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28 de dezembro de 2012

Dos Diabos


Com o calor dos diabos pelo qual estamos passando em boa parte do país, vem novamente a preocupação com o ar condicionado: faz mal?
Como brincadeira dá vontade de responder: faz! Na selva amazônica, no deserto do Saara não leve ar condicionado. Vai fazer um mal incrível!
Calor, assim como frio, demais faz mal. Agride os organismos. Fôssemos sapos (pecilotérmicos, biologia, lembra?) estaríamos numa boa, frio ou calor. Humanos, somos maltratados pelos extremos (as mortes em adultos, por exemplo, aumentam muito assim no calor quanto no frio extremos).
Ar condicionado é luxo. Ainda hoje separa classes sociais – mais que tablets ou iPhones. Mas para os que podem ter, seu uso não representa aumento significativo nos riscos de problemas de saúde.
E isso vai contra algumas opiniões que ouvimos por aí. Hoje mesmo vi um colega pneumologista na TV citando aumento em todas as “ites” (sinusite, bronquite, etc.) com o condicionamento do ar. De onde tiram isso (cientificamente, digo), mon Dieu?
 

25 de dezembro de 2012

É ou Noel?



Com o degelo das calotas polares, Manoel, ex-Papai Noel, hoje mais propriamente chamado "Manoelito" - combina melhor com o clima - faz de um tudo para poder se manter (economicamente) ativo.
Atrelou um trio de camelos ao seu veículo, que agora precisa de rodas, com pneus slick.
Mas não está fácil.
Crianças estão informadas. Desde o berço. Do momento em que pensam se questionam se Manoelito existe mesmo ou se é, aspas, somente um mito cristão ultrapassado destinado a mantê-las obedientes o ano inteiro além de um efetivo impulsionador de vendas, fecha aspas.
As compras pela internet também fazem o seu estrago. Pra que sentar no colo do velhinho se só se precisa dos 16 dígitos mágicos do cartão?
E as cartinhas? Quem escreve cartinhas hoje em dia, meu Deus?
O obsoletismo chegou até mesmo aos shoppings e frentes de lojas populares, onde está mais barato botar um bonecão mecânico do que pagar encargos e comida.
Por isso, não se assustem: esse sujeito agora magro, queimado do sol, velho e barbudo com um saco nas costas andando pela sua rua pode não ser um pedinte. Pelo menos nessa época. 

21 de dezembro de 2012

À Pôca Lispis


Então. Hoje, mais um fim do mundo.
Imagino que com esse seja mais ou menos o décimo oitavo que só eu participo. Uns maiores, outros menores, mas deve ser por aí.
Lembro de alguns fins com reportagens de abrigo subterrâneo (fim do mundo vai ter “subterrâneo”?), de máscaras de gás (como se o fim do mundo significasse fim do ar respirável, apenas) e até – como o de hoje – com retrospectivas dos fins de mundo anteriores (todos falhos, como sabemos, até pelo menos daqui a pouco).
Bem que nos avisaram pra não usar plástico. Pra só usar água no final da lavada. Pra retirar todo o carpete de casa. Pra limpar o cocô do cachorro na rua (sem plástico! mas mesmo que o cagão do cachorro não fosse nosso?). Pra que nos abraçássemos mais. Pra... que mais, mesmo?
Não sei. Não fizemos, viram? Agora, estamos aí, todos no mesmo barco. E sem Noé pra comandar (se bem que Noé tinha uma leve preferência pela bichalhada...).
Parece que esse é pra valer.
Ou não.
Mas eu é que não vou ficar aqui escrevendo nesse blog que ninguém lê enquanto o mundo se derrete. Ou se inunda, ou se explode, ou... Que angústia esse negócio de não darem detalhes, de não darem sobrenome pra esse fim do mundo!
Fui! (Fomos!) 

(Não mais engarrafamento, não mais mosquito, não mais quiabo, não mais Michel Teló? Nááá! Nada pode ser tão bom!)
 

18 de dezembro de 2012

Os Excessos dos Que Nada Têm


Parar tudo para assistir um jogo, ok. Tomar umas cervejas, ok. Ficar eufórico com um título, ok. Buzinar, soltar fogos...
Vender a casa, deixar a família na penúria para ir assistir a um jogo no Japão, quebrar tudo quando ganha, quebrar tudo quando perde, matar...
No outro hemisfério...
Um rapaz que tem problemas, claro (mas quem não os tem?), os resolve tentando quebrar o recorde mundial de crianças abatidas numa escola - e não por coincidência essas tragédias têm a escola como palco (já comentei sobre isso aqui).
A era dos excessos vai fazendo suas vítimas, de todos os tipos.
Os silenciosos, os comedidos, os educados, os civilizados, ainda maioria, estão, no entanto, sendo engolidos.
Não dá notícia ser vice e ir trabalhar engravatado no dia seguinte. Notícia é perder o emprego, campeão. É, como sempre, o fanatismo (aparentemente) cuidando do social.
É ridículo dar a vez, agradecer. Bonito (massa!) é arrancar seu lugar com unhas e dentes.
Construir é devagar, destruir é rápido. Educar é penoso, massificar é muito mais fácil, pois se alimenta da ignorância, da anencefalia.
A indústria da cerveja não nos quer tranquilos. Ficar em casa, parado, não vende carro. Silencio não precisa de iPhone. Civilidade economiza o planeta mas... o planeta ainda não acabou, não é mesmo?
 

14 de dezembro de 2012

Rush


Pense no músculo do coração (ou no próprio coração, pois ele é basicamente um grande músculo) como uma área urbana de trânsito pesado.
Quando o trânsito engarrafa nas vias principais, os veículos dirigem-se às vias alternativas.
Nos ramos das artérias coronárias (que irrigam o coração), quando o “trânsito” (o fluxo sangüíneo) ameaça “engarrafar” (estreitamento por arteriosclerose) também abrem-se vias alternativas (a chamada circulação colateral) que, nas pessoas de mais idade e fisicamente ativas, suprem as necessidades de funcionamento do músculo.
Nas fisicamente ativas!
Porque em pessoas inativas não há estímulo para as vias colaterais se abrirem (o exercício é um efetivo simulador das condições que levariam ao infarto do miocárdio, como as emoções fortes, o esforço físico súbito, mudanças bruscas de temperatura, etc.).
Daí a presença do infarto em idades precoces em sujeitos inativos, obesos ou não.
Daí também a evolução fatal mais comum em pessoas relativamente jovens inativas do que em idosos ativos, onde as vias colaterais já costumam estar mais estabelecidas.
 

11 de dezembro de 2012

Visões do Mundo


Nossas variações de humor se assemelham ao uso de óculos com lentes de cores diversas.
Para alguns, a lente se mantém quase o tempo todo escura, muito escura, e com pouca variação entre um período e outro. São os deprimidos “endógenos”, que necessitam tratamento para suavizar o tom (nem sempre conseguem).
Para outros, a lente está quase sempre clara, como o próprio cristal de que é feita. Ninguém a tem 100% do tempo clara, é evidente. Mas há equilíbrio na gradação, e a recuperação da clareza se faz sem muita demora. É o que acontece com a maioria dos que se convencionou chamar de humor “normal”.
Há os ciclotímicos que, ainda que não sejam patológicos, notam de forma nítida a variação periódica da cor de suas lentes, algumas vezes em períodos curtos.
O bipolar é um exagero da situação anterior. Além disso, tem lentes coloridas exclusivas, nas fases ditas maníacas (humor exaltado), ou mesmo espalhafatosamente dégradé. As viseiras escuras, entretanto, estão sempre à espreita, prontas para serem colocadas. O tratamento medicamentoso visa neutralizar esta festa de cores, mesmo que à custa de um tom “meio sem graça”.
Crianças também variam as cores de suas lentes. O conhecimento a respeito é que é menos difundido, gerando confusão nas interpretações de sintomas.
Quem não verbaliza, somatiza. Isso é notado em adultos. Mas as crianças são o exemplo claro, notadamente em idades menores.
Não transformemos todos em doentes. Mas convém prestar atenção em traços de personalidade, em variações ou alterações importantes do humor. Principalmente nos que não falam ou falam pouco.
 

7 de dezembro de 2012

Pego em Tiroteio

 
Falando como pediatra, alguém que se depara à toda hora com menores - e maiores - com problemas de ordem emocional dos mais variados:
Tenho me assustado com o atual embate (já não é mais um debate) entre psiquiatras e psicólogos (mais especificamente psicanalistas) sobre quem trata o que - e, principalmente, se alguém realmente trata efetivamente alguma coisa. E mais, se muitas das tais coisas são verdadeiramente "tratáveis".
A briga é, ao que parece, no âmbito anátomo-fármaco-funcional ("frios" psiquiatras) versus "história de vida e suas conseqüências" (bem intencionados psicólogos), e aparentemente vence quem agrada mais ao paciente, pois há pacientes com gravidades e gostos muito diversos.
Nossa atual (e perigosa) medicina das "evidências" (perigosa porque esquece que evidências são mutáveis, e não sinônimos de verdade eterna) pende muito a balança para o médico, o fármaco, a doença.
Quanto à mim, ainda que muito bem intencionado, ando muito lerdo a dar o veredito.
 

4 de dezembro de 2012

Negação do Prazer


(o título pode sugerir outra coisa: esse tema não é do mundo da Internet, é do submundo, visto que o mundo é o da maioria, da “sacanagem”, o submundo é que é todo o resto)

Pensa aí:
Que prazer na vida é imutável?
Qual seu prazer não perdeu cor com o passar do tempo, não enfraqueceu?
Com o prazer da leitura (para quem o possui), isso não acontece. O contrário até. Com a idade, vamos criando elos entre o que lemos outro dia e o que lemos lá longe, no passado.
Vamos ficando mais seletivos, sem perder prazer no ato.
De quebra, ficamos (aparentemente?) mais sábios.
Um sorvete não pode ser relambido.
Um prazer sexual “gasta” (no momento e na somatória dos momentos).
O livro não nos abandona. O prazer da leitura comove velhos e novinhos.
E é um prazer que de mal só faz gastar a bunda (ops!). Vá lá, e uns trocados também, mas nem isso precisa. Há bibliotecas, hoje em dia há centenas de ebooks gratuitos, de domínio público (e muita coisa boa), basta um tablet de segunda mão para mergulhar nesse mar de conhecimento. Nessa imensidão de linhas de centenas de cabeças, com o sagrado poder de transformar a nossa.
Espera: você está se negando esse prazer? Pior: vai negá-lo ao seu inocente filho?
 

30 de novembro de 2012

Até Antiquando?


A Sra. X (não seu verdadeiro nome), mãe da paciente Y (também não) chega com o diagnóstico pronto:
-Dr., não é ... o que ela tem? Eu li no Google, e tudo bate! Veja, ela tem isso, tem aquilo e aquilo outro lá. Só pode ser...!
Diagnósticos, minha senhora (disse eu) não são feitos assim. Ou não devem ser!
Não se pensa em algo (por exemplo, ...) e aí vai se verificando se os sintomas do paciente “batem” com aquilo.
Aprende-se (ainda?) na faculdade:
Para se pensar em um diagnóstico, seria necessário mais de um software especializado do que de um Google.
Um software que juntasse a história do paciente (sintomas) com os sinais do exame físico (sinais) e – havendo ainda necessidade, ou para confirmação – exames laboratoriais dirigidos para a(s) suspeita(s) clínicas (e não a esmo!).
Não há diagnóstico da moda (alguns são mesmo extremamente démodés), bem como não deve haver exames da moda.
Médicos (os tais softwares, ainda) não devem diagnosticar para agradar (nem receitar, nem pedir exames – mais aí não rima!).
Mas tudo isso tá ficando muito antiquado. Tão antiquado quanto um... disquete!
 

27 de novembro de 2012

No Olho ou na Balança?


De vez em quando surgem mães preocupadas com a perda de peso recente de seus filhos.
E a pergunta óbvia que nós fazemos:
- De quanto foi essa perda?
 
(... – gorjeios e criquilar no consultório, além da moto barulhenta passando pela rua...)
 
Perda de peso recente pode significar problema importante de saúde. A diabete, o câncer, os transtornos alimentares são alguns dos que vêm à mente.
Mas ela deve antes de tudo ser quantificada. E de preferência nas mesmas condições (mesma balança, mesma quantidade de roupas, etc.).
A investigação aprofundada, então, só se justifica nos casos em que essa perda foi real e sem outra explicação mais óbvia que não a presença de doença (por exemplo, a transferência de uma criança “enjoada para comer” para a casa de algum parente).
No mais das vezes percebemos que a diferenças de peso são mais percebidas pelos pais (avaliação subjetiva sendo influenciada pelos instintos paternos) do que real.
 

23 de novembro de 2012

Preguicinhas


Sabe cena em slow motion de filme de ação?
“Noooooooo!!!”...
Então. O feto dentro do útero materno se move sempre assim!
É líquido. É apertado.
Então tem que se mexer desse jeito.
Quando nasce, ainda é meio assim.
Até que, por volta dos 3 meses, começa a ter movimentos descoordenados súbitos, meio como quem leva sustos com os próprios movimentos.
E aí, o bebê que não faz isso e ainda se move da forma antiga, em slow motion, sinaliza com probabilidade muito grande a presença de lesão cerebral (antes mesmo que os exames de imagens como o ultrassom cerebral mostrem algo).
É um dos motivos para se levar o bebê mensalmente para as consultas de puericultura.
Essa avaliação neurológica por parte do pediatra é meio simples, mas pode revelar bem cedo algum problema que só se torna evidente para quase todos a partir dos 6 meses. 
 

20 de novembro de 2012

Nome Aos Bois


Identificar a causa da febre das crianças pequenas como “virose” já virou piada no mundo todo.
Mas o pior (ou melhor) é que na grande maioria das vezes a causa das febres é mesmo algum vírus!
Foi o que mostrou novo estudo deste mês.
Em 75 crianças abaixo dos 3 anos com febre acima dos 38ºC sem outros sintomas quaisquer (somente febre!), exames de tipagem viral no sangue ou em secreção nasal identificou vírus causador de doença em 76%.
O estudo conclui citando que nesta faixa etária a presença de infecção por bactéria (mais grave) sem outros sintomas a não ser febre gira em torno de 1%.
-Ah, então...
Devagar com as conclusões!
A maioria destas crianças precisa de boa avaliação médica (conversa, estetoscópio, otoscópio e palitinho na goela inclusos) para afastar clinicamente infecção mais séria.
Ainda é inviável se fazer exames para detectar os vírus mais comuns (adenovírus, herpesvírus, enterovírus) causadores dessas febres.
 

15 de novembro de 2012

Gostosuras ou "Eu Sou Madura"


Um dos vídeos que estão bombando na semana é o da menina de 3 anos de idade hiper-madura para a idade.
A mãe fica (meio maldosamente) incitando a mocinha:
“Filha, me desculpe, você queria doces no Halloween mas a mãe não pôde comprar. Você não está “louca” comigo, está?”
E a menina (visivelmente tentando se controlar, meio que enxugando uma lagriminha):
“Não. Eu não estou “louca”, eu estou somente triste...”
E a mãe segue espezinhando: “Você não está mesmo louca comigo?...”
A menina compreensiva vai desconversando a mãe o tempo todo (num inglês perfeito até para um adulto, ainda que algo gaguejado).
Desconversando a mãe e desconversando sua própria frustração, com a falta de consideração da mãe.
E no fim de uma conversa de adulta pra adulta a mãe descarada ainda pede um beijo, coisa que a menina concorda numa boa.
Raro. Hoje em dia, ainda mais.
Mas ao mesmo tempo mostra a capacidade (inata bem como aprendida) das crianças de serem compreensivas, de não terem que reagir com um “Buáá! Eu quero, eu queeeerooo!”.
 

13 de novembro de 2012

Capítulo À Parte


Se a gente parar pra pensar, é difícil chamar a maioria dos problemas alérgicos propriamente de “doença”. Fica muito pesado.
Até porque quase todos nós temos ou já tivemos alguma manifestação alérgica e não por isso estamos autorizados a nos dizer “doentes”.
E as alergias têm uma característica muito particular menos nítida em grande parte das doenças.
É a grande, às vezes enorme influência do emocional.
Alergias podem se transformar em problemas sérios se deixarmos nos levar por elas.
De vez em quando vemos alguém com rinite alérgica se queixar de que não pode trabalhar!
Conto sempre (e sempre sem entregar o santo, somente o milagre) de um meu paciente adolescente, criado pela avó rígida e super-protetora, que tinha crises seríssimas de asma. Via-se como uma criatura frágil, apesar do seu corpanzil.
A avó nunca aparecia à consulta. Pedia para outros familiares o levarem, talvez porque temia o que a ela se diria.
Quando finalmente compareceu e foi convencida da necessidade do neto se comportar como um adolescente normal, que deveria sair de casa, jogar bola, pular muro, se sujar, etc., o neto nunca mais apareceu: tinha mil coisas a fazer mais importantes que ficar “doente”!
Resolveu-se o problema do neto. Provavelmente agravaram-se os problemas da avó, quaisquer que fossem.
O pediatra “perdeu” um paciente (até porque já estava grandinho). O geriatra da vovó deve ter ganho mil problemas.
Fazer o que?
 

9 de novembro de 2012

Tiros no Escuro


Grosso modo, a estatística de doenças infecciosas em crianças pequenas (até 4 a 5 anos) é a seguinte:
De cada 10 crianças, 9 têm doenças causadas por vírus, com resolução espontânea e sem necessidade de antibióticos.
Dessa forma, apenas uma entre dez costumam ter doença bacteriana, com necessidade de antibiótico para resolução.
 
Então – você deve estar se perguntando – por que se usa tanto antibiótico pra essas mesmas crianças?
a) por desinformação médica (quanto à estatística acima)
b) por erro diagnóstico por parte do profissional
c) por pressa na “solução” do problema da febre, tanto por parte dos pais quanto por parte dos médicos (embora essa seja uma conduta na maior parte das vezes errada)
d) pela dificuldade de seguimento da criança (quando essa é atendida em serviços de emergência), o que também não deve ser uma justificativa válida (ainda que em alguns casos aceitável)
e) por simples falta de consciência profissional
 
Veja que dos cinco motivos citados, pelo menos três são de responsabilidade do médico (um dos fatores é mais relacionado a dificuldades estruturais dos serviços de saúde). Ainda assim, mudanças de atitude têm dependido mais da informação e tomada de consciência por parte dos próprios pais.
 

6 de novembro de 2012

Tic, Tac, Tic, Tac...


Não é a minha área e o tema é meio espinhoso, mas um estudo sobre o câncer de próstata ilustra bem os tempos neuróticos que a medicina atual nos faz viver.
Em 162 homens de várias idades falecidos por trauma se fez biópsia da próstata para verificar a presença de células cancerosas.
E, sem surpresa, se verificou que quanto maior a idade maior a probabilidade de se encontrar tecido canceroso. Na faixa dos 40 anos de idade essa incidência ficou em torno de 45%.
Veja bem: 45%! Ainda que a amostragem seja pequena, 45% representa quase a metade da população masculina!
Agora lembre-se das recomendações atuais para o screening do câncer de próstata: ao redor dos 40-50 anos de idade todo homem deveria se submeter a exames periódicos, blá, blá, blá...
Então, mesmo que você não seja muito bom em matemática, já percebeu que muito provavelmente quase a metade da população masculina que se submeta a esses exames preventivos vai ter a sua vida completamente alterada pela ameaça, pela nuvem negra de um câncer pairando sobre suas cabeças!
A próxima pergunta é: quem irá evoluir para sintomas? Quem se beneficiaria de tratamento (cirurgia, radioterapia, tratamento hormonal, etc.) e quem teria muito mais prejuízo (pessoas que vão morrer de outra coisa nas próximas décadas, como foi o caso destes pobres homens do estudo citado)?
Felizmente, boa parte da sociedade (médica bem como a leiga) já está começando a se dar conta da falácia do screening universal, da indústria do medo que estamos alimentando.
E a mama, e os problemas coronarianos, e o cólon (intestino), e...
Vale a pena estarmos vigilantes. Vale a pena pensarmos sobre o estilo de vida que queremos levar.
Tem gente que põe o despertador para daqui uma hora e dorme tranqüilo. Tem gente que conta cada minuto até o despertador tocar...
 

2 de novembro de 2012

TechnoKids


Feriado, ninguém está lendo esse blog, me ocorre de citar o que muito propriamente falou o comediante Nick Griffin:
“Gente, a criançada hoje em dia tem iPod, Iphone, Ipad, Wii, TV satélite... E se diz que têm TDAH! Graças a Deus, têm TDAH! Para poderem compreender tudo que as cerca!”.
“Na verdade, as crianças não têm déficit de atenção. Só estão tentando estar atentas!”
“Antes eu não pensava em ter filhos. Mas, agora, com o avanço da tecnologia, como os computadores estão ficando complicados, acho que preciso de um”.
“Você os põe ali, espera alguns momentos, e as coisas se resolvem!”.
Isso é engraçado? Ou é a mais pura verdade?

30 de outubro de 2012

Interpretando o Nada


Não existe uma “interpretação de sonhos”, como queria Freud (eu sei, psicanalistas, não devo usar o nome de Freud em vão!).
Sonhos são historinhas que inventamos, como se fôssemos roteiristas de cinema, após uma grave concussão. Além disso, boa parte das lembranças após acordarmos já vem toda retocada pelo nosso subconsciente, usurpador de roteiros.
Estudos recentes têm mostrado inclusive que sonhos e pesadelos não costumam distinguir pessoas normais das com patologia mental, mesmo as mais graves.
Um detalhe: algumas medicações, estas sim, podem influenciar nos sonhos por influenciarem no sono e nas suas diversas fases.
Em crianças pequenas sonhos e pesadelos não passam de sensações (boas ou assustadoras). Ainda não possuem a capacidade de elaborar histórias concatenadas, durante o sono ou mesmo após o despertar. 
 

26 de outubro de 2012

Dados Esparsos, Urgente!


Curiosa a campanha do Itaú de estímulo à leitura para as crianças.
Começa com o fato da propaganda ter um belíssimo apelo visual – é uma superprodução publicitária. E é aí justamente onde reside um dos grandes inimigos da leitura. O visual pronto briga feio com a imaginação, com a capacidade criativa (mas ambos não são mutuamente exclusivos).
Um belo sapo pulando atrás da princesa deixa margem a pouca coisa a mais. E a leitura não é isso. Ou não é isso.
Por isso, os pais devem mesmo ser conscientizados da grande importância de ler para seus filhos. Os benefícios são muitos, e vão desde o estreitamento de laços afetivos à criatividade e capacidade cognitiva enormemente ampliada.
Pais viciados em gadgets mas avessos “àquela-volumosa-coisa-de-papel-cheio-de-letrinha-ótima-para-induzir-ao-sono-assim-que-se-pega” vão dando péssimo exemplo para os filhos. Que de resto estarão com a maioria, mas... é isso que realmente importa?
Estou começando a duvidar (mas devo estar errado) que a atual geração de crianças vá ter capacidade de seguir qualquer narrativa quando forem maiores. Seja num livro, numa revista, num filme tradicional, numa conversa “tradicional” ou mesmo numa pequena peça publicitária.
 

23 de outubro de 2012

Droga Hollywoodiana


 
Temos observado nos últimos tempos um recrudescimento no uso da escopolamina (Buscopan®) na infância.
A escopolamina tem o seu espaço como analgésico para dores tipo cólica, principalmente em crianças maiores (pelo menor risco) e em dores mais importantes e de curta duração.
Minha implicância é com o uso em bebês, e em especial nas famosas “cólicas” dos primeiros meses.
Totalmente contra-indicado, seu único efeito farmacológico se deve basicamente ao efeito sedativo secundário, que faz com que algumas crianças efetivamente “durmam melhor” (chorem menos). É a velha história de medicalizar incômodos.
A escopolamina, lembro sempre, é tão poderosa nos seus efeitos no sistema nervoso central que já foi usada como “droga da verdade”: seus efeitos alucinógenos – em doses mais altas – fazia inimigos confessarem segredos de estado em interrogatórios, fato também retratado em filmes como Os Canhões de Navarone, O Último dos Valentões, A Casa da Rua 92, Desafio das Águias, e Blood Hunt.
Como se vê pela quantidade de filmes que participou, já poderia ser uma droga candidata ao Oscar!
 

19 de outubro de 2012

A Gente Não Quer Só Bebida


De vez em sempre somos solicitados a esclarecer a barafunda nutricional em que se transformou o alimento líquido da criança (do pré-escolar, principalmente).
Tentando, então, dar uma luz na coisa, hierarquizando os alimentos segundo o valor nutricional (mas já com dois enormes adendos):
1º) aquelas coisinhas brancas que você, mãe, vê dentro da boca do seu filho são pequenos dentes, precisam ser usados mastigando alimentos sólidos de vez em quando, OK?
2º) água, embora não possa ser considerado “alimento” é uma prioridade, talvez principalmente pelo adendo acima: quem toma muita bobagenzinha, desloca a sede de água para outros líquidos: como conseqüência come menos alimentos importantes nutricionalmente, pois já se entupiu de calorias mais pobres – menos vitaminas, fibras, etc. Sem falar no potencial cariogênico (causador de cáries).
Mas vamos à tal hierarquia:

1) leite : grande fonte de cálcio e proteínas nobres. Claro, de novo, desde que o(a) cara não fique ali, até casar, mamando o dia inteiro, né? Lembrar que para muitas crianças lactose demais – o açúcar próprio do leite, não a sacarose acrescida em mamadeiras – incomoda: prende o intestino, causa gases que geram dores abdominais freqüentes (*motivo de muita consulta pediátrica, muita preocupação dos pais, muito exame desnecessário, muita confusão com outras causas de dores).

2) “leite” de soja: não esquecer que é alimento industrializado. Portanto – já por princípio – não deve ser consumido em excesso (como já disse um humorista, você não vê nenhum fazendeiro acordando de madrugada para tirar leite de soja da vaca!).
Há importantes diferenças nas composições nutricionais: os mais “grossos” (acrescidos ou não de sabor) têm até 5-6 gramas de proteína por copo. Os outros são quase que “suquinhos disfarçados”, com pouca proteína e muito suco de baixa qualidade.

3) sucos: ao naturais de muito, muito melhor qualidade nutricional (fibras, vitaminas), os “de pacote” são péssimos.
A água de côco pode ser aqui classificada (é, de certa forma, “suco de côco”): muito utilizada hoje em dia, meio mistificada como algo muito saudável, mas não é nenhuma maravilha.

(Ei! E os “chazinhos”? Um “capítulo” à parte. De novo, depende de como são utilizados. Chá de quê? Há ervas que fazem mal. Vão ser dados em excesso? Adoçados?...)
 

16 de outubro de 2012

Neuróticos-Hipocondríacos Anônimos


Difícil diferenciar às vezes o que é verdadeira hipocondria (mania de doença) do que é “apenas” uma neurose de overinformation (sobrecarga de informação e, por conseqüência, sobrecarga de preocupação), o que, no final das contas, dá no mesmo.
Chamemo-los (ou chamemo-nos, pois eu me incluo – e muito – nessa) de NH (neurótico-hipocondríaco).
E como saber se somos NH?
É fácil. O verdadeiro NH: 

√ faz check-list (horário!) de sintomas:
Dor de dente? Melhor. Palpitação? OK. Dor lombar? Ainda dói...
√ ao acordar, pensa: “Nossa! Deus me deu mais uma chance!”
√ conversa com bula: “Transtornos gastrointestinais? Mas de que tipo?”
√ se delicia com a surpresa do médico: “Poxa, nunca vi um desse tamanho!”
√ adiciona site médico aos favoritos
√ não acredita em acupuntura, mas também não duvida
√ se questiona: “Por que nunca precisei de um proctologista?”
 

12 de outubro de 2012

Quadro A Quadro


Se você tem mais de ... (deixa pra lá!) talvez lembre de um desenho animado da televisão chamado Jambo e Ruivão.
Era uma interminável sequência de breves capítulos em que quando um novo acontecimento se dava, lá vinha toda a recapitulação do episódio anterior – aparentemente para economizar o trabalho do roteirista, ou do desenhista.
Dessa forma, crianças do mundo inteiro eram mais ou menos embalados no soninho do sofá. Ou iam fazer coisas muito mais divertidas – como jogar bola de gude, por exemplo.
Hoje, não. Com exceção dos desenhos para bebês (bebês também precisam consumir, e mandam nos controles!) como os Backyardigans, a maioria dos desenhos atuais nos faz ficar pregados nas poltronas, se realmente quisermos nos manter a par da história.
Isso ocorreu no espaço de mais ou menos duas gerações.
O cérebro das crianças atuais teve então que se adaptar a essa velocidade toda.
Não foi uma adaptação darwiniana. Não se produziu por uma evolução genética, lenta, dada através de milênios.
Além disso, o efeito vai se produzindo em cérebros imaturos, susceptíveis, moldáveis.
E mais: hoje as crianças podem assistir à TV o dia inteirinho, 24 x 7 (pelo menos as “pobres” aquinhoadas com TV a cabo ou por satélite).
O efeito total dessa meleca?
Dentre outras causas, o diagnóstico muito mais frequente dos transtornos de déficit de atenção/hiperatividade que estamos observando.
Crianças irrequietas, excessivamente animadas, com carinhas de quem está morrendo de pressa para a próxima cena – seja na tela ou na vida real.
 

9 de outubro de 2012

Branca de Neve e Meio Anão


Quando se vê os panos pra manga que a aparente deficiência de crescimento gera, pode-se pensar que crescer abaixo do esperado é algo comum.
O crescimento das crianças tem a ver muito com expectativas, e muitas vezes as expectativas são claramente irreais – como no caso clássico de uma família baixa que espera que o filho seja alto.
Além disso, com freqüência se ignora que o crescimento é um fenômeno complexo, que tem a ver com genética, mas também com tempo individual (velocidade de crescimento), condição social, presença ou ausência de “interruptores” de crescimento (como doença ou uso de medicação – quase sempre reversíveis no caso desta última), condição psicológica (sim, fatores psicológicos interferem no crescimento!), etc.
Os fatores acima são muito mais frequentes do que problemas endocrinológicos, como a atualmente “famosa” deficiência do hormônio do crescimento (a “pílula mágica” dos baixinhos).
 

5 de outubro de 2012

Peixe Ao Rio


 
Qual a motivação do jovem para aprender uma coisa boa?
Essencialmente agradar a si mesmo agradando aos outros, mostrando que sabe.
E qual a motivação para aprender uma coisa errada?
A mesma!
Por isso a condução de quem deveria se interessar por ele, o monitoramento, a valorização do certo (que pode a ele até parecer errado) e a explicação do por que o errado é errado (que para ele pode parecer muito certo, até porque certo e errado se relativizam, muitas vezes para atender à interesses escusos da má sociedade – outro conceito relativo – e da sociedade de consumo).
Há gente que acha que educar um filho é como devolver um peixe ao rio, que ele encontra seu próprio caminho.
Seria bom, num riacho límpido, apenas com correntes favoráveis.
 

2 de outubro de 2012

Pôxa


“Com todos esses anos de experiência (ai! essa doeu!), alguma vez o senhor já viu algum caso parecido?”
Não. Na realidade, não tinha visto nada parecido.
E foi preciso, claro, contar a verdade.
Mas...
Serve tentar se colocar no seu lugar – ainda que impossível?
Serve a curiosidade de como isso vai evoluir, e estar realmente interessado no caso?
Servirá minha ignorância transformá-lo num paciente “VIP”?
Provavelmente nada disso funcionou mais do que se citasse “os inúmeros casos iguais àquele que eu tratei, e com o inevitável sucesso”.
E se era assim, era melhor mesmo que fossem atrás do médico mais experiente (ainda). Ou alguém especializado na área.
Se precisar de mim, tô aqui. Mesmo que pouco vá ajudar.
Mesmo que dê pitacos errados.
Mesmo que atrapalhe.
Mas é melhor do que muita gente pode fazer.
E sempre lembrando: quem tem experiência anterior com o teu caso?
 

28 de setembro de 2012

Escorregando na Pomada


 
Dentre os medicamentos para crianças que se compra “por conta” em farmácias, os campeões dos erros, de longe, são as pomadas e cremes.
E as “campeãs de audiência” são as pomadas com combinação de várias substâncias numa pomada só.
São, na maioria das vezes, uma combinação de dois remédios para fungos + antibiótico de ação local + corticóide (na maioria muito mais potente do que o recomendado para a pele das crianças).
É aquela coisa do “não sabemos o que é, tentemos de tudo, que algo há (se Jesus Cristinho e meu padinho padre Cícero quiserem) de funcionar”.
A solução dos problemas de pele começa – como demais todos os outros problemas médicos – com um bom diagnóstico. A partir daí, quase sempre um único medicamento é o suficiente.
Mais remédios, mais chances de efeitos colaterais.
E, no caso de pomadas e cremes comprados por conta, é o estágio anterior ao rendimento à necessidade de agendar uma consulta “para ver bem o que é esse negócio”. 
 

25 de setembro de 2012

Corpori Sano In Boca Sana


Já se sabe de algum tempo que uma boca sadia, composta basicamente de “germes do bem” (flora bacteriana) é fundamental para a saúde cardiovascular.
E isso com cara de “uma coisa nada a ver com outra”, por mecanismos ainda não totalmente esclarecidos – germes da boca invadiriam a corrente circulatória causando danos diretos aos vasos sanguíneos e indiretos, através de moléculas que deflagram a inflamação.
Agora descobriram mais um ótimo motivo para você não ir para a cama sem escovar os dentes: níveis elevados de anticorpos contra uma bactéria própria de bocas “mal cuidadas”, a Porphyromonas gingivalis, duplicariam a chance de você ter um câncer de pâncreas, um dos tumores mais rapidamente letais.
Um fator de risco aparentemente tão importante quanto o fumo, que também duplica as chances.
Isso talvez abra a perspectiva de tratamento antibiótico para a dita bactéria, nos moldes do que se faz com a Helicobacter pylori, que eliminada do organismo diminui a chance do câncer de estômago.
Mas por enquanto o que faz mesmo é nos tornar mais amigos dos nossos dentistas.