Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

31 de agosto de 2010

Guarda Baixa


Você, que além de levar o calendário vacinal super a sério, com aquelas datas decoradas para as próximas agulhadas do querido bumbum do seu bebê, ainda gasta os tubos para tê-lo imunizado com as vacinas extras, pagas, imagina que ele está livre das ameaças microbiológicas, não é?
Não é!
Volta e meia aparecem notícias de novos perigos (como a da emergência de sorotipos de pneumococos que não estão contidos na cara vacina atual).
E por que isso acontece?
Para se entender o motivo, é preciso se ter uma idéia do chamado disco de distribuição (clique aqui, é fácil, não se assuste!).
Quando se faz uma vacina com vários sorotipos de um germe (como no caso da vacina pneumocócica), esses sorotipos (“espécies”) tendem a ir desaparecendo (é pra isso que serve vacina!).
E embora o número total de doentes caia muito, quando a doença aparece aqui ou ali, a proporção maior de bactérias nestes poucos casos começa a ser por sorotipos que não estão contidos nas vacinas.
Como você é muito inteligente (senão não estaria lendo Olho Pimpolho, claro), deve estar se fazendo duas perguntas:
1) Por que não incluem todos os sorotipos das bactérias nas nossas caras vacinas?
Pelo simples fato de que isso ainda é muito difícil de fazer (as bactérias até então mais raras “escapam” da preocupação dos laboratórios fabricantes, dentre outros motivos por serem, justamente, mais raras – até que dêem as caras).
E, a pergunta mais perigosa:
2) Então vamos deixar de fazer essas vacinas?
Claro que não! Não é por aí.
O recado (“Por que não falou logo?”) é que os pais tendem a se sentir seguros, com o dever cumprido, pelo fato de terem carteirinhas de vacinas todas carimbadas, achando que “agora nada nos pega” e – infelizmente – a coisa não é assim...

27 de agosto de 2010

A Angústia do Bem Estar


À medida que o país vai melhorando, vemos um fenômeno cada vez mais freqüente – e, de certa forma, aborrecedor – nos consultórios médicos:
É a história do check up, do “vim para ver se está tudo bem”.
Quem despertou para a relação da condição social com este tipo de consulta foi o ex-médico de família (agora escritor) francês Marc Zaffran no seu blog.
Zaffran sempre se incomodou com este tipo de consulta (afinal, se você está bem, pra que ficar procurando chifre em cabeça de cavalo?). E, meditando sobre o assunto, teorizou sobre suas causas.
Dentre outros motivos, cita o fato de que a moçada que está por aí (nascidos a partir dos anos 50-60) nunca viveu períodos de fome, não conheceu guerras, não passou por epidemias importantes.
Vai daí que o presenciar uma morte a nossa volta virou um fato relativamente raro. Então nos angustiamos com nossa “quase imortalidade”, e quase só somos lembrados de que um dia morreremos pela mídia, pelo marketing dos “cuidadores da saúde” como empresas seguradoras, indústria farmacêutica e, mais recentemente, clínicas e hospitais.
E tome exame! E tome consulta de check up! E tome mobilização da infra-estrutura da saúde por bobagens, em detrimento dos que precisam...

24 de agosto de 2010

No Meio do Caminho


De tudo o que comemos e bebemos, o que não é aproveitado – e não é pouco, principalmente quando há excessos – é eliminado basicamente por duas vias: urinária (“xixi”) e digestiva (“cocô”).
Até aí o Neves bateu as botas.
Os excessos eliminados “via xixi” percorrem um caminho intrincado dos rins até a uretra. E nesse caminho, alguns elementos de sobra podem causar estragos, como os cálculos urinários.
Pesquisas recentes têm mostrado um aumento considerável na incidência de litíase (cálculos) nos rins da crianças nos últimos anos.
Adivinha de quem é (de novo) a culpa?
Menos atividade física, sim. Vasos pulsando menos rapidamente depositam seus resíduos com mais facilidade pelo caminho, e rins são feitos de vasos sanguíneos.
Mas principalmente da dieta. Menos cálcio, mais sódio alimentar, mais proteínas, mais frutose e citrato (estes últimos presentes em refrigerantes, os mesmos refrigerantes que roubam espaço do leite na dieta de crianças e adolescentes), mais cálculos!

20 de agosto de 2010

Cabo de Guerra


Quanto se trata de comer, trava-se um intenso diálogo entre os diversos órgãos do corpo, cada qual com seus próprios interesses.
Quando, por exemplo, você exagerou no almoço, seu intestino (através de uma substância chamada colecistoquinina) “avisa” seu cérebro que nas próximas boas horas você não mais necessitará ingerir outros alimentos (calorias).
Ocorre que se você passar pela frente de uma soberba confeitaria pode ser que seus olhos (enviando impulsos nervosos) contrabalancem – e vençam – o aviso gerado pelo intestino.
No caso da padaria, somam-se estímulos olfativos (o cheirinho de pães assando).
Auditivos também, se você ouvir um “crunch” do freguês ao lado mordendo a deliciosa casquinha.
Mas você quer perder peso. Então seus neurônios “pensantes” (córtex cerebral) se aliam aos estímulos impeditivos do intestino.
Quem vence essa interna (e intensa) discussão?
Depende, claro, da intensidade da puxada da corda de cada um. Se, por exemplo, você se afasta da tentação evitando passar pela padaria (ou pela confeitaria), é provável que o estímulo intestinal vença.
É esse tipo de “forçinha” que podemos dar a nós mesmos quando se trata de controle de peso.
Pensando, calculando riscos, mas sem obsessão.

17 de agosto de 2010

Sucesso de Público Sem Crítica


Se você fosse criar uma grande indústria que fosse aposta certa num país de maioria jovem essencialmente pobre, desesperançosa e deseducada, o que você fabricaria?
Roupas de grife? Carros? Computadores? Móveis?
Ou bebida alcoólica?
E se a escolha certa fosse por bebida alcoólica, que estratégia publicitária você usaria para que a aposta fosse mais certeira ainda?
Claro, transformar o encher a cara em algo bonito, associado à rebeldia juvenil, essencial até para quem se considera parte integrante da sociedade.
O que naturalmente fecha o ciclo vicioso de jovens consumidores ainda mais pobres, desesperançosos e deseducados, visto que a bebida não ajuda às mudanças da sua condição.
Basta percorrer as ruas das nossas pequenas e grandes cidades para perceber esse sucesso empresarial e publicitário.

13 de agosto de 2010

Mal de Limpinho


A chamada “teoria da higiene”, certa ou não, tem tentado há algum tempo explicar a grande freqüência de doenças alérgicas na população.
A mesma teoria vem agora explicar a crescente incidência de uma importante doença metabólica, a diabete tipo 1, de início na infância, quase sempre.
Funciona (mal e porcamente explicada) mais ou menos assim:
Quando a pequena criança vive em ambientes mais protegidos das infecções banais (como gripes e resfriados), seu sistema imunológico “ocioso”, preparado para trabalhar muito nos primeiros anos de vida, se ocupa agredindo células do próprio organismo (a chamada auto-imunidade) ao invés de agredir os germes faltantes. Dentre outras células agredidas, estão as células do pâncreas, produtoras de insulina, gerando então a diabete.
Não explica tudo (a maior sobrevida de mulheres diabéticas em idade de procriação gerando bebês com genética para diabete pode ser outra explicação), mas é uma boa teoria.

10 de agosto de 2010

Não Está Fácil Ser Professor


Seguindo a séria série “Não está fácil...”, e professor então, hein?
É pressão da escola, é pressão dos pais (que esperam que os professores dêem a educação que muitas vezes eles falham em dar), é desafio da sua autoridade por parte dos alunos (isso sem falar nos sabidinhos que descobrem facilmente na Internet que o que os professores têm não falado não é nada daquilo...).
Inda bem que o salário permite longas férias em Paris ou Acapulco!


6 de agosto de 2010

Não Está Fácil Ser Pais


Os tempos do politicamente correto têm transformado em tormento situações que no passado eram mais prazerosas.
Uma delas é a criação dos filhos.
Filhos hoje em dia não podem isso, têm que ser aquilo, não devem fazer aquilo outro, e por aí vai.
E nisso tudo os pais são cobrados socialmente. Pela escola, pelos familiares, pela mídia.
Sentem-se então com muito pouca voz ativa e muito direcionados pelos outros para caminhos que nem sempre seriam os por eles desejados.
Some-se a isso a progressiva sensação de falta de tempo (paradoxalmente provocada por invenções que servem justamente para nos poupar tempo) e o costumeiro prolongamento da adolescência de pais e mães, estimulado pela mídia – que por sua vez responde aos interesses das indústrias.
Olha o caldo!
Melado caldo, prato cheio para acentuados conflitos de gerações, para confusão de papéis, para o deixa-que-eu-deixo, para o “a culpa é dele(a)” vivenciado por todos nós.

3 de agosto de 2010

Não Está Fácil Ser Criança


Um trenzinho avariado para quem adivinhar qual o brinquedo que faz mais sucesso no meu consultório.
Oops! Já dei a resposta!
É isso. Uma porcaria dum trenzinho (ou uma patrola, ou um trator, dependendo da imaginação do brincando). Quebrado, sem pintura (pelo bem da rusticidade, manja?), sem os principais componentes, mas ainda rodando.
Os olhos de muitos dos pimpolhos brilham quando o vê.
Nada de alta tecnologia. Barato (na verdade, me foi dado de graça), inquebrável no que agora resta dele. Dá pra fazer de tudo com ele: inventar mil histórias de personagens viajando, atropelar bonecos, até sair voando.
Ou não fazer nada. Olhá-lo, apenas – pensando na vida.
Esse trenzinho é para mim um símbolo (ou uma metáfora) da infância de tempos atrás: um dolce fare niente, um feliz ócio criativo.
Criança hoje tem que acordar cedo, tem que fazer jazz, sapateado, capoeira, tem que saber tudo de informática, tem que comer pouco senão fica obesa, tem que mandar MSN, tem que namorar, não pode namorar, tem que saber inglês, tem que falar no celular, tem que tirar 10 porque senão não passa no vestibular, tem que ser ecologicamente correta, politicamente correta, racialmente correta, não pode gastar, é pressionada pra gastar, tem que saber do desenho da moda, tem que andar na moda, tem que se preocupar com a briga dos pais, tem que visitar o pai separado, tem que dar uma força para os pais meio instáveis.
Aí começam a aparecer: falta de ar, dor de barriga, dor no peito, bola que sobe e desce na garganta, coceira na pele, aumento de peso, aumento de apetite, dor de cabeça, cansaço, desespero...
“Coisas” que também se viam tempos atrás, mas com muito menos freqüência.