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25 de fevereiro de 2011

Cores Carregadas


Há um fenômeno social acontecendo que muito me angustia. Não só enquanto médico, mas também enquanto alguém que tem por hábito a observação do ser humano.
Não sei se devido à mídia, às montantes ansiedades da vida, aos vazios interiores ou a isso tudo somado – ou a nada disso – as pessoas têm estado a cada dia mais ávidas por grandes palavras.
“Transtorno de estresse pós-traumático”.
“Síndrome das pernas irrequietas”.
“Espondilite anquilosante”.
Existam ou não (não é basicamente esta a questão), pacientes enchem a boca ao falar de seus diagnósticos. E não só deles. De como chegaram a eles, de quantos exames tiveram que fazer, de quantos médicos não descobriram seus verdadeiros males, de quanto...
Tornaram-se assim presas fáceis de corporações vinculadas à área da saúde, de médicos inescrupulosos, de laboratórios farmacêuticos que os vêm buscar na porta da casa (e levá-los de volta, que luxo!).
Se isso tudo, se essa avidez social por doenças e tratamentos não é ela mesma uma invasiva e quase invisível doença, então não sei o que é.

22 de fevereiro de 2011

Bebês Fumantes


Por que o CO (monóxido de carbono) mata?
Porque é um gás que tem o efeito de um bundudo numa dança de cadeiras: ele desloca a molécula de O2 (oxigênio) da célula sangüínea, a hemácia, com a maior facilidade (o CO “gruda” na hemácia com uma avidez 200 vezes maior que o oxigênio).
É gás letal entregue diariamente pelas hemácias aos tecidos do organismo dos fumantes.
Fumantes podem eliminar na sua expiração até 15% de monóxido de carbono (o normal em não fumantes é em torno de 2%).
Isso significa que uma mãe fumante que convive em proximidade respiratória com seu bebê mesmo que fume bem longe dele (sempre fora de casa, por exemplo) irá ainda assim entregar um ar até 7 vezes mais “rico” em monóxido de carbono (somente respirando!) para seu filho todos os dias.
Se ainda por cima for uma mãe negligente em relação ao domicílio, some-se um ar já mais concentrado em CO “naturalmente”.
(isso pra só falar do monóxido de carbono, deixando de lado irritantes e carcinógenos liberados pela fumaça).

Depois do iPod e do iPad, a indústria tecnológica vai criar o iPid e o iPud (não confundir com o iPudim, uma sobremesa). Com que propósito, com que finalidade? Nenhuma. Só pra completar as letras do alfabeto...

18 de fevereiro de 2011

O Tal do Pica-Pau


U’a mãe (elisão apostrófica pra evitar o cacófato) das melhores me disse um dia que proibia sua filha de 3 anos de assistir ao desenho do Pica-Pau.
Motivo?
“Violência”, respondeu.
Para alguns pode parecer exagero, mas confesso que até não acho. Melhor isso do que deixar assistir tudo indiscriminadamente.
O que me incomoda é saber que mesmo essa pequena inocente menina está inserida num mundo “picapauano”, da safadeza, da malandragem, da maldade às vezes gratuita.
E aí, quando outros coleguinhas escolados em Pica-Pau desse mundo entrarem em contato com ela, será que ela não vai estar muito inocente?
Sim, Pica-Pau não é escola de nada. É até engraçadinho, e tem servido às mães para que seus pimpolhos fiquem um pouco quietos enquanto elas fazem as tarefas domésticas.
Mas está de forma irremediável no contexto.
Assim como a Hello Kitty. Assim como a Mônica. Assim como a Puca, e sei lá quem mais.
O uso comercial desses personagens todos talvez seja mais perverso do que uma picapauzada ou outra.

15 de fevereiro de 2011

Culpada!


Pizza.
Genética.
Noitada.
Chocolate.
Churrasco.
Cerveja.
Anabolizante.
Idade.
Pagode.
Pelada.
Peladas.
Quase sem roupa.
Rompimentos de tendões.
Períodos de inatividade.

Tireóide.

A tireóide continua sendo o mordomo das histórias dos gordinhos.
É mais fácil culpá-la. Menos obscura que os meandros da genética e do metabolismo. Seu funcionamento não depende da força de vontade, tão necessária quando se quer perder algum peso.
É causa relativamente infreqüente de ganho de peso (menos de 1% dos casos, em geral). E tratável. Facilmente.

11 de fevereiro de 2011

Sai do Sol!


Lá das terras de onde eu venho...
...há outra prática que tem se tornado comum, sem nenhuma base científica para tal. E – como sói acontecer – com riscos para as crianças submetidas.
É o aconselhamento (algumas vezes até por médicos) do banho de sol para tratar recém-nascidos com icterícia.
Não há e nunca houve qualquer recomendação formal nesse sentido.
A radiação solar tem comprimentos de onda que são provavelmente - digo provavelmente porque nenhum estudo sério até hoje foi feito – totalmente ineficazes para a diminuição do nível sangüíneo da bilirrubina, substância acumulada no organismo responsável pela cor amarela da pele e pela possível toxicidade cerebral (ainda que rara).
Já o comprimento de onda das luzes de fototerapia (“banho de luz”), sim, baixa de maneira efetiva a bilirrubina dos bebês.
Portanto, o que cabe definir são os níveis perigosos a cada momento (principalmente nos primeiros dias de vida e nas crianças com maior risco, como os prematuros) e, se necessário, administrar a fototerapia em ambiente hospitalar.
Aliás, a esse respeito, já um estudo de mais de 10 anos indaga por que mamães ainda levam seus filhotes pro sol, visto que o risco de câncer de pele em exposições precoces é maior do que a possibilidade de absorção de vitamina D (vitamina D essa que pode ser facilmente administrada de forma medicamentosa – e aí sim, com uma indicação mais coerente, ainda que “ultrapassada”).

8 de fevereiro de 2011

Faça Você Mesmo: Teste do Olhinho


Ainda falando do teste do olhinho:
É um exame que os próprios pais podem fazer em casa a hora que quiserem com seus filhos.
Para isso, só precisam de:

◊ uma máquina fotográfica (de preferência digital, por dar o “resultado” na hora)
◊ o bebê a ser testado, claro (obs.: tem que estar acordado)
◊ um ambiente pouco iluminado (item não obrigatório).

Pronto! Agora é só sair fotografando!
Em algumas das fotos vai se ver o reflexo vermelho, que atrapalha o resultado das fotos, mas que quando aparece nas pupilas dos bebês mostra a transparência normal (ou seja, a ausência de opacidade que poderia significar um tumor ocular ou a catarata congênita).

Simples como um click. E nem precisa de pediatra.

(lembrando que teste do olhinho não é pra ver se enxerga como o teste da orelhinha é pra ver se ouve!)

4 de fevereiro de 2011

Baby Check-Up List


A mania recente de tratar recém-nascido como artigo de linha de montagem já está ameaçando resvalar no terreno do ridículo.
Inicialmente (até onde a memória e a antiguidade me permitem) era apenas a manobra de Ortolani, parte obrigatória do exame físico que serve para detectar raras anomalias do quadril.
Depois veio o teste do pezinho. Depois, ainda, o teste do pezinho estendido, com pesquisa de doenças cada vez mais raras.
Vá lá!
Mais recentemente o “teste da orelhinha” que, embora importante, já podia ter ficado no seu nome técnico, sem estardalhaço.
Agora, por último, o “teste do olhinho”! Está ou não está ficando meio ridículo?
Examinar olhos sempre fez parte do exame físico dos recém-nascidos. E é bom que se dê alguma ênfase para os profissionais (ainda que o resultado anormal seja também relativamente raro).
O que “enche” é essa... (como direi?) dãrzização das coisas relacionadas às crianças - e aos próprios pais, que ficam numa ansiedade adicional com tantos “testes do(a)... inho(a)s”.
Esperem e verão, vem mais por aí!
A minha aposta é no “teste do cocôzinho” (ou “teste da caquinha”, sei lá como vão chamar). É sério! Como nos outros testes, pode servir para detectar doenças (sempre raras) pela aparência do cocô.
Mas... precisa?

1 de fevereiro de 2011

Longa Vida


Por que será que tanta gente imagina que, uma vez suspensa a amamentação (seja por horas, dias ou semanas), não se pode mais amamentar porque o leite “estraga”?
Leite vem de glândula. Assim como saliva vem de glândula. Lágrima, suor, vêm de glândula!
E ninguém pensa:
“Não, não vou chorar, faz tempo que eu não choro, essa minha lágrima deve tá vencida!”
Ou:
“Cuidado, senão te dou uma cuspida. Com o tempo que eu não cuspo vô te dissolver inteiro!”
E o suor de dias parado? Será que faz mal pra pele? Será inclusive mais fedido que o suor novinho? Sim, claro, pelo que ele leva junto de resíduo de pele, de bactérias, mas não em composição glandular propriamente dita...
Então: mãe que por um motivo ou outro deixou de amamentar pode voltar a fazê-lo sem absolutamente nenhum prejuízo pra criança, muito pelo contrário!