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29 de agosto de 2008

É de Pequeno que...

Para dar uma idéia do “pepino” que significa o processo decisório de se investigar a baixa estatura em crianças, um estudo holandês nos dá dois números interessantes:
1) 38%: o percentual de crianças que seriam investigadas com exames laboratoriais para baixa estatura, caso todas as crianças que preenchessem os critérios habituais fossem realmente investigadas.
Gente: seria quase a metade de todas as crianças! (E isso na Holanda, que tem gente grande por natureza!).
Claro que por isso há necessidade do feeling, da percepção do pediatra de que há realmente algo de errado com o crescimento da criança (além, é claro, de uma história e avaliações clínicas muito bem realizadas – lembrando que a altura familiar é decisiva na necessidade de investigação).
2) 5%: o percentual aproximado de reais problemas médicos (problemas hormonais, síndromes genéticas – Turner, principalmente – doença celíaca, problemas renais, etc.) para o baixo crescimento na maioria dos estudos até hoje realizados. Os outros 95% teriam que apenas se conformar: “baixinhos” genéticos!

26 de agosto de 2008

Sermão do Buraco


Se você se acha uma pessoa muito forte, um super-herói, indestrutível (todos nós nos achamos assim de vez em quando, principalmente quando jovens) recomendaria a você uma fascinante viagem de auto-conhecimento.
Para onde? Montanhas do Himalaia? Nepal? Índia? Talvez ao norte da África?
Claro, também serve!
Mas há uma outra viagem, pouco mais barata, que podemos fazer para “baixar nossa bola”, nos mostrar o quanto somos insignificantes:
Um tour endoscópico pelo nosso aparelho digestivo!
Quando nos assistimos por dentro (há duas vias de chegada, por cima ou por baixo), quando vemos a fragilidade do revestimento mucoso de nossos esôfagos, estômagos, duodenos, etc., e o quanto de fragilidade ali existe – a susceptibilidade a sangramentos, rupturas, arranhões, agressões químicas e mecânicas, torsões, a facilidade de aparecimento de tumores, benignos ou não – nos damos conta de que nossa vida não passa de um sopro (embora esse sopro, pela nossa capacidade psicológica de nos enganarmos, de nos esquecermos, capacidade com propriedade chamada de mecanismo de defesa, possa em alguns momentos dar a impressão de ser mais um furacão).
(Pronto! Essa semana te livrei do sermão dominical...)

22 de agosto de 2008

Acordão


Muitas mães fazem um acordo tácito com seus filhos pequenos. A coisa funciona mais ou menos assim:
Pensa a mãe:
-“Este pestinha não come nada, mesmo. Então, como ele não come, já vou fazendo o “mamazinho” pra dar pra ele depois de cada recusa alimentar”.
Pensa o “pestinha” (não sou eu que estou dizendo, foi a mãe dele, tá?):
-“Já sei que eu não preciso comer nada dessas coisas que a minha mãe me oferece: ela já vem com meu “mamazinho” atrás, mesmo!”
E aí, ficam os dois nesta espécie de acordo durante meses ou mesmo anos: a mãe cheia de preocupações porque o filho “não come” (e quase não come, mesmo, pra quê?), e o filho, espertinho, conseguindo deixar a mãe preocupada – que é sinônimo de amor materno na cabecinha dele – além de tudo, com a pancinha muito bem cheia!
-Precisa mudar? Precisar não precisa, mas deve, por vários motivos. Dentre eles, uma percepção por parte da criança de que ela está crescendo (e não “parada” na fase de bebezinho, coisa que certos pais têm relutância em aceitar), a diminuição de problemas dentários pelo uso excessivo de mamadeiras, a prevenção de anemias provocadas por perdas sangüíneas microscópicas que ocorrem em dietas com excesso de leite de vaca, além da possível inibição da absorção intestinal de ferro pelo cálcio, etc.
-Como faço? Seja firme (já viu mãe firme? É como maria-mole dura...), e estabeleça uma cota: por exemplo, duas mamadeiras nas 24 horas. Fora disso, pode se esgoelar. Com o tempo (vamos combinar que tempo não é dois dias, tá?) a criança vai aprendendo que 1) a mãe é quem manda (não sabe como isto é bom pra você!) e 2) se tiver fome, terá que “se virar” com outros alimentos (só não me venha com “papinha de bolacha”, que falta de criatividade!).

19 de agosto de 2008

Sociedade de Consumo


-Então vocês são os novos candidatos a papais?
-Somos.
-Estão vendo alguma criança que interesse?
-Estamos sim, algumas. Mas a gente queria alguma mais assim, ao nosso estilo.
-Sei. Aquela ali agrada?
-Qual? Ui, não! Muito escurinha!
-E aquela outra?
-Muito palidazinha.
-E essa que passou correndo, não é um amor?
-Seria, se não corresse tanto, né?
-E a irmã dela, ali ao lado?
-Não sei, sabe como é, não bateu...
-Tem aquele ruivinho...
-É, mas nós somos loiros, só se puser uma peruca.
-Ah, já ia me esquecendo da Morena, que é como nós a chamamos. Tá ali no canto, ó, um amor de menina: linda, tranqüila, nunca levanta a voz, nem mesmo quando dá topada.
-Ótimo. Ficamos com essa, né amor?
-Que bom! Vou providenciar os documentos.
-Só uma pequena dúvida. Na verdade, é mais um temor...
-O que é?
-Cria vínculo?

12 de agosto de 2008

Ai! Testado...

Existem poucas coisas mais atravancadoras da profissão médica que o tal do atestado.
Quase todas as semanas assistimos ao teatro de pais que acordam indispostos ou com preguiça ou seja lá qual seja o motivo para não comparecer ao trabalho ajeitando seus pequenos cúmplices com as mais variadas queixas – muitas vezes irreais – para, no final da improdutiva consulta, largar o famoso:
“O senhor pode me dar um atestado?”
Isso quando não vem com os apêndices, piores ainda:
“Pra hoje e pra amanhã”, ou “Dá pra dar pra três dias?”.
Claro que temos a obrigação de fornecer declarações para os pais que precisam levar seus filhos aos médicos. Afinal, eles não podem – e não devem – ir sozinhos.
O que incomoda é o abuso. Atendo algumas mães que se somasse o tempo que me pedem de declaração trabalhariam uns cinco dias por mês!
Outro aspecto irritante é a inutilidade de muitas declarações solicitadas (aliada ao implícito perigo jurídico). Coisas como declaração de saúde para atividade física. Tá na lei. Temos que fazer. Mas é uma aberração da maneira que é feita.
Não há nada que garanta ao paciente que, atestado de saúde perfeita na mão – nos moldes em que é feito, não possa cair estatelado numa quadra de futebol ou vôlei. Um evento como este – raro, felizmente, na ordem de 1 para cada 200.000 praticantes/ano – é difícil de prever mesmo com os mais rigorosos testes.
Então pra que serve este tipo de atestado?
Se você pensou: para f... (de ferrar) o médico responsável e “tirar os demais da reta”, está absolutamente certo!
Então quem é mais culpado de uma fatalidade? Um médico que atestou a saúde ou um professor que faz um aluno correr uma maratona na aula de Educação Física?
Agora, o exame mais inútil de todos:
O atestado pra piscina!
Nesse, dá vontade de escrever:
"Atesto que Fulano de Tal, se jogado na piscina, não bóia"!

8 de agosto de 2008

Kay & Ray


Quais os limites da personalidade? Até que ponto nosso ser é influenciado por doenças, transtornos ou “desvios patológicos” da normalidade?
Dois livros modernos – mas já clássicos – abordam o tema, ainda que de forma indireta.
No primeiro, Uma Mente Inquieta, a autora, Kay R. Jamison, uma psiquiatra norte-americana literalmente se coloca no lugar de seus pacientes ao sofrer ela mesma do transtorno bipolar (na forma mais severa, com fases maníacas que a levaram inclusive a tentar o suicídio).
Em determinada parte do livro, Kay relata seu medo de ter a candidatura ao emprego recusada pela patologia, ao que seu chefe respondeu: “Sem nossa equipe de bipolares, acredito que este hospital seria um lugar muito chato de se trabalhar!”.
No outro livro, O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu, pouco mais antigo, o neurologista e escritor Oliver Sacks (famoso pela participação como roteirista e personagem do filme “Tempo de Despertar”) relata a curiosa história do paciente Ray, portador da Síndrome de Tourette desde a infância. Devastadora para seus relacionamentos e vida social (os portadores desta síndrome, dentre outros “descontroles” involuntários, “soltam” palavrões e grunhidos nos momentos mais inapropriados), a síndrome era para este paciente parte da sua personalidade, do seu “self”.
Ao ser tratado (com Haldol, medicação que paralisa movimentos, mas também boa parte das emoções) Ray liberou-se de grande parte dos constrangimentos. Sem movimentos “malucos”, “alienados”, “normal”, enfim.
Porém, assim como Kay ao tomar sua medicação para a bipolaridade - que, ainda assim, a autora insiste que para ela foi questão de vida ou morte – Ray começou a sentir que “algo estava faltando” (termo exatamente igual em ambos os textos). Este “algo” no caso de Ray era sua vivacidade, sua rapidez de raciocínio, sua capacidade de surpreender os outros mesmo quando soltava um “filho da...” impensado (algo que já esperavam dele amigos e familiares).
Patologias, deficiências, diferenças, extravagâncias, aparências. São características que dão cores à nossa personalidade, são nossa história. Moldam nosso comportamento em relação a nós mesmos e aos outros (e vice-versa).
Tratamentos, mudanças, “consertos”, disfarces podem ser desejáveis ou mesmo absolutamente necessários.
Mas... Será realmente bom?
E... a quem cabe essa decisão?

5 de agosto de 2008

João da Silva*


Tosse não é como óleo pro motor do carro, “tudo igual”, a gente cansa de falar (mas ainda fala).
Portanto, para medicar a tosse (se é que ela precisa ser medicada, e muitas vezes não precisa ou não deve) também não há remédios mágicos.
E dentre os remédios usados para medicar a tosse seca, irritativa (o termo “irritativa” aqui se refere à irritação do brônquio, não à irritação do vizinho), ou seja, aquela em que há pouco ou nenhum catarro, um que às vezes pode ser útil é o dextrometorfano.
O dextrometorfano é um sedativo da tosse (e um pouco sedativo da gente, também, por isso precisa ser usado com cuidado). É chamado de ação central, pois inibe o reflexo da tosse direto da fonte, da área do sistema nervoso que dispara a tosse.
Há problemas com este bom remédio:
Deveria ser de uso controlado, pois usado em excesso pode levar ao vício (é seguro, no entanto, para uso de poucos dias). E já foi de venda controlada, mas sabe como são os interesses econômicos...
E aí, curiosamente, quando precisava de receita médica dupla, pais se ... (morriam) de medo de dar.
Agora, capitaneado pela odiosa e poderosa Procter & Gamble, é vendido livremente, sem necessidade nem mesmo de receita. Com que nome? Vick 44-E®.
Outra coisa: sem bula, sem indicação de formulação na embalagem (como se pudesse! Mas no Brasil, pode!).
Um colega blogueiro descobriu a formulação.
Recentemente entrou um concorrente no mercado (que ótimo, podemos deixar de usar qualquer coisa com o nome Vick): Benalet TSC ®(tsc, tsc! Isso mesmo!), com o dobro da concentração.
De novo: é remédio, não é pra toda tosse, deve ser usado por poucos dias, deveria ser orientado por médico, etc.
(obs.: nos Estados Unidos, pela farra no uso por conta própria – usado como droga – recentemente foi proibida a venda sem controle).

* Os Joões da Silva são como tosse: todos com o mesmo nome, mas são entidades diferentes.

1 de agosto de 2008

Cabide


Quando vemos o número de peças de roupa que parentes põem sobre os bebês dá a impressão que cada um deles decide o que colocar e, na dúvida, decidem por... todas!
Esquecem-se ou ignoram um fato sobre o controle térmico dos recém-nascidos ou lactentes: eles possuem – em áreas críticas do “corpitxo” – uma espécie peculiar de tecido adiposo (gorduroso), a gordura marrom, rica em mitocôndrias que oxidam (“queimam”) a gordura para produzir basicamente calor (diferente do tecido adiposo de outras faixas etárias que se prestam muito mais a depósito de energia – aquelas partes do nosso corpo que percebemos mais geladas em dias frios ou após exercícios).
É basicamente o mesmo tipo de gordura corporal dos animais hibernantes, como os ursos.