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30 de março de 2007

Ganha-Pão


Uma grande parte das consultas pediátricas (que - acredite, é um pediatra que está falando - seriam desnecessárias) deve-se às famosas “infecções de garganta”.
Em qualquer faixa etária, pais costumam raciocinar da seguinte forma: garganta doendo (e ainda por cima, vermelhinha) mais febre, igual à infecção de garganta, precisa antibiótico, certo?
A resposta não pode ser mais clara e sonora: errado!
Um estudo fresquinho feito, dentre outros, por dois brasileiros e publicado no respeitado Pediatrics, tenta estabelecer parâmetros para a necessidade do uso dos antibióticos nas infecções de garganta das crianças. Com uma grande porcentagem de acerto (perto de 88%), médicos podem, baseados na idade e sintomas das crianças, ser mais econômicos no uso dos antibióticos, sem incorrerem em grandes riscos.
De acordo com estes parâmetros, por exemplo, crianças de até 3 anos, Zupt! Estão fora. Isso mesmo, crianças de até 3 anos raríssimas vezes vão ter chance de ter infecções bacterianas de garganta que exijam o uso de antibióticos!
Dos 3 aos 5 anos (é como naqueles jogos de dados de crianças): avança 6 “casinhas” na pontuação (um total de 8 “casinhas” significa chance quase desprezível de se ter que tomar antibióticos, pois a infecção é viral).
Além da idade, a tabela leva em conta outros sintomas:
Perdem “pontos”: nódulos (“ínguas”) dolorosos no pescoço, dor de cabeça importante, pontos hemorrágicos no céu da boca, febre maior que 38,5 ° C, dor no abdome e aparecimento súbito - menos que 12 horas – (maiores chances de se tratar de infecção por bactéria).
Ganham “pontos”: conjuntivite, coriza, tosse, diarréia e exantemas (manchas na pele próprias de doenças virais). São indícios de infecção por vírus, sem necessidade de tratamento com antibióticos.
E quando se fala de bactéria em garganta, basicamente se está falando de uma só: o Estreptococo do Grupo A. Outras bactérias evoluem quase sempre espontaneamente para a cura ou são habitantes normais da garganta (fazem parte da chamada flora bacteriana, não produzem qualquer sintoma – mesmo o próprio Estreptococo na maioria das vezes se comporta assim).
Então por que tratar? Porque (embora ainda não haja consenso de que o tratamento seja realmente efetivo), a infecção por este germe específico pode resultar como complicação numa doença potencialmente grave, a Febre Reumática (com risco principalmente para o coração).

27 de março de 2007

Perdi Peso! (E Daí?)


Desde o mês passado, perdi 4 quilos...
-E daí??
O que revela mais sobre sua aparência (ou sobre a sua saúde), o espelho ou a balança?
Claro, se eu tenho sempre visto você, de preferência pelado(a) (o que, convenhamos seria meio constrangedor), a informação acima (“Perdi 4 quilos”) pode me ser bastante útil.
Agora:
Como é que eu posso avaliar o que esta perda significa se eu não o tenho observado - sem roupa - de tempos em tempos? Perdeu mais gordura “localizada”? Perdeu massa muscular? Houve uma redistribuição de gordura (ou músculos) ou não? A perda foi por aumento na quantidade de exercício, por doença, ou por modificações na alimentação?
Além disso, como comparo um grupo grande de pessoas para saber quais estão “normais” e quais não estão (sem que eu tenha que juntá-los todos pelados numa praça)? Como estabeleço uma regra de “normalidade” para todos?
Para isso foi criado o conceito de composição corporal.
A avaliação da composição corporal (ou corpórea) pode ser feita de várias formas: desde a medição direta da gordura corporal com “réguas” (os chamados plicômetros) ou equipamentos mais sofisticados como o bioimpedanciômetro, a tomografia, etc. O resultado é dado em porcentagem de gordura e porcentagem de massa magra (massa muscular, basicamente). Há tabelas (de acordo com idade e sexo) para comparações*.
Claro que o próprio paciente costuma ter uma boa noção (olhando-se no espelho, por exemplo) se o que tem ganho (ou perdido) representa mais gordura ou massa muscular.
Na linha do “uma imagem vale mais que mil palavras”, veja uma comparação de pessoas que possivelmente têm o mesmo peso (pelo menos hipoteticamente): Mike Tyson, Oscar Schmidt e Jô Soares...
...mas que têm composições corpóreas totalmente diferentes (claro, Jô Soares com a maior quantidade de gordura corporal e Mike Tyson, a menor) !
Perdas ou ganhos de peso, então, têm significados diferentes em termos não só estéticos, mas também de saúde.
*Mais do que saber se 10 ou 20% de gordura está “bom” ou não, deve-se correlacionar a condição de saúde de cada paciente e monitorar o progresso de tempos em tempos (além da avaliação da massa corpórea, para a qual também existem gráficos, no caso das crianças).

23 de março de 2007

Novas Posições


Um livro recém-lançado nos Estados Unidos, mas que já está dando muito pano pra manga, trata de um assunto que pra muita gente parece velho. “Unhooked” (algo como “desengatado”) tem um subtítulo que já entrega a postura da escritora, uma repórter cinquentona ganhadora do Prêmio Pulitzer: “Como Jovens Mulheres Perseguem o Sexo, Atrasam o Amor e Perdem Ambos”.
Segundo ela, adolescentes (estudantes) americanas têm adotado a postura do “hooking up” como norma nos seus relacionamentos. O que é o “hooking up”? Pode ser qualquer coisa: desde um simples beijo íntimo até sexo oral ou o, digamos assim, “pacote completo”. O que importa é a ausência de compromisso implícita na relação. Não é namoro, não visa à criação de laços. Ou seja, é – como diz uma das críticas ao livro, publicada no New York Times – o sonho de todo os rapazes (será mesmo?).
Os motivos para esta atitude sexual vão da “falta de tempo” para relacionamentos mais sérios até a experimentação da sensação de poder em “usar” os rapazes apenas para realizar seus mais primitivos desejos.
Como era de se esperar, há ardorosos defensores e ferozes críticos desta postura de vida.
Dentre os motivos para crítica, há os que citam a incapacidade de manter relações mais profundas, a baixa auto-estima resultante, a perda da confiança nas relações, a disseminação de doenças, a associação freqüente com bebidas e drogas, a criação de situações facilitadoras para o estupro, etc.
Para os que criticam a autora, a noção de que o sexo deva ser visto como algo “feio”, “sujo” ou algo que deva causar arrependimento ao ser praticado é, no mínimo, ultrapassada. “Experiências não são mais do que experiências: devem ser avaliadas, questionadas, para que possamos crescer como pessoas adultas”, escreve um psicólogo na acalorada discussão no site da Amazon (livraria virtual).
Minha visão? Coincide com a visão da crítica do jornal Washington Post:
“Numa cultura que valoriza dinheiro e fama sobre todas as coisas, numa sociedade que se esquiva do fracasso, do azar, dos problemas e das dores, nenhum de nós tem falado a linguagem do amor e da tolerância. Mas não é esta nova atitude sexual que tem criado essa atmosfera. O hooking up provavelmente significa o reflexo fiel de uma cultura ou uma resposta darwiniana a um mundo onde metade dos casamentos terminam em divórcio ou, ainda, a tentativa de algo novo. Talvez esta geração, ao tornar o sexo algo menos precioso, termine por recolocar humanidade de volta no ato sexual”.
(esta ênfase no “talvez” é claro, é minha, pois quero deixar claro meu enorme ponto de interrogação sobre o assunto)

19 de março de 2007

Abre As Asas Sobre Nós


Quando Thomas Jefferson* (ou foi Wendell Phillips?) cunhou a frase “O preço da liberdade é a eterna vigilância” o fez com intenção política. Estava coberto de razão. Tão coberto de razão que sua frase se aplica a outras situações da vida.
No caso da educação das crianças, por exemplo.
No ritmo da vida atual, crianças estão cada vez mais livres. Basta ver a diferença de tratamento delas para com seus pais em comparação com nosso tempo (ou de nossos pais, ou de nossos avós).
Não dá, claro, para se dizer que esta diferença tenha sido de todo ruim. Está na cara muitas das vantagens: dentre outras, estão elas muito mais seguras de si mesmas do que em outras gerações. Vemos, além disso, o quanto estão mais espertas, desde que são bebês.
Um grande problema, porém, reside justamente no custo da liberdade na frase de Jefferson, a eterna vigilância.
A quem cabe a vigilância para que crianças e adolescentes – mas principalmente as primeiras – não façam besteiras, não se percam no seu excesso de liberdade?
Não parece difícil a resposta: aos pais e cuidadores, claro.
Sabemos o quanto os pais também costumam estar ocupados, o quão pouco tempo têm de sobra para seus filhos atualmente.
Então a mistura “explosiva” tem sido esta: muita liberdade e pouca vigilância, pouco controle. Que tem resultado em novos problemas nas condutas infantis, que vão desde disputas pela autoridade a comportamentos delinqüentes e abuso de substâncias que levam à dependência.
O que se advoga não é um comportamento “sargento” por parte dos pais. Ao contrário, a liberdade é uma conquista. Há, no entanto, necessidade premente de espaço nas agendas dos pais para que saibam e regulamentem o que seus filhos andam fazendo.

(* Isso é que é moral: tem cara tanto nas notas quanto nas moedas americanas!)

16 de março de 2007

Dãr...


Isso é que dá fazer pesquisa partindo das premissas erradas.
Um grupo de investigadores japoneses fez a seguinte (e óbvia) constatação:
Lactentes em pleno sono costumam ter a área frontal de seus pequenos cérebros ativada de forma mais intensa quando ouvem seus pais falarem com eles em “tom de bebê” (aquela conversa carinhosa que, se travada entre dois adultos, faria diagnóstico de sérios problemas mentais – exceto quando entre recém-namorados).
Com esse resultado, querem mostrar que os cérebros dos bebês são mais receptivos a conversas deste tipo (e que devemos, sim, continuar com este tipo de papo).
Penso de outra maneira:
Quando as criancinhas, mesmo dormindo (deixa elas dormirem em paz, oras!), ouvem adultos em tom formal, mantém-se “desligadas” da conversa – como fariam muitas vezes ao estarem acordadas.
Já quando ouvem o seu “idioma”, naturalmente pensam: “Opa, o papo agora é comigo mesmo!”
Grande coisa!
(Meu pai, quando dormia na sala de casa, ao ouvir assuntos que o desagradava, costuma irromper à discussão aos gritos. Não estava dormindo, o “praga”? – era a nossa pergunta. Seria o mesmo fenômeno?)

12 de março de 2007

Mestre Cuca


Tenho, muito modestamente, quebrado a cabeça para entender os motivos para o comportamento de jovens como as que apareceram no Globo Repórter (sobre obesidade infantil) da semana passada.
Uma das respostas que (até agora) me parece mais coerente é a de que quando jovens “enchem a cara” de doces e guloseimas (bem como quando os mais velhos “enchem a cara” de bebida – mesmo aqueles que particularmente parecem não desfrutar de grande prazer na ingestão alcoólica), estão inconscientemente sabendo que estão usufruindo de um prazer imediato, de duração muito curta. E, principalmente, sabem que qualquer outro ser humano, por mais “debilóide” que seja, tem a mesma capacidade de desfrutar do mesmo prazer (o mesmo vale, por exemplo, para o ato de assistir passivamente a algum programa na televisão).
São ações, portanto, que, por mais que se repitam ao longo do dia, parecem nunca trazer grande satisfação. Pior: deixam, após, um gosto amargo de derrota pessoal quando cometidos em exagero, o que faz buscar a repetição do ato com a finalidade de aliviar a ansiedade criada.
Já em outros tipos de atividade, naquelas construtoras da identidade (o que a psicologia chama de self) como a leitura de um livro, uma atividade física ou intelectual com algum claro objetivo (como entender o que está sendo lido, ou vencer um oponente num jogo), atividades, enfim, que exijam certas habilidades físicas ou mentais, o indivíduo costuma esquecer do tempo, desviando a atenção dos excessos de comida, bebida, televisão, etc.
Voltando ao caso das meninas mostradas no programa: há uma clara necessidade de envolvimento dessas crianças em atividades mais construtivas, que façam com que ocupem suas cabecinhas de forma ao mesmo tempo lúdica e concentrada, que façam com que se sintam mais importantes, capazes, para que deixem de ser “experts” apenas em encher a pança com alimentos altamente calóricos e pouco nutritivos.
Estes comportamentos, assim como muitos outros comportamentos destrutivos, funcionam como uma espécie de grito de socorro para seus pais. Cabe a eles ouvi-lo.

No Fim do Túnel

Cientistas da Universidade de Sheffield na Grã-Bretanha estão trabalhando na criação de um kit que permite identificar espécies diferentes de bactérias pela emissão de... luz! Moléculas criadas em laboratório unem-se às bactérias, emitindo raios luminosos que poderão ser detectados por lâmpadas fluorescentes.
Então, já sabe: no futuro, médicos provavelmente farão diagnóstico de nossas infecções nos apontando uma lanterna.

9 de março de 2007

O Mau Negócio


O que faz de nós “maus sujeitos”? Onde está a raiz psíquica da maldade?
Foi tema de reportagem de um psiquiatra americano no New York Times desta semana.
Transtornos de personalidade: diagnósticos que são amplos o suficiente para justificar quase qualquer variedade de mau comportamento, segundo o próprio psiquiatra, vem à tona quando a maldade invade relacionamentos e trabalho de forma cotidiana.
O autor do artigo, porém, mostra-se atônito ao perceber que, em muitos dos seus pacientes, após tratamento das condições psiquiátricas que possivelmente justificariam sua maldade, ela continua ali, intacta.
Aí a estupefação passou a ser minha. Apesar dos anos de excelência na sua área, apenas após muito meditar foi que o nobre (acho que nobre mesmo, pois escreve no NYT) colega começou a perceber que a maldade – como de resto qualquer traço de caráter – pode ser mais do que um diagnóstico d’alguma condição psiquiátrica.
Pode ser (e como temos visto!) o fruto podre de um meio mais podre ainda. Pode ser, também, resultado de uma paupérrima escala de valores (novamente fruto do meio). Pode ser até - e para quem acredita é mesmo - karma. Sem menosprezo às próprias até hoje pouco tratáveis mazelas psiquiátricas.
Como na mais famosa citação (que, aliás, nunca foi escrita, pode checar!) do clássico do escritor escocês Robert Stevenson, “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde” (O Médico e o Monstro):
“Em cada um de nós, duas naturezas estão em guerra: o bem e o mal. Durante toda nossa vida, a luta entre elas continua, e uma delas deve ser a vencedora. Está em nossas mãos o poder de escolha – o que mais queremos ser, seremos”.

6 de março de 2007

Mercado, Ria!


Quando se trata de dinheiro, o americano não tem limites para a sua criatividade.
Está em funcionamento nos Estados Unidos um serviço que tem por finalidade ser o “vigia do vigia” nos gastos com saúde.
Funciona mais ou menos da seguinte forma:
Você tem que fazer uma determinada cirurgia, pela qual seu médico quer cobrar, digamos, mil reais.
O pessoal desta companhia vai, então, até o seu médico e pergunta:
-Tem certeza, doutor? Milzinho? Olha, tem muita gente boa por aí fazendo por quinhentinho... Não dá pra baixar, não?
Ao que o cirurgião responde:
-Ai, meu saquinho! Tá bom, faço por seiscentos. E não se fala mais nisso!
Você, então, é operado (de boa vontade? Com a mesma dedicação?) por seiscentos. Da economia de 4oo reais, a companhia responsável pela negociação com o médico embolsa 35%, ou seja, 140 reais.
O mesmo tipo de negociação envolve problemas clínicos, internações, etc. Vale para despesas médicas particulares e em planos em que o paciente é responsável por parte das despesas (cada vez mais comuns, tanto por aqui quanto por lá).
Você pode estar se perguntando: não seria melhor eu mesmo ser responsável pela negociação e embolsar toda a diferença?
A companhia alega que seus 35% são cobrados pela sua expertise, além de aliviá-lo do incômodo.
Vale a pena?
Provavelmente logo saberemos, pois provavelmente empresas semelhantes deverão aportar por aqui.

2 de março de 2007

Ao Bafo



Convide-os para assistirem a uma aula. Irão correndo. Programe um fim de semana num acampamento. Certamente não recusarão. Quartel, albergues? É com eles mesmo.
Só não convide piolhos para programa que envolva vento.
Windsurf, asa delta, então, estão fora.
Foi o que constatou uma pesquisa recente publicada no Pediatrics, em que crianças piolhentas foram divididas em grupos e submetidas a diversos tratamentos envolvendo ar quente direto sobre a “fonte” dos piolhos, ou seja, suas cabeças, por um período que variou de meia a uma hora.
Quase todos os métodos de “entrega” do ar quente foram relativamente efetivos em matar tanto lêndeas quanto piolhos por dessecamento, principalmente na revisão das cabeças uma semana depois.
O campeão, no entanto, foi um suspeito aparelho de nome LouseBuster (“Matador de Piolho”, veja figuras, provavelmente inspirado no filme dos caçadores de fantasmas), que nada mais é do que uma variação ordinária de um simples secador de cabelos (aparelho que tem dentre os responsáveis pelo projeto, vejam vocês, os próprios realizadores da pesquisa. Segundo eles, “não se deve tentar com secadores normais de cabelos, pois não há volume de ar suficiente para funcionar”). Será?