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29 de dezembro de 2006

Adeus Às Armas?



Fui, na infância, um assassino sanguinário.
Acompanhado de meus queridos amigos nas trincheiras de trás de casa (valas de esgoto que felizmente demoraram a serem concluídas), matei centenas, milhares de soldados inimigos com armas que disparavam barulhentos tiros de espoleta. Quando as armas não eram suficientes, granadas de barro completavam o serviço sujo - literalmente.
Hoje, dublê de “militar” e “cowboy” aposentado, ando muito sossegado. Ainda perco a paciência no trânsito (muito mais do que gostaria), ainda reclamo de filas demoradas, tenho um ou outro entrevero por qualquer banal motivo. Mas nunca me passou pela cabeça voltar a empunhar uma arma.
Daí o meu lamento quando vejo pais horrorizados com a possibilidade politicamente incorreta de seus filhos (do sexo masculino, principalmente) ganharem armas de presente de Natal*.
Tudo bem: bolas, carrinhos, bicicletas, etc. também dão vazão à energia agressiva natural dos meninos e meninas. No entanto - sei que muitos vão discordar - nada se comparava ao inocente prazer de “estourar alguns miolos”.
Obs.: claro que tudo depende do contexto. Também me causa arrepios ver uma arma de brinquedo nas mãos de crianças provenientes de lares desajustados ou em classes sociais (ou cidades) onde armas sejam um grande problema.
* No Natal passado cheguei a pensar em levar uma metralhadora pro meu sobrinho, contrabandeada dentro de um cavalinho de pelúcia. Fui logo rechaçado pelos adultos de verdade.

26 de dezembro de 2006

Espadas


Dois artigos “científicos” do British Medical Journal online chamaram a atenção na semana passada:
No primeiro deles, a comparação entre médicos clínicos e cirurgiões. Segundo o artigo, cirurgiões costumam ser mais altos e bonitos do que os clínicos gerais (isso mesmo: deram-se ao trabalho!). Perdem, no entanto, na comparação com os astros de Hollywood que interpretam médicos, o feioso George Clooney entre eles. (Epa! Espera aí! George Clooney interpreta um pediatra!).
Minha resposta é a mesma que David Letterman costuma dar:
-Alguém lá lembrou de ver as minhas fotos?

O segundo estudo, mais “sério”, enfoca os perigos da profissão de engolidor de espada.
As lesões vão desde leves inflamações de garganta até, claro, perfurações de esôfago.
Isso lá é meio de ganhar a vida? Não há nada melhor pra fazer?
Encantador de serpentes, por exemplo...

22 de dezembro de 2006

De Olho no Fundo


Quando é que a dor de cabeça pode ser causada por coisas mais sérias (tumor cerebral ou sangramento dentro do crânio, por exemplo)?
Algumas dicas são importantes para se pensar em problemas mais graves (lembrando que são causas muito mais raras de dor):
• dores que aparecem no meio da noite (durante o sono) ou ao acordar, pela manhã
• dor sentida como “profunda” (e não pulsátil)
• dor acompanhada de outros sintomas como alterações visuais (visão dupla, por exemplo – diferente da enxaqueca, onde os sintomas visuais são pontos brilhantes ou percepção alterada do tamanho dos objetos*) ou convulsões ou tontura freqüente ou rigidez de nuca
• dores muito freqüentes ou de intensidade cada vez maior
• dores de início muito abrupto (grande intensidade já no primeiro minuto de aparecimento) fazem pensar em sangramento intracraniano
Em casos suspeitos como os acima descritos, uma visita ao oftalmologista é importante. Não para detectar problemas de refração (necessidade de óculos, por exemplo, uma causa discutível de dores de cabeça), mas para fazer avaliação do fundo de olho (exame que se altera frequentemente quando há uma destas causas mais sérias para a dor).
*algumas vezes referida como “síndrome da Alice no País das Maravilhas”

19 de dezembro de 2006

Bolas Fora


Imagine se uma daquelas máquinas que lançam bolas de tênis para serem rebatidas pelo jogador do outro lado da quadra de repente emperrasse e começasse a jogar dezenas de bolas, todas ao mesmo tempo.
Segundo uma nova pesquisa, é assim que crianças com dislexia (uma freqüente causa de dificuldade escolar) se sentem.
Um fonema apenas deveria ser ouvido e interpretado (uma bola apenas deveria ser rebatida). Mas a falta de “filtro” cerebral adequado (neurônios chamados GABAérgicos, que “apagam” informações desnecessárias como outras conversas ou ruídos do ambiente, bem como os próprios pensamentos) faz com que estas crianças misturem informações. Veja exemplos de textos escritos por crianças disléxicas (principalmente n°.s 5 e 6).
Segundo os defensores desta novíssima teoria, justamente por isto estas crianças devem ser treinadas a ler e escrever em meio à bagunça, para desenvolverem a capacidade de filtrar as informações de forma adequada. Mas, provavelmente, se a teoria se provar correta, medicações também poderão dar uma forcinha, principalmente em fases iniciais do aprendizado.

15 de dezembro de 2006

Love is Dangerous


E a gente acha que corre grandes riscos quando corteja um novo amor...
Cientistas da Universidade da Flórida descobriram que os grilos, quando cantam para atrair as fêmeas a que supostamente teriam direito, atraem também um outro inseto com a sua voz melodiosa: as moscas. Estas, empolgadas com a cantoria, depositam seus ovinhos na carcaça do cantador e, após algum tempo, novas mosquinhas emergem de dentro da vítima, agora já morta, de uma maneira muito parecida com aquela figura conhecida do filme “Alien” (comparação dos próprios zoólogos).
Grilos: aconselho fortemente o celibato.

Nas Medidas, o Possível



A grande maioria das pessoas (senão todas) que nos procura para tratar de crianças obesas imagina que vamos – em tom professoral – dizer para elas, as crianças:
-Coma menos, viu?
-Exercite-se mais, viu?
Claro que todos sabem que alimentação mais equilibrada e exercícios físicos são importantes para evitar o excesso de peso. Mas, para ouvirem isso, não precisam ir ao médico! (ou precisam?)
O que nós devemos fazer é analisar cada caso, cada história do ganho de peso de forma individualizada pois – principalmente na infância – os obesos não são (como na piadinha preconceituosa dos japoneses) “todos iguais”!
A grande maioria das pessoas (pais de obesos, inclusive) olha para as pessoas com excesso de peso com cara de “veja, é preguiçoso!”, ou então: “não tem força de vontade!”.
Ninguém escolhe engordar demais (pelo menos não de forma consciente), ninguém escolhe ter todo um complexo metabolismo que conspira para uma economia de energia, ninguém escolhe ter aversão a exercícios físicos. Assim também, ninguém escolheria sofrer enormes preconceitos por toda a vida por ser obeso.
Há casos de obesidade em que, “feitas as contas”, não nos sobra muito com o que nos preocuparmos. Há outros, no entanto (e talvez não sejam tão poucos), para os quais a Medicina ainda tem muito pouco a oferecer. A boa notícia é que ela, devagarzinho, vai chegar lá.
Até lá, façamos o que é possível fazer. Um grande primeiro passo é enxergar os obesos com olhos menos preconceituosos.
Ou você, quando avista uma pessoa calva na rua pensa com desprezo: “Esse aí, ó, não gosta de cabelo!”

12 de dezembro de 2006

Sólido Patrimônio


Stuart Warden e colaboradores aventaram uma hipótese: a de que a massa óssea se cria forte na infância com exercícios físicos.
Para testá-la, dividiram dois grupos de ratos “crianças” (do nascimento até sete semanas de vida) em sedentários e ativos (nestes últimos, o exercício era diário durante todo o período “infantil”). A partir daí, os dois grupos foram forçados ao sedentarismo.
Conclusão: mesmo no fim da vida (cerca de 92 semanas) os ratos que se exercitaram na “infância” apresentaram ossos evidentemente mais fortes e sólidos, mesmo que na idade adulta tenham parado de se exercitar.
O recado, então, é de que, embora o exercício seja recomendado por toda a vida, crianças devem ser estimuladas para atividades que envolvam o impacto do próprio peso como saltar, basquete, pular corda, etc. para que se mantenham com ossos saudáveis até a velhice.

8 de dezembro de 2006

Deixa o Pinto em Paz!


Mal o menino nasce, as mães já querem saber se há necessidade de se fazer “massagem” para a fimose.
Calma! A fimose (recobrimento da glande, a cabeça do pênis, pelo prepúcio – a pele desta região) é a regra na maioria das crianças pequenas.
Com o passar do tempo há uma natural abertura desta pele. Não há, então, necessidade de se fazer massagem. Pelo menos nas crianças pequenas.
O prepúcio serve, além disso, para proteger a glande da ação química da urina e da ação mecânica das fraldas. Apenas nos casos em que há dificuldade de passagem da urina (ausência de jato urinário normal) ou inflamações freqüentes por dentro do prepúcio (as postites) é que se cogita acelerar a abertura que ocorrerá de forma natural (possivelmente com cirurgia da fimose).
Cirurgias que são, portanto, também desnecessárias numa fase muito precoce (costuma-se brincar que é a cirurgia de fimose é o ganha-pão de muito urologista; alguns deles, por conta desta cirurgia, já abriram grandes cadeias de panificadoras).

5 de dezembro de 2006

Última Que Morre


Há uma música do Simply Red que diz:
“If you don’t know me by now, you’ll never know me”
(Se você não me conheceu até agora, você nunca irá me conhecer)
Odeio ser pessimista, mas a letra da música parece se aplicar à busca incessante pela vacina contra a AIDS. Há cerca de um quarto de século, cientistas do mundo inteiro têm se debatido para descobrir como minar as várias estratégias de sobrevivência deste vírus elusivo.
Uma das grandes dificuldades deve-se à enorme capacidade de multiplicação do HIV. Multiplicando-se bastante, cria condições de se modificar bastante (as chamadas mutações genéticas ocorrem com grande freqüência, dificultando a memória imunológica). Além disso, infecta vários tipos de células diferentes (dentre elas, os próprios linfócitos T, de longa duração, responsáveis pelo combate ao vírus). Outro grande problema é a incorporação definitiva ao material genético das células infectadas (é como se o vírus se tornasse uma parte da pessoa portadora).
Walensky e colaboradores, num artigo recente do The Journal of Infectious Diseases calcularam que cerca de 2,8 milhões de anos de vidas foram poupados desde 1989 até hoje, com os tratamentos disponíveis para a infecção. Este talvez seja o motivo pelo qual muitas pessoas atualmente acreditem que a AIDS tenha deixado de ser um grande problema.
Acredite, continua sendo. Nada, pelo menos na próxima década, será ainda mais importante do que a velha prevenção.

Jô Soares uma vez disse que quando a cura para a AIDS fosse descoberta, até Charles Bronson iria “soltar a franga”. Charles Bronson já não está entre nós.
Continuamos esperando...