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29 de fevereiro de 2008

Onde o Sangue Vira Pipi


(não é nome de filme que ganhou meu xará, o Oscar...)


Uma das conseqüências de estilos de vida menos saudáveis e – paradoxalmente – da maior longevidade** é o aumento progressivo do número de casos de doenças renais crônicas. Dentre outros problemas, a obesidade, a hipertensão e a diabete têm sido responsáveis pelo risco aumentado de falência dos rins.
Os rins são “máquinas de filtrar sangue”. No adulto, cerca de 120 ml de sangue é filtrado a cada minuto (isso significa 172 litros por dia, o equivalente a uma banheira cheia! Significa também que a cada 25 minutos todo o sangue é renovado).
Imagine os rins como se fossem constituídos de milhões (perto de dois milhões, em ambos os rins) de frágeis filtros de papel. Quando, por exemplo, a pressão maior do sangue (hipertensão) estraga estes filtros*, há escape de proteínas (preciosas para inúmeras funções do organismo).
A própria tentativa de “corrigir o defeito” (o organismo tenta, por mecanismos hormonais, diminuir a pressão com que o sangue chega nas artérias dos rins) cria mais problemas (o tiro sai pela culatra: a pressão arterial aumenta ainda mais, criando um ciclo vicioso de hipertensão > dano renal > mais hipertensão).
(* Uma glicemia persistentemente elevada (diabete) também danifica os filtros).
Ainda que o controle da pressão e da diabete não reverta os danos causados, evita que a progressão para a falência total dos rins aconteça em prazos mais curtos.
(** Filosofando - de forma fria – a doença renal é um daqueles problemas pelos quais a gente tem que se conformar de que um dia, não tem jeito, vamos “pifar”: os rins frequentemente “pifam” como estágio final de outros problemas médicos...)

26 de fevereiro de 2008

Porrada


Não é que “idealmente o paciente deva estar informado sobre sua doença e ajudar o médico no seu tratamento, blá, blá, blá...”
Principalmente com o advento da Internet, o médico não “terá que descer do seu pedestal de conhecimento e buscar uma nova maneira de se relacionar com seu paciente, agora mais informado, blá, blá, blá...”
Médicos foram derrubados – à “porrada”, de informações agora obtidas pelos seus pacientes e familiares - do seu suposto pedestal.
É realmente maravilhoso nossos pacientes nos buscarem – ou saírem dos consultórios após diagnósticos – com várias fontes de “Convivendo com...” (p. ex.: a diabete, a hipertensão, a cefaléia, a artrite reumatóide).
O único grande, enorme porém é que pacientes (por mais informados que estejam – e é muito bom que seja assim) ainda são pacientes (embora muitos estejam se considerando “quase médicos”) e médicos ainda são médicos – ainda que um pouco tontos ou assustados com estas mudanças (mas talvez possam também se considerar “quase pacientes”, não seria bom?).
Médicos ainda servem e servirão para fazer o filtro, buscar o equilíbrio nas decisões terapêuticas, analisar informações do ponto de vista técnico, enfim.
Mas, claro, estamos todos nós tendo que mudar nossa maneira de nos relacionar, gostemos ou não, de cara feia ou felizes com clientes mais “difíceis de agradar”.

Conselho Ecológico:
-Doutor, meu filho já está com 20 anos e eu ainda não sei se ele anda afogando o ganso!
-Bom, pelo menos vê se não deixa ele queimar o marreco...

22 de fevereiro de 2008

Papai na Seca (versus Filhos Idem)

Mães de lactentes, ao solicitarem de seus ginecologistas algum método contraceptivo, deveriam ouvir a pergunta antes da resposta:
-Deseja continuar amamentando?
E, a partir daí, ter apresentadas as opções de contracepção.
Como já vimos, a glândula hipófise concentra quase todo o trabalho de produção hormonal da mulher. Como produção de prolactina (hormônio do leite) e outros hormônios femininos responsáveis pelo ciclo menstrual andam colados, na mesma “fábrica”, a interferência com um costuma alterar o outro.
É o que vemos na prática:
Praticamente todos os métodos contraceptivos hormonais (pílulas e injetáveis) costumam levar a uma diminuição na produção do leite materno, em alguns casos de forma muito pronunciada (mesmo as famosas pílulas de progestina que “não interferem com a amamentação”).
Parece a nós, pediatras, muita insensibilidade a troca dos grandes, enormes benefícios do leite materno pela “comodidade do leito conjugal” neste período. Mas, como não somos nós que mandamos...
Digo sempre aos pacientes (àqueles que entendem e podem, claro) que o melhor método contraceptivo no período de amamentação é o método de barreira. E dentre os métodos de barreira, não há melhor do que uma parede: quartos separados!

19 de fevereiro de 2008

Putz! Saca...rina!



A alimentação se relaciona a nutrientes, e a sacarina – ou o ciclamato, ou o aspartame – não é um nutriente.
O resultado de duas pesquisas recentes deu muita grita entre os fabricantes de adoçantes. Uma das alegações: os estudos foram feitos em ratos.
Quase todos nós, no entanto, vemos que o consumo de adoçantes não faz grandes diferenças no controle do peso (e isso já há décadas!).
Os estudos têm comprovado a seguinte hipótese:
Nós, desde tenra idade, aprendemos (de forma totalmente instintiva, inconsciente) a relacionar alimentos doces ou ricos em carboidratos a um número x de calorias (e, então, à saciedade, que equivale a dizer: “Chega, essa quantidade de alimentos é suficiente para mim.”).
Quando abusamos dos adoçantes, enganamos o nosso cérebro. Mandamos o recado: “Olha, querido cérebro, pela consistência e doçura do que estou comendo, devo estar mandando aí umas “x” calorias para você, OK?”.
Apenas que esta doçura é falsa. É química (e não realmente calórica).
Resultado?
Come-se mais como compensação. E engorda-se.
Ratinhos já comprovaram em laboratório. Nós, repito, temos visto na prática.

Obs.: ainda que não se deva abusar dos adoçantes, eles são úteis em moderação e na comparação com alimentos excessivamente doces como os refrigerantes (dentre outros motivos, por não induzir à resposta tão intensa de produção insulínica em obesos e/ou diabéticos).

15 de fevereiro de 2008

Gambela


Uma queixa das mais freqüentes que eu ando ouvindo:
-Tomei (ou dei) Activia e não adiantou nada...
Bem feito! Quem manda acreditar em propaganda? (provavelmente deve ter em casa uma coleção de facas Ginsu – além de um Ab-Shaper).
Vamos tentar raciocinar como um fabricante de iogurtes desonesto na sua intenção de aumentar as vendas de forma extraordinária. Pensa-se assim:
Quando o sujeito vê uma marca conhecida de laticínios lançar um desafio na TV: “Experimente por tantos dias e se não funcionar daremos seu dinheiro de volta” isto claramente gera na mente do consumidor uma mensagem de total confiabilidade do produto (“vai funcionar, senão não estariam propondo a devolução do dinheiro”).
Mas... Quem vai realmente se dar ao trabalho de juntar potinhos usados (ou tampinhas, ou seja lá o que for) e, juntamente com a difícil comprovação de uma alimentação saudável (é, a regra da devolução pede isso!), reclamar seu dinheiro de volta?
Além do mais, como se comprova se o intestino anda funcionando melhor ou não? Mandam-se amostras?
Claro que mesmo se confiando na palavra do consumidor a coisa vai ser trabalhosa.

Enquanto isso, naquela fabriqueta de laticínios...
Não se pára de contar dinheiro.
E você aí, com seu intestino cada dia mais preso!

12 de fevereiro de 2008

Sete Dúvidas Sobre Dor nas Vacinas...

... Que você nunca teve coragem de perguntar:

Nem os mais corajosos dos pais deixam de fazer alguma careta ao ver o sofrimento dos filhos ao tomarem vacinas. São tantas, e cada vez aparecem mais...
Então, enquanto não inventam vacina sem agulha (tá mais do que na hora, lembram da tentativa da vacina nas bananas?), aqui vai o resumo do que existe de conhecimentos para minorar o problema:
Preparação:
Prepare. Com pouquíssima antecedência. Cedo demais só vai criar ansiedade. Tarde demais é meio que maldade.
Tamanho da agulha:
Embora possa parecer que a agulha menor e mais fina deva ser a que menos causa dor, estudos mostram justamente o contrário (claro, até certo ponto!).
Material injetado:
Não há certeza se as vacinas são alteradas pelo aquecimento prévio (esfregando o frasco com as mãos). Em medicamentos como a penicilina costuma ser útil aquecer um pouco.
A diluição em lidocaína deve aliviar a dor. Porém, com vacinas há dúvidas quanto a capacidade de induzir resposta imunológica, por isso ainda não se recomenda.
Comportamento dos adultos:
Curto e grosso: humor e distração* ajudam (distração principalmente para o stress, não para a dor). Empatia (mostrar que também está sofrendo) e “tranquilização” (o famoso “não dói nada!”) pioram.
* O tipo de distração varia muito de acordo com a preferência da criança. Filmes de terror, por exemplo, não são boa idéia.
Outro ponto óbvio: reações das crianças dependem muito de como elas são educadas no dia-a-dia, fora do procedimento.
Nutrientes durante a vacina:
Para crianças pequenas (lactentes) tanto soluções de açúcar quanto a amamentação costumam minimizar a dor (surpreende o fato de ainda não estarem sendo usados).
Anestésicos locais:
Como o EMLA (“patch” de anestésico). Funcionam, mas são caros e precisam de muita antecedência para agir (até 1 hora). Outras substâncias e tecnologias têm sido estudadas.
Técnicas de aplicação:
Pressão local com os dedos imediatamente antes ou durante costuma minimizar a dor.
Há novas seringas em estudo, algumas delas com áreas de pressão concomitante à agulhada.

Às claras:

Perguntou o estilista àquele ansioso personagem:
- E esse botãozinho, querido, vai em grená?
- Em grenei. Mas eu não sou gay, eu não sou gay!

8 de fevereiro de 2008

Tudo em Um Milhão


Melhor compre o livro você mesmo e leia-o.
Mas, mesmo assim, não consigo deixar de entregar de bandeja um ou outro tópico do meticuloso “O Dilema do Onívoro” do jornalista Michael Pollan, best-seller americano no ano passado.
Ali se aprende que o povo dos Estados Unidos virou, segundo o autor, “milho ambulante”, devido a uma economia que funciona muito melhor baseado na monocultura.
Da cerveja ao iogurte, do ketchup à salsicha, da margarina ao molho para saladas, tudo é “contaminado” em maior ou menor grau pelo milho no processo de industrialização.
Alguns exemplos quantitativos:
Refri (não-diet): 100% milho (na forma do tal HFCS – high-fructose corn syrup ou xarope de milho com alto teor de frutose, invenção dos anos 80 que substituiu a sucrose como componente essencial).
Molho para saladas: 65%.
Milk-shake: 78%.
Cheeseburger: 52%.
Batata-frita: 23%!
Chicken-nuggets: 56%.
(Tá parecendo cardápio de alguma lanchonete conhecida? Não é à toa...).
Como o título do livro sugere, estamos nos distanciando da “dieta onívora”, onde se deve comer de tudo, dieta em que sobra ao organismo o trabalho da seleção dos nutrientes. Mas... como selecionar nutrientes onde eles são parcos ou mesmo não existem?

5 de fevereiro de 2008

Aqui se Faz



“Se você odeia uma pessoa, você odeia alguma coisa nela que é parte de você mesmo. O que não é parte de nós mesmos não nos perturba.”
Hermann Hesse, Nobel de Literatura em 1946

Hostilidade.
Num mundo recheado de oportunidades para senti-lo – ou manifestá-lo – a ciência já se fartou de documentar como este sentimento pode se traduzir em males para a saúde. Males que, curiosamente, como numa espécie de represália divina (ou “cósmica”), acometem muito mais o próprio perpetrador (não tente falar isso rápido) do que o hostilizado.
É como se a cada gesto de indignação, de desapreço a subalternos, de aviltamento ao próximo, a cada xingamento ao lento motorista roda-presa do carro em frente, destilássemos mais alguns mililitros do nosso veneno nas próprias veias, que quando somados em meses, em anos, inevitavelmente mostrarão seus efeitos deletérios em órgãos tão diversos como os do sistema cardiovascular ou digestivo (acredita-se, entretanto, que os estragos incluam alvos antes insuspeitados como o sistema imunológico e sistema nervoso), até mesmo nas crianças e adolescentes.
O que causa estranheza é o fato de tratamentos de condições como a hipertensão, a gastrite, as dermatites e outras ainda não levarem em conta as características de personalidade dos pacientes tratados na sua maioria. Medicamentos e o foco no(s) órgão(s) tratado(s) continuam sendo a regra.




Pai

-Agora, daqui pra frente o Pereira só vai ser conhecido como “o pai do Rodrigão”!
-É, isso mesmo!
-Todas suas outras conquistas vão ser esquecidas!
-É mesmo!
-Quando forem falar sobre ele...
-Ei!
-Ãh?
-Que “outras conquistas”?

1 de fevereiro de 2008

Com a Maioria


Não que eu deseje mal a você, mas o vírus do herpes é meio como aquela manjada propaganda:
“Você ainda vai ter um!”
60% das pessoas no mundo albergam o HSV-1 (o vírus mais associado com o herpes labial).
Ao se atingir os 50 anos, a fatia da população que o terá contraído chega a quase 90%!
-O que é pior, “pegar” o HSV-1 (labial) ou o HSV-2 (genital)?
Em termos de riscos sérios, aparentemente é melhor (menos pior) “pegar” o HSV-2.
Por dois motivos principais: primeiro, o tipo 1 está mais perto do cérebro (aloja-se normalmente no nervo trigeminal, e por ali fica “de bobeira”, esperando brechas da imunidade para se reativar).
Embora a encefalite (inflamação do tecido cerebral) pelo vírus do herpes não seja assim tão comum, é de evolução grave (alta mortalidade e seqüelas) e é, na grande maioria, provocado pelo vírus tipo 1 (principalmente na infecção inicial, ainda que em 80% dos casos de encefalite não haja lesões labiais).
Além disso, a infecção inicial pelo tipo 2, o herpes genital, confere proteção contra infecção pelo tipo 1 (senão sempre, pelo menos quase sempre – ainda há alguma controvérsia*).
Outra curiosidade da biologia deste bichinho:
O vírus do tipo 1 pode – e frequentemente o faz – “descer” para genitais (por exemplo, através do sexo oral). O caminho contrário (o tipo 2 “subir”, causar lesões orais da mesma forma) é muito mais raro. Sexo oral, então, com parceiro que tenha lesão genital pelo tipo 2 é muito menos arriscado do que entre parceiros em que um deles tenha lesão oral (ainda que os tipos localizados fora do seu local habitual sejam menos agressivos – o que faz aumentar as chances do tipo 1 localizado em genital passar meio despercebido**).
Mais uma:
Há algum tempo atrás se acreditava que as lesões genitais apareciam após um período de incubação de 2 semanas mais ou menos fixo (período de incubação: período entre o contágio e o aparecimento de lesões). Isso gerava muitas acusações de infidelidade, várias delas injustificadas. Hoje se sabe que entre o contágio e o aparecimento das lesões podem se passar até vários anos.
* Quase que dá pra dizer: “Se você nunca teve herpes labial (tipo 1, na idade adulta talvez a minoria das pessoas), vá e pegue logo uma genital (tipo 2), e seja feliz! (lógico que isso não é recomendação que se dê a ninguém...)
** Já deu, então, pra perceber: se você tem um herpes genital muito “chato”, provavelmente é pelo vírus tipo 2, mesmo.

Obs.: veja como são insondáveis os mistérios das doenças: um simples vírus da herpes na primeira infecção (nem sempre se consegue saber quem passou) pode causar desde uma banal estomatite nas crianças (muito incômoda por uma semana, mas muito benigna) até uma grave encefalite (mesmo sem lesão visível).

Falando nissos,
Como é que um bêbado termina com uma relação incestuosa?
Essa é fácil:
usando um incesticida.