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30 de setembro de 2008

O Chocolate Também*


*(É Inocente)

Pois é.
Seguindo a linha do fornecer álibis a falsos culpados, precisamos redimir outro amigo número um (tido com freqüência como inimigo): o chocolate.
Quando isto acontece?
Nas lesões de pele das crianças pequenas provocadas por picadas de inseto, a urticária papular.
A história é quase sempre a mesma:
-Tá cheio de pipoquinha na pele, que fica coçando.
(Sadicamente já tenho perguntado qual a desconfiança da causa)
-Acho que é o chocolate.
Não é. De longe, a causa de lesões tipo “pipoquinha” em regiões tropicais é picada de inseto (pernilongos e pulgas). O diagnóstico é facilitado pela localização: áreas expostas (canelas, punhos, cintura, face), principalmente quando a criança está dormindo.
Então, deixa o chocolate quieto.
Mas tem mãe que é insistente.
-Mas será que não foi o chocolate?...
Pode. Por exemplo, se a pulga comeu chocolate.
Ou se a criança comeu um chocolate onde havia pulga.
Ou... Deixa pra lá.

26 de setembro de 2008

O Cachorro é Inocente (Culpado é o Mordomo!)

Você pode ou não ser amigo dos cães (já que nós somos incondicionalmente seus melhores amigos).
O que não se pode é culpá-los de problemas de saúde dos quais eles não são culpados.
Dentre as doenças frequentemente citadas, em três delas a cachorrada pode escorregar de fininho do banco dos réus:
1º) sarna: o “bicho” (ácaro) que causa a sarna canina é normalmente diferente da que causa sarna humana.
2º) micoses: ainda que o fungo Microsporum canis (encontrado também nos gatos) possa sim causar micoses em seres humanos, a causa mais comum das micoses são de longe contatos entre humanos (e preferencialmente em determinadas situações que as favoreçam como climas quentes, excesso de roupas, umidade e maceração da pele, etc.).
3º) alergias: estas mais ainda costumam ser injustamente imputadas aos cães. Pêlos de animais são “depósitos” de alérgenos como os próprios ácaros, mas o significado clínico da presença dos pobres cãezinhos no ambiente domiciliar costuma ser desprezível.

23 de setembro de 2008

Por Mim Não Sofra


Esta foto que você vê acima foi motivo de acalorado debate no blog de saúde do New York Times há alguns meses.
Por que?
Porque a jornalista responsável (Tara Parker-Pope, curiosamente não exatamente uma “magrinha”) primeiramente publicou a foto de uma cena familiar, mas principalmente porque comentou que a cena retratada era “triste”, em virtude da menina de 5 anos ser obesa.
Réplicas agressivas pipocaram sobre a cabeça da moça.
Situações como estas retratam, mais do que a polêmica recente sobre os perigos da obesidade na infância, a delicada questão das diferenças.
Quase todos de vez em quando fazemos o difícil exercício de nos colocar no lugar dos outros. Ao fazê-lo, imediatamente opinamos sobre se estão em posição melhor ou pior do que a nossa. Quando não os invejamos, no entanto, deveríamos manter essa opinião pra nós mesmos.
Tempos de politicamente correto.
É lógico que dá pra entender os motivos da jornalista. Motivos que, aliás, ela expressou, mas que não a aliviaram.
O bonito da coisa é que não conseguimos adivinhar nada da alegria ou da tristeza dos outros através da nossa opinião. É só uma opinião. E muito nossa.

19 de setembro de 2008

Nebulização? Pro Nariz, Não!


Informação boa – modéstia à parte – é assim, auto-explicativa já no título.
Então, só pra reforçar:
Fazer nebulização (com soro fisiológico ou, pior ainda, com substâncias aromáticas ou voláteis) pra aliviar sintoma de obstrução nasal não resolve.
Em crianças, o que ajuda (resolver, resolver, é meio difícil) no nariz trancado é o uso do próprio soro fisiológico instilado (generosamente, quase que à maneira dos yogi).
Quanto?
Cerca de ¼ do conta-gotas que vem nas embalagens de medicações como o Sorine infantil (ou Rinosoro) em cada narina.
A dica é: use na primeira vez o “de marca” (que vem com benzalcônio – cuja função é totalmente questionável e deve ser “aposentado” num futuro próximo - na fórmula), não jogue fora o frasco e reaproveite o conta-gotas para usar com soro fisiológico puro (comprado em frascos, mais barato).
Um medo dos pais é:
-Como assim? Vai pra onde esse soro todo?
Passa pela cavidade nasal e vai ser deglutido, sem problemas, mesmo em crianças bem pequenas (não vai pro cérebro, não vai pra traquéia!).
Dá pra usar e abusar (e deve, quando a obstrução nasal é muito incômoda).
-E os “soros” em spray?
Faça a experiência: veja o volume de soro que entra na narina a cada jato. É muito pequena!

Do Peito à Mesa

Tudo bem que pediatra é meio fanático pelas mil e uma propriedades do leite materno.
Mas não me convidem para almoçar no restaurante do chef suíço Hans Locher (ou seria apenas “Loch”?), que inventou de fazer pratos sofisticados à base do ingrediente.
Isso mesmo: carne de antílope ao molho de conhaque e leite materno, curry com leite materno, etc!
Locher solicitou doações pelo jornal e choveram doadores.
A vigilância sanitária de Zurich, no entanto, vetou a maluquice.
Mas por via das dúvidas, ao visitar a Suíça, é bom aprender como se escreve “leite materno” em italiano (latte della madre), francês (lait maternel) e alemão (mütterlichmilch).

16 de setembro de 2008

O Paraíso é Ali

Já deu muito pano pra manga uma longa pesquisa realizada pela psicóloga Robin Simon na Universidade da Flórida, com mais de 13.000 americanos.
Dentre as repercussões, estão um artigo de julho na Newsweek e no programa Saia Justa da semana passada (Saia Justa é aquele programa do canal GNT em que quatro mulheres inteligentes discutem assuntos da maior relevância - enquanto fazem seu crochê).
Diz a pesquisa: ao contrário da crença habitual, casais sem filhos costumam ser mais felizes do que papais e mamães.
Um grande motivo para isto, diz o artigo da Newsweek, seria o nível de pressão a que os pais de hoje estão submetidos.
Ambos (pai e mãe) atualmente têm que trabalhar fora. Contam com menor suporte familiar (dos avós, tios, etc.). Além disto, as exigências em termos de educação e saúde são maiores (afuniladas). Isso sem falar nos gastos: criar uma criança americana até os 17 anos pode significar um gasto de perto de meio milhão de reais, cita a revista.
Carreiras, diversão, intimidade do casal são outros importantes obstáculos.
Sei não.
Pais e mães são “entidades” diferentes umas das outras, inclusive quanto à satisfação com o fato de serem pais ou mães. É complicado tratá-los agrupadamente. Há fases mais ou menos receptivas à maternidade e à paternidade.
Filhos também, são uma “caixinha de surpresa”. Serão alguns deles fonte de grandes trabalhos, incômodos, preocupações. Bem como alegrias, cotidianas surpresas e indisfarçável orgulho. Tudo isso difícil de quantificar.
Muitas vezes, quando os filhos vêm, já é um momento em que a relação do casal está “em baixa”, já andam ambos algo insatisfeitos.
Talvez casais sem filhos sejam apenas mais otimistas (ou menos “reclamões”) em relação ao que sentem.
O que eu acho, sinceramente?
Perguntar para uma pessoa se ter filhos a faz mais ou menos feliz é como pôr a culpa duma tremenda indigestão numa simples azeitona.

12 de setembro de 2008

Critérios


Na primeira frase da música “Thank U” de Alanis Morissette (muito bonita, por sinal), ela pergunta:
“Que tal nos livrarmos desses antibióticos?”
É claro que ela, inteligente como é, não quis dar a entender que não deveríamos nunca mais usar antibióticos. O que ela condena na letra é, muito provavelmente, o seu uso abusivo (bem como o “se entupir” de comida, ou o fato de não aproveitarmos nosso tempo de vida de forma plena).
Numa eleição realizada com mais de 11.ooo votantes desde o ano passado pelo British Medical Journal, os antibióticos só perderam para as melhorias das condições sanitárias como o grande avanço na saúde desde 1840. São, inquestionavelmente, nossos aliados para uma expectativa de vida mais longa.
Então, por que a “bronca”?
Quando imagino a prescrição de antibióticos pelos médicos, uma metáfora muito utilizada para os cigarros costuma me vir à mente. Aquela de que a definição de cigarro é uma fumaça numa ponta e um idiota na outra. Pois bem, muitas vezes a mesma definição poderia servir para a caneta do médico! Porque o que faz mal não é sua utilização, mas o se utilizar para quase qualquer paciente de forma quase indiscriminada (bem como o uso de antibióticos muito potentes para infecções banais).
Além dos critérios – nem sempre consensuais ou fáceis de serem observados – há muito da arte médica na sua utilização. Além disso, sua necessidade varia de região para região, de serviço para serviço. Há, porém, que se ter em mente que crianças (de um modo geral), principalmente crianças pequenas e saudáveis (a grande maioria da população pediátrica, felizmente) precisam muito pouco de antibióticos. E que, cada vez que se utilizam deles, passam a ter uma flora bacteriana mais agressiva, mais suscetível de causar novas doenças.

9 de setembro de 2008

Faz Parte do Meu Show


Tem algumas dicas que, embora sejam muito proveitosas, ninguém lembra de nos dar.
Não comer salada de repolho no primeiro encontro, por exemplo.
No que se refere à consulta das crianças pequenas, há dois detalhes importantes.
1) Evite dizer aquela famosa frase:
“Não vai doer nada”
Porque, ainda que isso não tenha sido testado cientificamente, o que ocorre na cabecinha da criança se parece com a história do eco:
“Não vai doer nada”
“Vai doer nada”
“Vai doer”
“Doer, doer, doer...”
2) Outra:
Sabe aquele “show”: choro, berro, roupas rasgadas, vômito pra todo lado, chutes no médico, etc?
Desde que esta “criancinha” não tenha já, sei lá, vinte anos de idade, não vai adiantar nada sair do consultório a recriminando. Tipo “Que Feio!”, “Não vamos mais levar no parquinho”, esta sorte de coisas, que me parece que são ditas mais como uma forma de se desculpar com o pediatra.
Se a intenção – louvável, diga-se de passagem – é educar, deixe quieto. Faça de conta que nada aconteceu. Do contrário, a criança será reforçada no comportamento negativo.
Saber se comportar, ter tranqüilidade com estranhos – mesmo que este estranho seja um pediatra assustador (vide foto!) – se aprende em casa, com pais carinhosos e sensatos.
Mesmo assim, um ou outro show faz parte do “negócio”.

5 de setembro de 2008

Nossa, Como Você Está Pálido!


Por que será que quando ouvimos uma frase dessas a nosso respeito costumamos ficar tão preocupados?
É justamente pelo que ela significa (ou pelo menos, pode significar).
Sabe-se de longa data que quem está muito pálido (neste caso, anêmico) pode ter uma doença de base que justifique a palidez – ou a anemia (embora a maioria das anemias sejam por carência alimentar de ferro).
Aí é que está a questão.
A anemia relacionada a doenças (inflamatórias, câncer e infecções) é um sinal da doença. Dentre outras coisas, serve para chamar a atenção de que se está doente.
A presunção que até recentemente se fazia (e que um excelente artigo do jornal canadense de medicina mostra que estava errada) era de que precisava se tratar a anemia para que os pacientes melhorassem.
Que engano!
Exceto nos casos de anemia grave, com nítido prejuízo da função de oxigenação dos tecidos (e consequentemente de piora clínica) as evidências têm mostrado que provavelmente o melhor seja “deixar quieto”, não tratar (muitos estudos têm mostrado mortalidade maior, além de outros graves riscos de se tratar anemias mais leves, adaptativas à doença).
Isso – de uma certa forma – encontra paralelos nas leves anemias carenciais (por deficiência de ferro) das crianças. Muito ferro, como já dissemos aqui, pode ser pior do que pouca anemia. Mas vá convencer leigos e desinformados em épocas de “quanto mais melhor”!

(Veja você, como de vez em quando aparecem notícias de saúde que dão giros de 180º no conhecimento até então estabelecido: agora parece que os tão desejados baixos níveis de LDL – o colesterol ruim – se relacionam a presença de câncer! Causa ou efeito? Ainda não se tem certeza. O fato é que o fanatismo para se baixar o colesterol – e dê-lhe estatinas, campeãs de vendas – pode e deve estar predispondo a outros problemas! Por isso vale aquele conselho: devagar com o andor, que o santo...)

2 de setembro de 2008

Pane no Sensor

Não faça nada com esta informação (mas leia):
Cientistas australianos descobriram que dietas ricas em carboidratos (açúcares) “matam” neurônios (neste caso, células cerebrais) produtores do hormônio proopiomelanocortina (POMC), responsável pela sensação de saciedade.
Isto significa que pessoas que consomem excesso de carboidrato durante longos períodos tendem a perder a capacidade de se sentirem “satisfeitos” ao final das refeições.
O auge deste dano neuronal seria por volta dos 25 aos 50 anos de idade.
Muito provavelmente por isso (mas não só por isso – a diminuição do nível de atividade física, dentre outros fatores, costuma estar implicada) pessoas a partir de certa idade têm muita dificuldade em se livrar das tais gordurinhas indesejadas.

(Como tudo no organismo, este fato deve ser uma resposta compensatória à tendência de que, quando se envelhece, se tem menos apetite, seja por motivo de doenças ou pela própria sina do senil)