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30 de março de 2010

Fura-Campanha


O brasileiro aprendeu a confiar nos resultados das vacinas vendo Albert Sabin (que tinha raízes matrimoniais no Brasil) fazer sumirem os casos da temida paralisia infantil.
Aprendeu, antes ainda, com Oswaldo Cruz, que quase perdia sua vida com a ignorância do povo que pretendeu salvar das garras da varíola.
Mas agora (com a vacina da gripe A) é diferente.
São menos bem-intencionados os salvadores.
São políticos. Têm laços eleitorais. Têm vínculos comerciais. Agem “por via das dúvidas”, na certeza de que “se bem não faz, mal também não há de fazer”.
Mas também enfrentam outro tipo de oposição.
Oposição ainda de desinformados, de misinformeds.
Mas muito mais gente que pensa, que se informa, às vezes até demais.
Desculpe a empáfia, mas eu tô nessa.
E me esquivo da agulhada não pra furar campanha. Nem pra dar exemplo, nem por temores infundados.
Por falta de dados que convençam, mesmo.

26 de março de 2010

Ominoso


“Febre, toque a campainha e aguarde; alteração de consciência, arrombe a porta”

É grave ou não?
É a pergunta mais freqüente (e a mais importante) que os pais se fazem quando seus filhos apresentam alguma doença infecciosa, com febre.
Não costuma ser, no entanto, o tamanho da febre que importa para definir gravidade. Importa mais a permanência dela por mais tempo, além de dois grandes fatores:
1) Estado geral: que pode ser definido como “o jeitão” da criança febril, principalmente quando a febre baixou (com auxílio de medicação ou não). Dificilmente, por exemplo, vai se pensar em doença séria como uma pneumonia bacteriana com a criança que está correndo para lá e para cá, mesmo que febril.
2) Nível de consciência: embora possa ser um sinal tardio – quando as coisas estão mais “pretas” – deve ser conhecido como um importante indicador de infecção grave.
Não é “do nada” que uma criança que até então estava bem e, a partir de certo momento, torna-se alheia ao ambiente que a cerca, confusa, sem noção das coisas, associada à febre. Corra!

24 de março de 2010

Um Daqui, Outro de Acolá


Vou tentar explicar um trololó muito sério e que acontece a toda hora, criando muita tensão entre médicos e pacientes:
Seu médico de consultório, aquele que o atende no dia-a-dia, não é normalmente por natureza um emergencista.
Não é porque não tem formação para isso, ou porque não gosta ou simplesmente porque não quer (ou, principalmente, porque não está recebendo uma P$ - pinóia – pra isso! Somente quem se dispõe a fazer emergência recebe para tal, não sei se a senhora ou o senhor sabem disso).
Então quando nos acontece alguma emergência médica (seja aqui ou na Conchinchina) deveríamos estar prontos para nos sujeitar aos médicos plantonistas das emergências, (teoricamente) preparados e (de novo teoricamente) muito bem pagos para isso.
Seu médico de consultório ou de Posto de Saúde (exceto os de 24 horas), seu médico regular, enfim, teria grandes dificuldades em atendê-lo nas emergências, visto que para você essa ocorrência pode ser apenas uma vez ou outra*, mas... multiplique essas ocorrências por todos os seus pacientes!
Inviável. Capice?

* E, acredite, para muitos e muitos pais emergências de seus filhos vão desde bicho-de-pé até unha encravada (isso pra só falar do pé da pobre da criancinha!).

19 de março de 2010

Orwell, Descanse em Paz


O famoso livro 1984 de George Orwell foi profético de várias maneiras.
Todo esse clima dum Big Brother comandando atos, aniquilando vontades e pensamentos pode muito bem ser representado na esfera nutricional pela mão pesada da Monsanto e associadas na manipulação e aquisição de patentes genéticas de toda forma de alimento, seja no reino vegetal (onde já não há quase nada de comestível sobre a Terra em que elas não sejam donas) quanto no reino animal, no qual fazendeiros ainda brigam de forma quixotesca para impedir os seus avanços.
É triste viver num mundo paradoxal em que quanto mais se propagam liberdades de forma deliberadamente cínica, menos se pode escolher.
É triste não podermos fazer nada, a não ser gritarmos e parecermos loucos.
Triste os que detinham alguma voz estarem sendo desacreditados, demitidos de cargos e postos de fiscalização ou denúncia.
Triste termos percebido tarde.
Ou ainda nem estarmos percebendo.

16 de março de 2010

Bulimia, Aqui Me Tens de Regresso


Uma pequena menina na idade de aprender a ler pega a revista da mãe:
- Per-ca a ba-ri-ga em me-nos de 2 mee-ses!
(Pra que será que eu ia querer perder minha barriga?)
- Do-ces: a-fas-te-se de-sa ten-ta-ção!
(Tentação não é coisa do diabo? Doce é coisa do diabo?)
Ouve a mãe resmungar do quarto:
- Que droga, por que é que eu fui comer aquela lasanha? Engordo só de sentir o cheiro!
Liga então a televisão e ouve:
- Emagreça sem fazer força, com o rrrevolucionário...
(Será que eu também preciso emagrecer? Então não posso fazer força – ou tenho que fazer força?)
De dentro do tal quarto vem a tal mãe e pergunta:
-Filha, por acaso você já comeu?

(agora, multiplica isso pelos 4000 dias da infância...)

*De novo uma referência à musiquinha. De novo só pra quem tem ...enta e tantos.
Me permiti brincar um pouco com um assunto tão sério (a figura acima foi retirada de um desses vários “blogs de horror”: Food is My Worst Enemy, a comida é meu maior inimigo! Quer saber, nem veja!)

12 de março de 2010

Apenas Duas Décadas


Tenho mais de 40 anos (mais de quatro décadas).
Me formei há mais de 20 anos (mais de duas décadas, portanto).
Embora me sinta ainda uma criança (apenas por um inevitável e ilusório instinto de sobrevivência, é bom que se esclareça), para que se tenha uma idéia do que isso significa, basta lembrar que durante todo meu período de formação não se ouvia falar de três palavrinhas: celular, computador e internet.
É isso, aí. Se você que me lê agora for por acaso um jovem, pode levantar da cadeira!
Tenho pensado muito na diferença que esses três fatores representam nas capacidades de raciocínio e aprendizado do jovem médico (como de resto de qualquer jovem acadêmico).
Quanto ao celular, não tenho o menor pudor em dizer que - exceto alguma utilidade menor como a velocidade de recuperação de algum artigo esquecido, por exemplo – veio para atrapalhar. Ponto.
Tente assistir a uma peça de teatro. Tente assistir a um filme no cinema. Que dirá uma aula, para se perceber a capacidade desconcentradora dessas maquininhas tão revolucionárias quanto dispensáveis, perturbadoras da paz de espírito necessária para um bom aprendizado.
Computador e internet:
Aí a coisa é bem diferente – e muito mais complexa.
Está na cara (e na casas, nos carros e até nos banheiros) de todo mundo a diferença que a internet fez em termos de velocidade de propagação do conhecimento.
Ponto positivo, com enormes P maiúsculos.
Mas também estão ficando evidentes dois efeitos colaterais do processo: a velocidade da desinformação (a proliferação de fontes de informações falsas ou imprecisas ou intencionalmente manipuladas) e a ansiedade do desconhecimento (no seguinte sentido: “Se o conhecimento humano é tão vasto – tão vasto como nunca pareceu – como é que eu, pobre ser humano, vou dar conta de ao menos me iniciar nesse conhecimento?”).
Pois é...
Por isso, está tão difícil encontrar um jovem “encontrado”, não ansioso com o momento ou com o futuro, com habilidades cognitivas pari passu com o equilíbrio necessário para o desenvolvimento da tão almejada sabedoria.
Tremenda dor de cabeça para formandos e formadores!

9 de março de 2010

Rodinhas


Sempre que eu penso na criação de um filho pelos pais, me vem à idéia a imagem do próprio pai ensinando o filho a andar de bicicleta.
Dificilmente alguém aprende – mas acontece – a andar de bicicleta sem aquela seguradinha na parte posterior.
E no início o trajeto inteiro precisa mesmo da segurada.
Com o tempo a criança sente que as mãos estão ali a aparando, mesmo que elas estejam a dezenas de metros de distância.
E com pouco mais de tempo, já não precisa mais realmente delas.
Mas, espera!... E a mãe, onde está a mãe nessa mini-parábola da bicicleta?
A mãe, ora, a mãe é a própria bicicleta!


5 de março de 2010

FM Consultório Odontológico


Se você estiver em casa, sentado, sem fazer nada, e por algum motivo se perguntar:
- Dói alguma coisa em mim?
Se achar que dói, ou se quiser achar alguma coisa que possa doer provavelmente o primeiro candidato deve ser sua barriga.
Os órgãos abdominais têm mil motivos para doerem. Dores de pequena monta, dorzinhas, amiúde relacionados aos processos digestivos (produção de gases, aumento da atividade intestinal de causa alimentar, por exemplo).
São dores (ou mais propriamente desconfortos) que a gente nem percebe, ou se percebe não dá muita bola.
É como aquela música baixinha de consultório odontológico.
Preocupado com uma possível espetada na raiz, você pode nem ouvir música alguma. Já se você estiver focado na música, há grandes chances de ouvi-la inteira, de acompanhar a melodia (às vezes fazemos isso justamente para tentarmos esquecer da espetada na raiz!).
O abdome tem órgãos profundamente conectados a partes do cérebro ligado as emoções. Por isso crianças com quaisquer problemas na área emocional (que vão desde pais superprotetores até problemas escolares, abusos, etc.) manifestam dores recorrentes, dores em que as investigações não mostram nada, frustrando os familiares.

2 de março de 2010

Exército


A pressão que certas mães sofrem por parte de amigos e familiares para que “façam diferente do que estão fazendo” com seus filhos é um fato que pode ser alçado à categoria de calamidade pública fácil, fácil.
Tome como exemplo a amamentação exclusiva até o 6º. mês: a nova mamãe foi conscientizada da importância por profissionais muito bem intencionados (e há poucas situações em que os profissionais da saúde agem de forma tão bem intencionada como quando promovem a amamentação), o bebê vai indo muito bem (o que, claro, os pitaqueiros de plantão vão buscar negar à pobre mãe) e lá vem a turma (eu quase que posso vê-los como um verdadeiro exército de urubulinos invadindo o campo de batalha enquanto aqui escrevo):
- Dê chazinho!
- Dê comidinha!
- Dê isso!
- Dê aquilo!
O raio que o parta! – desculpe a grosseria, mas deveria ser a resposta da nossa mãe indefesa, à mercê dos pseudo-bem-intencionados.
Por que é que têm que querer saber mais do que os profissionais, ora bolas? E mais, querem saber mais do que a própria mãe, que instintivamente deve saber o que é melhor pra ela e para o seu filho?