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27 de fevereiro de 2007

Poluente "Querido"


Uma das coisas que ainda consegue me impressionar é o número de novos jovens fumantes, a despeito de toda informação sobre os malefícios do cigarro.
Quando penso nos motivos para isso, somente três palavras me vêm à mente: exemplo, exemplo e exemplo.
Exemplo da mídia, que embora esteja sendo “estrangulada” por restrições aos comerciais, investe (e muito) na glamourização do cigarro (ou você acha que personagens de filmes e novelas aparecem casualmente fumando “do nada” na cabeça dos escritores e roteiristas mais importantes?)
Exemplo de amigos que, tontinhos como o seu filho criança ou adolescente (não me leve a mal, é normal da idade), “se acham” ao desfilarem por aí de cigarro na boca, influenciando outros.
E, principalmente, exemplo dos pais fumantes que, quer se queira ou não (e ainda que os filhos possam estar dizendo o contrário), são as maiores vitrines para estes filhos.
Vários estudos nos lembram que quanto mais jovem se inicia no vício, mais difícil será largá-lo. Além disso, a idade média dos novos fumantes (bem como dos novos etilistas) tem se mantido em queda. Portanto, pais, iniciem cedo sua campanha de conscientização.
Dicas:
Analise criticamente filmes e novelas em que os personagens apareçam fumando. Explique que, embora possa parecer bonito (ou estiloso), a maioria das pessoas de qualquer idade não fumam (e mesmo têm sido de alguma forma discriminadas por fumarem).
Comente sobre a participação do cigarro em doenças de amigos, parentes ou conhecidos. Não esqueça que para seu filho adolescente a perspectiva de ter uma doença grave aos 40 pouco o assusta (para ele, este espaço de tempo pode parecer uma eternidade!)
Se você é fumante, ao menos mostre que está preocupado com os malefícios do cigarro e que tem tentado parar (e mesmo o quanto isso tem sido difícil).
Porém, ao perceber que seu filho já está fumando, não entre em pânico (ele não vai morrer de câncer de pulmão ou de infarto em poucos meses, ainda que o vício possa se instalar em poucas semanas). Lembre-se de que o cigarro pode estar sendo usado como um símbolo de rebeldia ou de auto-afirmação. O melhor a fazer é discutir a respeito e tentar negociar maneiras de largar o vício. Por exemplo, diminuir o número de cigarros por dia pode ser um primeiro passo para o abandono (não funciona igualmente para todos). Outro exemplo é a discussão sobre como a economia no cigarro fará sobrar dinheiro para outros gastos como roupas, CDs, etc.

23 de fevereiro de 2007

(P)Atente-se


Na sua não-isenta revista Diálogo Médico (do laboratório Roche, direcionada à classe médica) de dezembro do ano passado, há uma reportagem sobre a “nova onda” de medicamentos, os chamados medicamentos biológicos.
Dentre outras vantagens citadas pela revista, os novos medicamentos (substâncias produzidas por organismos vivos, geralmente bactérias, modificadas geneticamente) trazem a promessa de serem “mais específicos, menos agressivos e praticamente impossíveis de copiar”, segundo a autora do artigo.
Pera lá!
É fato que para muitas doenças graves para as quais havia pouca esperança de solução - ou de uma razoável solução - estes novos medicamentos têm trazido grandes expectativas. Doenças como a hepatite C, alguns tipos de câncer, doenças sangüíneas sem dúvida têm agora novo e esperançoso arsenal terapêutico à disposição. Ponto.
Agora:
Quem disse (a indústria diz) que estes medicamentos são “menos agressivos”? Basta que se examine a incidência de efeitos colaterais (alguns deles que parecem dizer: “me devolva minha doença original”!) e as contra-indicações para seu uso. Medicamentos “antigos” (os de síntese química) também os têm, mas são conhecidos de longa data e, em muitos casos, são certamente menos severos.
Outra:
Quem disse que queremos medicamentos “impossíveis de copiar”? Certamente a indústria que fabrica estes medicamentos (caríssimos, aliás: para se ter uma idéia, o rituximabe, para artrite reumatóide pode custar cerca de 14.oo0 reais na dosagem requerida para 6 meses de efeito) quer. Pode se discutir os problemas dos genéricos, mas o fato de ser impossível de copiar não significa um benefício (compare com o que acontece na área da tecnologia, em termos de preços e benefícios para o consumidor, pense também no que acontecerá na questão das patentes, que tantos benefícios trouxe no tratamento da AIDS no Brasil).
Minha modesta opinião é de que, cada vez mais (a publicação da Roche estima que em 20 anos, mais de 80% das drogas serão biológicas) o consumidor final, o próprio paciente, terá a obrigação de estar informado e, juntamente com o médico, deverá ser chamado a tomar as decisões quanto ao seu melhor – e mais conveniente - tratamento.

* A figura acima foi roubada sem a intenção do preconceito estampado (não sei se repararam, mas no rótulo diz: “remédio completo para a mulher”. Ou seja, um homem engarrafado!)


Dilúvio

Não sei quanto ao seu Carnaval, mas eu, ao retornar para casa após o feriado, peguei tanta chuva, mas tanta chuva, que o que eu imaginei fosse um pássaro à beira da estrada, descobri depois se tratar de um filhote de jacaré. Caia tanta água sobre o carro que, ao chegar, tive que reaplicar o insufilm. Sério. Deu câimbra nas asinhas do pára-brisa. Cheguei a ler numa placa: “Motorista, Atenção: Fim da Raia Dupla.”

20 de fevereiro de 2007

Velhos Cães, Velhos Truques


Um editorial deste mês no New England Journal of Medicine informa que, a despeito da incidência da diabete tipo 2 ter dobrado apenas nos últimos 7 anos nos Estados Unidos e das intensas pesquisas para se achar novas medicações, de novo, não há “nada de novo no front”: os grandes remédios (em termos de segurança e eficácia) são as velhas insulina, sulfoniluréias e biguanidas (existentes há meio século).
Pior: novas medicações aprovadas a toque de caixa pelo FDA (órgão governamental americano responsável pela liberação de remédios naquele país) têm sido responsáveis por mais problemas do que soluções.
E novamente o conselho do editor:
Realmente implementar os cuidados já disponíveis e, adivinhe: prevenção.

16 de fevereiro de 2007

Sentido


Nesta quinta-feira, véspera de carnaval, minha querida mãe deixou de se preocupar com agulhas, exames, mudanças de posturas. Deixou de se incomodar com necessidade de alimentos, convênios, andares, corredores, sondas e canos. Parou de prestar atenção em aparelhos, em números, em estatísticas. Não se encomoda (é, não se “encomoda”, mesmo) mais com erros ou acertos. Dispensa agora o insistente aviso das dores, quer sejam elas físicas ou da alma.

Ela, então, num amplo sentido (assim como todos os que partiram), não “apenas” morreu,
Ela evoluiu.
E agora fico mais feliz, pois posso visitá-la em qualquer canto do planeta
A qualquer hora.

Sobrevida: um dos conceitos mais difíceis de se lidar na Medicina. Deram-nos seis meses. Ganhamos seis anos. E ainda nos pareceu pouco. Percebemos, no entanto, seu duro significado: estamos todos em sobrevida.

“Chore um pouco, e logo pare”, ela nos ordenava.
Temos obedecido. A cada hora.

13 de fevereiro de 2007

Thinspiration*


Nada de muito novo no artigo recente no Pediatrics sobre o acesso de jovens a sites “pró-transtorno alimentar”: mais de 2/3 das adolescentes (americanas) buscam informações sobre saúde na Internet, sendo que a metade delas busca maneiras de perder peso. Metade destas buscam informações sobre transtornos alimentares. Há seis vezes mais sites que estimulam o transtorno do que aqueles que o combatem, e mesmo nestes há muita desinformação (ou informação que pode ser inadequadamente usada pelas jovens que o visitam).
Um possível insight do estudo, no entanto:
Tanto visitantes habituais dos sites que estimulam quanto visitantes dos que propõem cura são adolescentes que, de uma forma geral, são “buscadores de informações”, e as obtêm quer sejam da Internet ou de revistas ou dos seus próprios médicos.
Ou seja, parece que jovens com tendências ao distúrbio são habitualmente jovens mais “antenadas” (= “griladas”).
* Thinspiration: união das palavras “inspiração” e “magra” em inglês. Palavra que quando digitada no Google resulta num circo de horrores: vários sites fotográficos para as pessoas “normais”, mas que para estes jovens servem de inspiração.

9 de fevereiro de 2007

Hoch Alter + Einsamkeit = Alzheimer ? *


Embora não seja exatamente da minha área, achei interessante o resultado do estudo com idosos que sofrem de demência.
Em primeiro lugar, por nos lembrar que nem toda demência é Alzheimer, como já se faz pensar automaticamente hoje em dia. Alzheimer tem todo um substrato molecular, dá alterações no cérebro visíveis à necropsia.
Velhinhos solitários, é claro, foram os que mais desenvolveram demência com o passar dos anos (quatro anos, no acompanhamento deste estudo). Boa parte destes idosos não tinha propriamente Alzheimer ao exame necrológico, e sim outras formas de demência. O que eles mostravam era o provável resultado da lei do uso e do desuso. Como se o cérebro dissesse: “Não estou tendo muita serventia – como de resto, meu dono também não – então, para que continuar funcionando?” Estes tipos de demência são, então, uma conseqüência de maus cuidados dos outros para com o paciente ou do próprio paciente para com ele mesmo (ao longo da vida, mas principalmente no seu fim).
Alzheimer, como retratado no filme Iris, às vezes pega cérebros ativos, úteis também, justamente porque se assemelha a outras doenças metabólicas (há uma “falha” bioquímica, com produção excessiva e depósito das chamadas proteínas tau e β-amilóide, tóxicas para a célula cerebral).
Um detalhe, no entanto, me parece relevante: solitários não podem ser encarados como um grupo homogêneo. Há solitários produtivos, há solitários que fizeram da solidão uma opção de vida (“Antes só...”), há os que são sozinhos, mas que não são absolutamente solitários (vide Chico Buarque).


* Se meu bávaro alemão não estiver me falhando: Idade + Solidão= Alzheimer?

6 de fevereiro de 2007

Aquilo Sobre o que Akira Filmava *


Freud não tinha razão em tudo o que dizia e publicava, mas no ano de comemoração do centenário de seu livro Traumdeutung (A Interpretação dos Sonhos), foi publicado um artigo que reconheceu que muitas das suas intuições sobre os sonhos estavam corretas (tão corretas que, agora se sugere, deveriam servir de base para novos estudos neurocientíficos).
O achado mais interessante de estudos recentes com pacientes (com lesões no cérebro e com imagens radiológicas) é o fato de que, quando se dorme, o trabalho do cérebro se faz “de trás para frente”:
Nas pessoas acordadas há inicialmente ativação da parte sensorial (aquela que recebe informações visuais, auditivas, etc.) para depois se ativarem áreas da imaginação e da memória. Quando se sonha, as primeiras partes a entrarem em ação são justamente estas últimas, ou seja, as áreas ligadas às memórias e sensações imaginadas. A partir daí, o cérebro faz o que o artigo cita como “o melhor de um mau serviço”, criando imagens (“porcarias” de imagens, digamos assim, em termos de coerência, mas muito vívidas) na parte sensorial.
Outra diferença importante é o fato de que, quando dormimos, os chamados sistemas reflexivos do cérebro (aqueles que julgam se o que está se passando é real e coerente) estão totalmente desligados, fazendo com que se aceite as sensações, sem capacidade de julgamento (outra área desligada é a área motora, responsável pelas ações).
O autor do artigo, psiquiatra londrino, encerra sua apresentação com uma discussão metafísica: “Nenhum psiquiatra moderno deve admitir que o cérebro possua uma vida própria, independente. Mesmo quando as investigações atuais mostram que as causas primárias de um fenômeno mental são “apenas” psíquicas, pesquisas posteriores mostrarão que há bases orgânicas para que elas aconteçam”. “Embora neste momento ainda não consigamos enxergar para além do mental, não quer dizer que este além não exista” (Freud, 1900)
* “Sonhos”, um dos filmes mais famosos (e angustiantes) do aclamado diretor japonês Akira Kurosawa

2 de fevereiro de 2007

Extra Polar


O já bésteselerTemperamento Forte e Bipolaridade” de Diogo Lara (antigamente todos os bésteselers versavam sobre literatura...) é um livro interessante, escrito de forma didática, e nos chama a atenção para o fato de que quando se trata de auto-estima, os extremos podem ser – e quase sempre são – danosos.
Pessoas que “se acham” demais podem estar sofrendo – literalmente sofrendo – de um transtorno psiquiátrico, a doença bipolar*, um problema que talvez esteja se tornando mais freqüente pelo estilo de vida que levamos (argumento do autor com o qual humildemente concordo). Há no livro dicas interessantes para se viver com o transtorno, de mudanças de atitudes a medicamentos.
É um livro, entretanto, que precisaria de bula. Pode haver efeitos colaterais: quase todos com quem falo que leram o livro começaram a se perceber meio bipolares. Vamos com calma!
* A doença bipolar, de forma bastante resumida, é uma condição psiquiátrica em que os pacientes alternam entre dois “pólos”, entre dois extremos: a fase maníaca (humor e ritmo acelerados demais) e a fase depressiva (humor “para baixo” e ritmo desacelerado).
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Possessão (ou apenas Possesso)

Um tio de um amigo (ou amigo de um tio – tanto faz, pois a história é inverídica), ao ler as informações no frasco do xampu usado pela namorada: FAB10/2006, tascou-lhe o frasco na cabeça (dela), desnorteado: “Quem é esse Fábio 2006?”
Ao que ela (caso não estivesse também sem os quatro pontos cardeais) poderia ter respondido: “Amigo da VALII/2007, imbecil!”