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31 de maio de 2011

Quem Passou Pro Ken? - Contágio das Doenças Virais


A toda hora ouvimos o comentário:
“Peguei um vírus da gripe dele, que passou pra ela, que pode ser que vá passar pra aquele outro”.
Vírus não é como ave migratória, que se pode pôr uma coleira no pé pra se saber se anda por aqui ou pela costa canadense.
Não se pode (não se consegue) traçar seu itinerário, ainda que se tente.
Pegá-lo ou não pegá-lo depende mais da vulnerabilidade individual (idade, doença prévia, stress, etc.) do que propriamente da exposição a ele.
Como se viu na epidemia (?) da gripe A, há muita gente portadora assintomática ou com sintomas leves. Mas se são portadores, podem passar para outros, mesmo sem sabê-lo.
Melhor relaxar, especialmente nessa época do ano.
Aliás, pessoas “relaxadas” são de longe menos alvo de viroses e outras doenças infecciosas do que as mais preocupadas.

27 de maio de 2011

Conto de "Fats" - Obesidade na Infância



Voltimeia adentra um ou outro pai ou mãe de paciente obeso – via de regra retornante de meses ou anos sem aparecer no consultório - dizendo:
“Agora sim, nós queremos dar uma solução pro problema!”
O problema no caso é a obesidade do filhote.
Aí o desajeitado fado-padrinho aqui pega a vara de condão e: Plim! Corrige a obesidade da volumosa figurinha à minha frente.
Ou assim esperam seus pais.
Anos deixando rolar (às vezes literalmente). Anos deixando a programação da atividade física para amanhã (ou para quando não chover, ou para quando não estiver frio). Anos comendo pão de queijo meia hora após a janta por falta de coisa melhor pra fazer.
Conversa de pediatra alertando das curvas de peso em elevação entrando por um ouvindo e saindo por outro.
Ignorância – proposital, poder-se-ia dizer – sobre o alto componente genético da coisa, que faz com que o mano ao lado da “vítima” seja magrinho como um poste.
E aí a escolha do dia “G” (de Gordo). Dia que os pais motivados por uma calça que não entrou, por uma piadinha mais ofensiva na escola, por uma “crise”, resolvem que assim não dá mais, e marcam a consulta para proferir a fase acima.
É melhor nesse dia do que nunca.
Mas a bronca é com aquele nome de filme famoso:
“À Espera de Um Milagre”.



24 de maio de 2011

Lugar de Parto é na Maternidade



A discussão é sempre apaixonada.
Mulheres e seus familiares preocupados com o excesso de intervencionismo médico e intimidados com o ambiente hospitalar se questionam sobre se deveriam voltar no tempo e ter seus pimpolhos em casa.
E ainda que alguns estudos mostrem um risco do parto domiciliar relativamente pequeno, devemos lembrar que tais estudos quase sempre apresentam falhas (ou, mais propriamente, vieses) na sua realização, porque:
◊ quando os partos domiciliares “ameaçam” complicar, as gestantes são transferidas para as maternidades ou hospitais, inflando a estatística dos resultados adversos nas instituições
◊ mulheres candidatas ao parto domiciliar já costumam ser mulheres com pouco risco obstétrico ou neonatal
◊ as condições do parto domiciliar variam muito de uma região geográfica para outra, na dependência da habilidade e experiência das parteiras, das facilidades de transferência da mãe e da criança em caso de problemas, etc.
Ainda assim – com todas essas possíveis falhas metodológicas – estudo americano realizado no ano passado mostrou uma incidência até três vezes maior na mortalidade perinatal.
Quer saber? Minha experiência pessoal serve para pouca coisa (obviamente), mas o que a gente percebe é que, às vezes, uma viradinha diferente na cabeça (do bebê, gente!), uma pequena ajuda na respiração (a chamada ventilação artificial, mesmo que por alguns minutos), um maior cuidado com a temperatura do ambiente podem fazer toda diferença!

(Obs.: se todas as salas de parto fossem do nível da foto acima - de um hospital de Los Angeles - talvez muito da discussão sobre parto domiciliar deixaria de existir. Mas tentar chegar um pouco mais perto é viável – nos partos realizados em salas de pré-parto, por exemplo).


20 de maio de 2011

A Flora Que Não Aflora



“A infecção não curou muito bem, e então ficou incubada, e voltou agora”.
Esse tipo de coisa é quase impossível de acontecer quando se trata de infecções agudas, sejam elas pneumonias, infecções de garganta ou de ouvido.
Estamos de certa forma quase sempre “infectados”. É esse o conceito de flora bacteriana: são germes que nos habitam, “silenciosos”, sem causar sintomas (as nossas defesas mantêm os bichinhos em cheque constantemente).
Então se você tinha uma infecção de ouvido, por exemplo, há um mês, que curou, e agora voltou a ter dor de ouvido, o mais provável (de longe) é que esteja com um todo novo processo infeccioso.
A cura completa, entretanto, é difícil de ser comprovada. Não havia mais germe ali? Ou ainda havia e estavam controlados pelas defesas?
A segunda hipótese é quase sempre a mais certa.
Mas, de novo, se você experimentou a eliminação dos sintomas durante um período razoável (o que é esse “período razoável? Há controvérsias!), você estava tecnicamente curado da infecção anterior.

(doenças infecciosas crônicas - como a tuberculose, por exemplo - já são bem diferentes. Estas podem evoluir silenciosamente, quase sem sintomas clássicos de infecção, se não tratados adequadamente)



17 de maio de 2011

Caixinha de Surpresa



Recomeça inverno, recomeçam preocupações com doenças infecciosas típicas dessa época, dentre outras a famosa meningite.
Além da costumeira progressão rápida para doença grave, o que causa tanto medo é que diferente de outras doenças infecciosas da infância, no caso de dúvida – meningite ou não meningite – muitas vezes não há outra solução: tem que ser feito o temido exame da punção lombar (“exame do líquido da espinha”).
Ouvido se vê, garganta se vê, pulmões se ausculta, mas os meandros do sistema nervoso não são visíveis ao exame físico rotineiro (já pus na caixa de sugestões do nosso onGodsman que faça nossa caixa craniana transparente – ou então com tampa, para que vejamos o “líquido da espinha” se transformando do habitual incolor para o inflamado amarelo lá dentro).
E às vezes quando se tem sintomas inequívocos da inflamação meníngea (como diz aquela operadora de telemarketing) “pode estar sendo meio tarde demais”!



(Sempre aproveitando para lembrar: o que chama atenção para o diagnóstico de meningite não é febre - comum a muitas e muitas doenças - mas sim a súbita e prolongada alteração de consciência. Aquela coisa da criança doente que fica "olhando pra ontem" sem motivo aparente)



13 de maio de 2011

Satélites



Não é bem um fiiilme...
E, também, não é pra se ver com sono.
É mais uma interessante experiência no setor escolar.
Uma professora de uma escola maternal na França propõe ensinar Filosofia para seus alunos, todos eles na faixa dos 4 anos de idade.
O filme (ainda sem versão brasileira) chama-se “Ce N’Est Qu’un Debut” (“Apenas um Começo”) e nos espanta pela capacidade desses pequenos compreenderem o mundo que os cerca.
Cada aula apresenta um tema. Amor, Amizade, Morte, etc.
Difícil dizer que o que sai dali seja muito diferente do que sairia de um grupo de adolescentes, ou mesmo de adultos.
A gravidade das expressões nos temas mais “sérios”, a malícia com que abordam certos temas “picantes”, a lembrança sobre os assuntos abordados em classe quando chegam em casa, tudo nos faz pensar o quanto erramos quando ameaçamos tratá-los como “bobinhos”.
Pelo menos nos dias de hoje...


10 de maio de 2011

Frutos Novos de Árvore Velha



Sem dúvida que a gravidez precoce é um problema mais sério (e que perpetua o ciclo “estrangulamento de perspectivas – deseducação – pobreza – novas gravidezes”).
Mas a gravidez de mulheres a partir de certa idade também costuma gerar problemas.
Mulheres dos 35 pra cima deveriam portar uma inscrição (uma tabuleta?) na entrada (no sentido de quem eventualmente entra) ou na saída (no sentido de quem, finalmente, sai) dos seus órgãos de reprodução, interditando o acesso!
Não falo dos óbvios riscos para a sua saúde, nem dos riscos para o bebê.
Falo das mamães-avós, aquelas mulheres em que tudo é medo, tudo é “ai, meu Deus”, portadoras de um constante ar de tardio arrependimento da coisa.
Falta nelas aquelas saudável irresponsabilidade das jovens, do deixa que as coisas se ajeitam, do permitir que os filhos respirem.
Para quem me lê, pode parecer uma generalização grosseira (também nos dois sentidos) e é, muitas vezes, fato genuinamente desejado ou - ainda nos dias de hoje - “acidental”.
Mas é um recado (ou um aviso) que pouca gente dá...



6 de maio de 2011

Bicho Raro



Já há 20 anos, quem anunciava que ia fazer pediatria ouvia um:
“Ce tem certeza?” ou um: “Quer ficar pobre?”
O dinheiro nunca foi um motivador para os que se decidiam a ser pediatras.
O genuíno prazer da lida com as crianças e o gosto pela ciência médica eram e deveriam continuar sendo os verdadeiros motivos da escolha.
Acontece que no dia a dia a coisa às vezes se desvirtua.
Há bocas para sustentar (no fogão aqui de casa são seis!).
Há a enorme pressão diária que a reportagem recente do Fantástico muito bem revelou.
Há a inevitável comparação com o ganho dos demais colegas de profissão.
Tem havido ainda uma gradativa desvalorização pela “medicina de especialidade”, a “medicina de shopping”, que faz com que pacientes decidam – na maioria das vezes erradamente – o que deve ser bom pra eles.
Vai ter volta?
Ainda acredito – acho que quero acreditar – na revalorização profissional, daqueles que ainda trabalham orientados mais pelo coração que pelo bolso.
Mas que o pediatra vai se tornando raro, isso vai.



3 de maio de 2011

Tira a Touca



Vento e dor de ouvido. Qual a relação?

Algumas pessoas (poucas) quando apresentam algum processo inflamatório no ouvido (seja no conduto ou na membrana timpânica - otites externas ou otites médias) e "saem no vento" em dias muito frios apresentam dor (ou, mais exatamente, acentuam a sensação dolorosa).

Nada de partículas etéreas - ou eólicas, neste caso - maldosas, que entrariam pelo ouvidinho do seu querido bebê, fazendo muito mal a eles.

O início da história é viral ou bacteriano. Ou mesmo traumático, no conduto.

Sem inflamação prévia, sem dor de ouvido.

E não há furacão que a provoque.