebê comer?)
9) Como os sintomas de uma reação grave costumam aparecer nos primeiros quinze minutos (raro após duas horas), talvez a melhor prevenção seja “dar um tempo” por perto do local onde a medicação foi prescrita (hospital ou consultório médico).
10) Você viu que está escrito “farmácia” na porta da farmácia (e não “laboratório” ou “consultório de alergologia”)?

2 de julho de 2006

Choro de Perdedor


(Se o Ribe Ri e o à Ri, Não Sou Eu Quem Vai Chorar)

Em 82, chorei. Em 86, novamente. E, posto que fosse Copa, Copiosamente.
Ontem, nem que houvesse assistido ao jogo descascando cebola.
Ah, amadureceu...
Não, quanto mais velho fico, mais doido tenho estado para me emocionar. Apenas que com algo que valha realmente a pena.
O congraçamento visto durante o jogo entre jogadores das duas seleções novamente ontem em campo (achei que tinha visto tudo ao assistir ao Deco sentado no banco holandês em conversa animada, após ter sido expulso) nos mostra que a Copa se transformou num torneio de férias para os jogadores: amigos que se encontram para disputar algumas partidas com outras camisas (alguns jogadores estranham, Brazil era com “s”?), após cansativas temporadas em clubes europeus, estes sim os que importam, pois que pagam nossos salários e acolhem nossas famílias como se de países desenvolvidos fôssemos.
Bebidas, celulares, contas bancárias, eletrodomésticos e artigos esportivos vendidos, voltemos ao nosso dia-a-dia, com novas propagandas de bebidas, celulares, contas bancárias, eletrodomésticos e artigos esportivos.
É mais um grave efeito colateral da globalização: despojaram-nos das emoções genuínas, das válvulas de escape. Busquemos, então, competições mais verossímeis para investirmos nossas lágrimas. Bocha ou cuspe à distância, por exemplo.
(e não esqueça: hoje há nova postagem no "Um Macaco Fonia"!)