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29 de dezembro de 2015

Assim Mesmo


É. 

Então taí, esse bebê...
Daqui a pouco tá grande. Indo pra escola.
Namorando. Namorando uma, duas. Já, já, vai querer casar. 
Me dar netos. 
Meio que parece que foi ontem que era eu aí, deitada, desse mesmo jeito, mãozinha pro lado.
É a vida. 
Assim mesmo.
Parece que nunca vai ser. Tudo pode e tudo vai ser diferente. Vou fazer diferente!
E vira tudo igual... Erros e acertos. Igual.
Não importa. Vale. Vale muito. Vale cada noite acordada, cuidando pra ver se ele respira. Vale cada noite esperando ele voltar da noitada com os amigos, trazendo o carro intacto, apesar de um ou outro excesso de velocidade, de uma ou outra bebidinha, arriscando ser pego pela polícia, arriscando perder a carteira.
Vale. Vale muito, vale mesmo.
Ou não?


Fim de 2015, início de 2016, é o momento exato em que esse blog completa 10 anos de idade.
Sem grandes festas. Não que ele não mereça. Todo mundo, até o mais mísero dos seres merece. 
E ele, assim como qualquer aniversariante na faixa dos 10, também pode se orgulhar de ter me dado muito trabalho, de ter me feito estender noites acordado para cuidar dele.
Sinto, no entanto - e não é uma queixa - que ele perde fôlego nos últimos tempos. Talvez reflexo do seu mentor. Mas acho que mais como um indício de que as novidades, as tecnologias vão em algum momento suplantá-lo, descolori-lo, ou mesmo, ai de mim, sepultá-lo. Não importa. Terá valido. Como em tudo, também ele terá me ensinado a importância dos momentos, o significado do efêmero. 
Isto não é, ainda, um adeus. É "somente" a angústia da maturidade.

Feliz Ano Novo 

24 de dezembro de 2015

Enquanto


Enquanto acreditei na magia do Natal acreditava na magia de tudo.
No Papai Noel, mas também no fato de que a árvore tinha algum significado, por isso se punha presentes ao pé dela. As quebradiças bolas, mais valorosas quanto maiores e mais quebradiças. As luzes desemaranhadas com muita dificuldade para envolver a árvore, cuidando para que as queimadas não se fizessem notar. O cuidado com a alta voltagem, que poderia transformar o Natal numa grande tragédia.
Nosso Papai Noel sempre foi caseiro, Noel no Natal, Papai nos outros dias do ano, sem que desconfiássemos. Quebrava um grande galho, pois na hora H deveríamos esperá-lo reunidos num quarto sem ele - o papai natural, o "verdadeiro" - que tinha a nobre e misteriosa função de recepcionar o velhinho sozinho. Ficávamos a escutar uma sucessão de altas e grossas risadas (ignorando o motivo) e o quase assustador barulho das suas grandes botas, na entrada e na saída de casa. 
Pronto! Era recolher o resultado do encontro!
No tempo da magia, éramos apenas em duas crianças, eu e minha irmã, quase da mesma faixa etária. Líamos um nos olhos do outro a ansiedade, sublime ansiedade que se transformava em alegria à medida em que abríamos os coloridos pacotes dos presentes. Haverá poucos destes momentos numa vida inteira em que tudo era perfeito. A presença dos pais, o ambiente acolhedor, e... a magia! 


Costumo pensar que se algo de bom sobreviveu dentro de nós, foi fruto de momentos como esses.

22 de dezembro de 2015

Manchete


Conta o Dr. Y (Dr. Y é aquele que tem consultório onde até outro dia atendia o Dr. X) que um determinado paciente, após ter sido examinado, sentou à sua frente e perguntou, muito preocupado:
- Não é zica, doutor?
Dr. Y até estranhou, mas respondeu:
- Não, não é zica.
- Certeza?
- Certeza!
- Ah...
- Então, como eu ia explicando, me parece que o que o Sr. tem...
- ... não é zica?
Dr. Y, meio incomodado com a interrupção:
- Não, Sr. ..., isso não é zica!
- Posso ficar tranquilo, então?
- Se a sua tranquilidade vai derivar do fato de que o Sr. não tem zica, então, nesse caso, diria que sim, pode ficar tranquilo, porém...
- Porém o que, doutor, pode falar!
- O Sr., de fato, tem alguma coisa!
- Zica?
- Não, não zica!
- Não zica?
- Definitivamente não zica!
- Ufa!
- Vamos, claro, precisar de alguns testes...
- Teste pra zica? Já tem?
- Não, Sr. ..., não tenho nem noção se já tem algum teste pra zica! Pra falar a verdade, não tenho noção de nada sobre essa tal de zica da qual o Sr. tanto se preocupa. Sua doença provavelmente é até mesmo muito mais grave...
- Pera lá, doutor!
- O que?
- Mais grave? Mas o Sr. disse que... não sabe nada... sobre a... zica?
- Claro! Eu sou reumatologista, Sr. ...! Eu lá tenho que saber alguma coisa sobre zica?
- Nesse caso, como é que o Sr. pode ter tanta certeza assim? É zica! Tenho certeza! O Sr. é que é um desatualizado, que nem uma zica sabe diagnosticar! Muito obrigado! Passar bem!

Diagnóstico também tem moda. Assim como tratamento. Assim como médico... 

Problema é que nosso organismo não dá bola pra isso e volta e meia arruma uma doença velhinha, esquecidinha, sem espaço na mídia, só pra nos sacanear.

18 de dezembro de 2015

Mar de Exames


"Médicos que pedem mais exames têm menos chances de serem processados".
Por que a notícia deveria ser novidade? Novidade se fosse o contrário!
E por que eu fico nessa de defender menos exames?
Por chatura. Por teimosia. Por saudosismo de uma época em que o que valia era a pessoa, o todo, e não uma batelada de papel com números complicados.
Bobagem, digo à mim mesmo. Quando levo meu complicado carro à oficina não quero mais o mecânico entendedor, com pedaço de estopa no bolso do macacão, coçando a cabeça, olhando para dentro do capô. Quero o cientificismo do computador, da análise detalhada, da técnica indiscutível. A mesma técnica indiscutível que criou o carro, que dê um jeito quando algo pifa (ou melhor ainda, quando ameaça pifar). 
Não somos carros. Não somos nós, médicos, que criamos o ser humano. E com milhares de dados à mão podemos ainda assim estar compreendendo muito pouco do que pifa (ou do que ameaça pifar), e talvez seja muito bom parar um pouco à frente do paciente (sem estopa no avental) fazendo considerações à respeito dele, só evitando de coçar a cabeça.
Não é o que povo quer. Seu conceito em relação ao "médico moderno" debandou para o lado moderno, algumas vezes pseudocientífico, com cara de complicado, mais desumano e mesmo totalmente irracional.
Manchetes como as de cima convencem facilmente. Médicos e juízes (vejam que não se trata de serem "condenados", e sim "processados" o que pode ser bem diferente). Pedir "todos os exames possíveis" é sempre sinal de que "todo o possível está sendo feito", ainda que assim se tenha menos tempo para olhar o dono das amostras com mais cuidado.
Já vi grande quantidade de exames possibilitar diagnóstico difícil prontamente. Pacientes que se beneficiaram não querem discussão. No caso oposto (que, aposto, seja muito mais frequente), culpa-se tudo, menos a falha desse sistema. 
Finitude de recursos? Poupança? Impedir desnecessários sofrimentos (notadamente nas crianças)? Não têm sido bons argumentos. 

Paremos, então, de chorar. Que venham as agulhas!

15 de dezembro de 2015

Aposta


Quando uma criança se mostra "boa de bola", um problema se cria no seio da sua família, principalmente se for uma família de baixa renda.
Por que?
Porque todas as fichas começarão a ser apostadas nesse novo talento. E na maioria das vezes esse talento, no confronto com outros talentos, não se mostrará tão espetacular quanto inicialmente se achava.
Alcançar o sucesso em qualquer profissão é difícil. Mas não se começa sonhando com o topo. Vai-se aos poucos pensando em algo mais. 
Nesse tipo de atividade - como com o sonho de ser uma modelo, no caso das meninas muito bonitas - já se começa mirando o topo. Não seria tão problemático, se não fosse fazendo com que os sonhadores fossem abdicando das conquistas mais realistas.
Além disso, no caso mais provável do fracasso, sente o jovem a frustração somada de todos aqueles que de alguma forma investiram nele.
Isso acontece pouco?
Não. Quase toda família tem uma ou duas dessas histórias para contar. Há países mais pobres, inclusive, que "exportam em bando" esses possíveis talentos para depois se tornarem marginalizados quando o esquema falha.
Pais fazem melhor quando ensinam que profissões vinculadas ao "enorme sucesso (futebolistas, modelos, cantores, escritores, atores) vão ser um muito desejado efeito colateral do talento. Mas que é bom se preparar pra um honesto ganha-pão no caso da coisa não dar muito certo.

11 de dezembro de 2015

Linha de Chegada



Esse blog muitas vezes tem cara de diário.
E meio que é.
Por isso vou me aproveitar desse caderno virtual pra manifestar (mais) um estranhamento com (mais) um modismo, desta vez obstétrico:
É a coisa do "pai, quer cortar o cordão"?
O cordão em questão é, como você deve estar imaginando, o cordão umbilical do próprio recém-nascido (nos partos vaginais, já é bom que se esclareça!), e a oferta dada por parte dos obstetras como uma finalização, uma "chave de ouro" para encerrar um parto (principalmente nos partos supostamente "humanizados").
E aí não sei se é para se estabelecer um paralelo, um simbolismo, com outros cordões: o cordão da linha de chegada de uma longa corrida (de nove meses!), o cordão (ou faixa) de inauguração de uma nova vida ou, talvez, o cordão que sustenta um balão de gás na mão da criança que, ao soltá-lo, atinge grandes alturas.
Poético, admitamos.
Mas ainda assim, estranho.
O corte do cordão umbilical (ainda) é parte  de um procedimento médico, "quase cirúrgico". E não vejo o por que (fora o poético) motivo pais devem ter a primazia de fazê-lo.
Quando presencio a súbita oferta, sinto a agonia dos mesmos, com a perspectiva de  - além de ter que ouvir, sentir, compartilhar ais, uis, e até "socorro!" - ainda ter que meter a tesoura entre dois seres (à princípio) tão amados: sua mulher e seu aguardado rebento.
Deixa esse "prazer" pro profissional presente, por favor.
(acho até - mas pode ser bobagem - que pais que animadamente se prontificam ao ato deveriam ter anotado nas suas possíveis futuras fichas criminais: cortou! ou, mais grave: cortou, sorrindo!)

8 de dezembro de 2015

O Atualizado e o Experiente


(ou o Desatualizado e o Inexperiente, como queiram)

Quando nos confrontamos com um médico ("confrontamos" é um pouco pesado, mas pra mim como paciente às vezes serve) vem sempre aquela dúvida, saudável, aliás:
"Não tá "ultrapassado" (como se médico fosse carro de fórmula Um)?"
Ou então, a oposta:
"Não é novo demais, inexperiente demais?"
Um meio termo costuma ser preferido. Nem novo demais, nem "experiente" demais. Por isso, os médicos recém-formados e os meio aposentados ouvem tanto em seus consultórios o canto da cigarra.
Quando fazemos essa análise (por vezes impiedosa da nossa parte: "o cara tá mais pra lá do que pra cá", já ouvi muitas vezes) esquecemos - ou menosprezamos - outras tantas qualidades ou defeitos (se a calça jeans combina com o sapatênis, por exemplo).
Feio, bonito, homosexual, barbudo, gordo, dinheirista, sujinho, consultório de mal gosto, sobrancelha levantada (como mau agouro), tapinha nas costas, receita do próprio punho, etc. são alguns dos motivos que, independente das qualidades médicas de fato podem nos fazer "nunca mais pôr os pés lá".
Isso enquanto temos opção. 
Ou: isso enquanto tratamos o médico (como de resto muitos tantos outros profissionais) como alguém que não pode ser cheio de falhas, como nós mesmos (quando pacientes) somos.



4 de dezembro de 2015

Um Pouco de... Trânsito


Quase metade da população brasileira tem carteira de motorista especial.
Diz lá: "isento de dar sinal".
São pessoas que adquiriram o direito de mudar de faixa a qualquer hora sem precisar avisar a ninguém (eles intuem que os outros intuem suas intenções), que saem do estacionamento "sem mais aquela", sabendo que os outros irão acionar o freio como lhes é devido, que viram à direita na frente dos outros na consciência de que os que estão atrás só têm duas opções para adivinhá-los: ou isso ou esquerda, fácil!
São cidadãos que conhecem seus direitos: direito sobre os outros! Os outros que se virem (é o grande princípio epicurista - ou cartesiano, ou seja lá de quem for - do "os outros não são eu!")!
São pais ou mães que não se importam (ou fingem que se importam) com o que seus filhos vêem. Porque filhos vêem! A cada atochada na frente do seu semelhante, seus filhos vão aprendendo com eles um pouco das suas boas maneiras. Alguns ainda argumentam, porque aprenderam na escola: "Mas, mãe!...", com a habitual resposta: "Ah, é!", que dura até a próxima esquina.
E o pedestre?
A coisa que mais que comove é a mãe ou pai que atravessa a rua com seu filho pequeno de mão dada na faixa colocando a criança do lado de onde os carros vêm! É só falta de inteligência ou é a aposta numa polpuda recompensa no caso de um motorista desavisado? E muitos (as) ainda passam enfrentando os motoristas com o olhar, como quem diz: "Venham!"...

Agora os campeões são os pais de "filhos airbags". Aqueles que vão no banco da frente com o inocentinho no colo, prontos para se protegerem com seus coquinhos de uma possível batida. Com esses tenho que me segurar no cinto pra não descer em pleno meio da rua...

1 de dezembro de 2015

Um Pouco de Osso


Um pouco de cultura óssea craniana ("coc") não faz mal a ninguém.
Por isso é bom lembrar algumas coisinhas dos ossos do crânio:
O osso frontal (testa) e o occipital (parte de trás da cabeça) são os mais "duros" (os mais "feitos para bater" - acidentalmente, claro, e desde que os traumas não sejam muito intensos ou repetitivos).
O osso temporal (osso que "circunda a orelha) é não só o mais fraquinho do crânio, como o mais perigoso nas cacetadas também, pela presença de vaso sanguíneo calibroso por trás dele. Aí, mesmo batidas leves (como os de "canto de mesa") devem ter uma atenção redobrada.
O osso occipital é o osso mais "tortinho" à palpação, e com frequência pais se preocupam (à toa, na grande maioria das vezes) com seu formato, principalmente se em algum momento do passado seus filhos bateram a cabeça nessa região.
O limite desse mesmo osso com o pescoço costuma apresentar "bolinhas" com frequência, gânglios que quando são pequenos (ervilhas) e móveis (escapam do dedo à palpação) não devem causar preocupação.

27 de novembro de 2015

Três Mesas


Três mesas.
Três histórias verídicas (em que não firo a ética por contar o milagre livrando a cara dos santos):

Primeira mesa:

Napoli, sul da Itália, um restaurante badalado à beira do Mediterrâneo.
À mesa, cerca de 12 jovens, de ambos os sexos, número apostólico, jovens na faixa dos 17 aos 22, 23 anos. 
Pra comer: saladas, pães, azeitonas, pizza...
Pra beber?
Água. Um ou outro refrigerante, mas sobretudo água, durante toda a refeição.
Coquetel, vinho, cerveja? 
Não, água.
Animados, educados, curtidores bebedores de água.
Iriam beber o resto da noite, por isso estavam se poupando? Não sei, não os segui.
Um grupo religioso, com propósitos abstêmios? Improvável, mas não posso afirmar.
Ainda há esperança...

Segunda mesa:

Curitiba, início da tarde, também do sábado.
Uma lanchonete-restaurante da área mais abastada da cidade.
Três bonitas moças, corpos bonitos, roupas sexy, na faixa dos 20 e poucos anos (mas, especialmente de uma delas, um rosto meio precocemente envelhecido) entram.
Sentam à mesa, agitadas.
Conversam alto, como quem quer ser ouvido.
Um só assunto: truques para se manterem ou ficarem ainda mais sexy e bonitas.
Os métodos vão de novos medicamentos para asma (os quais aparentemente estão usando), passando por hormônio de crescimento, até métodos cirúrgicos os mais variados. 
São muitas, intermináveis as maneiras de se conseguir um corpo perfeito.
O que pediram (hora de almoço)? 
Sucos detox. As três. E mais nada.

Terceira mesa:

Refeitório do hospital do Andaraí, zona norte do Rio de Janeiro, há quase três décadas.
Três médicos, na faixa dos 30 e poucos anos, um deles com cara de machão, bigode grosso, monopolizando a conversa.
Só ouço esse, falando alto, quando diz:
"Esses homossexuais (foi outro o termo), pego (também outro o termo) todos!"
Então tá!...



24 de novembro de 2015

Febre "Acostumada"




Aí um ou outro pai ou mãe falam:
"Acho que o remédio pra febre não deve estar funcionando mais, pois nós já tivemos que usar algumas vezes!..."
Errados a conclusão e o motivo, provavelmente.
Ainda que seja plausível a perda de efeito medicamentoso com o uso frequente (em muitos casos realmente acontece, e mais com determinados tipos de medicamento do que com outros), no caso da criança dificilmente o uso chega a ser tão frequente assim (e é mais o uso continuado do que o frequente que altera a ação).
Além disso, nesses casos em que os pais costumam verificar a ausência de efeito tende a ser por algo chamado virulência do germe, ou seja, a sua capacidade de produzir maior ou menor febre, dentre outros sintomas. Uma outra explicação (que pode se somar à anterior) é o momento de reação imunológica da criança, que pode estar com uma tendência à uma reação mais "violenta" (ou até desproporcional, por imaturidade imunológica), que se traduz por febre mais alta.
Relembrando, então, a noção de que nem sempre mais febre significa coisa mais séria ou mesmo mais perigosa.

20 de novembro de 2015

Cybersickness


A turma que não desgruda das telas dos tablets, smarts e computadores já tem um nome para o mal estar que sentem de vez em quando - mas pode ser que não pegue:
cybersickness.
Cybersickness pode ser traduzido como? Mal estar cibernético? Não parece que vai dar ibope...
Mas o que é?
Coisa que a gente vê toda hora: dores de cabeça, uma leve tontura, alguma contração muscular, náusea leve ou sintomas estomacais. Com intensidade proporcional ao número de horas jogando, vendo filme, etc. Aparentemente excluídas as atividades em que o olhar fica mais "parado" na tela, como a simples leitura de ebooks em tablets, por exemplo (ufa, então, para mim!). Isso porque é o movimento ocular intenso (por exemplo, nos games) que cria a sensação parecida com o movimento dos barcos e navios no sistema de equilíbrio do organismo (apenas que, como explica o blog Well, do New York Times, no caso do enjôo de movimento - dos navios - o corpo mexe e o olhar fica parado, no cybersickness os olhos mexem e o corpo fica parado, com resultados semelhantes).
Com uma gama grande de diagnósticos diferenciais, que precisam ser pensados pra não virar a história da "virose", o "chute" que inclui todos sintomas num pensamento diagnóstico só.

Gente mais propensa a sofrer? Enxaquecosos e quem já enjoa fácil aos movimentos, como nas viagens.

17 de novembro de 2015

Quem Não É Visto... *


Viés de recência.
Com esse nome estranho, é mais um dos cuidados que pacientes têm que ter em relação aos seus médicos ou qualquer espécie de terapeuta.
Viés é toda situação que complica a norma, ou seja, que faz o raciocínio correto desviar do seu caminho.
Recência diz respeito ao que é recente.
O viés de recência é, então, a indução que o médico (ou o psicólogo, ou o dentista, ou o fisioterapeuta...) terá para fazer um diagnóstico (e por consequência, um tratamento) incorreto pelo fato de ter estudado (ou aprendido ou re-estudado) sobre determinada doença recentemente.
Em outras palavras, o que está "fresco na cuca" tende a vir como primeira opção quando se trata de fazer um diagnóstico. Mais ou menos assim: eu acabei de ler sobre varicela, vou começar a achar que toda criança com bolinhas pelo corpo tem... varicela! 
Quase todos já fomos vítimas disso. É diferente de uma má intenção, de uma desonestidade de quem trata. E cabe ao terapeuta estar com "o leque dos diagnósticos aberto" até ter suas certezas, baseadas nos fatos concretos, mais do que nas suas (por vezes precipitadas) suposições. 



*O conceito publicitário de marcas "top of the mind" (aquelas marcas que vêm primeiro à mente) tem o mesmo princípio: as marcas que estão sendo marteladas no cotidiano serão mais lembradas. Por isso propagandas podem ser tão chatas.


13 de novembro de 2015

Desparelho


Para os pais que nesse momento estão olhando para as perninhas dos seus bebês e considerando se há alguma diferença de tamanho entre elas (fato mais ou menos comum, e motivo de uma ou outra consulta), apenas três numerozinhos a considerar (retirado do artigo do jornal médico Medscape):
1) cerca de 1/4 das pessoas têm alguma diferença de tamanho entre um membro inferior e outro
2) cerca de 1 em cada 1000 crianças apresenta uma diferença significativa, que exigerá tratamento (calçado ou cirúrgico - normalmente o encurtamento da perna mais longa, e não o alongamento da perna mais curta, muito mais complicado), e
3) 2 cm, é a diferença a partir da qual o tratamento se justifica
Como se pode perceber, como muito problema médico infantil, embora muita gente tenha algo, é leve, e pouca gente precisará tratamento.



Ouvi falar (não sei se é verdade, e a frase pode ter sido erradamente atribuída à ele) que Napoleão, ao ouvir comentários sobre sua relativa baixa estatura (1,68 m) disse que "o valor de um homem é medido da sobrancelha pra cima, e não da sobrancelha pra baixo". Se disse, disse bem!

10 de novembro de 2015

... E Mostra o Pau!


Na semana passada todo o Brasil comentou a história do menino "comedor de cobra" do Rio Grande do Sul, mostrado no Jornal Nacional.
"Grande coisa!", pensei, enciumado.
"Quem manda não fazer publicidade?", retruquei, irritado.
Como esse desconhecido blog era ainda menos conhecido há 8 anos atrás, vou recontar (ou melhor, vou copiar e colar, como contei na época) a história talvez mais fantástica que já atendi até hoje, de outro inacreditável "P.C.C." (pequeno comedor de cobra): 

Suave Veneno:

Tenho por norma não comentar sobre pacientes atendidos, mas hoje a exceção vale a pena pelo ineditismo da história:
Estava o menino de 11 meses engatinhando no chão da sala da humilde casa sob o olhar atento da irmã de 4 anos – daí provavelmente a tranqüilidade da mãe – quando um filhote de jararaca preta (perdão, foto de celular) subiu pelo seu frágil corpinho. Ao dar a volta no pescoço do menino (talvez procurando um melhor ângulo para o bote) foi surpreendido pela agilidade do mesmo que, dum só golpe, agarrou-a e tascou-lhe uma gengivada fatal na sua cabeça.
Embora, segundo os familiares, o veneno amarelado tenha se espalhado pela boca da “vítima”, o menino e a família passam bem.
Quanto aos familiares da cobra, ainda não se "recobraram" (ah, ah, sem graça!...)
Honorários? "Cobrei"! (ah, ah, de novo!...)

Então:
Talvez esse fato não seja tão incrível assim. É possível que mais cobras sejam vítimas indefesas de crianças maldosas Brasil e mundo afora. 
Não sei.
Só sei que quando ando por algum terreno baldio, tomo o maior cuidado.

Pode haver alguma criança ali dentro!

6 de novembro de 2015

A Nossa Turma


Maurício de Souza está completando oitenta aninhos.
Sou da turma (da Mônica) que acha que deveriam ser erguidas algumas estátuas.
Seus gibis atravessam gerações, mas parecem que perdem fôlego com o bombardeio audiovisual de smarts, tablets e superTVs. E nessa arena Cebolinha, Bidu, Horácio e companhia curiosamente nunca se saíram muito bem.
Suas histórias criativas e verdadeiramente animadas (diferentes dos personagens dos quadrinhos da Disney, aborrecidos e enrolados, além de pouco engraçados) foram o início do interesse pelas letras para muita gente. Me incluo nessa.
Que dure para sempre. Que não se extingua sua maneira precisa em se comunicar de forma inteligente com as crianças. Que existam parafusos no cérebro infantil que só se liguem através da leitura e da interpretação (e, sobretudo, da própria interpretação) dos nossos amados quadrinhos.
Persista, Maurício! Siga em frente!

3 de novembro de 2015

"Suiçídio"*


É sempre um tema extremamente complicado, mas que cedo ou tarde a maioria de nós vai ter que se confrontar, e é melhor estar minimamente preparado.
Na Suíça e em países próximos como a Bélgica a questão de se pôr fim à vida que insiste em não terminar sozinha tem sido cada vez mais debatida.
É um debate mais de sociedades ricas, que de alguma maneira vamos nos aproximando.
Pessoas idosas com vários tipos de incapacidade (cegueira, surdez, dificuldade de mobilização, etc.), muitas vezes somadas, se insistem em "sair de cena" têm como única resposta ouvidos moucos de parentes e/ou cuidadores, o que é muito compreensível por parte de um ser humano.
É muita insensibilidade ajudar alguém a pôr fim à vida? Pode ser da mesma forma fazer de conta que tudo está muito bem.
Com o risco enorme de se banalizar tais decisões, precisaremos evoluir para métodos menos doloridos do que o "deixe que eu faço sozinho", quase sempre muito mais desagradável para todos os envolvidos.
Decidido sobre adultos, idosos, vividos, outro debate ainda mais doloroso se imporá: a criança incurável, com doenças que impõem tremendos sofrimentos.
Num ótimo debate da TV suíça sobre o assunto, o cartunista tratou toda essa questão simplificando e fazendo rir um pouco. Dois túmulos lado a lado, em que de um deles um sujeito morto fala: "eu escolhi a morte assistida", e o outro: "eu decidi ir até o fim!". Parabéns para ambos... E parabéns ao cartunista.
Mas que essas coisas têm muito pouca graça, lá isso têm.



* O erro de português do título é proposital (diferente de outros aqui frequentes), de novo somente um jogo de palavras. Precisamos hoje esclarecer: "olha gente, vou contar uma piada!", para não sermos trucidados, como bem lembra o jornalista José Trajano, da ESPN Brasil.

30 de outubro de 2015

Jet Lag


Sempre tenho dito para as mães que a história das noites delas (e dos pais) com seus pimpolhos mudou muito nas últimas décadas.
Pra começar, mães (e pais) do passado (até meio recente, coisa de duas gerações pra trás) costumavam ter muito mais filhos.
Então, se um deles resolvia querer um pouco mais de atenção noturna, provavelmente não a receberia. Estilo: " Quieto aí e durma!". Era muita gente pra se preocupar (e os pais ainda eram só dois)! 
Certo? Errado? Bom? Ruim? Bom ou ruim para a mãe? E para a criança?
Não há respostas prontas, mas que hoje vemos muito mais mães incomodadas com a "reina" dos filhotes no período noturno (muitas vezes "disfarçada" de fome), isso vemos. Acostumam mal, pode-se dizer, os reizinhos. E acham as mães que somos nós, os pediatras, "os maus", se aconselhamos algum rigor.
A outra questão (para a qual a resposta deveria ser de cara um "tanto faz", sem os exageros do cientificismo das maneiras de se viver) é o: dormir ou não dormir com o bebê na própria cama (tem palavra chique pra isso também: co-sleeping!). 


Já vi - e já me convenci - dos argumentos para qualquer lado. Percebo, no entanto, que as mamães - ao contrário do que se costuma acreditar - dormem melhor coladas no seu rebento (com quase nada de prejuízo pra ambos).

27 de outubro de 2015

Vacina Que "Não Pega"



No programa Bem Estar (o "Mais Você da saúde") dessa semana os médicos convidados explicaram porque a vacinação contra o HPV não está "pegando" (sua cota vem baixando, ao invés de subir).
Não foi isso exatamente o explicado, mas o que parece acontecer com informações na área da saúde para "as massas" é que informação demais dá preguiça, e aí a coisa não acontece.
É difícil imaginar diferente.
Já somos entulhados de informação, desde a hora que acordamos.
Para a mãe, para a dona de casa, para o pai, para o trabalhador, se a informação não chegar redondinha, sem porcentagens, sem gráficos, sem probabilidades, vai passar batida.
Foi dado o exemplo:
Meningite mata. Tem vacina? Tem! Então dá! (o curioso é que nem nesse caso as coisas são mesmo assim tão simples: são vários os tipos de germes que causam a meningite, as vacinas têm eficácias diferentes, para alguns sorotipos não existe vacina, etc.).
No caso do HPV, tem todos esses entraves: serve pra que? Câncer? Na minha filha de 9 anos? Ah, é pro futuro longínquo (o que é "longínquo"?)? Ainda não está provado no prazo longo? Ainda vai ter que cuidar, usar camisinha, fazer preventivo, essas coisas? Ah, então melhor deixe! Ela que se cuide quando for adulta, né?
E por aí vai.


Dificinho, mesmo...

23 de outubro de 2015

Safras


Já está meio que na hora que a sociedade leiga aprenda a diferenciar a criança que foi ou é prematura daquela que foi ou é "prematuuura".
Explico:
Prematuros com menos de 28 semanas de idade gestacional (chamados "grandes" prematuros pelo tamanho da sua prematuridade, não pelo seu próprio tamanho, menor) têm chances bem maiores de complicações respiratórias (que podem se estender pela vida toda), cardíacas, gastrointestinais, neurológicas, etc. 
Já "pequenos prematuros" (acima de 28 semanas, lembrando que são maiores que os "grandes" em tamanho), ainda que não devam ser negligenciados, têm grandes chances de passar pela prematuridade incólumes, ou quase.
Não raramente vemos pais, parentes, profissionais de saúde dando a mesma (às vezes exagerada, às vezes, então, insuficiente) atenção a ambos de forma equivalente.
Grandes prematuros devem ter acompanhamento multiprofissional (neuropediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos) de forma prolongada.
"Pequenos" prematuros podem, muitas vezes, esquecer rapidinho que foram prematuros (e não raramente vemos papais os tratando como "frágeis" por uma vida inteira, o que, certamente, vai ser mais prejudicial do que benéfico!).

20 de outubro de 2015

Contra Acepções


É interessante notar como, em matéria de escolhas contraceptivas, cada país faz o seu.
Tem país que tem horror à hormônios. Tem país que prefere pílula pela "facilidade" ou tradição. Tem país que opta  fácil pela esterilização, enquanto outros consideram isso absurdo, ou mesmo pecado.
As pílulas assustaram muita gente em países melhor informados, por causa de seus sérios efeitos colaterais, principalmente as "de nova geração". Vai levar mais de década para recuperarem seu antigo prestígio. E até lá, já vão existir opções hormonais bem mais seguras.
No Brasil, a pílula ainda tem ibope (em boa parte por desinformação dos riscos e sobre as outras opções contraceptivas).
O que a moça deveria saber é que se ela tem história familiar de problemas venosos (tromboses, flebites em parentes de primeiro grau) ou arterial (doenças cardiológicas ou AVC em parentes jovens), não deve, à princípio, se utilizar da pílula, pois esta aumenta bastante o risco de problemas deste tipo.
Outra informação (negligenciada) é a de que o fumo e as bebidas alcoólicas são uma péssima combinação com os métodos hormonais, pondo em grandes riscos toda uma geração de mulheres jovens.
Portanto, quem é chegada numa bebidinha e no cigarro, deve considerar os riscos que vai correr quando se trata de evitar filhos: ou "pega muito mais leve" ou opta por métodos não hormonais.

16 de outubro de 2015

Estrelas


Quero ver onde vai dar (até agora ninguém sabe, é a única certeza) essa nova, novíssima maneira de se tratar as crianças, onde cada uma é uma estrela.
Durante boa parte da história da humanidade crianças foram muito mal tratadas. Mais do que isso, foram tratadas como uma espécie de E.T., um pequeno adulto meio retardado, que não tinha voz nem vez mas eram engraçadinhas, rivalizando em muito com os periquitos na gaiola.
O que se percebe agora é uma curiosa assunção das próprias: elas se sabem especiais, dotadas de mil e uma qualidades, sabem que as observam cheios de admiração, de respeito pelas suas (imagine!) próprias idéias e vontades.
Não pode ser de todo ruim. Não pode ser pior do que antes - ainda que possa ser meio perigoso, temos escrito isso aqui com alguma frequência.
Estrelas são lindas, enfeitam o céu. Mas são sempre uma pequena parte de um todo. Brilham na medida própria, não passam por cima do brilho das outras. Harmonizam-se, entendem-se umas com as outras.
Belos exemplos.
A mediocridade dói, mas cumpre um importante papel. A grande maioria de nós, por mais que nos esforcemos, não passaremos de esforçados medíocres. É condição sine qua non para que um ou outro se sobressaia.

13 de outubro de 2015

Inimigos Mil


Os perturbadores endócrinos lembram a história do chamado estado islâmico: você sabe que eles existem, podem estar mais perto da gente do que imaginamos, vemos aqui e ali seus grandes estragos, mas eles basicamente se escondem.
P.E. são substâncias (poluentes, medicamentos, resíduos, aditivos, etc.) que "enganam" as células produtoras de hormônios, sinalizando para que funcionem mais, menos ou de forma "bagunçada".
A ciência ainda engatinha na compreensão dos seus mecanismos, mas parece que a somatória (ou mais do que isso, a multiplicação) dos seus efeitos contribuem para essa proliferação de "coisas estranhas" que vemos em certas crianças (precocidade sexual, desenvolvimento mamário absurdamente precoce, alterações genitais ao nascimento, obesidade, etc.), mas também de doenças mais sérias, e até mesmo de certos tipos de câncer.
A gente tenta (como paciente, não como médico) ficar imune - o quanto dá - a esses fatores ambientais todos, mas... quem consegue (minimamente)?
Só voltando pra selva (pra morrer mordido por uma jararaca)! (ainda que a vida na selva também deva possuir seus pequenos perturbadores endócrinos...)



9 de outubro de 2015

Mais dos Mesmos


Ninguém gosta de atendimento médico "a toque de caixa", não é mesmo?
E formação médica a toque de caixa, é bom? Menos ainda!
Pois é mais ou menos o que os ministérios associados da Saúde e da Educação estão propondo.
Abertura de novas faculdades de medicina no interior - e "no interior" significa quase sempre menos qualidade e menos controle - para tentar deixar o médico recém-formado "perto de onde irá depois trabalhar".
Primeiro que não é assim. Caso o médico (o bom médico, que é aquele que interessa) perceba que seu lar, doce lar é pobre de recursos, põe canudo, estetoscópio e escrivaninha nas costas e vai também para áreas mais centrais e abarrotadas, atrás da boa prática (para variar, a dialética do governo petista é o da humanidade médica determinando suas preferências, bonito mas tão inocente quanto os que acreditam nas suas políticas públicas).
Em segundo lugar, não é, de novo, exatamente de mais médicos que esse (cada vez mais) pobre país precisa.
Precisaria é de uma revolução!
Revolução na educação, porque população educada deve saber do que precisa e quando precisa (e se precisa). 
Revolução nas leis, porque, por exemplo, dá muito menos trabalho multar e coibir um exército de motoqueiros imprudentes do que tratar e reabilitar uma legião de mutilados.
Revolução na infraestrutura, que pode fazer com que médicos resolvam problemas médicos, não tendo que correr atrás de toalhas, papel carbono e caneta (sem falar em coisas mais "nobres").
Revolução cultural (sem excessos), porque onde faltam livrarias proliferam farmácias.
Revolução econômica, porque muito mal físico é consequência - senão um travestimento - da carência de todo o resto.


Revolução na própria política, porque os exemplos vindo de cima estão de sentar numa maca e ficar chorando.

6 de outubro de 2015

Cólica: Volume Um




Alguns bebês choram.
Outros não: outros são bocas circundadas por bebês.
Há bebês que choram. Outros deixam visita constrangida.
Tem bebê que você vê o pai na primeira hora dizer: "Que lindo, chorando!", ele também, não contendo as lágrimas. Esse mesmo pai, horas depois, olhando pros lados: "Mas agora vamos parando, né?".
Há bocudos que ganham alta da maternidade no primeiro dia "se a mãe prometer que não conta pra ninguém".
Outros têm sua data de nascimento falseada para o dia anterior, e enfermeira ajudando a fazer as malas. 
Há gente que medica. Outros põem tampão no ouvido. Vizinhos obrigados a mudar pro quarto de empregada. Reuniões de condomínio, revestimento acústico, música 24 horas ligada, pra abafar "o boca".
Chupeta, melzinho, chá de tudo quanto é erva, da doce à tremendamente amarga.
Tem pai que com três dias se separa.
Tem briga com a sogra, com a tia, com o jornaleiro.
Até que...
Até que, um dia, o "boca" acorda sardonicamente sorrindo (com um dentinho quase apontando).
E tudo isso para...
E aí, "viveram todos felizes para sempre".

2 de outubro de 2015

Vida de Genérico


Que medicação você deu pra febre?
- Aquela: "cara, ce tá mal!"...
- Só essa?
- Dei também a "tio pirou na".
- E pra tosse?
- "Hã, brô, que sol!".
- Nebulizou?
- Com "birutec"
- Só?
- E "prometo"!
- Promete o que?
- "Prometo de ipa..."
- Ipratrópio?
- Isso! (Essa eu não ia saber falar!)
- Xarope, não?
- Sim: "Ah, se tio insiste em ir na"
- Deu mais alguma coisa?
- "Inseto com anzol"
- Pra micose?
- É!
- E a dor de estômago?
- "Óme pra anzol"...
- Parou por aí?
- "Ao bem do anzol!"
- Vermes!...
- É!
- Nossa! Como é que você conseguiu com tudo isso?
- Ah, doutor, só com a promo...
- Promoção! Com tanto remédio, as farmácias têm mesmo que baixar o preço...
- Não, doutor, só tomando uma "promoprida"!
Medicamentos citados nesta postagem:
Paracetamol, dipirona, ambroxol, Berotec, brometo de ipratrópio, acetilcisteína, cetoconazol, omeprazol, albendazol, bromoprida.
A "era dos genéricos" criou essa dificuldade: pacientes têm agora que lidar com nomes das substâncias, mais do que com nomes comerciais. Era provavelmente mais fácil lembrar de "Tylenol" do que de "paracetamol", mais fácil lembrar de "Zentel" do que do "albendazol", e por aí vai...

Agora, na questão dos novos medicamentos biológicos, a coisa pega de vez. São nomes criados a partir do lançamento de letras ao ar, onde cair, caiu: palivizumabe, etanercept, infliximabe, tocilizumabe. De derrubar qualquer apresentador de jornal. Parecem aquelas palavras de: digite as letras abaixo para provar que você é uma pessoa.