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29 de dezembro de 2009

Indivíduo, Aquele Que Não Se Divide


Uma coisa que deveria estar escrita na testa de todos nós, mas que acredito que não esteja apenas por absoluta falta de espaço é o seguinte:

"Embora exteriormente sejamos muito parecidos, só eu sei das meus desejos, das minhas ansiedades, do meu gosto e do meu nojo, das minhas profundas necessidades, dos meus picos, dos meus vales, dos meus temores mais ocultos, dos meus sonhos não revelados, do meu gozo e minha Gaza, do meu senso estético, dos pequenos caminhos que levam à minha estrada, das entradas bloqueadas.

Se quiser, me tolere, me compreenda, tente me acompanhar. Mas nunca, em hipótese alguma tente me decifrar"


Feliz 2010

25 de dezembro de 2009

Natal em Branco


Bobbie (este não é seu verdadeiro nome, nenhum brasileiro se chama Bobbie) percebeu que algo estava errado ao receber a carta do Papai Noel. Papai Noel não escreve de volta. Apenas lê, decide se sim ou não (na maior parte das vezes é sim, se o pedinte não for exagerado) e traz a mercadoria.
Mas... uma carta de resposta?
Abriu-a.
Lá estava:
“Caro Bobbie – este não é seu verdadeiro nome, sei:
Não pense que é por má vontade. É difícil pra vocês aí do hemisfério sul acreditarem, mas a coisa aqui tá branca. Branca de neve (me desculpem a expressão). Meu trenó tá congelado, o nariz da rena tá congelado (parece uma bola 8, de duro que tá), até meu saco... Bom, estamos realmente sem teto, sem condições de vôo.
Então, já viu: vão daí vocês! Dessa vez é sem presente.
Eu sei que essa coisa de presente é só simbólica. Sei que vocês não dão a mínima, não são sujeitos interesseiros, materialistas, acumuladores de bugigangas.
O Natal é uma festa pra reunir família. Pra rever parentes distantes. Pra abraçar aquela vovozinha que já nem lembrávamos que tínhamos mais, não é mesmo?
Bola pra frente (espero que aquela bola do ano passado você ainda tenha). E quem sabe no próximo ano, se esses fenômenos climáticos não se repetirem...
Do seu (aliás, de todos):
Noel”
Bobbie redobrou a carta. Poderia esperar por tudo, até por um CD de sucessos do Calypso. Mas por essa nunca esperaria. Nada de presentes no Natal? Que Natal é esse? Ouvia falar de espírito natalino, mas isso era ridículo.
Nem esperou a ceia. Foi direto pra cama, derrotado.
Afinal, 365 dias passam rápido. Ou se consolaria com a Páscoa...
Espera! Mas, e aquela coelhada, vem daonde?

22 de dezembro de 2009

Especialistas em Coisa Nenhuma


“As pessoas devem ser respeitadas na sua individualidade”.
Alguém acha que não?
Entretanto, num mundo que nos prega o individualismo, mas que nos põe na camisa-de-força do consumismo, do que é “correto” (politicamente, ecologicamente, filosoficamente ou eteceteramente), nos vemos muitas vezes agindo de forma contrária a este princípio.
E é assim nos tratamentos médicos. Cada vez mais cheios de “protocolos”, baseados em estudos, nas – palavra da moda – “evidências”, somos impelidos a orientar mudanças nos hábitos de vida, a prescrever tais e tais medicamentos (muitas vezes em combinações “indiscutivelmente superiores” – com o pequeno inconveniente de serem mais caras - às substâncias isoladas), a solicitar exames questionáveis ou dispensáveis, e a toda hora darmos uma de chatos.
Mas, espera... Impelidos por quem?
Pela “concorrência” do médico da porta ao lado (que é mais “chique”, pede exames de última geração, que prescreve remédios que acabaram de ser anunciados, que tem PhD em... como é mesmo o nome da cidade?). Pela mídia (ah, essa mídia!...) que, ao ignorar o medicamento “da moda”, nos faz ficar com cara de desatualizado. Pela avalanche de informações a que o atual paciente está exposto (e contra avalanche, você sabe, uma frágil cabana não é suficiente). Ou somente pela – sei lá – pela sensação de “pertencermos” (assim mesmo, sem grande senso crítico!).
Então, estamos aí, tentando fazer tudo do modo esperado. Ou, quando muito do que está aí nos dá alguma revolta, apenas nos sentamos e perguntamos para o paciente:
-O que é que você quer de mim?

18 de dezembro de 2009

Saudosa Meleca*


Se você que me lê agora consegue lembrar com alguma força (eu tive que fazer mais força que você) da sua infância, vai reparar que mesmo aquele remédio que você teve que engolir no método “goela abaixo” (por exemplo, aqueles antibióticos que no meu tempo tinham todos gosto de náusea-laranja, ainda não dispúnhamos do delicioso vômito-morango), mesmo aqueles passavam uma reconfortante sensação de “estou sendo cuidado”.
Faziam mal por um lado, mas mesmo quando ainda éramos muito novos para entendermos para que servia aquela gosma aromatizada percebíamos na nossa intuição infantil de que aquilo era para nosso bem.
Assim como os pequenos castigos ou tapas na bunda, ainda que naquele caso aparentemente não havíamos feito nada de errado (ou havíamos?).

* não sei se alguém percebeu a homenagem ao eterno sambinha do Adoniran...

15 de dezembro de 2009

Pra Onde Vai Nossa Insulina?


Já estávamos carecas de saber que com as mudanças para pior no estilo de vida, as chances de vermos mais casos de diabete tipo 2 nas crianças só iriam aumentar (e têm aumentado!).
O que tem causado muita preocupação, no entanto, é o aumento também dos casos de diabete tipo 1, em crianças tão pequenas quanto as menores de 5 anos de idade.
E por que tanta preocupação?
Porque o que acontece na diabete tipo 1 é comparável ao surgimento de uma área desértica provocada por queimadas. Não tem volta. Não tem replantio (enquanto que na diabete tipo 2 ainda há alguma esperança de “replantio” de função insulínica - com mudanças como exercícios e melhor alimentação).
E por que isso está acontecendo?
De novo, também aqui (como nas estatísticas da obesidade e do diabete tipo 2) modificações genéticas não podem ser usadas como justificativas para tão rápidas mudanças (a incidência da diabete tipo 1 tem dobrado nas pequenas crianças no espaço de uma década).
Há mais dúvidas do que respostas para o que se vê (especula-se como fatores causais o aumento do número de cesarianas, a deficiência de vitamina D, o menor número de infecções banais na infância, etc.).
Uma das causas mais prováveis seria a introdução precoce na alimentação do bebê de alimentos à base de cereais ou industrializados. Facílimo de mudar, com conseqüências tão importantes, mas que contraria interesses tanto das indústrias alimentícias quanto das vovós e titias apressadas para dar bobagens.

Sem Clima

-Gente, essa reunião não tá dando em nada! Pensei que a gente tava aqui tratando da salvação do planeta e não dos interesses próprios.
-Isso aí. O único que até agora falou bem foi o ministro Kiu Lihn, cuidando dos interesses do clima.
-Clima? Quem falou em clima? Tô falando dos intelêsse da China! Foi êlo de tladução!
-Ah, quer saber? Ficam aí com essa coisa de derretimento de gelo... Na minha casa tá sobrando gelo! Dá pra seis copos de uísque. Nem precisa abrir a porta da geladeira!
-Pára com isso, Sarkozy, que a Carla Bruni falou que você não é nenhuma Brastemp...
-Ah, não. Vão começá de novo! Não brinco mais. Tô saindo fora. Tô cheio de encomenda de chocolate. Dizem que aqui em Copenhague o chocolate é da hora. Tchau!
-Ei, Lula, espera, não vai levar todos os de licorzinho não, hein!

11 de dezembro de 2009

Rápidos no Gatilho


A coisa está mudando. Mas ainda há muitos pais que - me desculpem - ainda se comportam de maneira muito parecida com o cachorrinho acima (o Odie, do Garfield, esperando o dono atirar a bolinha):
No primeiro indício de febre, ficam:
-Antibiótico? Antibiótico? Antibiótico?...
Claro, há a ansiedade com uma possível evolução perigosa de um processo infeccioso.
Mas acredito que um grande (senão o principal) motivo por trás dessa pressa toda é o motivo que faz girar a economia no mundo: temos pressa. Não agüentamos mais esperar por nada.
-Me dá logo esse antibiótico... que eu tenho que levar meu outro filho pra escola.
-Me dá logo esse antibiótico... que nós temos que viajar pra praia no fim de semana.
-Me dá logo esse antibiótico... que eu não quero mais uma noite me preocupando (afinal, eu preciso saber se a Luciana vai ter alta do hospital).
-Me dá logo esse antibiótico, pô!
Não adianta explicar que... Não, não adianta!

8 de dezembro de 2009

Os Donos da Faca


Quando um paciente pediátrico vem de uma consulta com um especialista da área cirúrgica – seja ele um otorrinolaringologista, um cirurgião torácico ou um neurocirurgião – e lhe foi recomendado um procedimento cirúrgico ou quando eu tenho que encaminhar meu pequeno paciente para os mesmos, costumo lembrar aos pais:
- Lembrem de quem é o dono da faca!
Cirurgiões têm normalmente a vocação para o ato cirúrgico e na maior parte das vezes gostam de operar. São os donos das facas. E muitas vezes pagaram caro por elas – ou pela sua manutenção.
Além do mais, no caso de cirurgiões-professores, “cirurgiões-estrelas”, precisam ainda em muitas situações criar casuística, ou seja, quantos mais casos tratados com esta ou aquela cirurgia melhor pra ele (terá mais o que mostrar e discutir em congressos, terá maior prestígio associado ao número de pacientes tratados).
Por isso, não vá assim se entregando de corpo e alma (mais corpo do que alma, espero) ao cirurgião sem antes pensar no seu clínico geral (ou pediatra) como alguém que possa pesar a real necessidade cirúrgica da sua patologia.

4 de dezembro de 2009

Cruz!


Umas das coisas mais bobas nas quais topamos a toda hora nas duas últimas décadas são as tais “Dieta da(o)...”.
Tem dieta de tudo quanto é tipo.
Pense numa bobagem enorme.
Vou ajudar: “A Dieta do Bode Velho”. Foi o que me veio à cabeça.
Vai ver que tem. E com todas aquelas explicações de porque o bode velho é tão saudável até o fim da sua vida, porque o bode velho morre menos de câncer do que o ser humano (lógico que uma razão esquecida é que há menos exames preventivos para bodes), porque o bode é mais musculoso que o homem médio, etc, etc, etc.
“Dieta da Maria Fumaça”: uma locomotiva dura mais que um homem, normalmente. Principalmente se bem “azeitada”. Claro, então você deve se servir largamente de azeites às refeições, e blá,blá, blá...
Quer outra?
“A Dieta de Jesus e de Seus Discípulos”.
Achou que era mais uma invenção?
Pois é. Tem mesmo.
Dum médico de família americano, formado em 1987 (esses médicos formados em 87!...), descrevendo com detalhes bíblicos o porquê Jesus e seus apóstolos eram mais saudáveis, pode?
Pelo jeito pode, porque é um best-seller no setor “dietas” das livrarias.
Tem trouxa pra tudo (olha, desculpa se você comprou – deve ter sido só por interesse histórico-religioso, não é?).
Talvez você deva estar se perguntando: mas Jesus não era filho do Óme? E se era filho do óme talvez nem precisar comer precisava, não é mesmo? (Eu, como filho do óme viveria de Chips e Coca-Cola - não light!).
E outra: andando pelos desertos daquele jeito não havera de ficar magrinho de todo jeito?
Então!
Dúvidas...

1 de dezembro de 2009

Menino ou Menina?


Não sei se você sabe, mas como mostrou reportagem recente no canal CNN (só achei a mais antiga, de 2002, para linkar), escolhas do sexo do futuro pimpolho já estão sendo feitas por aí.
A técnica, chamada de PGD (sigla inglesa para Preimplantation Genetic Diagnosis, ou Diagnóstico Genético Pré-Implante) consiste em se retirar uma fração do embrião (bem no início da divisão celular que resultará posteriormente num feto) para análise dos cromossomas (os tais XX ou XY, lembra?). A partir daí, baseado no resultado – futuro menino ou menina - escolhe-se se será re-implantado ou não para o prosseguimento da gravidez.
O desenvolvimento da técnica teve (e ainda tem, se acreditarmos nas boas intenções dos cientistas) origem mais nobre do que a escolha do enxoval azul ou cor-de-rosa.
Serve para a escolha de embriões saudáveis de casais com história de problemas genéticos importantes (como a fibrose cística, anemias de causa genética, distrofia muscular, etc.).
Está sendo, porém, como muita coisa na Ciência Moderna, desvirtuado para um uso mais “bacaninha” (“Já temos três meninas, mas queremos taanto um menino!...”).
Caríssimo (mas se a coisa pega vai barateando), sujeito a falhas (ainda que poucas no caso da escolha do gênero, menos de 1%) e principalmente sujeito a intensas discussões éticas.

27 de novembro de 2009

Diga-me Com Quem Andas


Uma descoberta relativamente recente no campo da Neurociência ajuda a nos explicar muitos dos fenômenos que vemos no dia-a-dia:
● Por que as crianças desde que nascem já querem aprender o que os adultos fazem (e realmente aprendem sem fazer tanta força!)
● Por que, mesmo que não queiramos, nos emocionamos com certos filmes, novelas e até mesmo desenhos animados!
● Por que gostamos tanto de assistir a eventos esportivos
● Por que é tão difícil conviver com pessoas com depressão ou doença
● Por que ao assistirmos alguém chupando um limão salivamos e fazemos careta
● Por que, em suma, somos seres sociais
A explicação está num conjunto de neurônios espalhados pelo sistema nervoso chamado de neurônios-espelhos.
Experimentos feitos inicialmente com macacos mostraram que quando estes observavam humanos praticando os mesmos atos que eles já haviam praticado, áreas do córtex cerebral apresentavam exatamente a mesma resposta. Ou seja, basta observar a ação para que se sinta o que o outro sente, sem a necessidade de se vivê-la.
Pode parecer simples (e é), óbvio (e é), mas estes fenômenos agora estão sendo medidos, analisados para que se possa usá-los em certos tratamentos (apenas como um exemplo, na melhor compreensão de pessoas autistas, nos quais parece haver uma “falha” nestas regiões).

24 de novembro de 2009

Qual A Medida?


Quase verão no Brasil, você já preparando os maiôs, a prancha de surf, o baldinho... Já parou definitivamente de se preocupar com a gripe suína, não é mesmo?
Faz bem.
Mas na parte norte do planeta, a polêmica – ao contrário do clima – só faz esquentar.
Vacina? Não vacina? Quem vacina? Quem deve ser vacinado? Onde se faz a vacina? É segura, não é segura?
As perguntas estão aí (ou mais exatamente ).
As respostas não.
Principalmente porque no mundo atual (onde quase ninguém é exatamente bonzinho – alguma vez já se foi?) a vacinação envolve interesses comerciais enormes.
A vacina veio rapidamente como resposta ao clamor (e medo) mundial da epidemia (que nem se confirmou essa epidemia toda, em termos de mortalidade, ainda que tenha sido inegavelmente importante).
Mas... e os testes? Há alguém que possa afirmar (sem interesses escusos) sua eficácia, sua segurança?

20 de novembro de 2009

Trate ou Não Trate


Poucas coisas dão mais prazer ao médico do que “resolver” algum problema (afinal, em última instância, “é pra isso que ele é pago”!).
A questão é que muitos e muitos dos problemas pelos quais você (ou seu plano de saúde, ou o governo) paga são resolvíveis espontaneamente.
Só assim de cabeça, vou tentar lembrar alguns:
$ dores de uma forma geral (e, mais especificamente dores de cabeça, dores nas costas, muitos tipos de dor abdominal, etc.), dores ditas funcionais
$ alguns (senão muitos) tipos de arritmia cardíaca
$ refluxo gastro-esofágico
$ fimose
$ diarréia
$ verruga
$ gagueira
$ gripe
$ hepatite A
$ sinéquia vulvar
$ neurite vestibular
$ hordéolo
$ torcicolo
$ carotenemia
$ linfadenite
$ molusco contagioso
$ urticária
$ ciática
E por aí vai...

Como dizia Benjamin Franklin:
“Deus cura, o médico cobra honorário$”

17 de novembro de 2009

Mú!


Vegetarianismo radical.
A princípio, tudo que é radical, não deve ser muito bom.
Alguns pais, motivados por uma busca de vida mais saudável, transferem o seu radicalismo no evitar as carnes para seus filhos.
E, normalmente, nem querem ouvir argumentos contrários.
O consumo de carnes em excesso (típico da alimentação chamada ocidental) tem os seus problemas. E até sérios, eu diria. Como a participação em alguns tipos de câncer, notadamente do aparelho digestivo, e a provável associação com afecções cardiovasculares.
Mas um pouco de carne só deve fazer bem. Excelente fonte protéica, de ferro (carne vermelha é de longe a melhor fonte de ferro alimentar, pois é altamente absorvível), além de outros benefícios secundários como a preservação da função mastigatória (biscoitos quase não necessitam de dentes).
Façamos então como Thomas Jefferson que, embora fosse chegadinho num vinho pouco mais do que devia, viveu até os 83 anos numa época de poucos recursos médicos: considere as carnes mais como um tempero do que um alimento e seja feliz!

13 de novembro de 2009

Hitler Tinha Razão?


Conta-se (quando a história começa por “conta-se” é porque não se sabe a fonte ou é mesmo apócrifa, mas vamos lá) que Hitler não permitia que seus comandados usassem óculos. Decretava que o erro de refração era “psicológico”.
A coisa pode não chegar a tanto, mas o fato é que até hoje (ou até recentemente) o oftalmologista, ao diagnosticar a miopia, prescrevia lentes corretivas e fim de papo.
Novos estudos (brilhantemente resumidos na revista New Scientist) mostram novidades nas causas e futuros tratamentos.
Em relação às causas, há evidências de que a vida nas cidades (com paisagens de curtas distâncias) é péssima para os olhos em formação das crianças. Aparentemente precisamos de amplidão de campo visual para que nossos olhos se desenvolvam corretamente. Por isto a “epidemia” de miopia vista nas últimas gerações (a alimentação, no entanto, também parece ter importância).
Quanto ao tratamento, parece que temos andando em caminho contrário esse tempo todo. Também o busílis da visão periférica (quando penso em visão periférica, sempre lembro da famosa jogada do Pelé na copa de 70, quando ele percebeu a vinda do Carlos Alberto pelas costas para matar a Itália).
Ao se usar óculos ou lentes de contato, corrige-se sem querer também a parte periférica da visão, o que seria contraproducente para a visão central (o olho do míope, já alongado no sentido ântero-posterior, seria induzido a se alongar ainda mais, pois precisaria duma visão periférica “míope”, não-corrigida) agravando a miopia.
Novos tratamentos estão sendo desenvolvidos, como por exemplo, lentes de correção apenas para a visão central, com resultados mais promissores.

Obs.: eu mesmo escrevi aqui, não faz muito tempo, sobre as possíveis causas da miopia. Já está meio desatualizado, pois a ciência corre, não anda.

10 de novembro de 2009

Filhos de Peixe


Tem muita mãe que matricula seu filho na natação imaginando que seu filho vai emergir das águas da piscina um Michael Phelps ou um Gustavo Borges, fisicamente falando.
Atividades físicas não têm esse poder transformador todo.
Esquecem-se estas mães que tipos físicos prévios à prática (além de treinamento e jeito pra coisa, lógico) é que determinam quem serão os expoentes do esporte e não o contrário.
Nadadores de ponta são recrutados entre os altos (de preferência com envergadura – medida dos braços abertos - maior do que a altura, como é o caso do Phelps), fortes (e fortalecidos em pesadas sessões de academia) e persistentes.
Jogadores de vôlei não crescem de tanto tentar ultrapassar a rede. Jóqueis não diminuem ao passarem dias em cima dos cavalos.
Posso tentar a vida toda. Mas dificilmente um branquela como eu vai ficar bronzeado como o Michael Jordan jogando basquete.

6 de novembro de 2009

Já Dizia Darwin


Quem imagina que a seleção natural está há milênios por aí para nos tornar mais bonitos, se engana redondamente (ainda que a beleza seja um conceito fundamentalmente social).
Já se imagina que o homem do futuro deverá ser careca e desdentado (fico feliz de estar evoluindo), pois cabelos e pêlos daqui para frente mais atrapalharão do que ajudarão.
Um estudo complicadinho recente notou já no espaço de três gerações outra transformação evolutiva, aqui na alçada feminina.
Mulheres do futuro tenderão a ser mais baixinhas e fofinhas. Não como mudança cultural (que também está acontecendo na mesma direção, apenas que em velocidade muito maior), mas como traço passado geneticamente.
O que a evolução sempre busca é a manutenção da espécie. E as magérrimas podem até ser consideradas mais bonitas, mas são mais “fracas reprodutivamente”, se prestam menos a gerar filhos.
Fofinhas:
Chega de brigar com a evolução!

3 de novembro de 2009

Donos de Casa


Deu no jornal inglês The Guardian recentemente:
Mesmo quando os pais de filhos pequenos poderiam ficar mais tempo em casa (sendo “donos de casa”, no sentido de participarem mais das atividades domésticas e dos cuidados dos filhos, delegando mais tempo de trabalho fora de casa para as mulheres), a maioria provavelmente optaria por não fazê-lo.
Entre outras dificuldades apontadas está a atávica questão do modelo.
Pais são homens. Homens historicamente sempre tiveram maior distanciamento dos filhos e, consequentemente, maior poder. Dão a última e definitiva palavra.
Não discutem sobre a escola com outros pais enquanto esperam seus filhos brincarem no parque em plena luz do dia, no meio da semana. Não trocam fraldas. Não escolhem roupinhas.
E, principalmente, não teriam o apoio da sociedade – cada vez menos machista – em relação à famosa dupla jornada.

30 de outubro de 2009

De Um Tudo


Claro que – de novo – vou contar o milagre, mas não o santo:
Entra uma jovem senhora no consultório com a criança de um ano e pouco no colo, vendendo saúde, e dispara:
- Sabe o que é doutor? Esse menino é muito nervoso...
- ... Além disso, dorme muito pouco. E também, anda muito fraquinho, e já teve anemia!
(médico tentando abrir a boca para falar)
- Olha as olheiras do menino, doutor! Não quer saber de comer!
(médico ainda tentando abrir a boca)
- Minha vizinha diz que ele tá muito pálido. Magrinho!...
(médico ainda no processo de tentar falar, um pouco assustado com a metralhadora giratória materna)
- Veja, doutor (quase esfrega a criança na cara do “doutor”), veja como esse menino está! (E, como se lembrasse só agora): faz 5 dias que não come nada, nem um pouco de arroz, que era só do que ele gostava...
(médico fechando a boca, meio que desistindo por ora)
- Eu queria fazer uns exames...
(Médico cria coragem) – Mas...
- E não dorme, não dorme nada. Nem leite. Olha a barriga, que barrigudo. Será que é verme? Olha as olheiras...
...

Difícil dizer isso à mãe, mas parece claro que o problema não é com o filho (pelo menos não somente ou principalmente com ele). Além disso, é sabido que pacientes chamados “poli-queixosos” (com muitas queixas) apresentam problemas predominantemente na esfera psicológica mais do que na orgânica (ainda que uma possa ser reflexo da outra).
Pacientes assim (grosseiramente falando) “fazem a festa” dos consultórios e laboratórios, a menos que algum dia a ficha caia para os próprios, mas... é ruim de cair, hein?

(a curiosidade da foto que ilustra esta postagem: tirada em 1963 – quase na época do nascimento deste que vos escreve! – para a revista americana Life, tinha a seguinte legenda:
“O pediatra Ralph Shugart, conversando com uma preocupada mãe de um bebê que tem estado chorando por horas, decide ministrar a ambas um sedativo, visto que foi incapaz de achar algo errado com a criança”).

Bons tempos!...

27 de outubro de 2009

A Grande Família


“Pitaca pai, mãe, filha, eu também sou da família também quero pitacar”

(pitacar, v.t. no novíssimo dicionário Olho Pimpolho: dar pitaco, enxerir, dar opinião onde não é chamado)

Esta aula de Gramática para dizer que há poucas coisas nas quais tanto se pitaqueia quanto na alimentação do bebê.
Aproveita-se do fato das mães serem inexperientes, e por isso de ouvidos atentos a tudo que se diz, inclusive muita bobagem de quem “já sabe por já ter estado lá”.
E aí é aquela coisa de:
“Dá chazinho!”, “Dá sopinha de feijão!”, “Dá suquinho!”, “Dá isso!”, “Dá aquilo!”...
Dá nada!
Respeitar o “limite” de 6 meses de idade para dar novos alimentos tem razão de ser. E razão bem séria, por sinal.
Só que mal compreendida, porque demanda algum (bastante) conhecimento do mecanismo de absorção de alimentos no lactente ainda imaturo, dos mecanismos imunológicos de criação de doenças imunológicas, etc.
Pode parecer exagero, mas sinceramente acredito que – fosse dado a todos nós compreendermos os motivos – deveria ser considerado um “crime” a introdução precoce de alimentos para o lactente!

23 de outubro de 2009

"Isto Nunca Me Aconteceu Antes!"


A encoprese é – até onde se sabe - a primeira manifestação humana do “medo de não conseguir”.
Mais tarde na vida outros medos do mesmo tipo podem aparecer: medo de não conseguir dormir (insônia), medo de não conseguir ereção no homem (impotência de causa emocional), etc. Tomando como comparação este último exemplo, o da ereção masculina:
Você consegue imaginar o quanto fica ansioso, o quanto fica incomodado, o quanto fica “deprê” o homem que se percebe impotente?
Então.
O que me causa estranheza é a ausência da percepção da importância da “impotência” da criança que tem dificuldades à evacuação. Também ela fica ansiosa, incomodada, “deprê”!
Também ela fantasia sobre ser menos gostada pelos que a cercam quando falha.


20 de outubro de 2009

Nos Olhos de Quem Vê


Muitas vezes eu pergunto.
Mas muitas vezes são os próprios pais que já vão largando comentários sobre a imagem dos seus filhos.
Incrível como erram.
É mãe magricela que acha que a filha é “gorda”.
É pai rechonchudo que acha a rechonchudez do seu filho uma beleza.
É mãe e pai preocupados com as mínimas gordurinhas em idades nas quais elas naturalmente aparecem.
É pai ou mãe (e principalmente avó) cegados com a catástrofe metabólica do filho/neto pré-adolescente.
E não é, como poderia se pensar, uma questão apenas de números, contas ou gráficos.
Envolve a auto-imagem dos próprios pais, nestes tempos de auto-imagens bagunçadas.
E vamos piorando erros. Tentando “tratar” quem não precisa, botando minhocas em quem já abriga um minhocário, fazendo vista grossa para os que estão na cara.

16 de outubro de 2009

Não É, Já Foi


Poucos termos utilizados em Pediatria são tão imprecisos como a tal “infecção intestinal”.
Pra começar, infecção intestinal não é exatamente um diagnóstico. O intestino já é um órgão “infectado” por natureza. A quantidade de bactérias que por ele circula é algo de extraordinário.
E “circula” é o verbo apropriado, pois há porta de entrada e de saída. Além do mais, a renovação celular intestinal é constante, levando consigo pretensas bactérias invasoras literalmente descarga abaixo.
Daí a imprecisão da definição de flora intestinal “amiga” e flora patogênica (causadora de doença). São muitas vezes parte da mesma coisa, são conceitos dinâmicos.
Por isso, uma cultura de fezes (coprocultura) é um instrumento tão pouco confiável.
A impressão que muitos pais têm quando ouvem este diagnóstico (“infecção intestinal”) por parte dos médicos é de que é algo grave, que precisa tratamento (a grande maioria das diarréias infecciosas em crianças previamente saudáveis é auto-limitada, curam sozinhas) e que a “infecção” pode continuar por ali para em algum momento voltar a assombrar o paciente.
Então, papais e mamães, lembrem-se:
Se você quer ver uma bactéria no intestino, não tire foto, filme-a, pois ela está ali normalmente de passagem!
Teste de Sobriedade

Caso você tenha caído na conversa do Felipe Massa, evite pronunciar o nome dos pneus do seu carro durante uma blitz:
-Bridgestone.
Vai passar por bêbado.

13 de outubro de 2009

Ex-Maltes


Suquinho disso e daquilo, natural ou nem tanto.
Água de côco.
Mais suco, agora com soja, pra disfarçar o pobre conteúdo nutricional.
Refrigerantes.
E os esmaltes dentários vão sendo expostos o dia inteiro a líquidos com baixo pH (ácidos). Uma beleza para “desintegrá-los” (principalmente para quem não é lá muito abençoado geneticamente em termos de esmalte).
(E não adianta somente escovação!)
Uma das soluções:
Quer dar – por exemplo – 500 ml de suco no dia (melhor não faça!), dê tudo “numa tacada” só, pois é o tempo de exposição à acidez o que mais importa.
A outra solução é voltar à mais velha maneira de se hidratar:
Com uma coisa chamada água (lembra?): pH neutro e zero caloria (sem inas, atos ou ames na fórmula!*), diz lá na torneira.

* Obs.: as “águas com sabores” não revelam seu pH, mas deduz-se que sejam igualmente ácidas.
Olha, nem sei se é verdade, mas diz que dia desses reapareceu u'a mãe na maternidade de Quixadá de Dentro, devolvendo seu recém-nato.
-Uai, por que?
-Então não sabe? Diz que este ano cancelaram os enem!

9 de outubro de 2009

Aqui, As Soluções Pra Tudo


Quanto mais o tempo passa (pra mim), menos tenho acreditado nas soluções práticas, nas receitas prontas, nos passes de mágicas, nos “faça-como-eu-faço”.
Insônia? Toma um Rivotril que passa.
Dor de estômago? Trata o H. pylorii e não me encha.
Depressão pós-parto? Mas por que? Com um filho tão bonito e reclamando da vida! Devia ter vergonha, viu?
E não só na área médica, claro.
Na esfera espiritual também, somos pau-mandado a toda hora.
Claro que não está bem! Não freqüenta a igreja!
No dia em que você olhar mais pra dentro de si vai perceber que...
Olha, tem aí um autor que você tem que ler!
E por aí vai.
Por isso, caro(a) amigo(a), se você que está me lendo agora, busca aqui alguma solução para o seu problema, xô, anda, cai fora, sai!
Busque informação (coisa difícil num mundo vertiginosamente formatado, des-informado, pseudo-informado, onde idéias valiosas se afogam num mar de conselhos patrocinados, de bobagens travestidas).
Ache o seu caminho.
Peça ajuda, claro, mas desconfie de todas.
Use seu médico ou terapeuta como um trampolim para suas soluções. E se ele não gostar, azar dele. E de você, se não procurar outro médico ou terapeuta (mas também não o apoquente! – principalmente se você paga pouco por ele).
Engula só o que você quiser engolir. Sapos, inclusive (e então não ponha culpa dos seus erros nos outros).
Olha aí, já tô eu querendo te botar na forma, tá vendo?
Sai!
.
Cheios

Agora acho que a coisa vai aqui na nossa terra.
Já tamo cansado de tanta chuva que cai, barraco que cai, rio que sobe, etc.
Foi tanta desgracêra nesses últimos tempo que andamo pensando em trocar o nome do Estado:
De Santa Catarina pra Santa Tacauruca.

6 de outubro de 2009

Caracu*


A grande maioria de nós, ainda que não admitamos, age no dia a dia baseado num sistema de crenças e “verdades” próprias, que não resistiriam ao menor questionamento.
Estilo:
“Se o Bernardinho dorme só quatro horas por dia, eu também não preciso dormir muito” (uma notícia veiculada na mídia, por exemplo).
(Quem vê o Bernardinho dormir? É sempre só quatro horas? É saudável ou menos saudável por isso? Pode morrer cedo por este hábito?, etc.)
“Meu avô sempre fumou e viveu até os 85 anos, forte como um touro!”
(É uma regra ou exceção viver “forte como um touro” fumando? Era realmente tão forte assim? Não teria sido muito mais “forte” se não fumasse? Aqueles “esquecimentos” freqüentes do vovô não poderiam estar relacionados ao fumo? Etc, etc.)
Essas crenças (ou “verdades”) podem ser chamadas de superficiais: são mais ou menos fáceis de serem reveladas.
Outras (as profundas, o que os autores de língua inglesa chamam de core belief, algo como “crença do âmago”) podem estar – e frequentemente estão – escondidas. São muitas vezes desconhecidas do plano consciente da própria pessoa.
Exemplo:
“No fundo, eu não presto”
(motivada, por exemplo, por um sentimento de desprezo – real ou imaginária – por parte do pai ou da mãe, ou ainda de alguns de seus colegas de infância)
É mister do terapeuta (psicoterapeuta, por exemplo) trabalhar este sistema de crenças em benefício da pessoa. E não é uma missão lá muito fácil.
Precisa (dentre outras coisas) tempo, insight, dedicação, vontade de mudar (e mesmo investimento financeiro para o tratamento).
Mas pode valer muito à pena.

(* Caracu, para quem não sabe, é um termo usado para designar a medula óssea do gado, também chamada de tutano. Tem – ou tinha – o significado de algo central de alguma coisa ou de alguém)

2 de outubro de 2009

Dos Pés à Cabeça


Asma, angina, acne.
Bronquite, bruxismo, binge eating.
Cólica, cefaléia, Crohn.
Doritos, durex, detergente... (Ôpa! Aí é lista de supermercado!)

Mas nós podemos desfilar o alfabeto inteiro com doenças ou problemas de saúde nos quais os estados emocionais (“para o bem ou para o mal” – não esqueçamos que emoções positivas também desequilibram o prato da balança) influenciam:

Enxaqueca, eczema, endometriose.
Febre, fadiga, fibromialgia.
Gastrite, gota, Gilles de la Tourette...

E vou parar por aqui, senão vão dizer que estou forçando.

(parece aquela piadinha boba de infância:
“Malas, malinhas e maletas,
Bolsas, bolsinhas e... sandálias Havaianas!”)

29 de setembro de 2009

Quem Procura, Acha


“Sob a luz do microscópio, devemos todos ter uma ou outra anormalidade”

Mais de mil pessoas (idade média de pouco mais de 50 anos) se submeteram a uma tomografia de corpo inteiro para “ver se achavam alguma coisa de anormal”.
Em 86% destes exames acharam, sim, algo de anormal (imagens com aspecto tumoral, principalmente).
Em 37% destas pessoas exames adicionais foram sugeridos.
Destas, menos de 1% tinham algo de realmente sério, algo que “iria incomodar mais para a frente”.
Acho que este estudo não precisa comentários, não é? Fala por si...
(talvez por isso ouçamos tantos septuagenários se gabarem: “Nunca fui num médico!”)

25 de setembro de 2009

Abaixo a Perfeição


Tudo bem que algumas belezas às vezes são reais.
Eu, por exemplo, nos idos anos 80 já quis pegar na Luiza Brunet para ver se era mesmo de verdade (ela infelizmente não me deixou).
Mas a grande maioria das pessoas que estão nas Caras e Bocas, nas Novas, nas Contigos, e mesmo nas Vejas, Isto És, etc. são de mentirinha, alteradas por computador.
Muita gente sabe. Muita gente nova sabe.
Mas talvez elas devam mesmo ser lembradas para não correrem o risco de, ao se compararem às perfeições publicadas, se acharem um “lixo estético” (lixo estético esse que se estende perigosamente para todo o ser nas cuquinhas imaturas).
Por isso, a nova proposta de lei francesa de adicionar um aviso em revistas e fotos de publicidade. Algo como:
Réloou! Aqui tem truta! Essa moça foi “alterada” digitalmente. Não é tão linda (nem mesmo tão moça) assim, OK?
Excessivamente politicamente correto?
Sei lá.
Tomara que pegue, lá como cá. Tá lançada a idéia.

22 de setembro de 2009

A Fome no Museu


Fome era uma sensação fisiológica que nossos antepassados possuíam para avisar aos seus organismos que era hora de buscar comida.
Antepassados?
Pensando em termos de infância atual, é de se questionar:
Seu filho(a) conhece o que é fome?
Tem ele(a) tempo entre uma refeição e outra, entre uma bicada e outra, entre uma bobagem e outra para saber o que é um estômago vazio?
Precisa? – pode se perguntar você.
Pode até parecer que não, mas há uma óbvia correlação histórica entre tempo com fome e funcionamento insulínico, ou seja, parece claro que alguns intervalos maiores entre uma recarga energética e outra fazem bem para que o metabolismo se ajeite, ponha os pingos energéticos nos devidos is, redistribua calorias para tecidos e órgãos que delas necessitem – quando realmente necessitem.
Uma estratégia simples – e pouco doída – de perda de peso é aprender a reconhecer fome (um pouquinho, não muita), a não comer por pura inércia. Bem como reconhecer a sua saciedade (ou, como um refinamento, conhecer o volume de comida suficiente para saciá-la).

18 de setembro de 2009

Disfarce


Tem muito paciente pediátrico que quando percebe-se com “prazo vencido”, ou seja, se torna muito grandinho para consultar com pediatra, fica sem pai nem mãe (nesse caso mais exatamente sem médico pra chamar de seu).
Ainda que a gente deva estimular o crescimento do adolescente também nesse sentido – o aprendizado da perda do vínculo com o médico da infância – somos seres humanos.
Eles, como nós, também querem voltar a ver alguém que foi importante durante anos.
E enquanto se aguarda que sejam os próximos pais trazendo seus filhos, vamos fazendo vista grossa para suas idades, atendendo-lhes com nossas limitações de médicos de crianças.
Mas... e o constrangimento da sala de espera?
O que fazer com os olhares estranhos dos outros pacientes, com os bichinhos melados, com as figuras da turma da Mônica na parede?
Aqui vão algumas sugestões:
1) Finja-se de grávida. Diga que quer combinar o atendimento na sala de parto. Coloque uma almofada (duas para gêmeos) dentro da camiseta e simule estar um pouco enjoada (obs.: válido somente para moças).
2) Entre pela porta dos fundos. Ou, em alguns consultórios, pelo refeitório dos médicos. Janela é uma opção - em consultórios térreos e devidamente avisado.
3) Marque três horários: o imediatamente antes e o imediatamente posterior (opção meio cara), para usufruir da sala de espera vazia.
4) Crie (ou roube) uma credencial de repórter. De preferência, chegue anunciando que é de alguma revista famosa (quem sabe o médico ainda o compense financeiramente).
5) Vá de branco. Diga que é um médico assistente novato.
6) Minta a idade. Faça a barba bem feita e comente o quanto você é grande pros seus 6 anos.
Ou então... assuma, mesmo! Sente na cara dura no meio da criançada e curta o momento (já que aos 2 anos de idade você só se esgoelava).

15 de setembro de 2009

Desculpe, mas...


Um artigo recente publicado no jornal da Sociedade Americana de Pediatria confirma um fato que de vez em quando nos aparece:
Mães que desconfiam – ou têm quase certeza – de que suas filhas foram abusadas sexualmente e nos pedem avaliação. O resultado: quase sempre (no meu caso, posso dizer sempre) normal (no estudo: apenas 10% dos casos investigados).
Nada para se comprovar penetração.
Curiosamente não é isso que se costuma pensar. Espera-se por alguma lesão genital para corroborar a história da criança ou a suspeita dos pais. Imagina-se que seja algo facilmente evidenciável.
Infelizmente não.
E os motivos para isto?
Três principais motivos citados pelos autores do estudo:
1) a cicatrização da(s) lesão(ões) ocorrida(s)
2) penetração sem lesão evidente
3) interpretação inadequada da criança (relação sem real penetração)
E a mentira ou invenção da criança, pode ser um fator?
Também segundo os mesmos autores, é muito mais freqüente o esconder ou diminuir o fato do que criá-lo.

11 de setembro de 2009

A Maldade em Pessoa


Com alguma freqüência, pais vêm ao consultório se queixando do comportamento da criança.
“É ruim”, dizem alguns, “quer ver só?”.
E aí aguardam a “ruindade” se manifestar. Passam-se segundos, minutos, meia-hora e...
Nada! Ali um fofinho, uma fofinha, um anjo de bondade – alguns até com um sorriso angelical estampado no rosto!
O que algumas vezes deixa os pais ainda mais furiosos.
Por que acontece?
Em primeiro lugar porque o ambiente é “novo”. Há coisas muitas vezes interessantes para serem exploradas (velhos “bichinhos” desbotados de menos de 10 reais, por exemplo).
Em segundo, a criança pode estar – e com freqüência está – percebendo uma “real autoridade” na sua frente (tipo “Sei lá o que esse cara pode fazer comigo!”). Então, fica “na dela”.
Em terceiro lugar (mas não menos importante), o faz por puro boicote aos pais, mesmo (“pra sacanear”, se assim quiserem), porque afinal não são figurinhas bobas!
O que isso prova?
Que não há uma maldade intrínseca na criança pequena, claro.
Que a “maldade” – assim como a beleza – nesse caso, está muito nos olhos de quem a vê (ou não a compreende).
Há quase sempre nesses casos um misto de incompreensão, impaciência, rejeição até.
Pais não são exatamente “culpados”. Mas é um fato bem comum dos tempos modernos.

8 de setembro de 2009

Psicólico


Dia desses uma enfermeira velha de guerra – mais que eu – me interpelou no corredor da Maternidade em que eu trabalho:
-E aí, doutor, ainda continua com os mesmos conceitos em relação às cólicas?
Queria dizer: “Ainda resistente em achar que os recém-nascidos têm mesmo dor na barriguinha?”, claro.
Sim, porque já carrego alguma fama nestes mais de 20 anos, “aquele que não acredita...”.
Respondi:
-Cada vez mais convicto! (claro que não exatamente que “absolutamente nunca pode ter realmente dor”, mas a resposta ficaria muito extensa, e era preciso provar convicção, afinal de contas!).
E aí, exagerei:
-A cólica virou meu ganha-pão! Já quase comprei uma casa em Angra por causa dela. Acho até que já faturei mais com as cólicas do que a Bristol-Myers Squibb.*
Um pouco de exagero, só. Nunca fui a Angra (nem sei se ainda vale a pena comprar casa lá).

* ex-fabricante do “extinto” Espasmo-Luftal, atualmente com o mesmo nome no EMS – e copiado por vários similares. O que a falta de uma boa conversa não faz de lucro pra indústria?

4 de setembro de 2009

Como Vai Seu Cocô?


Diarréia é sempre um problema?
Quando um cocô mole (ou até mesmo líquido) é doença e quando é apenas um “intestino solto”?
Ainda que a resposta não seja sempre possível, alguns dados podem ser esclarecedores, para que os pais fiquem menos preocupados:
“Cocô feio, mas criança bonita” (ou seja, uma criança que, de resto, está saudável, ativa, brincando) fala contra a presença de doença (e raramente vai levar a um risco de desidratação).
O contrário (“cocô menos feioso, mas criança caída”) merece muito mais atenção.
Prazos curtos ou intermitência (ou seja, cocô ora bonito, ora feio) têm menos chance de apresentar conseqüências.
Olho no peso: variações de peso em diarréias de curto prazo costumam indicar desidratação (perda líquida maior do que a reposição com a ingestão, com os seus riscos) e em prazos longos, “desnutrição” (aspas porque a perda de peso pode ser conseqüência, por exemplo, de uma maior atividade física, quando deixa de ter significado).

1 de setembro de 2009

Pepino Split


Um divórcio já é um fato suficientemente doloroso para os pais. Ninguém se divorcia sorrindo (a não ser, em alguns casos, um dos cônjuges em alguma crise nervosa).
Para os filhos, então, a coisa beira a tragédia, principalmente quando são muito pequenos.
Algumas dicas são importantes para que os filhos não saiam demasiadamente feridos quando o relacionamento dos pais chega ao fim:
◊ Deve se deixar claro para a criança de que não é ela a causa da separação. É essencial que ambos os pais demonstrem o quanto a amam (um perigo aqui é um dos pais quererem “comprar” a criança com presentes ou programas que o outro não terá as mesmas condições de proporcionar).
◊ Tente manter ao máximo possível as mesmas condições de vida de antes da separação. Quanto menos mudanças adicionais nesta hora, melhor.
◊ Tente facilitar o contato dos filhos com ambos os pais (telefone, SMS, etc.), principalmente se um dos pais não for morar por perto
◊ Faça o filho compreender que o divórcio é uma decisão final. Somente assim ele aprenderá a elaborar o luto e “seguir em frente”.
◊ Evite a todo custo comentários negativos a respeito do ex-cônjuge. São situações estressantes para as crianças, “criadoras” de freqüentes sintomas psicossomáticos (além de afetar sua auto-estima).
◊ Combinem as mesmas regras de disciplina para os dois lados.
◊ Mostre exemplos positivos de famílias cujos pais se divorciaram.

28 de agosto de 2009

Picadas com Dias Contados


Não sei se alguma vez você já se deu conta, mas há uma revolução silenciosa na indústria das agulhas de injeção.
Atualmente elas são de liga mais finamente polida, mais facilmente penetrantes, mais sofisticadas na geometria e calibre.
Disso ninguém quer muito saber.
O que se quer saber é:
Quando deixarão de existir? Quando serão substituídas por algo menos doloroso?
Não pense que as indústrias não estão quebrando a cabeça para virem com resultados. Injeções do futuro terão enorme mercado.
Além disso criarão maior mercado para todas as medicações injetáveis (algo até meio assustador, pode não ser assim tão bom).
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Georgia (E.U.), no entanto, já inventaram o que parece que vai ser uma das grandes soluções:
Um patch (adesivo, vai) com micro-agulhas de cerca de meio milímetro de profundidade, auto-aplicável, que “entrega” vacinas ou medicamentos em questão de minutos.
Será que também nisto (assim como nos telefones discados, na televisão preto-e-branco com seletor de canais, no sistema operacional DOS, etc.) vamos ser vistos pelas próximas gerações com incredulidade?

25 de agosto de 2009

Póin To Viu


Pode parecer exagero, mas tipos de personalidade (ou estilos de pensamento) e seus assim chamados “transtornos” são importantes definidores do futuro de cada um.
Profissões, condições sócio-econômicas, relações sociais (familiares e no trabalho) e saúde são todos diretamente afetados pelo modo de se pensar a vida (e agir).
Estamos cansados de ver exemplos de desportistas que tinham enorme talento, mas... não chegaram lá.
Profundos conhecedores que (às vezes até por isso) não tinham paciência (“saco”) de transmitir seus conhecimentos aos “ignorantes”.
Cantores dotados que apareciam nos próprios shows apenas “se estivessem com vontade” (embora na profissão artística o “ser difícil” de personalidade seja quase uma regra).
A violência doméstica, o descambo para a agressão (física ou, mais comumente, verbal) em relações pessoais, a busca obstinada por objetivos pessoais, o descuido ou o excessivo cuidado com a própria saúde ou a dos familiares, etc., são frutos de personalidades herdadas e/ou moldadas “no ninho” (e com muita dificuldade e muitos anos de terapia - ou auto-conhecimento ou “porrada” - desmoldados após).
Particularmente acredito que o tema é tão importante que deveria ser motivo de currículo escolar do ensino médio (mais útil que aula de... deixa pra lá!).

21 de agosto de 2009

Intimidade


No momento em que o Ministério da Saúde lança mais uma campanha tentando conter a avalanche de problemas ligados às doenças sexualmente transmissíveis (DST), aproveito pra sugerir aos pais:
A menos que seu filho adolescente (ou mesmo pré-adolescente) seja um Kaká, que conta publicamente que casou virgem (segundo ele, o sangue “vertido” pela sua esposa na noite de núpcias foi o símbolo do amor do casal, lindo isso!), é melhor aceitar o fato de que nos tempos atuais a moçada transa e transa cedo no mais das vezes (é um fato, ora!) e que – assim como quem quer evitar quase que totalmente o risco de câncer de pulmão deve se abster do fumo – quem não quer se preocupar com os possíveis (e muitas vezes graves) inconvenientes das DST e doenças relacionadas precisa aprender a usar camisinha.
Novidade isso, né?
Mas como explicar o fato de que tanto jovem despreza o seu uso?
Acho que um fator importante é que pra se usar camisinha existem pelo menos três fatores:
1) Consciência da necessidade. E essa existe, pelo menos em parte.
2) Segurança por parte do rapaz: a insegurança do jovem na hora do rala-e-rola torna o uso da camisinha mais um motivo de temor de que as coisas não dêem muito certo. E aí, o terceiro fator:
3) Intimidade com a coisa. E para que se tenha intimidade, não há outro jeito. Vale aquela dica que se dá para o jogador de futebol: para jogar bem, se deve até dormir com a bola.
Faça-se o mesmo com a camisinha! Durma-se com ela. Acompanhado ou sozinho. Torne-se a camisinha um artigo comum do quarto da moçada (desagradável, eu sei, essa lembrança constante do rala-e-rola, ali, rolando pela casa, mas...). Quebre-se o tabu do negócio. Vale a pena!

18 de agosto de 2009

Geleca


Por que algumas crianças – notadamente meninas – têm maior tendência a infecções urinárias?
Dentre outros motivos – a higiene precária é um motivo prosaico – porque o germe que as causam é na maioria das vezes a Escherichia coli, uma bactéria que tem como característica marcante a presença de fímbrias.
As fímbrias (expansões do corpo bacteriano que lhe emprestam a aparência dum esfregão) são “grudentas”. Têm esta função, mesmo: grudar na mucosa (o revestimento interno de órgãos como o intestino e a bexiga), para sobreviver por ali. Outras bactérias escorregam para fora da luz vesical (da bexiga) com mais facilidade no ato de urinar.
E aí a questão: algumas pessoas têm também bexigas mais “grudentas”, com mucosas mais receptivas ao grude das fímbrias bacterianas.
Isso é característica herdada. Crianças que apresentam infecções urinárias costumam ter mães que - pelo menos durante períodos da vida - também sofreram com o problema.
Solução?
Como não se pode mudar a genética (ainda): cuidados higiênicos, boa ingestão de líquidos, micções freqüentes.

Postagem oferecida pelo curso de latim para crianças "Cisne Qua Non"

14 de agosto de 2009

Vendas


Pra você ver como nossa cabecinha humana funciona quando se trata de doença, morte, etc.:
Se você perguntar para algum seu parente de pouco mais de idade (notadamente dos 50 anos para cima) se ele toma alguma medicação, provavelmente vai ouvir falar das estatinas, tenha ele (a) sofrido um infarto ou não.
Há alguma prova de que as estatinas realmente funcionam para alguma coisa?
Lá vai um alto e sonoro:
Não!
Mas... então por que se prescreve? Por que tanta gente toma?
Boa pergunta.
Acredite você ou não:
Primeiro, porque precisamos de um remedinho mágico (e como as estatinas nos prometem mágicas!). Senão como iríamos encarar a culpa da nossa torta de chocolate do meio da tarde, da nossa preguiça para a malhação do início da noite, do nosso churrasco do final de semana?
Segundo, porque é o que se espera daqueles sujeitos vestidos de branco (os de gravata são os melhores): que nos prescrevam algo, que façam algo por nós (já que anda difícil fazermos nós mesmos).
Que importa que os estudos sérios desmintam seus efeitos, que falem duma toxicidade muscular importante (escondida pela vasta oficialidade de rabo preso), que mostrem que a diminuição dos níveis de colesterol não leva a absolutamente nenhuma modificação no prognóstico de infartados, hipertensos e etc., que mostrem uma associação perigosa com certos tipos de câncer, que acelerem a perda cognitiva associada à idade?...
Fechamos olhos e ouvidos pra tudo isso.
Preferimos a doce música da propaganda. E a nossa paz de consciência. Ainda que comprada.

(a esse propósito, o cardiologista e pesquisador Michel de Lorgeril publicou um livro, “Colesterol, Mentiras e Propaganda” – ainda somente em francês – mas cujo resumo pode ser lido aqui)
Postagem oferecida pela Escola Maternal Centopéia Perneta

11 de agosto de 2009

De Tijolo em Tijolo

Conheço muita gente que, muito ingenuamente, pensa:
“Ah, eu malho, então posso comer o que eu quiser, o quanto eu quiser, que não há risco de eu engordar (ou ficar menos saudável)!”
Vejamos o quanto há de verdade nisso.
Peguemos como exemplo um operário da construção civil, daqueles que constroem prédios enormes durante o ano inteiro. É talvez o protótipo do “malhador”, do cara que gasta energia em atividade física o dia inteirinho. Não há muita preocupação com número de calorias ou qualidade dos alimentos (pelo menos não até hoje) no canteiro de obras: suas “quentinhas” são pródigas em calorias e, normalmente, quando chegam em casa, sai da frente! Calorias de montão.
Há gordos nessa turma?
Poucos. Pouquíssimos, na verdade. Há os mais magros e os mais “fortes”, mas não exatamente obesos.
Até determinada faixa etária.
Se observarmos os que são mais “coroas” (dos poucos que não se aposentaram por invalidez ou outras doenças ligadas ao estilo de vida) veremos que há, quase sempre, uma boa barriguinha infiltrada ali. Com todo o corolário de problemas que a acompanha: hipertensão arterial, diabetes, etc.
Então, a conclusão a que se pode chegar é de que se você ainda é relativamente jovem, vá em frente: abuse do seu corpo! Malhe bastante, coma de tudo de montão. Há pouca chance de, neste momento da sua vida, você se tornar um obeso (a não ser, claro, que já seja um obeso genético).
Mas não se esqueça de que, muito provavelmente, você não vai querer viver bem apenas por uns vinte ou trinta (ou mesmo quarenta) anos.
Palavra de coroa!
Amém.
Isto foi uma postagem oferecida pelo Jardim de Infância Putz Grilo Feliz.

7 de agosto de 2009

Exames em Massa


Felipe Massa sofreu o que a imprensa mundial chamou de aciente “bizarro”: dois traumatismos cranianos em série.
O primeiro deles, o que determinou sua evolução, duma imensa mola em alta velocidade contra seu crânio também em alta velocidade contrária.
Felizmente o dano foi apenas craniano (da caixa) e não cerebral.
Cirurgia simples, para quem é do ramo: trazer o osso temporal para o lugar original, evitando danos futuros.
Alta programada do hospital húngaro, fim de papo.
Se Felipe Massa fosse um indivíduo comum.
Ao voltar para o Brasil, o reinternam.
Mais exames.
Tudo bem, alta programada. E então?
Novos exames!
Na entrevista dada aqui: “Felipe fará exames de imagem, de sangue, EEG, etc. e aí sim terá alta”.
Pra que?
Massa é um sujeito altamente segurado (leia-se Ferrari, em letras garrafais vermelhas). Todo mundo tem que tirar sua casquinha. Num tratamento desta natureza, tirasse do bolso seu tratamento, bastaria uma ou duas ressonâncias, exames clínicos (ah! como isso está raro!) e mais nada.
A impressão que condutas desse tipo passam para a opinião pública (nós, né?) é a de que exames mil são necessários.
O que? Dosagem de colesterol (Massa é meio rechonchudo...)? Parasitológico de fezes (sei não, Massa come muito peixe, vai que um Diphyllobothrium latum...)? Sorológico anti-molas Renault?
E aí, quando o cidadão comum (nós, né?) precisamos de uma cirurgia deste ou outro tipo, está dada a fórmula (fórmula 1): exames mil são necessários (e aí de quem não os peça!).

Esta postagem foi um patrocínio da Escola Maternal “Caracu Cara-de-Pau”

4 de agosto de 2009

É Só Um Vírus, Gente (Mas Ninguém Parece Acreditar)


As cenas nos shopping centers das capitais sulistas neste último final de semana pareciam muito com as de filmes como “Eu Sou A Lenda” ou a fantástica abertura do “Vanilla Sky”.
Nem a presença do próprio Tom Cruise salvaria a desolação dos cenários: lojas vazias, com vendedores só para a gente. Que luxo! Só faltava darem as mercadorias de graça.
Me fez voltar aos meados dos anos 1980, quando juntamente com meus colegas de faculdade visitávamos os leitos dos primeiros pacientes portadores do até então desconhecido - mas igualmente midiático – vírus HIV.
Tremíamos tanto nas nossas bases que a própria fundação do hospital parecia tremer.
Nos perguntávamos se não seria perigoso passar da porta da enfermaria. E ao chegarmos em casa nos despíamos das roupas brancas na dúvida se não deveríamos mandar incinerá-las.
Tudo isso soa ridículo hoje, como muito do que se está fazendo hoje soará ridículo amanhã.
Um interessante paralelo nos foi apresentado pelo jornalista Sílio Boccanera no programa Sem Fronteiras (30/07), da rede Globonews:
“É como um visitante que se apavora diante da possibilidade de sofrer um assalto em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, enquanto os habitantes locais seguem sua vida rotineira, indiferentes às estatísticas que mostram a probabilidade maior de sofrer ataques de bandidos nas ruas”.
Segundo o epidemiologista americano da Universidade da Columbia Dickson Despommier, também falando a respeito do medo da gripe, a melhor definição de ser humano é: “somos a única espécie do planeta que passa mais da metade da vida se preocupando com coisas que nunca vão acontecer”.

Esta postagem foi um oferecimento da Escola Primária “Sítio do Fica Mal de Amarelo”

31 de julho de 2009

Nada de Pânico


No interior de Santa Catarina, fomos encontrar a dona Eleonora, mãe de dois pequenos filhos saudáveis para perguntar sobre seus temores sobre a atual...
-Não!!
-Não o que?
-Não fale!
-Sobre a gr...?
-Não! Não fale! Pode ser contagioso!
-Mas até falar no nome?
-Claro, meu filho. Nunca se sabe! Você aí vindo da rua, pode estar contaminado!
-Quer dizer então que a senhora já nem sai mais de casa?
-De casa? Eu já não saio mais é do banheiro!
-Não tá parecendo um pouco de exagero?
-Na verdade, o meu projeto era ficar restrita ao boxe, mas eu tenho nojo de fazer ali minhas necessidades... Falando nisso, você pode, por favor, desencostar do meu rolinho de papel higiênico?
-Ah, desculpe! Mas... e os seus filhos, como é que a senhora tem cuidado deles?
-Pois então. Ando muito, muito preocupada. Ontem quase morri de susto com o mais velho.
-Por que?
-Chegou perto de mim e, do nada, deu o que pensei ser (se benzendo) um espirro.
-E não era?
-Não.
-O que era então?
-Queria assistir o “Castelo Ra- Atchim-Bum”...


Essa postagem está seindo patrocinada pela Ageincia de Telemarketing “Alô, Alô, Realeingo

28 de julho de 2009

Um Diagnóstico Pra Chamar de Seu


Vivemos uma época de soluções rápidas. Google, controle remoto, drive-thru, comida congelada, bebida em lata descartável. Soluções devem aparecer em questão de segundos, temos pressa.
A mesma pressa exigimos nos diagnósticos.
Esperamos que ao abrirmos a boca com a primeira queixa nosso médico, psicólogo, dentista ou terapeuta já esteja com o diagnóstico à mão.
Não que não queiramos atenção, que não nos escutem, pelo contrário.
Mas não podemos esperar tanto assim para que definam o que nós temos. Temos que noticiar a todos, temos que pensar em diagnósticos e tratamentos alternativos (temos que pesquisar no Google), temos que nos remoer (“afinal, tenho mesmo alguma coisa, já não era sem tempo, viu?”).
Vai que eu morro antes, de velhice, sem um diagnóstico, já pensou?

Esta postagem foi patrocinada pela série de livros didáticos "Aprenda Apanhando"

24 de julho de 2009

Tome Letra


Não adianta.
É o assunto que está na boca do povo:
Gripe A.
Se a situação dos sistemas de saúde já não era das melhores sem ela, agora então, a coisa ficou um pouco surreal*.
Não é só no nosso país, não. É no Mundotodolândia.
Sim, porque não há condições de investigar todo mundo (“é gripe A, não é gripe A?”).
E nem precisa.
Quem precisa saber a quantas andam os vírus é o pessoal da epidemiologia, que é quem nos repassa o nome e sobrenome dos bichos aos quais estamos expostos.
Pra nós, o som do Atchim é o mesmo (especialmente no caso do H1N1, que já se sabe forte na capacidade de disseminação e fraco nos estragos provocados, ainda que gripe não seja um simples resfriado)!

* Órgãos oficiais nos mandam fluxogramas de atendimento dos casos suspeitos com orientações do tipo: ...centrais de atendimento devem ser acionadas... pessoal de apoio disponível... confirmação laboratorial dos casos suspeitos... etc...
Ãhãn!...

Esta postagem foi patrocinada pela Escola Primária “Essa Fada, Essa Fadinha”

21 de julho de 2009

Clip-Arte

Quem tem criança pequena sabe da dificuldade de se cortar as suas unhas (as da criança, embora alguns pais se queixem de não conseguir cortar suas próprias unhas por falta de tempo).
A Nemours Foundation, que não tem coisas mais importantes para fazer (eu também não) oferece algumas dicas, que eu modifiquei um pouco:
◊ Segure fixamente tanto a palma da mão quanto o dedo da unha a ser cortada, para que o dedo não mexa
◊ Use tesouras apropriadas para o tamanho da unha a ser cortada (eu gosto da do canivete suíço pequeno, marca Victorinox®, marketing gratuito, infelizmente)
◊ Em algumas crianças, o melhor mesmo é usar lixas de unhas, ao invés de cortá-las
◊ Aproveite o sono (fase REM, aquela em que os olhos se mexem mas a criança está “apagada”, com muito pouca capacidade de reagir).

(Esta postagem foi patrocinada pelo Jardim de Infância "Pedacinho do Eu")