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31 de dezembro de 2007

N'Anonovo



Não há outra resposta a um atchim. É "Saúde".
Aos parentes do falecido, é só "Meus pêsames" (há quem arrisque um "Pôxa...")
E como se responde a um "Bom Dia" senão exatamente da mesma forma?
Então, no final do ano, só sempre a mesma e velha - velha como o ano que termina - frase:
"Feliz Ano Novo!"
Já tentou dizer outra coisa, algo digamos, mais original?
- Ah, tem "Próspero"...
Próspero? Francamente! Parece coisa de rótulo de laticínio: "Agora com mais ferro, cálcio e próspero".
Além disso, tente próspero com a farofa do pernil ou com dois dedos de álcool.
E "ano"? Dá pra substituir "ano" por alguma outra palavra? Há filósofos nepaleses que garantem que sim.
Enquanto aguardamos a resposta, pensemos no que usar no lugar do "novo".
Vindouro? Futuro? Que ora estreará?
Não tem jeito. Não há como ser diferentinho em datas como estas.
E lá vamos nós mais uma vez. Roupinha branca, uva Itália, caras de felizes da vida e "Feliz Ano Novo!"
Ou, então, apenas polegares levantados.

25 de dezembro de 2007

O Pequeno Idoso Sempre Vem


Tenho um metro e noventa e dois centímetros.
Embora hoje em dia isso não signifique muita coisa em termos de altura, volta e meia ouço alguém me dizendo:
-Pôxa, como você é alto, hein?
Não sei se o tom é de admiração. Ou de elogio. Ou, ainda, de “precisava crescer tanto?” (vai ocupar mais espaço pra cima, vai atrapalhar o espaço da gente).
Vou vivendo. Ainda de forma tranqüila.
Não é o que costuma acontecer com o sujeito obeso.
Obesos já são olhados com olhos de preconceito. Frequentemente vejo mesmo os obesos olhando com preconceito para outros obesos (vide Faustão).
Todos temos parentes e amigos mais ou menos obesos. Não deixamos – espero – de gostar deles por serem assim.
Por isso o assombro com algumas mentes engenhosas que tramam campanhas como a engendrada neste fim de ano contra o Papai Noel britânico. Quiseram emagrecê-lo.
O motivo?
Óbvio. Não podemos passar pras crianças o exemplo de um sujeito que alcança idade assim tão avançada (que idade mesmo?) nessa forma física tão deplorável. Um obeso! E aí o corolário: um obeso poderia ser também um preguiçoso, um glutão, um inativo, etc.
Santa Claus! Digo, santa paciência!
Felizmente vozes se insurgiram contra tal patrulhamento. Pelo menos no caso do bom velhinho (150, 200?). Uma outra campanha ou uma “contra-campanha” (com doação de alimentos a pessoas carentes para cada subscritor): deixem o Papai Noel obeso! Que obeso o quê? Gordo mesmo?
E não encham ainda mais o seu já cheio saco!

Feliz Natal.

21 de dezembro de 2007

Ejercitese! Muevase! (Pero No Mucho)


Atletas de ponta e os que pretendem ser (a grande maioria) treinam arduamente, senão propriamente “noite e dia”, pelo menos manhã e tarde. E convivem com a regra de abusar do físico, no mais das vezes considerando isto um fato normal.
Cansados? Descanso? Não. Mais treino!
São vistos e endeusados pela mídia. Cada vez mais, pois vendem.
“Atletas mortais” (não os dos fins de semana, que estes não são os “atletas”, das aspas), os de todos os dias, aqueles que querem “manter a forma”, espelham-se nos anteriores: treino! Cansadinho dos afazeres do dia-a-dia? Não interessa: treino!
E o corpo ali, pedindo arrego, pedindo descanso (e dizendo de si para si mesmo: “deixe que numa hora dessas eu me vingo!”).
A corrente profissional do esporte - cidadão fitness é assim formada. Um dando força para o outro. Ambos bonitos, seja na foto da revista de esportes ou no vestido da moda. Ambos esbodegados. Um com dinheiro no bolso, outro “se sentindo”, ainda que, o último, com uma tremenda sensação de incompletude (é de se perguntar: o que leva ao quê?).
De novo, normal. Pros tempos atuais.
Noutro extremo, os sedentários. Com consciência pesada, com problemas de saúde diversos (quais são os piores?) dos fisicamente hiperativos, mas aparentemente mais felizes. Talvez só pelo fato de disporem de mais tempo. Tempo para contemplarem (apenas contemplarem) a manhã ensolarada. Tempo para relações humanas. Tempo, enfim.
Poucos são os que se exercitam com sabedoria. Os que sabem o valor da constância*, mas não se tornam escravos, viciados em endorfinas e encefalinas.

* Constância aqui se refere ao ser constante, ao ser freqüente.
A Constância, irmã da Hortênsia, tem nada a ver com isso...

18 de dezembro de 2007

Para Cima ou Para Baixo


Você provavelmente conhece o tipo:
Um jovem de intelecto brilhante, com sucesso acadêmico acima da média, muitas vezes meio malucão, que – a partir de certo momento – fica mais malucão ainda. Começa a usar drogas, ou beber demais, ou a ter comportamentos compulsivos ou a ficar inconveniente para amigos e familiares.
Este é o sujeito com bipolaridade mais ou menos típica (ou com transtorno bipolar - a antigamente chamada psicose maníaco-depressiva). Bipolar porque alterna – mas nem sempre – entre dois pólos: o da mania (emoções exacerbadas “para cima”) e o da depressão (emoções “para baixo”).
Sua freqüência é estimada em 2% da população adulta (metade destes casos já se apresenta na adolescência e, em muitos destes, indícios importantes podem estar presentes mesmo na própria infância – normalmente os de evolução mais séria).
Veja que 2% não é pouco. Mas também não chega a ser o exagero que às vezes se pretende em algumas publicações.
Há, no entanto, na literatura médica, uma “nova” categoria, os chamados bipolares subsindrômicos. São justamente aquelas pessoas com alternância de humores mais leves, em que persiste a dúvida se vale a pena o tratamento com medicamentos, por exemplo. Chegam a 5% da população. Estes pacientes normalmente têm história familiar de problemas psiquiátricos e apresentam associação freqüente de outros comportamentos “anormais” (principalmente anti-social e/ou os chamados transtornos de personalidade borderline).
O recado mais importante para os pais é que, não importa o nome que se dê, crianças e adolescentes que mostrem sintomas afetivos em excesso (irritabilidade, crises de birra além do aceitável, pensamentos obsessivos, grande intolerância a frustrações, sono excessivo ou muito pouco sono, desafio freqüente das autoridades, idéias demasiadamente grandiosas, etc.) devem ser vigiados de perto pelos seus cuidadores (e os pais devem estar receptivos para avaliações psicológicas ou psiquiátricas, bem como devem informar-se sobre o assunto).

14 de dezembro de 2007

Shades of Grey *


Da próxima vez que você solicitar ao seu médico uma tomografia (porque hoje em dia é muitas vezes o paciente que solicita), pense duas vezes.
Da próxima vez que seu médico solicitar uma para você, faça-o considerar outros exames (se é que realmente precisa de algum).
Há cerca de 2 anos, a Academia Nacional de Ciências americana divulgou sério relatório alertando para os riscos da exposição abusiva de pacientes à radiação (notadamente à radiação representada pelas tomografias computadorizadas).
Nele, os cientistas afirmam que a radiação de apenas uma tomografia realizada na vida pode ser suficiente para causar câncer.
Por que então as pessoas dão pouca bola pra isso e continuam a se submeter a exames muitas vezes desnecessários (para se ter uma idéia, na nossa cidade a estimativa é de cerca de 90% de exames completamente normais)?
A culpa, segundo o autor de artigo no site do Medscape, pode ser da chamada “ciência da experiência imediata”: ninguém sai da mesa de exame quente, queimado, vermelho ou sem cabelos. Os tipos de câncer provocados por este tipo de radiação (leucemias, tumores de mama e tireóide, principalmente, podem chegar a 1 caso a cada 550 expostos em crianças) levam até 20 anos para aparecer. São de difícil comprovação. E até lá, o médico que solicitou o exame já estará inacessível, provavelmente.
Claro que a tomografia tem suas indicações (indicações estas que estão sendo progressivamente transferidas para a ressonância magnética, exame que não envolve radiação, pouco mais cara do que a tomografia). O que se discute, o que se alerta para é o exagero, o exame mal indicado, o comércio, a própria ignorância.

* Shades of grey (“tonalidades de cinza”), mais ou menos intensas, princípio no qual se baseiam as imagens da tomografia computadorizada. O título aqui me foi inspirado pela música “Whiter Shade of Pale”, hit de 69, ainda hoje cantada por quase todo o mundo.

11 de dezembro de 2007

Sargento Magrão



Pra pensar:

Quanto do ganho de peso se deve a:

-pena de jogar fora restos (cultural, personalidade)?
-preguiça de guardar resto?
-gosto pelas “contas exatas” (“Faltam só seis biscoitos para inteirar o pacote”)?
-consumismo (“Nem gosto disso, mas... olha que pacotinho bonito!”)?
-modismo (“Imagine, nunca comeram no Pizza Hut!”)?
-atração por novidades (“Agora com gosto de abóboras selvagens, vamos levar!”)?
-ignorância (das mais diversas, como incapacidade de calcular valores dos nutrientes, crença em rótulos desonestos, etc.)?
-credulidade (principalmente quando se quer crer, por exemplo, que algo gostoso está “agora mais saudável”)?

Não nos enganemos, a indústria alimentícia se utiliza destes conhecimentos (psicólogos fazem parte do departamento de marketing de muitas delas) para nos “levar no bico”.

Agora responda:
Quantas dessas situações melhoram – e muito – com quatro silabazinhas:
Dis-ci-pli-na ?

7 de dezembro de 2007

Duras Penas


(-Você recebeu um "male"! - "macho", pronúncia semelhante a "mail" - um sinal inequívoco de que seu médico passa muito tempo "online")


Alguns podem argumentar que uma prova - justamente - não prova nada.
Não quero cuspir no prato que como (nem ser o roto que fala do rasgado), mas faz pensar o crescente índice de reprovação (deu no JN, ontem) na prova de avaliação do Conselho dos sextanistas do curso de Medicina do Estado de São Paulo.
Por que?
Primeiro porque a reprovação tem sido exatamente crescente (assustadores 56% nesta última). Ou seja, ou a prova tem se tornado cada vez mais difícil, ou o nível dos estudantes tem piorado a cada ano (tudo bem, são só três anos de realização da prova...).
Segundo, porque o que se está testando é o nível de conhecimentos dos médicos do estado mais rico, mais aparelhado, maior concentrador de cérebros e com as melhores escolas (é inevitável a reflexão: imagina o pior...).
Terceiro, porque “Siqueira ou não”, estudantes do curso de Medicina – mormente os que concluem o curso – são parte da elite intelectual – como diz determinado presidentedesse país.
Mais estarrecedor é o fato dos que se submeteram à prova terem sido supostamente a parcela que se considerava melhor preparada, visto que a mesma não era obrigatória nem pré-requisito à atuação profissional.
Convivi com colega que - há mais de vinte anos – cravava palavras como “ingessão”, dentre outras pérolas, nas provas escritas da faculdade (não virou ortopedista, nem – felizmente – lê meu blog, mas ainda atua normalmente). Convivo com outros que confessam que “detestam ler” (um deles, profissional respeitado, me disse: “Aquelas palavras ali, me dão um sono...”).
Não acredito que médicos devam ser seres como o que apareceu num filme antigo – cujo nome infelizmente não recordo - que em cada cena que aparecia (no banheiro, na banheira, na cama ao lado da esposa carente, no jantar, etc.) estava estudando, se atualizando, como uma peça sinistra da decoração da casa.
Acho, no entanto, que pessoalmente me sentiria mais tranqüilo com um profissional mais parecido com esse a cuidar de mim do que alguém que conta letrinhas pra pegar no sono (ainda que, claro, conhecimento técnico seja apenas um dos atributos do bom profissional).

Anabola da Vez

-E aí, Rebeca, confessa, anda dando um tapa numa nandro...
-Não, mas não me custava nada dar uma bifa num malandro!

4 de dezembro de 2007

Da Suíça, Direto



Brilhante a entrevista do cientista e imunologista suíço Rolf Zinkernagel (o da direita na foto), Nobel de Medicina de 1996 (juntamente com Peter Doherty – o da esquerda) no site médico Medscape. Como é um site “fechado”, vou dar uma baita resumida no que o cara disse. Sente, prepare-se.
Segundo ele, epidemias “novas” como as do HIV, do SARS, da tuberculose resistente, do vírus Ebola só têm aparecido pelo fato de que a ciência nos fez viver muito mais do que “deveríamos”.
Biologicamente, o ser humano foi feito para se reproduzir até por volta dos 20 a 25 anos de idade e, após isso, “babau”: morrer! Como não é o que acontece, continuaremos a sofrer com novas doenças infecciosas, cânceres e doenças auto-imunes (como a artrite, o lúpus, o diabete, os problemas de tireóide, etc.), não importa o quanto a ciência avance.
Não por isso devemos nos conformar, claro. Porém, no caso da AIDS, a posição do Dr. “Zink” (não contem que eu já peguei intimidade com ele) é clara:
Sua aposta é de que o vírus HIV vai – infelizmente num prazo de algumas centenas de anos – se adaptar ao sistema imunológico humano (como já o fez o vírus HIV-2) e, a partir daí, tornar-se-á um conviva, pouco agressivo, nos moldes do vírus da herpes. Não é do “interesse” do vírus matar seu hospedeiro. A tentativa de erradicá-lo, devido a sua grande capacidade de mutação, segundo ele, somente piorará o problema. Até lá, só nos resta manter o controle sobre o sangue utilizado em transfusões e evitar o sexo desprotegido.
“Zink” diz que, de longe, o grande problema da saúde mundial é o próprio comportamento humano. Palavras dele:
“Se nós não fumássemos, não comêssemos em excesso e não bebêssemos em excesso, não teríamos a maioria dos problemas de saúde, em primeiro lugar. Nós todos somos excessivamente estúpidos no que diz respeito ao nosso próprio bem-estar. Quanto mais cedo percebermos isto, mais cedo seremos capazes de nos salvar.”

30 de novembro de 2007

Peneira


Não. Vocês não tinham o direito de fazer isso.
Sim, porque há uma grande distância entre a formação do pensamento e a vontade, a disposição de emiti-lo. Há – ou havia – alguma espécie de filtro aí.
Neste momento, por exemplo.
Meu único pensamento está voltado para essa enfermeira escrota – vocês nem pensavam que eu, um profissional respeitado, dissesse palavras deste calão, escrota, não é mesmo? - do turno da noite, essa tal de Vandete ou Nodete ou coisa parecida. Isso não é uma mulher, muito menos uma enfermeira para trabalhar num lugar como esse. Um hospital requintado, com tecnologia suficiente pra botar alguém na lua, contrata essa Luzinete ou Margarete pra cuidar da gente, uma pouca vergonha isso...
Pronto. Tá vendo? O que que eu faço agora? Falei, tá dito! Espera o novo turno da moçoila e então confere o tamanho do furo no braço, o calibre da sonda, veja lá se ela não vai buscar vingança por eu ter falado – falado? – essas coisas dela!
Vai adiantar dizer que foi falha aí dessa geringonça que vocês puseram na minha cabeça? Duvido!
Não façam mais isso. Desliguem logo essa máquina. Já não chega a minha condição, o meu acidente. Como disseram –de forma, claro, fantasiosa - os jornais: esse rapaz, uma pessoa jovem, tão cheia de projetos... Projetos! Rá! O único projeto que eu tenho agora é esse enorme projétil dentro da minha cabeça. Ha, ha, ha!...Muito boa essa!
Tá bom, sei que não foi muito engraçado dito assim, no frio traçado dessa coisa, dessa máquina aí. Teria sido, se tivesse saído direto da minha boca. Ou quem sabe não, vocês médicos e cientistas são tão sérios, tão sem graça... Ó! Tão vendo? Eu de novo com essa minha língua – língua? Ainda tenho isso? – grande, falando (pensando) bobagens o tempo todo.
É mentira, vocês todos são uns amorecos! Até mesmo a Nizete! Não, a Nizete, não! Não deixa ela chegar perto de mim, não deixa, não deixa!


Cientistas dos Estados Unidos anunciaram que podem estar muito próximos de “traduzir” o pensamento de um homem que perdeu a fala após um acidente de carro.
Segundo artigo da revista New Scientist, os pesquisadores da Universidade de Boston implantaram eletrodos no cérebro do paciente, Eric Ramsay, que está paralisado, mas consciente há oito anos.
Os eletrodos registraram impulsos nas áreas do cérebro envolvidas na comunicação verbal.
Agora, os cientistas devem usar os sinais gerados para criar um software que traduz os pensamentos em sons.
Apesar de os dados ainda estarem sendo analisados, os pesquisadores acreditam que poderão identificar corretamente os sons que o cérebro de Ramsay estaria formulando, em 80% dos casos.

27 de novembro de 2007

D'Evolução




Sua azeitona não está suficientemente azeitada? O pepperoni anda “derrapando nas curvas”? A casquinha parece um tanto “cascuda”?
Recalls eram coisas até há pouco tempo associados a carros. Ou então a eletroeletrônicos ou eletrodomésticos. A onda agora é recall de comida. Isso mesmo, de comida!
Neste mês, 120 milhões de americanos ficarão de boca aberta – prontos para a dentada – e terão que devolver às fábricas todas as pizzas (congeladas) de sabor pepperoni, o sabor preferido dos americanos, segundo a Wikipédia (o pepperoni é uma espécie de salame que combina as carnes suínas e bovinas).
O motivo?
Novo surto de infecção por E.coli O157:H7, aquela mesma bactéria extremamente agressiva (e potencialmente letal) dos hambúrgueres do McDonalds de algum tempo atrás.
E por que satanases isso vem acontecendo ultimamente?
Seguindo o rastro da bactéria até os abatedouros americanos descobre-se que o gado que outrora era alimentado em pasto aberto, agora é alimentado com – apenas – milho. O mesmo abundante milho que o governo americano estimula como monocultura, por facilidades econômicas.
O estômago do bicho (chamado de rúmen), de pH normalmente neutro, torna-se ácido com a nova dieta. É nessa inesperada acidez que a bactéria “aprende” a crescer, desenvolvendo resistência à acidez do estômago humano. Some-se a isso o uso abusivo de antibiótico para otimização do crescimento do animal e as péssimas condições de higiene no confinamento onde ele é criado e pronto! As antigamente inocentes bactérias intestinais (suas parentes menos patogênicas coabitam nosso intestino) agora têm representado novo risco à saúde*, se desenvolvendo em carnes “de fácil acesso”, em redes de lanchonetes e de congelados.
Por isso, fique atento! E por enquanto, reze, pois embora os recalls de alimentos estejam sendo um modismo americano, não sei se você sabe, mas também estamos consumindo alimentos deles.
Uma dúvida me incomoda: o que se devolve quando a pizza ou o hambúrguer já foram comidos?
* A FDA (agência americana que supervisiona alimentos e remédios) diz que podemos ficar tranqüilos: a carne vermelha será devidamente irradiada(!).




Último Bastião

Não sei se repararam, mas uma nova – mais uma! – revolução tecnológica acaba de chegar “às bancas”.
Agora é com os livros. O kindle, uma parafernália que os transformará em objetos (quer dizer, deixarão de ser objetos) mais baratos, mais fáceis de serem comprados (um click - sem fio, sem acesso, sem precisar, portanto, pensar para serem consumidos).
Bill Hill, o homem da Microsoft por trás da tecnologia do e-reading (a leitura digital) pergunta na Newsweek desta semana: “Vocês realmente acham que nós ainda estaremos cortando árvores, transportando às fábricas, transformando-as em polpa, transportando a outras fábricas para serem prensadas em folhas, embarcando para outro local para pôr marcas sujas nelas, cortando, encadernando e mandando livros para o mundo todo daqui há 50 anos?”
Livros, então, também começam a ser mais descartáveis. E, justamente por conta disso, menos apreciados. Como tem soído acontecer.
(P.S.: ia encomendar o meu, mas ainda é só para americanos...)

23 de novembro de 2007

Xiii!...




-Por favor, senhor Leão, não urine neste local enquanto o senhor dorme, aqui é a sua cama. E, afinal de contas, o senhor já é um adulto, não fica bem!
O único animal que tem “hora marcada” para parar de fazer xixi na cama – e, por sinal, o único que pára - é o homem. Daí, como a Medicina quer ter respostas (e principalmente diagnósticos) para tudo, se criou a “patologicalização” (medicalização, vai) do ato de se molhar a cama.
Até aí morreu o Neves... (para os mais novos: até aí tudo bem, sem problema!).
O problema é que as mães (e às vezes médicos), ansiosas por verem uma cama sequinha, esquecem que:
• crianças até uma cerca idade molham mesmo as camas, sem que isso signifique doença ou anormalidade (pelo menos até próximo dos 5 a 6 anos de idade).
• crianças têm amadurecimento das suas capacidades de forma distinta umas das outras.
• a capacidade de não urinarem à noite depende – e muito – da postura dos pais a respeito. Quanto mais pressão, pior fica, normalmente.
• há uma tendência familiar na questão. Crianças que demoram em ter suas camas secas, quase sempre têm a mãe ou o pai ou um tio que demoraram a iniciar o controle.
• não contem para ninguém, mas cerca de 1 a 2% dos adultos às vezes molham suas camas!
• muitas vezes o molhar a cama mostra alguma dificuldade emocional – de caráter transitório, na maioria (p. ex., quando nasce um irmão).
Então, há que se ter cuidado com mais este motivo muitas vezes “criado” por médicos e indústria farmacêutica (ou os dois meio mancomunados) para se fazer exames, para se dar remédios (com potenciais reações adversas importantes) para um problema que no fundo, no fundo, é mais de cunho “social”.

20 de novembro de 2007

Mundoce



Culpem o tremendo excesso de calorias ingeridas pelas crianças em quase todo mundo.
Mas culpem principalmente – segundo a eminente endocrinologista Dorothy J. Becker, presente no recém-concluído VII Congresso Brasileiro Pediátrico de Endocrinologia e Metabologia, em Florianópolis – o sedentarismo pelo assombroso crescimento nos casos de diabetes na faixa etária infantil (tanto do tipo I quanto especialmente do tipo II, além da associação agora mais freqüente dos dois tipos, pela grande incidência de obesidade).
Há dois motivos básicos pelos quais botamos glicose (diretamente ou pela digestão e transformação de outros nutrientes) para dentro de nossos corpos, além da energia necessária para nos manter vivos: 1) o funcionamento do cérebro (gasto constante seja para não pensar em nada ou para resolver complexas equações matemáticas) e 2) o funcionamento dos músculos. Mas... pra onde vai todo aquela glicose se não mexemos (e se não mexemos não “fazemos”) os músculos?
A resposta é:
Estoque! Na forma de tecido gorduroso que, hoje se sabe, tem importante função endócrina (e – o que é pior – “conspira” para nos deixar mais obesos e predispostos à diabete).
Portanto, pais e filhos, sigam a recomendação daquela famosa dupla de policiais do Casseta e Planeta: mexam já seus traseiros gordos! Saiam da frente desse computador e vão à luta!

16 de novembro de 2007

Feche a Boca e Abra os Olhos



Pegue o ingrediente X, misture ao ingrediente Y, acrescente uma pitada de delta-ômega (para dar um toque de mistério à fórmula) e dê a ratos de laboratório para ver o que acontece.
Há décadas (e cada vez mais nas duas últimas) é isso o que a indústria alimentícia vem fazendo conosco, seus enormes “ratões de laboratório”.
Grande parte dos ingredientes contidos em alimentos industrializados não costumam ser assim tão maléficos. Servem aos propósitos de esticar prazos de validade, dar melhor aparência e/ou consistência aos alimentos, etc. A pergunta que cabe é: e quando os efeitos são –ou podem ser – realmente maléficos, o que acontece?
A indústria se vale do fato de que estes efeitos são de difícil comprovação. O raciocínio é mais ou menos assim: você come de tudo, faz isso e aquilo, quem garante que o que você comeu da nossa marca foi o que te fez mal?
E vá comprovar, numa sociedade em que mesmo a indústria do fumo se sente alforriada...
(é claro que não vai se chegar ao extremo de colocar, por exemplo, estricnina nas fórmulas de alimentos, mas quando vemos o que se faz por aí, dá para ficar com alguns dos fios de cabelos em pé).
Daí a estratégia mais sábia da escolha de alimentos menos sujeitos a estas interferências, os alimentos “naturais” (muito embora na agricultura, também, grandes “pecados” têm sido cometidos, como no abuso de fertilizantes e defensivos agrícolas).

13 de novembro de 2007

A Correta Maneira de Avozar


(Avozar: neologismo recém-criado –mas que provavelmente não durará muito tempo, pois bolado por esta mente insana que vos escreve – que significa apenas: estilo de ser avô, ou avó).
Há, talvez, poucas coisas mais perniciosas para o desenvolvimento da criança que avós que “jogam contra” os pais.
Vendo pelo lado deles, estão no seu – digamos assim – direito: querem conquistar a simpatia dos seus queridos netinhos (e muitas vezes, de quebra, espezinhar as “queridas” noras e genros).
Então é aquela coisa do “eu proíbo, vocês autorizam”, “eu não dou, a avó dá”, “nós dizemos não, vocês dizem tadinho”. E vai a criança pela vida com uma criação inconsistente, com dúbios recados do que pode ou não pode, do que deve ou não deve fazer.
Avós costumam – até pela própria perda da rigidez característica da maturidade – ser mais flexíveis com os pequenos deslizes do dia-a-dia cometidos pelas crianças. Isso é uma coisa.
Outra coisa é querer subverter (embora concorde que a palavra seja forte para com um ente querido) a mínima ordem necessária para a educação da criança.
Não queremos, como pode parecer, uma guerra contra os avós. Pelo contrário, devemos trazê-los para nosso lado da trincheira nesta batalha diária da criação dos filhos. Serão poucos os avós que não compreenderão porque devem se unir nos esforços dos pais na educação dos filhos, desde que devidamente cooptados.

Absolvido

Dito ontem, no Programa do Jô:
“Roubar a idéia de alguém é plágio. Roubar de vários é pesquisa”.

9 de novembro de 2007

O Outro, Jr.


Imagine-se você, bonitão(ona), de repente sabendo que seu pai não é, na verdade, seu pai.
Sempre uma situação complicada. Mas, segundo matéria do jornal de epidemiologia do British Medical Journal, provavelmente mais freqüente do que se possa imaginar.
As estatísticas são complicadas pela amostra pesquisada: quando são pais desconfiados a confirmar a “pulada de cerca” materna, os números chegam a mais de 25%. Na população geral (dados baseados em pesquisas realizadas por outros motivos) há, no entanto, números suficientemente alarmantes: cerca de 4% dos filhos gerados são de pais alheios à relação oficial.
A pesquisa cita as conseqüências deste fato como o tratamento dado ao filho bastardo (termo que por si só já passou a refletir preconceitos), as implicações em termos de violência doméstica, a influência negativa na outra família (a do verdadeiro pai biológico), as conseqüências médicas em termos de previsões e prognósticos em saúde, etc.
Situação que deve ter variado em freqüência de acordo com o período histórico, mas que certamente se relaciona com condições sociais, idade materna e liberalidade sexual.
Porém, dentre outras causas citadas para a paternidade discrepante (termo usado na matéria) há a situação da mãe que – ao contrário do “acidente” da gravidez não-planejada no relacionamento extraconjugal – busca justamente engravidar de outro homem para a realização da gravidez impossibilitada (ou não desejada) pelo seu atual companheiro.
Sobrancelhas arqueadas, pais!


Céus, Me Aguardem


Vendo um grupo de meninos se divertindo a tarde toda pensei que, se a salvação da alma masculina dependesse do número de horas que passam correndo sorridentes atrás de uma bola, mais da metade da população do paraíso seria composta por homens – e brasileiros.

6 de novembro de 2007

A Fundo





Temos visto cada vez mais crianças hipertensas.
Dois novos motivos para isto podem estar sendo esclarecidos nos últimos tempos.
Um estudo recente mostrou que o nitrato (presente de forma abundante em legumes e vegetais) é capaz, pela sua conversão em óxido nítrico (um relaxante dos vasos sangüíneos), de fazer a pressão arterial abaixar de forma significativa. É sabido que muitas das crianças de hoje em dia “detestam” legumes e verduras. Já “besteiras”...
Outro estudo mostrou que o uso freqüente de analgésicos (de qualquer tipo: entre eles ácido acetilsalicílico, paracetamol e ibuprofeno) tende a provocar hipertensão arterial com o passar do tempo*. Embora o estudo tenha sido realizado em idosos, imagine o efeito que – teoricamente, ao menos - pode ter em crianças (claro que no uso freqüente).
*Efeito provavelmente dado pela inibição das prostaglandinas, substâncias com efeito vasodilatador (também relaxante dos vasos), além de outros mecanismos.

Lamúria

Manhã
Acordado
No espelho um desacordo
Entre o aceito
E o conformado

2 de novembro de 2007

Da-dá Licença


“Gu-gu, da-dá, da-dá, gu-gu”, disse Bianca, uma bela mocinha de 4 meses de idade, o que, numa tradução livre, quiz dizer mais ou menos: “Tenho meus direitos, ora. Quero seguir sendo amamentada exclusivamente no seio até os 6 meses de idade. E, portanto, exijo minha mãe em casa!”
(o idioma bebês – diferente do português, do inglês e do senegalês – é mais econômico no uso das palavras)
“Da-dá, da-dá”, responde o empregador à criança (sem entender, claro, que ela está contra ele na discussão). E, voltando-se para a mãe: “Sem du-dú, quer dizer, sem dúvida – essa coisa de bebês pega – acho que você tem toda razão. Pensando a coisa na perspectiva dela (aponta para Bianca, que faz que não é com ela), acho certíssimo: bebês amamentados são mais saudáveis, e precisam mesmo de suas mães em casa. Agora, pense do meu ponto de vista: haverá mães que provavelmente engravidarão todos os anos, só para gozarem do benefício dos seis meses em casa (ia falar “de papo pro ar”, mas sabiamente calou-se – Bianca, no entanto, percebeu, e mandou-lhe um cenho franzido em resposta).
“Problema seu”, ia dizer a mãe. Mas, também sabiamente (pois precisa do emprego), disse apenas: “Verdade. O que não é o meu caso. Com o João Henrique e, agora, com a Bianca, já fechei a fábrica. Pra mim, chega! Sabe como é: filho dá muito trabalho, além de muita despesa e preocupação... Nunca pensaria em ter filho apenas para faltar ao trabalho.”
“Gu...” ia dizer Bianca. Interessou-se, porém, por um mosquito enorme na parede e distraiu-se.
“Claro, claro”, concordou o empregador. “Você é uma das minhas melhores funcionárias”, arrematou, pensando: “O que não quer dizer que pestanejaria em pô-la na rua ao menor vacilo...”

Então estamos assim: todos (bebês, mães, empregadores) com sua razão. Virão os seis meses de licença (maternidade, amamentação ou o que quiserem chamar)? Será realmente bom, no final das contas? Falando em contas, quem as paga? A já rica Previdência, claro... Correremos o risco de ver os empregos para mulheres em idade fértil irem escasseando?
O tempo dirá.
Sou pediatra, tenho que ser a favor do bebê nessa história. Mas, por via das dúvidas, já ando pensando numa “secretária homem” para trabalhar no consultório...

30 de outubro de 2007

Dependurados



Nos idos tempos das cavernas, mães podiam confiar no fato de que o período de amamentação não iria trazer novas surpresas: novos ciclos férteis e, como conseqüência, novos bebês.
Não é mais assim.
E por que?
Porque naquele tempo amamentação era, digamos assim, “pra valer”. Filhos andavam grudados nos peitos das mães noite e dia, fizesse chuva ou sol.
Hoje as mães têm outros afazeres. E, pelo menos em alguns períodos, deixam de amamentar (por exemplo, no período noturno – tem mãe de bebê pequeno que acha que tem direito de dormir, ora essa!). Como ensina o site da La Leche League (referência no assunto), isto faz com que a glândula hipófise* vá voltando a funcionar (voltando a produzir ciclos – sem ovulação no início, mas logo ovulatórios novamente).
Então só devem confiar na contracepção provocada pela amamentação mães à moda antiga, aquelas que não tiram seus bebês do peito (mesmo à noite) e olhe lá! (e ainda assim nos primeiros 6 meses)

* A hipófise (ou pituitária) está localizada na base do cérebro. Anatomicamente penso na hipófise como se fosse “a bolsa escrotal do cérebro” (talvez por isso mulheres ajam apenas com seus cérebros!).
Durante a lactação, a hipófise – responsável pela produção dos hormônios do ciclo menstrual – fica “ocupada demais” na produção de prolactina (o hormônio que induz à produção do leite), levando à cessação dos ciclos.

Ânus Dourados

Como saber se você anda tomando leite com água oxigenada?
Água oxigenada é aquela coisa que as mulheres usam pra deixar o cabelo loiro, não é?
Então.
Peça pra alguém examinar os pêlos do seu...
Bom, deixa pra lá! Não tem nada de científico nisso.

26 de outubro de 2007

Que &*$¤‡Ω de IMC é Esse?


No início, era apenas o gráfico de peso (idade na linha horizontal e peso na linha vertical). Baseado nele, dizíamos: olha, você está gordinho (ou magrinho). Seu peso está acima (ou abaixo) da média (para determinada idade).
Após algum tempo, alguém argumentou:
-Mas, espera... Como é que você pode me dizer que estou magrinho ou gordinho neste gráfico se você não está levando em consideração minha altura?
Claro! Alguém muito alto com um peso “X” é muito mais magro que alguém muito baixo com o mesmo peso!
Criou-se então a avaliação da massa corpórea, que, pode-se dizer, é a mescla do gráfico “peso x idade” e o gráfico “altura x idade”, numa tentativa de se eliminar as distorções provocadas por diferentes alturas na avaliação do peso. Além disso, a massa corpórea (dada pela continha chata do peso dividido pela altura vezes a altura) reflete com alguma confiabilidade a porcentagem de gordura corporal*. Pessoas com IMC (índice de massa corpórea, o resultado da continha chata) elevado são consideradas obesas (para crianças e adolescentes foi criado um outro gráfico para esta avaliação: idade na linha horizontal e IMC na linha vertical).
Parece complicado, eu sei, mas é como computador: quando se mexe um pouco, se aprende fácil, fácil.
*A porcentagem de gordura corporal (o quanto do peso de cada um é em “gordura”) pode ser medida de várias formas: com réguinha de medição das dobras da pele, com aparelhos de impedanciometria, com tomografia, etc.

23 de outubro de 2007

É Bom e Eu Gosto



-Como é que eu faço para que meus filhos me obedeçam, me respeitem?
Pra começar, sabendo que obediência e respeito são coisas diferentes.
Obediência se obtém muitas vezes com um tom de voz mais alto, com uma cara feia ou com ameaça de punição. É de curto prazo.
Respeito, não. Respeito é conquistado através do exemplo que você passa aos outros. Por isso, muito mais difícil, mais efetivo e de longa duração.
Existe, além disto, outro atributo. Um enorme degrau além: a admiração.
Consiga isto e saiba que você terá uma arma poderosíssima nas mãos: terá “escravos mentais”, onde um simples arqueamento de sobrancelhas será de uma loquacidade enorme.

19 de outubro de 2007

De Papo Cheio


Quando se quer que crianças – como, de resto, pessoas de qualquer idade – comam menos (ou menos “porcarias”) há que se ter muita psicologia para que o tiro não saia pela culatra.
Podem notar: assim como nas crianças que comem pouco, o “pegar no pé”, o forçar, o insistir, costumam ter efeito contrário, o mesmo acontece com os que têm o infeliz hábito de comer muito.
Táticas como: menosprezar os comilões (“Coma menos, olha como você está gordo!”), fazer dramas (“Ai, meu Deus, como você come...”) ou proibir que comam mais do que a gente gostaria que comessem quase nunca dão certo. Pior: costumam ter o efeito de aumentar a ansiedade em relação à comida.
O que fazer, então?
Muitas vezes o “não fazer” dá melhores resultados (principalmente quando se comparam grupos de pessoas em que se intervêm com grupos em que nada se faz). Sempre lembrando: um grande problema são as expectativas, é a cobrança de resultados. Muitas vezes um pequeno resultado – principalmente quando mantido – é melhor do que resultado nenhum ou resultado contrário (seja em relação ao peso ou a efeitos na saúde).
Em crianças, é melhor que a conscientização se dê com a maturidade, com a observação dos bons exemplos, ou mesmo com as “cacetadas” que elas mesmas levam de vez em quando.
Se já é doído para pessoas obesas se decepcionarem ao tentar comprar uma roupa “para magros”, por exemplo (ou ao ouvirem piadinhas ou comentários, ou ainda suportar olhares de reprovação), não há necessidade que as pessoas que realmente se preocupam com elas ponham mais “lenha na fogueira”!
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-Ah! – me disse um paciente – Pra que tanta preocupação com a saúde? Essa vida é uma roleta russa, mesmo!
Sim. Mas a gente pode jogar com um tambor maior.

16 de outubro de 2007

Morfeu Atrapalhado



Duas revisões recentes sobre problemas de sono em crianças pequenas mostram que:
A maioria das situações encontradas (as parassonias, como o terror noturno – crises de choro e/ou gritos durante o sono, o sonilóquio – falar dormindo, o sonambulismo, o bruxismo – ranger de dentes dormindo, a enurese noturna – ato de molhar a cama durante o sono em crianças acima dos 5 anos de idade e os movimentos rítmicos, como a movimentação da cabeça para os lados durante o sono, bem como as insônias – dificuldade para iniciar ou manter o sono) são de caráter benigno e de desaparecimento gradual.
São também, no entanto, muito dependentes do comportamento dos pais em pelo menos dois sentidos:
Quando a criança é insegura quanto à ligação (“attachment”) materna, tende a persistir por mais tempo com despertares freqüentes. (Um dado curioso: todas as crianças despertam algumas vezes durante a noite. A diferença é que as mais seguras tendem a não precisar dos pais para voltar a dormir. Esta segurança costuma ser conseqüência da própria atitude dos pais).
As insônias e a enurese noturna precisam de pais pacientes e que saibam entender e lidar com o problema. No caso da insônia, existem várias técnicas para resolver a situação: todas enfatizam a tranquilização da criança - porém associada a algum grau de firmeza em relação à obediência da permanência no leito.
Apenas uma minoria dos casos (principalmente situações persistentes) precisará de intervenção especializada (psicólogos, psiquiatras ou neurologistas).

12 de outubro de 2007

Pit Stop


Começa assim.
Um razoável atendimento por um razoável preço.
Após algum tempo, mais pessoas procuram por este atendimento. É quando o tempo de espera aumenta, a qualidade cai. Problemas mais sérios começam a acontecer: infrações éticas graves – a maioria devidamente encoberta – erros de diagnóstico, algumas mortes (mas, espera: mortes acontecem em todo lugar!).
Nos Estados Unidos, um serviço novo tem chamado a atenção. É a Drugstore Clinic (ou “Clínica das Farmácias”). Isso mesmo. Clínicas médicas (se é que se pode macular o termo dessa forma) instaladas em farmácias, lojas de conveniência, e supermercados.
Sem tempo para uma consulta “padrão”? Seu médico anda ficando muito difícil? Pois nós temos a solução para seus problemas!
A publicidade lista os problemas que serão mais rápida e eficientemente atendidos pela rede. Vão desde um simples entorse a crises de bronquite de menor importância. Em muitas destas clínicas, o atendimento é realizado por simpáticas enfermeiras (claro, supervisionadas por médicos que poderão ser chamados em caso de alguma dificuldade).
Interessante.
E assim como no caso do álcool combustível, poderíamos nós, brasileiros, exportar tecnologia. Afinal, há quanto tempo nossas farmácias – totalmente desvinculadas de interesses comerciais - já são locais de consultas?

FDA

-Cara, cê viu o vocalista do Guns & Cloves, como tá gordo?
-O que será? Drugs?
-Não. Foods, mesmo!

9 de outubro de 2007

Corredor das Inflamações


Imagine um corredor (fictício, claro, se você o está imaginando).
Após algum tempo percorrendo este corredor, chega-se a uma bifurcação. Dois novos corredores, fechados por portas.
O primeiro corredor leva a um quarto com um nome na porta: Prostaglandina (é o quarto das inflamações comuns).
O segundo corredor leva a outro quarto, chamado Leucotrieno (é o quarto das bronquites e asmas, também inflamações, mas um pouquinho diferentes das aqui chamadas de “comuns”).
Ao se entrar no corredor inicial, antes da bifurcação (chamado de Corredor do Ácido Araquidônico – mas pode esquecer o nome), não há mais volta: ou se vai ao quarto Prostaglandina ou se vai ao quarto Leucotrieno. A porta da Prostaglandina (das inflamações comuns) já está meio entreaberta, é a porta pela qual se entra com mais facilidade. Quanto está chaveada (os antiinflamatórios são as chaves que impedem a entrada), não há outra saída a não ser chegar ao quarto do Leucotrieno (das bronquites e asmas).
Você que é esperto, já deve ter percebido:
Quando se usam antiinflamatórios para pacientes com asma ou bronquite (ou mesmo para os que apresentam asma ou bronquites “disfarçadas”, apenas com tosse), fecha-se a porta da inflamação comum (seja qual for a intenção original de quem prescreveu ou usou o produto). Mas abre-se a porta para a piora dos sintomas asmáticos (ou “bronquíticos”): menor produção de prostaglandinas, maior produção de leucotrienos.
Não esquecendo que medicações com este efeito (antiinflamatório) vão desde o antiguinho ácido acetil-salicílico, ou AAS, (hoje em dia menos usado, mas ainda muito do gosto das vovós, até pelo fato que muitas delas mesmas usam para prevenção de problemas cardiovasculares) até o da modinha ibuprofeno, o diclofenaco (ainda muito usado) e a nimesulida.
E adivinha qual a medicação que está sendo cada vez mais usada – com razoável sucesso - para tratamento profilático das bronquites e asmas?
Acertou. Anti-leucotrienos.

Parodiando o Augusto, aquele, o dos Anjos:

“Toma uma agulha
Fura o teu bornal
A boca que elogia
é a mesma que mete o pau”.

5 de outubro de 2007

Danosinho



Ele apareceu, já há algum tempo atrás, “valendo por um bifinho”. Pela quantidade de proteínas nele presente.
Mas aí, com a história da gordura saturada, do mal que a fritura do bifinho faz, teve sua imagem desvinculada do alimento bovino. Embora naquela época, provavelmente as mães diziam: “Ah, é? Vale por um bifinho? E o queco?”
Mães eram mais disponíveis, e menos influenciadas pela mídia – até porque havia muito menos mídia.
Danoninhos, como outros alimentos industrializados, têm se valido do modismo de se buscar heróis e vilões presentes nos alimentos. Então, agora, veja que ótimo, têm cálcio (para os ossos dos seus filhinhos crescerem fortes), proteínas (para um crescimento adequado), têm ferro, zinco, têm isso e aquilo e outras baboseiras mais.
Então não têm?
Têm. Que dirá se não tivesse.
Mas também têm o outro lado da moeda:
São alimentos excessivamente gordurosos (a indústria alimentícia chegou à “fórmula” do Danoninho acrescentando o máximo de gordura tolerada – gordura “pega” inocentes glândulas salivares pela raiz, induzindo a um efeito que se pode chamar de aditivo).
São adoçados artificialmente. O que, na crítica fase de introdução de novos alimentos (lactentes), acaba por privilegiar este tipo de alimento em detrimento dos naturais, saudáveis por definição.
São também coloridos artificialmente. Você sabe: aquela cor do morango tem muito pouco do próprio morango.
Some-se a isso tudo a nova e maldosa “aura científica” da publicidade.
Então não é pra dar?
A própria “indicação” contida no site oficial da empresa (que, claro, quase ninguém lê) recomenda a oferta para crianças acima dos 4 anos de idade.
Idade que, se pensarmos bem, também já não seria hora dos marmanjinhos ficaram comendo Danoninho a todo o momento.
(PS.: a crítica não é exatamente ao próprio, e sim ao que ele tem representado em termos de subversão dos hábitos alimentares mais saudáveis, principalmente para crianças pequenas. )

2 de outubro de 2007

A Quem Interessar Possa (Grandes Reflexos)


Certa vez comentei com alguém o fato de que estas postagens periódicas poderiam servir ao diagnóstico da minha progressiva loucura. Na medida em que se avançasse cronologicamente na leitura, as pessoas perceberiam a degradação mental deste autor que vos escreve.
Mas a questão é:
A quem realmente interessa isto?
Que diferença faz a você que me lê agora, se antes de sentar ao computador estive balançando minha bunda na janela do andar onde moro? Seria, certamente, uma curiosa atração aos vizinhos - embora por pouco tempo. Em poucos dias, serviria apenas como marco de logradouro (“Vira na segunda esquina, depois do prédio da bunda na janela”).
E de verdade, a quem tem interessado se você ou qualquer outra pessoa comete maiores ou menores atos de insanidade, desde que pague seus impostos (e, por exemplo, no caso das diaristas, deixem o chão brilhando e as meias cor com cor)?
Estamos todos muito ocupados. Estamos vendo a novela, não temos tempo para emoções, sofrimentos ou angústias dos outros. São verdadeiros demais.
Uma coisa é saber detalhes picantes da vida do ganhador do Big Brother, outra totalmente diferente é ter que ouvir a vizinha falar das preocupações com a irmã doente dela.
-É mesmo? Me desculpe, mas tô cum pouco de pres... (Cada qual que se vire, oras!)
E sai da frente da TV, senão ainda vou perder esse gol!

Comemorando os 10.000 clicks (ou cleck-clecks, ou clonks – porrada – ou, ainda: glubs – mouses submarinos).
Bia, Zelão, Mané, Eulália e Palmito: já deu, obrigado!
Deixa que daqui pra frente eu assumo.
(É bom ter amigos...)

28 de setembro de 2007

Corpo Quente


Já perdi a conta do número de vezes que ouvi esta:
“À noite, quando o corpo esquenta, a tosse piora”.
O que é que tem a ver o corpo “esquentar”?
Aliás, para a maior parte das crianças o corpo esfria, pois dificilmente se mantêm agasalhadas ou toleram muitos cobertores, mesmo em tempos frios.
-Então qual é o motivo da tosse piorar à noite?
Dentre outras razões, pelo fato de à noite, a criança estar se movimentando menos, enquanto dorme. Desse modo, as secreções – mesmo que não sejam em grande quantidade – ficam estagnadas nas vias aéreas (na parte posterior do nariz, da garganta e dos brônquios) até que, por defesa do organismo, inicia-se a mobilização: tosse – em crises, frequentemente.
Outro mecanismo importante é a queda natural do cortisol durante o período noturno (o cortisol é secretado em ciclos: aumenta no início do dia “ligando o organismo na tomada”, dando ânimo para as atividades do dia, e diminui durante a noite, quando o organismo deve “fechar para balanço”, descansar). Acontece que o cortisol tem efeito antiinflamatório nas vias aéreas (ação bem diferente, no entanto, dos antiinflamatórios chamados não-hormonais, presentes em muitos medicamentos*). Com isso, a “proteção” natural das vias aéreas cai durante a noite, com acentuação dos sintomas.
O ar frio de certas noites (mas frio mesmo, presente somente em certas épocas do ano e somente em alguns estados do país) também pode irritar vias aéreas, piorando a tosse.
E mais: alérgenos do ambiente (principalmente partes de ácaros presentes na poeira domiciliar) são, para muitas crianças, fator importante na piora das tosses e bronquites.
Um pouco mais complicado do que a temperatura corpórea...
* Antiinflamatórios não-hormonais (diclofenaco, nimesulide, ibuprofeno, naproxeno, etc.) comumente - e indevidamente - usados em quadros respiratórios das crianças podem, no máximo, não ajudar, mas frequentemente pioram o sintoma da tosse.

Ingrato

Pra mim, o termo rede (net) tem outro significado, o metafórico:
Lanço minhas postagens e fico sentado, esperando que um por um, vocês, queridos (as) peixes (as)* caiam – devidamente registrados no sitemeter aí embaixo.
Hoje por exemplo: a pescaria está sendo boa.
(Pena que tenha que devolvê-los intactos.
Eu, por mim, faria de vocês uma boa peixada).
* Alguém aí já pescou alguma “peixa”?

25 de setembro de 2007

Sintonia Fina

O organismo humano constrói diariamente, através da ação orquestrada dos hormônios (da tireóide, das supra-renais, do pâncreas, dos rins, do estômago, do intestino, etc.) um “castelo de cartas”.
Este delicado equilíbrio do funcionamento hormonal, responsável, em última análise, pela gerência da nossa saúde, sofre freqüentes “sabotagens”, externas (como o stress ambiental, alimentos com propriedades químicas, medicações, poluição, etc.) e internas (perda da correta regulação hormonal por doenças genéticas e adquiridas, processos cognitivos – pensamentos – negativos a respeito de nós mesmos ou do mundo que nos cerca).
Alguns destes “sabotadores” não são assim tão facilmente controlados (como a poluição, por exemplo). Outros demandam menos investimentos da nossa parte.
Escolher melhor os alimentos, evitar remédios que não sejam realmente necessários, praticar esportes de forma equilibrada e cultivar uma vida social são, dentre outras, formas práticas possíveis de ser incorporadas para que se atinjam objetivos de saúde.

Suave Veneno

Tenho por norma não comentar sobre pacientes atendidos, mas hoje a exceção vale a pena pelo ineditismo da história:
Estava o menino de 11 meses engatinhando no chão da sala da humilde casa sob o olhar atento da irmã de 4 anos – daí provavelmente a tranqüilidade da mãe – quando um filhote de jararaca preta (perdão, foto de celular) subiu pelo seu frágil corpinho. Ao dar a volta no pescoço do menino (talvez procurando um melhor ângulo para o bote) foi surpreendido pela agilidade do mesmo que, dum só golpe, agarrou-a e tascou-lhe uma gengivada fatal na sua cabeça.
Embora, segundo os familiares, o veneno amarelado tenha se espalhado pela boca da “vítima”, o menino e a família passam bem.
Quanto aos familiares da cobra, ainda não se recobraram.
Honorários?
Cobrei.

21 de setembro de 2007

Perfil



Um dos conceitos de mais difícil compreensão por parte dos pacientes é este tal de “perfil lipídico”.
Tentarei, então, explicá-lo de uma forma mais simples:

Imagine que não houvesse as moléculas carreadoras ou transportadoras (aquelas que levam as gorduras para lá e para cá, dentro do nosso sangue - são elas: HDL, LDL e VLDL).
O que aconteceria?
Todo e qualquer tipo de gordura que comêssemos nos alimentos (e, além disso, todo o carboidrato em excesso, que acaba por se transformar em gordura) apareceria no nosso sangue basicamente numa só forma: os triglicerídeos.
Os triglicerídeos são, então, o que poderíamos chamar de “o grosso” da gordura que corre solta dentro dos nossos vasos sangüíneos.
Acontece que as moléculas carreadoras existem!
Os triglicerídeos são, dessa forma, “captados” pelo VLDL e LDL para serem levados aos tecidos (como por exemplo, ao tecido gorduroso para depósito).
Quando se “fotografa” (quando se dosa) o LDL e o VLDL do sangue, se está fotografando a ida da gordura (triglicerídeos) para os depósitos (inclusive para os depósitos nas chamadas placas ateromatosas dos vasos sangüíneos, aquelas que irão causar a arteriosclerose).
Quando se “fotografa” o HDL, se está fotografando a limpeza dos depósitos de gordura (o HDL está levando gordura para ser metabolizada – “limpa”- pelo fígado).
Por este motivo, queremos que haja bastante HDL (significando limpeza de gordura eficiente) e pouco LDL, VLDL (transporte de gordura para os depósitos), assim como poucos triglicerídeos (gordura “solta pelo sangue” – esta a que mais reflete se o paciente anda se cuidando na alimentação).

18 de setembro de 2007

Custo Malefício



Não sou eu quem está dizendo.
É um dos sites médicos mais visitados.
Diz lá:
“Testes desnecessários estão se tornando cada vez mais comuns na prática médica e a demanda dos consumidores por certos tipos de exames têm crescido. Tais testes são caros, desviam pacientes e terapeutas do tempo e atenção necessários, podem provocar despreocupações injustificadas ou ansiedades desnecessárias e podem levar a novas intervenções que se traduzem em riscos físicos ou mesmo à morte.”
De um lado estão os testes consagrados pelos benefícios do screening, já que intervenções precoces trarão benefícios inquestionáveis como o exame de Papanicolau das mulheres, o nível de colesterol nos adultos entre 35 e 65 anos, a aferição da pressão arterial, etc.
De outro, baboseiras dispendiosas e arriscadas como a tomografia “preventiva” de corpo inteiro. 85% dos americanos numa recente pesquisa responderam que sim, fariam uma tomo de corpo inteiro pela bagatela de 1000 dólares (ignorantes do fato, cita a reportagem, de que um exame assim, desnecessário e paranóico, expõe examinados a uma radiação equivalente a de muitos sobreviventes do ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki).
Outro exemplo recente de paranóia foi a do ator Tom Cruise. Ele e sua bela esposa Katie Holmes adquiriram (porque podem) um aparelho de ultra-som para acompanhar diariamente a gestação de seu filhinho. Anormalidades fetais no uso freqüente? Quem liga pra isso?
E a lista de paranóias vai aumentando: análises bioquímicas rotineiras (do sangue ao cabelo), iridologia, cinesiologia aplicada (percebeu como os nomes são bonitos? Pensando em batizar um filho? “Ei, Cinesio Aplicado, pode vir aqui um instante?”).
Mesmo exames menos evidentemente enganosos têm sua validade questionada pela atual ciência. Um dos dados interessantes: se todos os fumantes e ex-fumantes apenas dos EUA fossem triados com tomografia de tórax, mais de 180 milhões de nódulos pulmonares seriam descobertos, a grande maioria deles benignos. Imagine o custo disto em termos de exames adicionais, preocupações não justificadas, morbidade, etc.
Por isso, se eduque, questione. E poupe seu tempo: passe ao largo das filas de certas clínicas suspeitamente sofisticadas.

14 de setembro de 2007

Irritadinho


Quando se fala sobre a Síndrome do Cólon Irritável (uma instituição ainda meio indefinida, de aparecimento recente na nomenclatura médica), três palavrinhas aparecem quase sempre associadas aos sintomas gastrointestinais: stress, ansiedade e depressão.
(faça um pequeno teste: pegue algumas pessoas, quaisquer pessoas, e pergunte a elas, “Você tem se sentido estressado – ou meio deprimido ou meio nervoso – ultimamente?” Vai ser difícil ouvir um “Não!”)
Os sintomas incluem dor no abdome, excesso de gases ou distensão (inchaço) abdominal, diarréia ou intestino preso de forma prolongada. Não há ou há muito poucas alterações ao exame físico, não há alterações em exames de imagem ou laboratoriais. Ou seja, é quase “um nada que dói” ou “um nada que dá diarréia prolongada ou intestino preso”.
Há, porém, que se ter cuidado com sinais de alerta para problemas mais sérios. Dentre outros sinais, o emagrecimento importante, o sangramento gastrointestinal, a anemia ou a presença de massa no abdome são causa para investigação. Pacientes acima dos 45 anos também merecem uma atenção maior e investigação.
O que parece certo é que se mudanças de estilo de vida (difíceis para a maioria) fossem feitas, sobrariam muito poucos casos de Síndrome do Cólon Irritável. Mais um daqueles problemas médicos em que, ao serem dadas prioridades aos medicamentos, coloca-se “a carroça na frente dos bois”.

O Tempo Não Pára

Sei que muitos de vocês vieram parar no meu blog através do Google.

Vejam, então, como esse mundo é louco. Se tivesse dito isso há, sei lá, só dez anos atrás, teria sido o mesmo que ter dito, por exemplo:

“Sei que muitos de vocês vieram parar no meu Tzanc remexendo no meu Plinguedongue”

Não faria o menor sentido!

11 de setembro de 2007

Tira do Sol, Põe no Sol




Sabe aquela informaçãozinha que volta e meia incomoda? Meio como a obrigação de visitar a velha tia que a gente não vê há anos...
Assim é a coisa com a vitamina D e o pediatra.
Alguns dos meus colegas são enfáticos: dê aí essa vitamina D pra essa criança e fique quieta, mãe!
Porém, percebo que eles são logo e frequentemente sabotados (também, quem manda querer dar ordens?).
Assim vamos levando... Mas sabendo que:
A vitamina D é muito importante para ossos saudáveis pela vida mas - mais do que isso - influencia a saúde cardiovascular e a própria multiplicação celular (tendo papel, inclusive na prevenção de alguns tipos de câncer).
A vitamina D mais nobre na ação é aquela produzida pela exposição solar (embora mesmo em países com exposição solar mais freqüente haja muita gente com baixos níveis).
Há muito pouca fonte alimentar de vitamina D (alguns peixes, gema de ovo, fígado e manteiga, além dos alimentos fortificados), o que nos faz pensar que ela seja talvez a única exceção em termos de necessidade de complementação alimentar de rotina (para qualquer idade!).
Diariamente somos invadidos por informações mandando uma hora nos pôr ao sol (vitamina D-motivados, principalmente), outra hora nos avisando para sair do sol (câncer de pele e envelhecimento-motivados).
Então a coisa deve ficar mais ou menos assim:
Guardem um vidrinho de vitamina D (que, desnecessariamente vem associada a vit. A) na farmacinha de casa e, quando lembrarem, uma gota (isso mesmo, uma gota apenas, pelo risco de hipervitaminose em doses maiores) na boquinha de todo mundo (do bebê ao idoso).
Exponham-se ao sol com moderação. Como mostra o artigo de revisão do NEJM, reproduzido em parte no blog da colega americana, braços e pernas durante 5 a 30 minutos por duas vezes na semana nos horários apropriados deve ser suficiente.

7 de setembro de 2007

Pé da Letra



Para muitos pode dar "nervoso", mas há grandes prazeres escondidos nesta vida bookólica.

Voltando ao tema leitores versus não-leitores:
O que determina o quanto cada criança irá gostar de ler?
De forma intuitiva podemos observar que, para que uma criança goste de ler, primeiramente precisa ver pessoas lendo ao seu redor.
Frequentemente atendo crianças com baixo rendimento escolar. Em muitos destes casos, pais e professores nos procuram tentando atribuir uma causa médica para o problema. Porém, ao serem questionados sobre hábitos de leitura, grande parte dos pais confessa nunca pegarem um livro ou jornal ou mesmo uma revista na frente das crianças (que dirá ler para elas)!
Com a concorrência da televisão, DVD, computador, etc. (embora a influência destes meios também possa ser positiva para mentes curiosas), o contato com os livros torna-se ainda mais ameaçado caso os pais deixem de prestar atenção a este fato.
Além do exemplo e do estímulo, uma pesquisa de cunho sociológico tentou correlacionar tipos de personalidade com o gosto pela leitura e outros programas culturais (incluindo a TV). Eis o resumo dos achados:
- Pessoas com facilidade para fazer amigos (“amigáveis”, curiosamente uma característica mais encontrada em mulheres, em pessoas mais jovens e/ou em pessoas de menor nível cultural) tendem a preferir literatura mais simples, como romances românticos, além de novelas na TV. Pessoas com grande senso prático também têm estas preferências.
- A abertura para novas experiências (“openess”) é característica fundamental para a escolha de temas complexos na leitura, bem como em programas de televisão (notícias e programas informativos). “Amigáveis” tendem a fugir destes temas (considerados elitistas), bem como de temas “incômodos” (muitas vezes mais sérios).
- A introversão ou extroversão independentemente, ao contrário do que se costuma pensar, não são associadas a preferências culturais.
- A estabilidade emocional é outro importante fator nas escolhas. Instáveis emocionalmente costumam optar por programas mais “fáceis”, como as novelas (como uma fuga para suas dificuldades). Estáveis dão preferência a programas mais difíceis ou nobres, como visitas a museus e concertos de música clássica (independente da classe social).

Não que eu queira puxar a brasa para a leitura (até porque, no processo, posso causar incêndio em alguma biblioteca), mas, além de tudo, uma ou outra notícia dá conta de que até viver mais os leitores vivem: está, por exemplo, num artigo do New York Times (graduados no ensino médio vivem, em média, nove anos a mais que os não-graduados nos Estados Unidos – provavelmente porque são mais informados sobre cuidados com a saúde).

4 de setembro de 2007

O Cuidador



Tempos loucos estes em que mães saem de casa para perceber a participação nos ganhos da casa e têm que deixar seus pequenos aos cuidados de confiáveis estranhos. Trabalhadoras angustiadas, filhos idem.
Tempos modernos, fazer o quê?
Não me perguntem se certo ou errado, pois a resposta é complexa (embora no meu íntimo ache que se inclina mais para o errado, principalmente quando muito pequenos – ops! mais angústia!)
René Spitz (1887-1974) foi o psiquiatra que inaugurou o estudo da relação do desenvolvimento das crianças com o seu meio (= cuidador, basicamente). Em seu “Hospitalismo”, Spitz analisou comportamento de crianças abandonadas em instituições (algo bem mais dramático do que as atuais creches ou babás, claro). Com poucos meses de deprivação emocional (embora tivessem suas necessidades fisiológicas satisfeitas) iam se transformando em crianças alheias ao mundo que as cercavam, a maioria de forma irreversível (muitas morriam em poucos meses ou anos).
Spitz queria, com isso, contrapor a idéia freudiana de que às crianças pequenas interessava apenas a realização de seus instintos básicos (calorias, higiene, etc., providenciados pelo id). Seres humanos são mais complexos do que isso. Têm ego. Precisam da interação profunda com os cuidadores (= amor) para desenvolverem suas personalidades de forma mais adequada para o todo e sempre.
Instituições como creches e escolinhas podem ser maravilhosas em muitos aspectos. Babás podem ser quase perfeitas. Mas nunca irão substituir o amor maternal, instintivo, forte, inabalável como uma rocha.
Falando em rocha, fiquem as mães com o tremendo peso na consciência ao decidirem entre sua vida profissional e independência e os cuidados dos filhos.
(não, não estou pedindo para que fiquem, estou lamentando, apenas!)




Metáfora




É um medroso, apesar do tamanhão. É um pincher ao contrário.

31 de agosto de 2007

Olha a Obesidade!


O fenômeno mundial da incidência da obesidade está se parecendo muito com a famosa assombração do ditado popular: quanto mais nela se fala, mais ela aparece.
A todo o momento vem nova notícia - embora algumas fontes contradigam – sobre o crescimento na epidemia, isto a despeito dos esforços nacionais de conscientização sobre o problema.
Três detalhes me parecem muito importantes:
O primeiro é o de que não adianta apenas informação. Assim como em outras situações médicas, muita informação não garante resultados (fosse assim, por exemplo, ninguém mais fumaria – claro que uma coisa tem muito a pouco a ver com a outra).
O segundo detalhe diz respeito ao provável “tiro pela culatra” que significa o muito se falar e se preocupar com algo tão essencial como comer. Está ficando claro que preocupação excessiva deve ser pior do que preocupação nenhuma com a alimentação.
E, terceiro, precisamos entender que a equação “comer mais e se exercitar menos” é cada vez mais apenas uma pequena parte do problema. Pessoas – notadamente crianças - têm se transformado em obesas pela somatória de estilos de vida, realmente difíceis de se “consertar”.
A qualidade dos alimentos – que se compra sem se pensar muito em termos nutricionais, até porque grande parte da indústria alimentícia precisa vender os mesmos alimentos com várias “caras” - a dificuldade em se manter relacionamentos de amizade (onde se possa esquecer da comida por bons instantes ou lembrar dela com naturalidade), a transformação do cérebro das crianças em “máquinas de gratificação instantânea”, fenômeno danoso mas cada vez mais comum, são, dentre outros, grandes nós do enorme novelo responsável pela epidemia.

28 de agosto de 2007

Crescer Forte ou Saudável


Uma molécula sobre a qual vale a pena alguns comentários é a tal da somatomedina C (hoje em dia mais conhecida pela sigla universal IGF-1, insulin-like growth factor).
Um peptídeo (menor que uma proteína) que tem ajudado a desvendar muitos dos segredos sobre crescimento, efeitos da alimentação e doenças como o câncer.
A IGF-1 é a molécula que, dentre vários outros efeitos, “executa as ordens” do hormônio do crescimento nos mais diversos tecidos humanos, como os ossos e os músculos. É ela que faz estes órgãos crescerem fortes, desde a vida intra-uterina até a velhice.
Sua concentração é afetada pelo tipo de alimentação (uma quantidade maior de proteínas na dieta, basicamente, aumenta a sua produção). Vários estudos mostram que crianças crescem mais, adultos têm massa muscular mais preservada (além de menor risco cardiovascular), velhos têm função cerebral melhor preservada quando a IGF-1 é mais elevada.
Oba! Então, vamos todos comer mais alimentos ricos em proteína!..
Espera!
Como sempre, em saúde, notícias boas vêm acompanhadas de notícias ruins. Um dos efeitos mais conhecidos dos altos níveis de IGF-1 (sejam devidos a fatores genéticos ou alimentares, ou ambos) é o risco aumentado de vários tipos de câncer (tanto em jovens como em idosos).
A eterna lição vem à mente. Não temos escolha: tudo o que fazemos na vida deve ser equilibrado. Pouca proteína faz mal. Muita proteína faz mal também (basicamente pela interferência na IGF-1, mas também porque é difícil aumentar ingestão protéica sem aumentar o total de calorias ingeridas no longo prazo).


Avanço?


A Nissan acaba de criar um carro que detecta quando o motorista está bêbado e se recusa a sair do lugar.

Ainda não é a revolução tecnológica.

A verdadeira revolução vai ser quando se conseguir parar os outros carros embriagados que dividem a rua com a gente.

24 de agosto de 2007

Só Pensando "Naquilo"


Ao ler a tentativa de correlação do conteúdo (letra e mensagem) das músicas ouvidas pelos jovens e o aumento na probabilidade de iniciação sexual precoce, fiquei louco para me imiscuir na discussão. Rende boas conversas.
Fatos:
• Jovens que ouvem mais músicas com conteúdo sexista (sexo retratado de forma “degradante”*, segundo o próprio estudo) tendem a iniciar atividades sexuais mais precocemente (e já aí uma grande dúvida: causa ou conseqüência?). Mesmo quando fatores como religiosidade, controle dos pais, associação com desvios de conduta e outros são considerados.
• Conteúdo sexual tem sido mais freqüente em músicas ouvidas pelos jovens do que em outras mídias.
• Cerca de 40% das músicas ouvidas pela juventude americana tem tal conteúdo (por aqui não deve ser melhor).
• Não são só as músicas. Clips, DVDs das próprias músicas e mesmo o estilo de vida dos artistas preferidos ajudam a moldar comportamentos.
Estudos assim (antropológicos ou sociológicos, essencialmente) dão pistas, apenas. Pois não levam em consideração variáveis biológicas importantíssimas.
Com os famosos hormônios pululantes da pré-adolescência, fica complicado imputar a iniciação sexual apenas à mídia. Além disso, no grosso dos daqui de aquém mar, deseducação, desesperança, ócio e violência ainda devem ser preponderantes.
Aqui, de novo, a maior arma contra os efeitos nocivos (pelo menos 1 em cada 4 jovem ativo sexualmente adquire DST, metade dos novos casos de infecção por HIV nos E.U.A. são em jovens) é a participação dos pais no processo, discutindo e participando, atuando de forma crítica, sem exageros.
* O padrão de comportamento neste tipo de música é o rapaz ser retratado como o garanhão insaciável e conquistador e a moça como um belo (deve ser belo, e aí outro problema) objeto sexual descartável.
Aprofundando na assunção (exagerada? Talvez não): quantos jovens não vivem de forma diferente do que viveriam por terem que agir de acordo com estes padrões (muitas vezes mesmo depois da adolescência)?


E, por falar em adolescente, se você é um, já foi um dia, ou ainda planeja sê-lo, tente resolver a minha, a sua, a nossa...

Sharada:

Curioso
Começa com pai
Mas é a mãe de todo o vício
Te faz sentir vivo
Improdutivo, também
E enquanto não o deixa
O deixa no...
xão

(donde se conclui que estamos nesse mundo pra sofrer mesmo. Inda quando muito bom, sofremos. Tentemos não perder o bom humor, no entanto)

21 de agosto de 2007

Vacinas Off-Free*


(* “Fora das de graça”, seguindo tendência da americanização. Ou seja, pagas, mas a gente gosta de complicar)

Não olhem, pais, com raiva pra gente, e sim:
Primeiro, pra esse “filho da Tuta” de germe.
Segundo (mas muito menos) pro fabricante da vacina que, somadas as quatro doses (aos 2, 4 e 6 meses e reforço aos 12 a 15 meses) tiram de vocês o equivalente a quase um computador (ainda que daqueles bem porcaria, sem Uh, Hebe cã)...
...quando recomendamos que façam a vacina contra o pneumococo*.
É para privilegiados (ainda não está no calendário vacinal oficial, gratuito), mas dentre todas as vacinas que se pode fazer em crianças nos consultórios, é seguramente a mais interessante.
E por que?
Porque desde a introdução da vacina anti-hemófilo (Hib) – outra bacteriazinha filha da mesma Tuta, também causadora de meningite, que anda sumida de circulação desde que entrou pro calendário vacinal oficial – ainda andam “de bobeira” por aí dois tipos de germes causadores de meningites bacterianas, geralmente mais graves: os meningococos (para os quais ainda não se dispõe de grandes proteções vacinais**) e eles, os pneumococos (cuja incidência de meningite cai a menos de 80% na população vacinada).
* O nome pode gerar confusão: embora o pneumococo também possa causar pneumonia, provoca muitos casos de meningites em crianças.
** A vacina contra meningococo C tem sua validade muito questionada por: ter duração de imunidade curta (sua proteção dura poucos anos) e não ser o C o sorotipo mais frequentemente encontrado. Além disso, a vacina poderia induzir mudanças no perfil de germes da população (a vacina contra o meningo C poderia apenas mudar a cara das meningites menigocócicas: geraria proporcionalmente mais casos de B, para os quais há quase três décadas se tenta criar uma vacina sem sucesso).
Obs: há esforço mundial de certas ONGs junto aos laboratórios fabricantes para incluir a vacina contra pneumococo no calendário oficial (já não será sem tempo).

Gente, eu sei:
Vacina é assunto tão chato que um congresso minimamente animado cabe num banheiro.

Além do mais, como vi escrito num pára-choque de carrinho de bebê:
“Se vacina fosse boa, não se aplicava num lugar que vive cheio de m...”