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31 de dezembro de 2007

N'Anonovo



Não há outra resposta a um atchim. É "Saúde".
Aos parentes do falecido, é só "Meus pêsames" (há quem arrisque um "Pôxa...")
E como se responde a um "Bom Dia" senão exatamente da mesma forma?
Então, no final do ano, só sempre a mesma e velha - velha como o ano que termina - frase:
"Feliz Ano Novo!"
Já tentou dizer outra coisa, algo digamos, mais original?
- Ah, tem "Próspero"...
Próspero? Francamente! Parece coisa de rótulo de laticínio: "Agora com mais ferro, cálcio e próspero".
Além disso, tente próspero com a farofa do pernil ou com dois dedos de álcool.
E "ano"? Dá pra substituir "ano" por alguma outra palavra? Há filósofos nepaleses que garantem que sim.
Enquanto aguardamos a resposta, pensemos no que usar no lugar do "novo".
Vindouro? Futuro? Que ora estreará?
Não tem jeito. Não há como ser diferentinho em datas como estas.
E lá vamos nós mais uma vez. Roupinha branca, uva Itália, caras de felizes da vida e "Feliz Ano Novo!"
Ou, então, apenas polegares levantados.

25 de dezembro de 2007

O Pequeno Idoso Sempre Vem


Tenho um metro e noventa e dois centímetros.
Embora hoje em dia isso não signifique muita coisa em termos de altura, volta e meia ouço alguém me dizendo:
-Pôxa, como você é alto, hein?
Não sei se o tom é de admiração. Ou de elogio. Ou, ainda, de “precisava crescer tanto?” (vai ocupar mais espaço pra cima, vai atrapalhar o espaço da gente).
Vou vivendo. Ainda de forma tranqüila.
Não é o que costuma acontecer com o sujeito obeso.
Obesos já são olhados com olhos de preconceito. Frequentemente vejo mesmo os obesos olhando com preconceito para outros obesos (vide Faustão).
Todos temos parentes e amigos mais ou menos obesos. Não deixamos – espero – de gostar deles por serem assim.
Por isso o assombro com algumas mentes engenhosas que tramam campanhas como a engendrada neste fim de ano contra o Papai Noel britânico. Quiseram emagrecê-lo.
O motivo?
Óbvio. Não podemos passar pras crianças o exemplo de um sujeito que alcança idade assim tão avançada (que idade mesmo?) nessa forma física tão deplorável. Um obeso! E aí o corolário: um obeso poderia ser também um preguiçoso, um glutão, um inativo, etc.
Santa Claus! Digo, santa paciência!
Felizmente vozes se insurgiram contra tal patrulhamento. Pelo menos no caso do bom velhinho (150, 200?). Uma outra campanha ou uma “contra-campanha” (com doação de alimentos a pessoas carentes para cada subscritor): deixem o Papai Noel obeso! Que obeso o quê? Gordo mesmo?
E não encham ainda mais o seu já cheio saco!

Feliz Natal.

21 de dezembro de 2007

Ejercitese! Muevase! (Pero No Mucho)


Atletas de ponta e os que pretendem ser (a grande maioria) treinam arduamente, senão propriamente “noite e dia”, pelo menos manhã e tarde. E convivem com a regra de abusar do físico, no mais das vezes considerando isto um fato normal.
Cansados? Descanso? Não. Mais treino!
São vistos e endeusados pela mídia. Cada vez mais, pois vendem.
“Atletas mortais” (não os dos fins de semana, que estes não são os “atletas”, das aspas), os de todos os dias, aqueles que querem “manter a forma”, espelham-se nos anteriores: treino! Cansadinho dos afazeres do dia-a-dia? Não interessa: treino!
E o corpo ali, pedindo arrego, pedindo descanso (e dizendo de si para si mesmo: “deixe que numa hora dessas eu me vingo!”).
A corrente profissional do esporte - cidadão fitness é assim formada. Um dando força para o outro. Ambos bonitos, seja na foto da revista de esportes ou no vestido da moda. Ambos esbodegados. Um com dinheiro no bolso, outro “se sentindo”, ainda que, o último, com uma tremenda sensação de incompletude (é de se perguntar: o que leva ao quê?).
De novo, normal. Pros tempos atuais.
Noutro extremo, os sedentários. Com consciência pesada, com problemas de saúde diversos (quais são os piores?) dos fisicamente hiperativos, mas aparentemente mais felizes. Talvez só pelo fato de disporem de mais tempo. Tempo para contemplarem (apenas contemplarem) a manhã ensolarada. Tempo para relações humanas. Tempo, enfim.
Poucos são os que se exercitam com sabedoria. Os que sabem o valor da constância*, mas não se tornam escravos, viciados em endorfinas e encefalinas.

* Constância aqui se refere ao ser constante, ao ser freqüente.
A Constância, irmã da Hortênsia, tem nada a ver com isso...

18 de dezembro de 2007

Para Cima ou Para Baixo


Você provavelmente conhece o tipo:
Um jovem de intelecto brilhante, com sucesso acadêmico acima da média, muitas vezes meio malucão, que – a partir de certo momento – fica mais malucão ainda. Começa a usar drogas, ou beber demais, ou a ter comportamentos compulsivos ou a ficar inconveniente para amigos e familiares.
Este é o sujeito com bipolaridade mais ou menos típica (ou com transtorno bipolar - a antigamente chamada psicose maníaco-depressiva). Bipolar porque alterna – mas nem sempre – entre dois pólos: o da mania (emoções exacerbadas “para cima”) e o da depressão (emoções “para baixo”).
Sua freqüência é estimada em 2% da população adulta (metade destes casos já se apresenta na adolescência e, em muitos destes, indícios importantes podem estar presentes mesmo na própria infância – normalmente os de evolução mais séria).
Veja que 2% não é pouco. Mas também não chega a ser o exagero que às vezes se pretende em algumas publicações.
Há, no entanto, na literatura médica, uma “nova” categoria, os chamados bipolares subsindrômicos. São justamente aquelas pessoas com alternância de humores mais leves, em que persiste a dúvida se vale a pena o tratamento com medicamentos, por exemplo. Chegam a 5% da população. Estes pacientes normalmente têm história familiar de problemas psiquiátricos e apresentam associação freqüente de outros comportamentos “anormais” (principalmente anti-social e/ou os chamados transtornos de personalidade borderline).
O recado mais importante para os pais é que, não importa o nome que se dê, crianças e adolescentes que mostrem sintomas afetivos em excesso (irritabilidade, crises de birra além do aceitável, pensamentos obsessivos, grande intolerância a frustrações, sono excessivo ou muito pouco sono, desafio freqüente das autoridades, idéias demasiadamente grandiosas, etc.) devem ser vigiados de perto pelos seus cuidadores (e os pais devem estar receptivos para avaliações psicológicas ou psiquiátricas, bem como devem informar-se sobre o assunto).

14 de dezembro de 2007

Shades of Grey *


Da próxima vez que você solicitar ao seu médico uma tomografia (porque hoje em dia é muitas vezes o paciente que solicita), pense duas vezes.
Da próxima vez que seu médico solicitar uma para você, faça-o considerar outros exames (se é que realmente precisa de algum).
Há cerca de 2 anos, a Academia Nacional de Ciências americana divulgou sério relatório alertando para os riscos da exposição abusiva de pacientes à radiação (notadamente à radiação representada pelas tomografias computadorizadas).
Nele, os cientistas afirmam que a radiação de apenas uma tomografia realizada na vida pode ser suficiente para causar câncer.
Por que então as pessoas dão pouca bola pra isso e continuam a se submeter a exames muitas vezes desnecessários (para se ter uma idéia, na nossa cidade a estimativa é de cerca de 90% de exames completamente normais)?
A culpa, segundo o autor de artigo no site do Medscape, pode ser da chamada “ciência da experiência imediata”: ninguém sai da mesa de exame quente, queimado, vermelho ou sem cabelos. Os tipos de câncer provocados por este tipo de radiação (leucemias, tumores de mama e tireóide, principalmente, podem chegar a 1 caso a cada 550 expostos em crianças) levam até 20 anos para aparecer. São de difícil comprovação. E até lá, o médico que solicitou o exame já estará inacessível, provavelmente.
Claro que a tomografia tem suas indicações (indicações estas que estão sendo progressivamente transferidas para a ressonância magnética, exame que não envolve radiação, pouco mais cara do que a tomografia). O que se discute, o que se alerta para é o exagero, o exame mal indicado, o comércio, a própria ignorância.

* Shades of grey (“tonalidades de cinza”), mais ou menos intensas, princípio no qual se baseiam as imagens da tomografia computadorizada. O título aqui me foi inspirado pela música “Whiter Shade of Pale”, hit de 69, ainda hoje cantada por quase todo o mundo.

11 de dezembro de 2007

Sargento Magrão



Pra pensar:

Quanto do ganho de peso se deve a:

-pena de jogar fora restos (cultural, personalidade)?
-preguiça de guardar resto?
-gosto pelas “contas exatas” (“Faltam só seis biscoitos para inteirar o pacote”)?
-consumismo (“Nem gosto disso, mas... olha que pacotinho bonito!”)?
-modismo (“Imagine, nunca comeram no Pizza Hut!”)?
-atração por novidades (“Agora com gosto de abóboras selvagens, vamos levar!”)?
-ignorância (das mais diversas, como incapacidade de calcular valores dos nutrientes, crença em rótulos desonestos, etc.)?
-credulidade (principalmente quando se quer crer, por exemplo, que algo gostoso está “agora mais saudável”)?

Não nos enganemos, a indústria alimentícia se utiliza destes conhecimentos (psicólogos fazem parte do departamento de marketing de muitas delas) para nos “levar no bico”.

Agora responda:
Quantas dessas situações melhoram – e muito – com quatro silabazinhas:
Dis-ci-pli-na ?

7 de dezembro de 2007

Duras Penas


(-Você recebeu um "male"! - "macho", pronúncia semelhante a "mail" - um sinal inequívoco de que seu médico passa muito tempo "online")


Alguns podem argumentar que uma prova - justamente - não prova nada.
Não quero cuspir no prato que como (nem ser o roto que fala do rasgado), mas faz pensar o crescente índice de reprovação (deu no JN, ontem) na prova de avaliação do Conselho dos sextanistas do curso de Medicina do Estado de São Paulo.
Por que?
Primeiro porque a reprovação tem sido exatamente crescente (assustadores 56% nesta última). Ou seja, ou a prova tem se tornado cada vez mais difícil, ou o nível dos estudantes tem piorado a cada ano (tudo bem, são só três anos de realização da prova...).
Segundo, porque o que se está testando é o nível de conhecimentos dos médicos do estado mais rico, mais aparelhado, maior concentrador de cérebros e com as melhores escolas (é inevitável a reflexão: imagina o pior...).
Terceiro, porque “Siqueira ou não”, estudantes do curso de Medicina – mormente os que concluem o curso – são parte da elite intelectual – como diz determinado presidentedesse país.
Mais estarrecedor é o fato dos que se submeteram à prova terem sido supostamente a parcela que se considerava melhor preparada, visto que a mesma não era obrigatória nem pré-requisito à atuação profissional.
Convivi com colega que - há mais de vinte anos – cravava palavras como “ingessão”, dentre outras pérolas, nas provas escritas da faculdade (não virou ortopedista, nem – felizmente – lê meu blog, mas ainda atua normalmente). Convivo com outros que confessam que “detestam ler” (um deles, profissional respeitado, me disse: “Aquelas palavras ali, me dão um sono...”).
Não acredito que médicos devam ser seres como o que apareceu num filme antigo – cujo nome infelizmente não recordo - que em cada cena que aparecia (no banheiro, na banheira, na cama ao lado da esposa carente, no jantar, etc.) estava estudando, se atualizando, como uma peça sinistra da decoração da casa.
Acho, no entanto, que pessoalmente me sentiria mais tranqüilo com um profissional mais parecido com esse a cuidar de mim do que alguém que conta letrinhas pra pegar no sono (ainda que, claro, conhecimento técnico seja apenas um dos atributos do bom profissional).

Anabola da Vez

-E aí, Rebeca, confessa, anda dando um tapa numa nandro...
-Não, mas não me custava nada dar uma bifa num malandro!

4 de dezembro de 2007

Da Suíça, Direto



Brilhante a entrevista do cientista e imunologista suíço Rolf Zinkernagel (o da direita na foto), Nobel de Medicina de 1996 (juntamente com Peter Doherty – o da esquerda) no site médico Medscape. Como é um site “fechado”, vou dar uma baita resumida no que o cara disse. Sente, prepare-se.
Segundo ele, epidemias “novas” como as do HIV, do SARS, da tuberculose resistente, do vírus Ebola só têm aparecido pelo fato de que a ciência nos fez viver muito mais do que “deveríamos”.
Biologicamente, o ser humano foi feito para se reproduzir até por volta dos 20 a 25 anos de idade e, após isso, “babau”: morrer! Como não é o que acontece, continuaremos a sofrer com novas doenças infecciosas, cânceres e doenças auto-imunes (como a artrite, o lúpus, o diabete, os problemas de tireóide, etc.), não importa o quanto a ciência avance.
Não por isso devemos nos conformar, claro. Porém, no caso da AIDS, a posição do Dr. “Zink” (não contem que eu já peguei intimidade com ele) é clara:
Sua aposta é de que o vírus HIV vai – infelizmente num prazo de algumas centenas de anos – se adaptar ao sistema imunológico humano (como já o fez o vírus HIV-2) e, a partir daí, tornar-se-á um conviva, pouco agressivo, nos moldes do vírus da herpes. Não é do “interesse” do vírus matar seu hospedeiro. A tentativa de erradicá-lo, devido a sua grande capacidade de mutação, segundo ele, somente piorará o problema. Até lá, só nos resta manter o controle sobre o sangue utilizado em transfusões e evitar o sexo desprotegido.
“Zink” diz que, de longe, o grande problema da saúde mundial é o próprio comportamento humano. Palavras dele:
“Se nós não fumássemos, não comêssemos em excesso e não bebêssemos em excesso, não teríamos a maioria dos problemas de saúde, em primeiro lugar. Nós todos somos excessivamente estúpidos no que diz respeito ao nosso próprio bem-estar. Quanto mais cedo percebermos isto, mais cedo seremos capazes de nos salvar.”