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30 de setembro de 2014

Um Outro Fio da Meada


A notícia médica que está causando sensação nesta semana é a de que o uso de antibióticos "pesados" (de largo espectro) em crianças pequenas (abaixo dos 2 anos) está relacionado a um índice significativamente maior de obesidade, já aos 5 anos.
Causa disso?
A explicação "oficial" seria a influência direta na flora intestinal em formação, a matriz bacteriana para o funcionamento correto de todo um organismo - incluindo aí a modulação dos hormônios ligados ao metabolismo.
Mais um ótimo motivo para se economizar no uso dos antibióticos e, principalmente, iniciar a escolha a partir dos primeiros degraus de potência, visto que resolvem as infecções comuns.
Tenho, no entanto, outra hipótese para explicar essa correlação (não verificada no estudo):
Pais com estilo mais "ansioso" em relação às doenças febris de seus filhos costumam ser mais imediatistas, mais "vamos resolver isso logo". Esse mesmo imediatismo costuma se refletir em outros comportamentos, inclusive no seu comportamento alimentar (e, por extensão, no comportamento alimentar dos seus filhos).
Traduzindo: quanto menos zen, mais glutões.
(Claro que a obesidade é multifatorial, daí as variadas hipóteses, daí a dificuldade em combatê-la)

26 de setembro de 2014

Candidatíase: Política Embolorada


Nessa eleição, vamos inovar:
Juntemos candidatos a governo e candidatos a presidência numa sala e façamos logo um leilão:
"Postos de saúde, quem dá mais, postos de saúde, aquele candidato careca do fundo 650, o de sempre aqui da frente, 700, a do governo 1000, é um, é dois, é..."
"Hospitais, hospitais, 5 do PSTV, 15 ali na candidata, 30 no da oposição, alguém dá 40? 40, alguém dá quarenta?"
"Médicos, 10 mil aqui dessa senhora de cabelo vermelho, 15, 15 mil do candidato da coligação Muda Mais Uma Vez Mas Que Seja a Última, Brasil, 30 mil do candidato da direita que só promete porque sabe que não ganha, 40, 40 mil, sendo que 10 cubanos aqui da magrinha do centro..."
Das duas, uma: ou eles acham que é simples (e idiota) assim, ou nós somos mesmo simples (e idiotas) assim.
Saúde não se mede por números, e isso é uma coisa que eles continuam sabendo que nós continuamos a não saber. 
"Sonho com um dia" (como diriam eles) "em que os eleitores entendessem que na saúde muitas vezes menos é mais, que hospitais, farmácias, laboratórios, postos de saúde entupidos traduz a falta de uma saúde mais ampla, de felicidade, de completude, de cultura. De vida saudável para afastar a doença, não da indústria da doença pra dissimular carências".

Saúde é um tema quase irrisório em países com educação, pujança econômica e qualidade de vida. Claro, quase ninguém tem isso. E pros que não tem, como nós, o leilão permanece aberto. 

23 de setembro de 2014

O Grande Matador (da Sede)


E aí, continuando o assunto da postagem anterior, se você quer fazer algo de precioso (necessário) para que seu pequeno filho cresça metabolicamente saudável (que é o que está fazendo a grande diferença na saúde das crianças hoje em dia, a parte metabólica - porque de resto, infecções e acidentes tiveram seus índices muito melhorados nas últimas décadas), ensine-o a beber água!
"Ah, era isso, é? Beber água... Grande coisa, todo mundo bebe água!"
Engano! 
Por incrível que possa parecer, está virando raridade ver criança (e muitas vezes pelo exemplo dos próprios pais) beber água como principal "matador de sede". Virou algo de pais muito conscientes (e diria, com falsa modéstia, que de pediatras conscientes também, eh, eh!).
É suquinho pra cá, é chazinho pra lá, é aguinha de coco acolá, é Ades, é refri...
Tudo "aguinha adoçada e colorida" do mesmo saco! Tudo que estraga dente! Tudo caloria (mais ou menos) vazia! Tudo (agora você sabe) que contem sua carga excessiva de (inclusive) frutose. Tudo o que contribui para afastar a criança da (aquela que mata genuinamente a sua sede, cristalina e transparente, genuinamente zero caloria, realmente sem aditivos e açúcar - alguém já viu algum comercial assim?) água!
Agá, dois, ó! Até quem não entende nada de química monta algo com tanta simplicidade...

19 de setembro de 2014

Álcool Sem o "Barato"


Não, não é de cerveja zero álcool que eu vou "falar".
É da frutose.
Quando o organismo "quebra" (metaboliza) o açúcar comum (a sacarose), duas moléculas menores aparecem como resultado: a glicose e a frutose.
A glicose é a molécula de açúcar mais "básica", no sentido em que é aproveitada como fonte primária de energia.
Já a frutose (presente naturalmente nas frutas, legumes e cereais) tem um metabolismo dificultado, dentre outros motivos pelo fato da célula beta do pâncreas não possuir um receptor próprio para ela, impedindo a liberação de insulina.
A frutose segue, então, uma via "alternativa" de metabolização, com um resultado nefasto: a grande produção de VLDL. Imagine a pior gordura que você poderia consumir. Seu nome? VLDL, formador de placas nas artérias pelo seu baixíssimo peso molecular.
Outro aspecto importante da frutose é a não supressão da grelina, hormônio que "avisa" sobre a necessidade de comer. Mais grelina, mais fome.
Robert Lustig, endocrinologista pediátrico da Universidade da Califórnia e um batalhador contra o abuso da frutose, lembra que a frutose causa os mesmos danos que o etanol (álcool, também um açúcar), com a desvantagem de que o etanol é metabolizado no cérebro "avisando" dos efeitos abusivos (vasodilatação, tremores, náuseas, tontura, etc.) e a frutose não. Seus efeitos vão, então, aparecer não no curto prazo, e sim no longo prazo, que é como é consumida.
De quando vem esse problema?
Sobretudo a partir dos anos 80, quando por questões econômicas a indústria precisou criar um açúcar muito mais barato, mais doce e que, além de tudo, desse uma aparência mais gostosa para os alimentos. Surgiu o HFCS (high fructose corn syrup, xarope de milho com alto teor de frutose) um "concentrado" de açúcares que foi se infiltrando em tudo quanto é produto industrializado (o fato de ser um subproduto do milho serviu além de tudo para "desovar" a enorme produção mundial de uma agricultura fácil, exploradora, a monocultura do milho).
(a lista dos produtos em que o HFCS está contido é grande: refrigerantes, sucos, geléias, ketchup, mostardas, molhos para saladas, sopas de pacote, cereais para café da manhã, congelados, enlatados, pães "de pacote", biscoito - inclusive os salgados - chocolates, doces, sorvetes e até hambúrgueres)
De lá (dos anos 80) para cá - apesar das dietas "low fat" (com baixas quantidades de gordura - alvo provavelmente errado) só fez aumentar casos de obesidade, hipertensão, infarto do miocárdio, dislipidemia, pancreatite, disfunção hepática, resistência insulínica (mesmo fetal, pelo excessivo consumo de carboidratos pela gestante!), e "vício" pelo açúcar. Todos efeitos que o álcool também causa, apenas que no caso do álcool com o "barato" que provoca...
Mas, espera, e a fruta?
Lustig cita a frase "Quando Deus criou o veneno, criou também o antídoto" nas suas palestras. No caso das frutas e legumes as fibras contidas nesses alimentos dificultam a absorção da frutose, dentre outros efeitos (como na saciedade). Frutas, então, são "liberadas" (apenas não em exagero).

O mesmo médico rebate a alegação do FDA (Food and Drug Administration, órgão americano regulador de alimentos e medicamentos) de que supostamente o HFCS não deve fazer mal, "pois é natural". "Álcool e tabaco também são", lembra Lustig, citando as únicas três grandes fontes de renda para os Estados Unidos atualmente: indústria de entretenimento, armas e comida, o que cria um "rabo preso" do FDA com os interesses financeiros do governo americano.  

(Sugar: The Bitter Truth - Açúcar: Uma Verdade Amarga, conferência de Robert Lustig na Universidade da Califórnia)

16 de setembro de 2014

Geração "Da Hora"


Se tem uma coisa que os pais de hoje têm sabido ensinar aos seus filhos é a procura da solução mágica para problemas que os afligem.
Estou sendo irônico, caso não tenham percebido.
Exemplo? 
Tenho uma pequena dor de cabeça: remédio. Não consigo dormir: quem sabe um remédio. Estou numa fila muito demorada: fala com a moça lá da frente que o nosso caso é mais sério. Estou muito cansado: energético. Triste: antidepressivo. Fome: "bugiganga", que ainda falta meia hora pra refeição. 
E assim vão se nutrindo os monstrinhos. Nada de frustração. Nada de espera. Nada de aprendizado pelo sofrimento da hora, nenhuma recompensa a posteriori, que isso demora muito.
Há um click para tudo. E se não há, é porque compramos o aparelho errado.
História longa? Lê lá o final! Cachorrinho? Eu brinco, "alguém" limpa o cocô! Realidade dura? Tô fora!
Nada a ver com o crescente uso de drogas na pré-adolescência. Nada a ver com a violência doméstica. Nenhuma relação com o abuso medicamentoso. Falência dos serviços de saúde? Intolerância? Delinquência? Nada a ver!

( irônico novamente, só para deixar claro...) 

"Simpáticos professores do fácil está cheio, duro é achar o antipático mestre do difícil"

12 de setembro de 2014

Lucy Versus Lúpus


Desenho de criança só perde pra sonho, na sua fantasticidade.
No dia que eu completei 50 (anos, mas sei que parecem meses) andava um pouco pra baixo, pelo significado cabalístico (cabalístico de cabal: pleno, completo, terminado) da data.
Poucos dias após fui tentar finalmente resolver o enigma da canção Lucy in the Sky with Diamonds, dos Beatles (que eu, particularmente, como quase tudo, prefiro na voz do Elton John, e que foi revigorada na abertura da novela Império da Globo, versãozinha mixirica, mixuruca, mas passável) na internet:
Não, não é apologia ao LSD mesmo (mas parece inacreditável, pois a letra chega quase a "dar barato")!
E a Lucy em questão é morta, em 2009. Aos 46 anos, muito nova (aí o meu susto, muito nova para os padrões atuais, eu já estou com 50, mas fale baixo!). De complicações. Não ligada às drogas. Não pelo uso de LSD. Complicações ligadas a uma doença não tão conhecida assim: o lúpus.
Lúpus está (meio de gaiata) na classificação das doenças reumatológicas. É parte das doenças em que nossos anticorpos e células de defesa a partir de um certo momento começam a jogar contra a gente, criando inflamação e com ela, destruição, de pele, cartilagem, coração, pulmão, rins. doença autoimune, assim chamada.
Remédios mais eficazes têm aparecido. Mas não é brincadeira.
E foi esse malvado do lúpus que tirou Lucy (Lucy O'Donnel, a linda companheirinha de escolinha de Julian Lennon, quando ele trouxe um desenho da escola onde ela estava no céu, retratada ao lado não de estrelas, mas de diamantes, como possivelmente está agora, vai saber!) tão cedo de circulação.
Uma tristeza. Que embeleza ainda mais a poesia dos eternos Beatles. E nos dá algum triste consolo. Pobre Lucy (mas não vou dizer: "ainda bem que não fui eu"...).


Também eu, muito menos famoso (que um pé de abacate na beira da estrada) tive meus encantamentos com desenhos infantis. 

9 de setembro de 2014

Um Tic, Dois Tac


Quando o homem pisou na lua (ainda que muita gente boa ainda duvide) fincou sua bandeira lá e depois pensou o que iria fazer com aquilo.
O mesmo acontece com os marcos do desenvolvimento da criança. Deu os primeiros 2-3 passos, ok: chegou lá! Falou "gaba" ("goiaba" em bebês, o idioma dos próprios*), tá falado! Não precisa repetir nas próximas semanas, já provou que pode.
Os pais, no entanto, insistem. Querem que seu pequeno gênio repita os feitos a toda hora. Ou que pelo menos não recuem. "Vai engatinhar de novo, ô moleque?".
Deixem o rapaz desenvolver em paz, pais!


*Não confundir com bebunês, o idioma dos bebuns...

5 de setembro de 2014

Tristidade


Uma especialista em terrorismo entrevistada no programa Sem Fronteiras do canal Globo News, ao ser perguntada sobre os motivos de jovens "aparentemente normais" abraçarem causas que a princípio nada tem a ver com eles (causas islâmicas no caso dos jovens ingleses, por exemplo) explicou que, na maioria dos casos, estes jovens têm como motivações as mesmas que quaisquer outros jovens, ou seja, o desejo de pertencer a grupos, o gosto pela ação, o aborrecimento, a revolta com a sociedade que os cerca.
Causas absolutamente banais (na visão de quem não pertence à este grupo etário) levadas ao extremo. Nada - ou muito pouco - de realmente ideológico, ou mesmo religioso.
É claro que é sempre difícil separar verdadeiros ideais do desejo de, por exemplo, vestir uma capinha da mais pura seda (preta por fora e forrada de vermelho por dentro) e empunhar uma espada fálica-reluzente.
O problema é que essa turma mata, morre, fere. E leva junto muita gente inocente, seguindo os verdadeiros líderes fanáticos ou doentes.
Por isso eu defendo o futebol (ou qualquer outro esporte). Gritado, xingado, com direito a um chute ou outro - proposital, claro - na canela do adversário. Vale até um olho roxo. Em algum lugar mais "saudável" a moçada tem que descarregar sua carga de testosterona/adrenalina.

Ah, se a vida fosse assim tão fácil... Quanta cabeça poupada! 

2 de setembro de 2014

Por Que Eu? (Hipertensão)


Normalmente quando se pensa em hipertensão arterial, pensa-se assim: o pai ou a mãe tem, o filho pode ou deve ter, etc. Uma herança simples, por assim dizer.
Nada mais errado.
Ao se pensar em herança de pressão alta, a melhor imagem a se invocar é o de um imenso quebra-cabeças, daqueles que você leva um ano montando - ou mais provavelmente desiste de montar.
Tal é o enrosco que o projeto genoma humano tem demonstrado sobre a questão.
São numerosos os alelos (os locais dos gens responsáveis por uma determinada característica) já implicados, e o que complica muito são as formas pelas quais esses gens se expressam (mais num determinado sexo para alguns alelos, muito modificáveis pelo ambiente em outros, interagindo entre si em outros ainda, isso sem falar na variação de idade e raça em que cada um deles irá se expressar).
Isso dá uma bela mostra também da diferença verificada na efetividade do tratamento medicamentoso de um sujeito para outro.
Não é à toa que tantas classes de medicamentos aparecem e nenhuma delas vence a briga.

Não é à toa também a revolta (e a incompreensão, e a revolta pela incompreensão) dos pacientes que se descobrem hipertensos quando não esperavam - ou quando estavam "fazendo tudo certinho" em termos de cuidados de saúde.