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31 de outubro de 2006

Me Devolva Meu Eu


-O que tem a criança?
-Febre alta, tosse, dor de cabeça e dor nas costas.
No dia seguinte:
-Como é que está?
-Ainda tosse.
-E a febre?
-Não tem mais.
-E a dor de cabeça?
-Melhorou.
No outro dia:
-Está melhor?
-Não está nada bem.
-Por que? Voltou a febre?
-Não.
-Ainda tosse?
-Só um pouquinho.
-E a dor nas costas?
-Passou? É, passou...
-E então?
-É, mas não tá comendo nada...
Médico é assim. Uma pessoa muito parecida com o muro das lamentações. Quando melhoramos de algum (ou vários) sintomas, passamos a focar em outros, que até aquele momento passavam relativamente despercebidos.
Naturalmente, quase ninguém pensa no quanto está bem quando está tudo bem, mas muitos pensam no quanto estão mal quando estão pouco menos que o ideal. E, para algumas pessoas, infelizmente, o copo pode estar sempre meio vazio.

27 de outubro de 2006

"Gueraudarrier, Ma!"


Um estudo que eu gostaria que toda mãe pendurasse na geladeira de suas cozinhas:
Lactentes acompanhados até o 1º. ano de vida no seu ganho de peso mostra que, da mesma forma que ocorre com crianças mais velhas, o que a mãe faz em termos de controle alimentar de seus filhos, tem efeito contrário. Isso mesmo: contrário!
O gráfico (meio “complicadinho”) feito a partir de 69 duplas mãe-filho mostra que em crianças que vinham com baixo ganho de peso até 6º. mês de vida, o peso se manteve baixo a partir dali, no caso das mães controladoras (high), que quiseram “forçar” seus filhos a comer mais.
O mesmo ocorreu com crianças que tinham peso excessivo. Ou seja, filhos de mães que regularam demais a quantidade de alimentos ofertados foram os que continuaram engordando mais. E vice-versa para as não controladoras (medium e low).
Resumindo, é o que vivemos falando para as mães:
-Deixem seus filhos comerem em paz! (interfiram o mínimo possível)
Obs.: embora o estudo não tenha metodologia perfeita, mostra o que todos nós observamos na prática.
Um detalhe, entretanto, merece especial menção: mães ainda “servem” (ou deveriam servir) para monitorar a qualidade dos alimentos oferecidos à criança!

24 de outubro de 2006

A Bolsa ou a Vida


Esta discussão deu-se foi no New York Times, mesmo:
Com o sugestivo título “Uma Vida Mais Longa ou Outros Gastos” o economista David Leonhardt argumenta que os americanos costumam ter uma esperança irreal de viver mais e com maior qualidade sem querer arcar com os altos custos disso.
Cita o caso dos cidadãos dos anos 1950, que gastavam o equivalente a 500 dólares por ano, mas que não tinham muito o que esperar em troca deste “pequeno” valor (os gastos com saúde nos Estados Unidos hoje se aproximam dos 6.000 dólares anuais, e a expectativa de vida é uma década maior do que naquela época).
A pergunta parece óbvia:
O que você prefere: pagar 5.500 dólares extras ao ano com custos de saúde ou viver uma década a menos?
Não há soluções fáceis para o impasse em nenhum país do mundo (imagine para o nosso), e parece inadmissível que os gastos com saúde dobrem a cada sete anos – como tem acontecido - mas o autor do artigo enfatiza a necessidade das pessoas se convencerem de que terão que mexer mais nos seus bolsos para que possam usufruir de suas vidas por mais tempo e com melhor qualidade.
Trazendo o ensinamento para a nossa realidade, num futuro bem próximo, quem terá plano de saúde, por exemplo (seja ele privado ou contratado pela empresa), só contará com algo realmente útil caso este seja apropriadamente caro (o problema aqui está em: é caro pela qualidade ou é caro por ser mal gerido?).
A grande maioria das pessoas continuará contando com as filas, as brigas, o conformismo e a má qualidade, infelizmente.

Cada coisa que a gente desaprende na Internet:
No site
brazilbrazil.com há uma página dedicada à história da troca temporária das duas principais estátuas do mundo, supostamente ocorrida no ano de 1963. Tanto a estátua da Liberdade quanto a do Cristo Redentor teriam sido desmontadas e trocadas como uma forma de “política de boa vizinhança” entre os dois países.
Curiosamente, após a destroca (a da Liberdade era muito “gorda” para caber no nosso pedestal), o Cristo Redentor “girou” 180º (conforme mostra a foto no site).
Se não vale pela bobagem, vale dar uma conferida nos cartuns do Cristo Redentor (da série “rir para não chorar” com nossas desgraças).

20 de outubro de 2006

Mens Sana Que Eu Gosto, In Corpore Sano


Clarifico novamente que não sou especialista na área, mas caso você seja um deprimido leve (quem não é, hoje em dia?), aconselho: melhor do que tomar um ou dois Prozacs é pôr mãos - e pés - à obra. Ou seja, malhar.
Quem me veio inicialmente com a dica foi Andrew Solomon, no seu imperdível (ao menos para os que são, têm parentes ou têm que lidar com deprimidos) O Demônio do Meio-Dia.
Diz lá:
“Malhar é a idéia mais repugnante que eu posso ter quando estou deprimido, e não é nada divertido fazê-lo, mas depois eu sempre me sinto mil vezes melhor.”
O próprio livro dá a explicação (citando James Watson, ganhador do Nobel pela descoberta do DNA): o exercício produz endorfinas. A endorfina é a morfina endógena (produzida pelo próprio organismo), que te faz sentir muito bem quando você está “normal”, e pelo menos melhor quando você está muito mal. (...) Além do mais, a depressão torna seu corpo pesado e “devagar”, o que exacerba ainda mais o seu mal-estar. Então, se você mantém seu corpo funcionando (tanto quanto pode), sua mente irá “na cola”.

Uma novidade tecnológica na área médica (ainda engatinhando): um aparelho baseado em raios infravermelhos que permite a fácil visualização das veias do corpo. Já tem servido para o acesso de veias em pessoas com problemas como o câncer mas, como os fabricantes anunciam, poderá servir para detectar problemas venosos em diabéticos, além de problemas do coração e pulmão sem sofrimentos ao paciente. Sem falar que, com o barateamento da tecnologia, acabará com as várias tentativas para se pegar uma veia nos laboratórios.
Próximo passo: acabar com a temida agulha.

17 de outubro de 2006

Onde Está o Porco?



Como é que se pega a neurocisticercose, uma doença potencialmente grave, que pode levar à morte e, apesar disso, totalmente evitável? (veja na figura da ressonância magnética, um cérebro que parece “crivado de balas”, está na verdade crivado de cisticercos).
Comendo carne de porco infectada com Tênia! Dãr!...
É a resposta de muita gente boa (estou preconceituosamente me referindo à pessoas que estudaram – médicos, inclusive).
Um dos enganos mais freqüentes da Medicina, como explicou recentemente o neurologista Luis dos Ramos Machado, no programa do Jô. Quando o homem ingere a carne infectada com “canjiquinha” (o próprio cisticerco, a larva da tênia, alojada na carne do porco), o que ele desenvolve é a teníase do porco, uma doença parasitária sem maiores conseqüências.*
Já quando o homem “pula” o hospedeiro intermediário, ou seja, quando ingere diretamente os ovos da tênia (ovos que são extremamente resistentes à destruição no meio ambiente), aí sim, é que a cisticercose pode aparecer (é quando o ciclo “se quebra” – na figura: homenzinho A evacuou “na natureza” e o homenzinho do canto direito comeu os “ovinhos”, sem passar pelo porco).
E de que forma se ingere ovos da Tênia do porco?
Mais facilmente do que se pensa, principalmente em países com menos condições de higiene: através da ingestão de água não tratada, alimentos contaminados (principalmente alguns vegetais e frutas) ou mal lavados, através da auto-infestação (muito comum – quantas pessoas realmente lavam bem as mãos após fazerem seus “número dois”?) e, acredite, até através do sexo oral (pela proximidade da “fonte”, ou seja do ânus)!
*A importância da teníase acaba sendo maior justamente pela possibilidade de se passar a cisticercose para os outros ou para si mesmo.
(Obs.: a tênia da vaca não causa cisticercose).

Veja a difusão do desconhecimento: tenho em minhas mãos um volume do Dicionário Larousse da Língua Portuguesa que me diz que “cisticercose” é “a infestação parasitária dos tecidos e órgãos por cisticercos, provocada pela ingestão de larvas de tênia contidas em carnes” (!) e “cisticerco” é “a larva de platelmintos cestóides, como as tênias, que o homem pode adquirir pela ingestão de carne mal cozida, ou crua, de porco ou boi” (!!).
E eu ainda não o joguei no lixo...

13 de outubro de 2006

Crise


Uma das maneiras mais eficientes que alguns médicos encontram para não pirarem com suas angústias é o “compartilhamento da choração de pitangas”.
E não é só por aqui, não.
Num dos meus blogs preferidos, o Medpundit, a sua titular, uma médica antenada que esconde sua cara, mas assina-se Sydney, expressa uma preocupação que é, na verdade, de todos nós, médicos e pacientes (Thoughts on My Profession):
Cita a médica a tendência atual da “medicina baseada em evidências” (a cartilha pela qual médicos devem basear suas condutas hoje em dia, pelo método cartesiano – porém nunca desprovido de interesses – da Ciência “pura e simples”) em recomendar o uso de várias medicações “de cara” para o melhor controle de males como a hipertensão, o diabete e a doença renal crônica.
A sua crítica é cortante: como se pode prever o que acontecerá nos organismos de diferentes pacientes com diferentes dosagens de tais medicamentos? Sem contar o fato - explica a moça - de que muitos pacientes apresentam as três condições (diabete que levou à hipertensão, que levou à doença renal, por exemplo).
Um de seus argumentos mais importantes é de que a medicina baseada em evidências mede somente resultados objetivos como os índices de hospitalização ou morte pelas doenças (deixando de levar em conta o mero fato de o paciente estar apenas “se sentindo bem” ou não com a “avalanche medicamentosa” proposta pelo seu médico).
(tão bão que eu tive que dar meu "pitaco"...)

10 de outubro de 2006

Ligadões


Tá certo que infarto do miocárdio é como Papai Noel: ninguém acredita que ele vá chegar um dia, até que se ouve o “ho-ho-ho” descendo pela chaminé.
Deu no JAMA: descontados outros fatores como fumo, sedentarismo, excesso de peso, etc., nós, os cafeinômanos (viciados em cafeína) temos maiores chances de ter um infarto, caso tenhamos herdado um metabolismo lento para a cafeína (a incidência deste metabolismo lento beira a metade da população dependendo da área estudada). Como saber se estamos nessa? Por enquanto é “espere e verá!”
Curiosamente, a partir de certa idade (± 60 anos em diante), o consumo de cafeína parece não alterar o risco.
Minha dedução:
Assim como nos prematuros muito “verdes” precisamos dar xantinas (a cafeína é uma xantina) para “ligá-los na tomada” para que respirem com mais vigor (inclusive por ação no sistema nervoso central), também nos velhinhos um bom tanto de cafeína dá um certo “upgrade” nas funções mental e cardiorrespiratória.

6 de outubro de 2006

Veja Lá o Que Você Vai Dizer, Meu Filho!


A maneira de se constatar verdades na Medicina (bem como em qualquer área da Ciência) no passado recente era, digamos assim, meio “torta” (tão torta quanto a deliciosa torta das nossas queridas vovós, que era quem costumava entender mais de Medicina nas famílias, posto que até hoje elas não se conformam em ter perdido).
Então, ao se constatar, por exemplo, que num grupo pequeno de pessoas, quem tinha olhos castanhos tinha mais espinhas na face, isto logo virava uma regra, uma verdade*.
Maus cientistas (principalmente mal-intencionados) e indústrias farmacêuticas** tentam ainda hoje se utilizar destes artifícios para “criar” verdades que possam lhes trazer benefícios, como um impulso nas vendas. Por isso, não há outra saída, como já se sabe, que não seja uma antena mais ligada através da educação dos profissionais e da própria população, alvo principal das farsas metodológicas.
(* uma das maneiras de se corrigir erros como este seria aumentar o tamanho da amostra estudada: se em um grande número de pessoas esta relação se confirma, provavelmente é verdade, mesmo).
** Criar fatos que justifiquem suas vendas sai muito mais barato para as indústrias do que reinvestir em pesquisas quando suas drogas se revelam serem só isso mesmo: drogas!

3 de outubro de 2006

Todo Dia Ele Faz Tudo Sempre Igual


O metódico é um sujeito irritante, que em muitos momentos chega a ser até disfuncional (que o digam os que convivem com ele).
Porém, quando se trata do paciente obeso, nosso desejo é de que se transformasse num.
Tenho alguns poucos pacientes obesos que começaram, a partir de certo momento, a se transformar em sujeitos metódicos e, com isso, perderam peso, aparentemente “para sempre”.
Por que?
Porque comem em horários corretos e não variam muito o que comem ou o quanto comem (facilitando a “programação orgânica” do equilíbrio calórico, inclusive permitindo uma melhor adequação das atividades físicas necessárias para a perda ou manutenção do peso).
Perigo disto:
Pessoas metódicas têm uma grande tendência a desenvolver transtornos obsessivo-compulsivos, que pode ser difícil de tratar. Além disso, principalmente em mentes em formação, há um risco importante do desenvolvimento de transtornos alimentares (bulimia e anorexia) pelo fato de abrirem mão do prazer da alimentação, comendo “como máquinas”.

Lula errou na maneira de governar, na estratégia de campanha e na previsão de vitória no primeiro turno no próprio dia das eleições. Mas no resto ele acertou, no resto ele acertou!

Maluf, Palocci, Collor, Genoíno, Sarney, Berzoini, Roriz, Enéas, Clodovil... Como diria o Jô Soares anos atrás com seu exilado político, “tu não quer que eu volte!”, ou então, com seu doente terminal: “Me tira os tubos!”.