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30 de novembro de 2006

Descascado


Qual o significado da BCG que “não pega”, que não faz “sinal”?
Antes de responder a esta questão, gostaria de refletir um pouco sobre a vacina:
Adultos costumam achar que por terem tomado uma BCG quando eram crianças, estão protegidos da tuberculose.
O número impressionante de casos no mundo inteiro (30 milhões de pessoas deverão morrer acometidos pela doença na próxima década – é como se quase toda a população do Estado de São Paulo “desaparecesse” nos próximos anos!*) é a maior prova de que a noção é totalmente falsa.
A proposta da vacinação é apenas prevenir casos mais graves de tuberculose em crianças, e nem para isso a BCG é uma grande vacina, infelizmente (mas é a melhor que nós temos).
Respondendo, então, à pergunta: segundo um editorial do Indian Pediatrics, quando a vacina “não pega”, há três possibilidades: 1) houve algum problema na conservação, manipulação ou aplicação da vacina, 2) houve resposta imunológica (ou seja, a vacina funcionou no que ela se propôs), mas sem deixar “marca” (na maioria destes casos, a cicatriz se formará com o tempo – às vezes até 3 anos – como mostra estudo do Pediatrics) ou 3) o organismo não foi capaz de produzir resposta adequada (problema imunológico, incapacidade de induzir uma resposta no indivíduo vacinado). Esta última situação é certamente mais rara do que as duas primeiras.
O que fazer?
Pelo menos na primeira falha, o certo seria revacinar a criança após cerca de 3 meses sem nenhuma “marca”. Caso ocorra nova falha (minoria dos casos), esta criança deverá ter atenção individualizada.

*Pode parecer tétrico, mas a demora na contenção de epidemias como a Aids e a tuberculose estão servindo para atrasar uma nova ordem mundial: como há limites na capacidade de se controlar a natalidade e o aumento na incidência das catástrofes (muitas delas facilitadas pela própria ação do homem) não resolverá o problema, certamente chegará em breve um momento da humanidade em que haverá um tremendo “patrulhamento do desperdício”, em que uma das maiores ofensas que um indivíduo poderá fazer aos outros será utilizar recursos (hídricos, energéticos, etc.) de forma perdulária. É incrível notarmos o quanto estamos nos preparando para isso. Temos adotado a política do “aproveitemos enquanto ainda é tempo”!

28 de novembro de 2006

Almas em Liquidação


Armamos uma bela arapuca para nós mesmos.
Estamos nos tratando exatamente como nossos “bens” de consumo: saiu um modelo novo, temos que jogar o velho fora.
Seres humanos também “estragam” fácil, ficam velhos, decadentes. Pior: já vêm de fábrica cheios de defeitos.
A morte da modelo anorética nos fez relembrar do quanto temos estado doentes como sociedade. O quadro de anorexia instalado pode pegar muita gente de surpresa, mas ele representa o estado terminal de uma auto-estima que já vinha de longe doente.
Não sei quanto a você que me lê, mas para mim, do alto dos meus quarenta e poucos anos, ainda está fácil entender porque jovens se matam na busca de corpos “perfeitos”.
Muitas vezes, ao cumprir meu “ritual da boa forma” numa bicicleta ergométrica, percebo que minha capacidade aeróbica vai às alturas assistindo ao clipe Freedom 90 (da minha época, fazer o que?) no aparelho de DVD, enquanto imagino todas aquelas Naomis Campbells e Lindas Evangelistas com corpos esculturais se arrastando aos meus pés. Opa! Sou adulto, e ao descer da bicicleta, consigo o ajuste imediato do meu senso de frivolidade pueril.**
Enquanto nós, seres supostamente mais maduros (e aí é que está, estamos mesmo sendo mais maduros que as crianças e os adolescentes?*) não incutirmos outros valores menos efêmeros que a beleza física na cabeça dos nossos jovens, estaremos vendo dramas parecidos acontecendo a todo o momento, mesmo sem a desculpa de uma absurda “exigência profissional” das modelos. Na há expressão que ilustre melhor a doença anorexia do que “não conseguir enxergar além do próprio umbigo”, literalmente.
* Tenho perdido a conta dos pais que se mostram aberta e insistentemente insatisfeitos com sua aparência (ou dos seus parceiros) na frente dos filhos. Habilidades, talentos, caráter, tudo o mais, têm sido deixados pra um segundo plano. Isto é, repito, uma doença – na verdade, uma emergência - social.
** Um meu ex-colega de faculdade, fortão, dizia adorar filmes do Stalone. Rocky, apenas. E por que não Rambo? “Me imaginar dando porrada em alguém em cima de um ringue é fácil. Matar conterrâneos aos montes na selva está além da minha capacidade de abstração”, explicava.

24 de novembro de 2006

Barraca Desarmada


Deu na BBC, semana passada:
Um ginecologista alemão terá que pagar indenização aos pais de uma criança nascida por falha do anticoncepcional implantado por ele (quase nada, a ninharia de 600 euros mensais até a criança completar a maioridade).
O implante deveria prevenir uma gravidez indesejada pelo período de 3 anos e a falha ocorreu 6 meses após.
Quando eu comprei meu CCE há muitos anos atrás, não me ocorreu processar o vendedor do aparelho. Provavelmente teria tido mais sucesso. E a confecção onde a senhora comprou o lingerie para a noite fatídica? E o fabricante do colchão? Não vão pagar nem uma asa do pato?
Parece-me que eu li alguma vez, não sei aonde, que anticoncepcionais às vezes falham.
Por isso, nas poucas vezes que sou chamado a aconselhar sobre método anticoncepcional (normalmente para as mães que estão amamentando seus pequenos filhos*), sou incisivo:
-Quartos separados!
(A mim não pegam!)
*Amamentação também não garante contracepção, é bom que se diga. Essa noção vem do tempo das cavernas, onde as mães viviam com seus filhos literalmente grudados nos seios 24 horas.

Foi questão de prova na faculdade:
Qual é o melhor método anticoncepcional?
Praticamente ninguém acertou:
Letra a) abstinência! (sem exclamação, claro)
Éramos jovens, na faixa dos 20 anos, ninguém pensou nessa alternativa...
Usando de uma metáfora lulista: “Não quer fazer gol (sabe?), dê passe pros lado”.

Questão de fé:
Quem, como eu, é insone o suficiente para acompanhar um mundial de vôlei no meio das madrugadas, percebe o quanto este esporte evoluiu. Pela velocidade (violência) das jogadas, há que se acreditar que ali, entre ágeis gigantes saltitantes, haja realmente uma bola circulando.

21 de novembro de 2006

Carroinferno


O mundo é uma bola. E ele gira.
(Galileu? Copérnico? Ptolomeu? Não importa.)
O lance é que ele gira devagarzinho, dando tempo dos nossos canais semicirculares (eu nem me lembrava que eu tinha – não um, mas três em cada lado da cabeça) se adaptarem a esse movimento todo.
Problema é quando esse gira-gira se acelera (e muito) duma hora para outra.
É assim que tenho me sentido esta semana.
Tenho aprendido na prática (senão o melhor aprendizado, o mais eficiente, aquele no qual nos tornamos o próprio paciente) sobre uma enfermidade chamada labirintite (termo erroneamente aplicado, pois nem sempre há inflamação envolvida). O termo mais correto seria neurite (ou neuronite) vestibular.
No meu caso, seguiu-se provavelmente a uma infecção viral comum, um quadro gripal leve.
Há quase uma semana sinto-me como quem subiu num chapéu-mexicano. Sem pagar entrada. Quem me vê por aí, pensa que eu ando imitando o Bono Vox cantado With or Without You, apenas que com algumas pausas para vomitar. Uma coisa horrível (horrível é aquele estágio antes do terrível).
Diz a literatura médica que essa festa vai terminar logo (1 a 6 semanas?), espontaneamente. Vendo o lado positivo da coisa (meu lado positivo só vai para a esquerda nestes últimos dias), ando pensando em me inscrever na próxima viagem espacial de um brasileiro. Depois disso, vai ser uma moleza.
(Ugo!!)

17 de novembro de 2006

Tolerância Zero


Frequentemente vejo mães olhando com olhar de vítima para seus filhos dizendo: “Ele tem intolerância à lactose...”
Mais uma daquelas situações em que morremos de vontade de dizer:
“Grande coisa!” (mas eu me seguro – na maioria das vezes, pelo menos).
Como mostra recente revisão sobre o assunto no Pediatrics, cerca de 70% da população mundial vai “passar mal” ao ingerir uma quantidade maior de leite. Ou seja, se seu filho é intolerante à lactose, parabéns! Ele está com a maioria!*
Então não se deve fazer drama. Há várias opções:
Em primeiro lugar, até certa quantidade de leite ou derivados são tolerados pelos intolerantes. Além disso, o consumo regular do leite deve, com o passar do tempo, “acostumar” o organismo com maiores quantidades.
Há, ainda, várias opções para os que não toleram o leite, como os iogurtes (as bactérias do iogurte pré-digerem parte da lactose) e os leites com baixo teor de lactose.
E mais: a ingestão de outros alimentos juntamente com o leite diminui os sintomas da intolerância (diarréia, “estufamento”, dores abdominais, náuseas, vômitos). Outra opção é dividir o volume total do leite diário em porções menores durante o dia.
*Importante saber que, embora os sintomas sejam desagradáveis, não causam qualquer dano ao aparelho digestivo (o único “senão” é que, ao se recorrer ao uso de produtos com baixo teor de lactose, a absorção do cálcio alimentar diminui).

14 de novembro de 2006

Inimigo Oculto


Não sei quantas milhões de vezes já ouvi a pergunta:
-Se a criança tem febre é porque tem alguma infecção, não é?
Sei que pais não gostam de ouvir o diagnóstico “provável virose” e sinceramente não acho que tenham que gostar.
Agora, que é o diagnóstico mais comum na maioria das crianças febris, é. *
O termo “virose” engloba os resfriados, as gripes e algumas doenças mais específicas. Exemplos comuns são a hepatite viral, eritema infeccioso, dengue, citomegaloviroses e outras, que muitas vezes (a maioria das vezes, na verdade) não chegam a apresentar sintomas mais “floridos”, por questões como saúde prévia à doença, estado imunológico, menor agressividade do vírus, etc.
Além disso, “invasões” da corrente circulatória por bactérias (as chamadas bacteremias ocultas, que apresentam uma freqüência de até mais de 20% dos casos de crianças febris abaixo dos 2 anos de idade) também podem e costumam ser autolimitadas, mas são rotuladas como “viroses” erroneamente, embora a evolução para a cura seja da mesma forma a regra para a maioria.
Então, empregue-se o termo que se empregar, o que importa é a compreensão do que ocorre no organismo febril.
Penso que já seja hora de se nomear esta situação mais apropriadamente. Aqui vai uma modestíssima sugestão:
PROCAPNI: provável reação orgânica causada por agente patogênico não-identificado.
Que tal?
(Não, acho que não gostaram...)
* Lembrando: outras doenças não-infecciosas (como as doenças reumáticas, por exemplo) também podem causar febre.

10 de novembro de 2006

Parabéns! Você Acaba de Adquirir...



A grande mazela do sistema capitalista num país “em deseducação” como o Brasil não é apenas - ou propriamente - o aprofundamento do famoso abismo que separa os que têm e os que não podem ter.
A fatia dos que acreditam que ter é essencial é que vai se engrossando.
Assustados, assistimos a toda hora às insuspeitadas e graves conseqüências sociais do míope desenvolvimento de duas novas “gerações”: os que crescem tendo de tudo “facilmente” (e que muito por causa disso vão se tornando deficientes na percepção da importância do ser) e os que se sentem impotentes por não poderem ter (estes, desassistidos do básico, se tornam ainda mais facilmente presas desta falsa noção).
Difícil prever quem serão os mais alienados.
Curioso, não estamos sendo seres mais completos após o advento do MP3 player e do DVD portátil...

7 de novembro de 2006

A Galinha ou o Ovo, de Novo


Até há bem pouco tempo atrás achava-se que a enxaqueca era um “defeito” na função cerebral, apenas.
Um recente estudo publicado no PlosMedicine mostra que pacientes enxaquecosos (cerca de 15% da população) apresentam alterações anatômicas (visíveis à ressonância magnética) também, em áreas do cérebro relacionadas ao processamento (análise) de informações visuais e de movimento. Não se sabe ainda se as alterações observadas são causa ou conseqüência.
Daí a provável explicação dos pacientes com enxaqueca apresentarem sintomas visuais antes da dor em muitos casos (aura visual), bem como sintomas ocasionais de vertigem entre as crises.
Lembram os autores também da relação entre as crises de enjôo em viagens (motion sickness) em crianças e o futuro aparecimento de enxaquecas, já bem documentado.

3 de novembro de 2006

CoCobaias


Mostre-me uma pessoa tomando Coca-Cola Light e eu te mostrarei alguém magro. Mostre-me alguém consumindo Coca “normal” e eu te mostrarei alguém gordo.
Por que será que isso não é verdade?
Suspeito que seja porque o consumo de alimentos com ou sem adoçantes seja apenas uma agulha no palheiro das múltiplas (e muito mais importantes) causas da obesidade. Além do mais, os adoçantes alteram o comportamento alimentar (para mais, infelizmente) dos seus usuários, dentre outros motivos pela interferência na liberação da insulina e pela modificação na capacidade do cérebro de "perceber" calorias ingeridas (ou seja, um mau negócio, muitas vezes).
Enquanto isso, vamos nos tornando cobaias da indústria alimentar, principalmente da indústria de refrigerantes.
Recentemente a Coca-Cola brasileira substituiu o ciclamato e a sacarina pelo acesulfame-K (associado a uma dose menor de aspartame) no seu principal produto light.
Se o ciclamato era seguro – como até então se dizia - e o apreciado “gosto de parafuso” é quase o mesmo, o que houve para se efetuar a troca?
O motivo alegado para a troca é a tendência atual do blend (palavra chique para a mistura de componentes químicos). Teoricamente a associação do acesulfame-K com o aspartame torna o sabor ideal (pelo sinergismo, ou somação do efeito doce), com a necessidade de menores doses de cada um dos componentes.
Mas o maior benefício da mudança (para a empresa) foi a retirada do polêmico ciclamato da fórmula da Coca Light. Em todos os outros produtos light, entretanto, o ciclamato continua (Coca Light Lemon, Fanta Light, Kuat Light e Sprite Zero).
Se você ainda não teve a curiosidade de visitar o site da Coca-Cola brasileira, veja o que a companhia tem a dizer sobre a segurança do ciclamato na faixa etária pediátrica (minha principal preocupação):
“É preciso esclarecer que, em primeiro lugar, o público infantil não é o target* nem é o grande consumidor de produtos light. Nossa comunicação e propaganda não é dirigida a crianças menores de 12 anos”. (*alvo em inglês, tá?)
(Lembrem-se, então, consumidores, de reparar: as garrafas que os ursinhos polares seguram nos comerciais não é light!)
E adiante:
“Não se espera, por exemplo, que uma pessoa consuma diariamente quase um litro de Coca-Cola Light Lemon. Isto é considerado consumo excessivo, se feito todos os dias”.
Ah, tá... Toda essa montanha de publicidade para que não se espere o consumo! (o interessante é que este texto é uma resposta à alegação do IDEC de que se uma criança de 30 Kg – já bem grandinha, de quase dez anos, em média, imagine uma "criancinha" – consome uma lata – de 350ml, não “quase um litro” - diária de Sprite Zero, já excede o limite diário de ciclamato).
Mais um fato curioso: o ciclamato na terra natal da Coca-Cola não é permitido (ou seja, está ausente dos seus refrigerantes).
Voltando ao acesulfame-K, veja o que tem a dizer a séria ONG Center for Science in the Public Interest (uma tremenda “pedra no sapato” das indústrias):
“Os testes de segurança foram conduzidos nos anos 1970 e são de qualidade medíocre. Cobaias ‘chave’ foram afetados por doenças; um dos estudos foi vários meses mais curto do que deveria ter sido e não expôs os animais durante a gestação. Dois dos estudos sugeriram que o aditivo possa causar câncer.(...) Além do mais, altas doses de acetoacetamida, um subproduto, afetou a tireóide de ratos, coelhos e cães”.
Está na lista “negra” do CSPI (juntamente com o ciclamato, este por ser pelo menos um potencializador de outros agentes cancerígenos) dos aditivos a serem evitados.
Com a palavra...
Quem?