Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

28 de dezembro de 2012

Dos Diabos


Com o calor dos diabos pelo qual estamos passando em boa parte do país, vem novamente a preocupação com o ar condicionado: faz mal?
Como brincadeira dá vontade de responder: faz! Na selva amazônica, no deserto do Saara não leve ar condicionado. Vai fazer um mal incrível!
Calor, assim como frio, demais faz mal. Agride os organismos. Fôssemos sapos (pecilotérmicos, biologia, lembra?) estaríamos numa boa, frio ou calor. Humanos, somos maltratados pelos extremos (as mortes em adultos, por exemplo, aumentam muito assim no calor quanto no frio extremos).
Ar condicionado é luxo. Ainda hoje separa classes sociais – mais que tablets ou iPhones. Mas para os que podem ter, seu uso não representa aumento significativo nos riscos de problemas de saúde.
E isso vai contra algumas opiniões que ouvimos por aí. Hoje mesmo vi um colega pneumologista na TV citando aumento em todas as “ites” (sinusite, bronquite, etc.) com o condicionamento do ar. De onde tiram isso (cientificamente, digo), mon Dieu?
 

25 de dezembro de 2012

É ou Noel?



Com o degelo das calotas polares, Manoel, ex-Papai Noel, hoje mais propriamente chamado "Manoelito" - combina melhor com o clima - faz de um tudo para poder se manter (economicamente) ativo.
Atrelou um trio de camelos ao seu veículo, que agora precisa de rodas, com pneus slick.
Mas não está fácil.
Crianças estão informadas. Desde o berço. Do momento em que pensam se questionam se Manoelito existe mesmo ou se é, aspas, somente um mito cristão ultrapassado destinado a mantê-las obedientes o ano inteiro além de um efetivo impulsionador de vendas, fecha aspas.
As compras pela internet também fazem o seu estrago. Pra que sentar no colo do velhinho se só se precisa dos 16 dígitos mágicos do cartão?
E as cartinhas? Quem escreve cartinhas hoje em dia, meu Deus?
O obsoletismo chegou até mesmo aos shoppings e frentes de lojas populares, onde está mais barato botar um bonecão mecânico do que pagar encargos e comida.
Por isso, não se assustem: esse sujeito agora magro, queimado do sol, velho e barbudo com um saco nas costas andando pela sua rua pode não ser um pedinte. Pelo menos nessa época. 

21 de dezembro de 2012

À Pôca Lispis


Então. Hoje, mais um fim do mundo.
Imagino que com esse seja mais ou menos o décimo oitavo que só eu participo. Uns maiores, outros menores, mas deve ser por aí.
Lembro de alguns fins com reportagens de abrigo subterrâneo (fim do mundo vai ter “subterrâneo”?), de máscaras de gás (como se o fim do mundo significasse fim do ar respirável, apenas) e até – como o de hoje – com retrospectivas dos fins de mundo anteriores (todos falhos, como sabemos, até pelo menos daqui a pouco).
Bem que nos avisaram pra não usar plástico. Pra só usar água no final da lavada. Pra retirar todo o carpete de casa. Pra limpar o cocô do cachorro na rua (sem plástico! mas mesmo que o cagão do cachorro não fosse nosso?). Pra que nos abraçássemos mais. Pra... que mais, mesmo?
Não sei. Não fizemos, viram? Agora, estamos aí, todos no mesmo barco. E sem Noé pra comandar (se bem que Noé tinha uma leve preferência pela bichalhada...).
Parece que esse é pra valer.
Ou não.
Mas eu é que não vou ficar aqui escrevendo nesse blog que ninguém lê enquanto o mundo se derrete. Ou se inunda, ou se explode, ou... Que angústia esse negócio de não darem detalhes, de não darem sobrenome pra esse fim do mundo!
Fui! (Fomos!) 

(Não mais engarrafamento, não mais mosquito, não mais quiabo, não mais Michel Teló? Nááá! Nada pode ser tão bom!)
 

18 de dezembro de 2012

Os Excessos dos Que Nada Têm


Parar tudo para assistir um jogo, ok. Tomar umas cervejas, ok. Ficar eufórico com um título, ok. Buzinar, soltar fogos...
Vender a casa, deixar a família na penúria para ir assistir a um jogo no Japão, quebrar tudo quando ganha, quebrar tudo quando perde, matar...
No outro hemisfério...
Um rapaz que tem problemas, claro (mas quem não os tem?), os resolve tentando quebrar o recorde mundial de crianças abatidas numa escola - e não por coincidência essas tragédias têm a escola como palco (já comentei sobre isso aqui).
A era dos excessos vai fazendo suas vítimas, de todos os tipos.
Os silenciosos, os comedidos, os educados, os civilizados, ainda maioria, estão, no entanto, sendo engolidos.
Não dá notícia ser vice e ir trabalhar engravatado no dia seguinte. Notícia é perder o emprego, campeão. É, como sempre, o fanatismo (aparentemente) cuidando do social.
É ridículo dar a vez, agradecer. Bonito (massa!) é arrancar seu lugar com unhas e dentes.
Construir é devagar, destruir é rápido. Educar é penoso, massificar é muito mais fácil, pois se alimenta da ignorância, da anencefalia.
A indústria da cerveja não nos quer tranquilos. Ficar em casa, parado, não vende carro. Silencio não precisa de iPhone. Civilidade economiza o planeta mas... o planeta ainda não acabou, não é mesmo?
 

14 de dezembro de 2012

Rush


Pense no músculo do coração (ou no próprio coração, pois ele é basicamente um grande músculo) como uma área urbana de trânsito pesado.
Quando o trânsito engarrafa nas vias principais, os veículos dirigem-se às vias alternativas.
Nos ramos das artérias coronárias (que irrigam o coração), quando o “trânsito” (o fluxo sangüíneo) ameaça “engarrafar” (estreitamento por arteriosclerose) também abrem-se vias alternativas (a chamada circulação colateral) que, nas pessoas de mais idade e fisicamente ativas, suprem as necessidades de funcionamento do músculo.
Nas fisicamente ativas!
Porque em pessoas inativas não há estímulo para as vias colaterais se abrirem (o exercício é um efetivo simulador das condições que levariam ao infarto do miocárdio, como as emoções fortes, o esforço físico súbito, mudanças bruscas de temperatura, etc.).
Daí a presença do infarto em idades precoces em sujeitos inativos, obesos ou não.
Daí também a evolução fatal mais comum em pessoas relativamente jovens inativas do que em idosos ativos, onde as vias colaterais já costumam estar mais estabelecidas.
 

11 de dezembro de 2012

Visões do Mundo


Nossas variações de humor se assemelham ao uso de óculos com lentes de cores diversas.
Para alguns, a lente se mantém quase o tempo todo escura, muito escura, e com pouca variação entre um período e outro. São os deprimidos “endógenos”, que necessitam tratamento para suavizar o tom (nem sempre conseguem).
Para outros, a lente está quase sempre clara, como o próprio cristal de que é feita. Ninguém a tem 100% do tempo clara, é evidente. Mas há equilíbrio na gradação, e a recuperação da clareza se faz sem muita demora. É o que acontece com a maioria dos que se convencionou chamar de humor “normal”.
Há os ciclotímicos que, ainda que não sejam patológicos, notam de forma nítida a variação periódica da cor de suas lentes, algumas vezes em períodos curtos.
O bipolar é um exagero da situação anterior. Além disso, tem lentes coloridas exclusivas, nas fases ditas maníacas (humor exaltado), ou mesmo espalhafatosamente dégradé. As viseiras escuras, entretanto, estão sempre à espreita, prontas para serem colocadas. O tratamento medicamentoso visa neutralizar esta festa de cores, mesmo que à custa de um tom “meio sem graça”.
Crianças também variam as cores de suas lentes. O conhecimento a respeito é que é menos difundido, gerando confusão nas interpretações de sintomas.
Quem não verbaliza, somatiza. Isso é notado em adultos. Mas as crianças são o exemplo claro, notadamente em idades menores.
Não transformemos todos em doentes. Mas convém prestar atenção em traços de personalidade, em variações ou alterações importantes do humor. Principalmente nos que não falam ou falam pouco.
 

7 de dezembro de 2012

Pego em Tiroteio

 
Falando como pediatra, alguém que se depara à toda hora com menores - e maiores - com problemas de ordem emocional dos mais variados:
Tenho me assustado com o atual embate (já não é mais um debate) entre psiquiatras e psicólogos (mais especificamente psicanalistas) sobre quem trata o que - e, principalmente, se alguém realmente trata efetivamente alguma coisa. E mais, se muitas das tais coisas são verdadeiramente "tratáveis".
A briga é, ao que parece, no âmbito anátomo-fármaco-funcional ("frios" psiquiatras) versus "história de vida e suas conseqüências" (bem intencionados psicólogos), e aparentemente vence quem agrada mais ao paciente, pois há pacientes com gravidades e gostos muito diversos.
Nossa atual (e perigosa) medicina das "evidências" (perigosa porque esquece que evidências são mutáveis, e não sinônimos de verdade eterna) pende muito a balança para o médico, o fármaco, a doença.
Quanto à mim, ainda que muito bem intencionado, ando muito lerdo a dar o veredito.
 

4 de dezembro de 2012

Negação do Prazer


(o título pode sugerir outra coisa: esse tema não é do mundo da Internet, é do submundo, visto que o mundo é o da maioria, da “sacanagem”, o submundo é que é todo o resto)

Pensa aí:
Que prazer na vida é imutável?
Qual seu prazer não perdeu cor com o passar do tempo, não enfraqueceu?
Com o prazer da leitura (para quem o possui), isso não acontece. O contrário até. Com a idade, vamos criando elos entre o que lemos outro dia e o que lemos lá longe, no passado.
Vamos ficando mais seletivos, sem perder prazer no ato.
De quebra, ficamos (aparentemente?) mais sábios.
Um sorvete não pode ser relambido.
Um prazer sexual “gasta” (no momento e na somatória dos momentos).
O livro não nos abandona. O prazer da leitura comove velhos e novinhos.
E é um prazer que de mal só faz gastar a bunda (ops!). Vá lá, e uns trocados também, mas nem isso precisa. Há bibliotecas, hoje em dia há centenas de ebooks gratuitos, de domínio público (e muita coisa boa), basta um tablet de segunda mão para mergulhar nesse mar de conhecimento. Nessa imensidão de linhas de centenas de cabeças, com o sagrado poder de transformar a nossa.
Espera: você está se negando esse prazer? Pior: vai negá-lo ao seu inocente filho?