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30 de janeiro de 2015

Afogados


Quem pode olhar na cara dos pais e dizer (ou pelo menos sugerir) que a qualidade da relação com seus filhos é ruim sem arriscar levar uma bolacha ( Maria ou Mirabel ou qualquer marca que seja) na cara?
Não sei o que tem sido pior: aqueles maus pais "evidentes" ( agressivos, intolerantes, ausentes) ou pais "sufocantes de amor", pais que facilmente se inscreveriam em algum concurso de pais do ano e que só com muito poder de persuasão e anos de análise se convenceriam de não serem aquela maravilha que imaginam ser.
Penso que estes últimos sejam piores para a sociedade porque não se conhecem e ao contrário dos primeiros não contam seus filhos com nenhuma proteção social. Nunca vi um Conselho Tutelar bater à porta de pais que inundam seus filhos de presentes, por exemplo.
Amor (ou aquilo que a sociedade atual tem aceitado como prova de amor) demais faz mal. Mimo demais faz mal. Presentes demais fazem mal. Liberdade demais também.
Mas é incrível como é difícil transmitir esse conceito a alguns pais, que negam a qualidade da relação afogando seus filhos em tudo isso.
Acredite, os danos são irreparáveis.

27 de janeiro de 2015

Famosa Desconhecida


O Apgar não é nota de escola.
Ninguém precisa tirar 10 no Apgar.
O Apgar não é um pré-vestibular, nem um pré-Enem (é, no máximo, um pró-neném - ha, ha, muito engraçado!..).
O Apgar, essa "misteriosa nota" que o bebê ganha do pediatra quando nasce, na sua simplicidade, diz muito ao profissional de saúde que não viu a criança ao nascimento.
"Nasceu meio mal", "Engoliu água do parto", "Nasceu roxinho" são algumas das preocupações dos pais com seus filhos, mesmo quando eles já são meio grandinhos (até lá pelos cinquenta anos, mais ou menos).
Pergunta:
Qual foi o Apgar (a nota) dado ao nascimento?
Nota alta (principalmente no quinto minuto - a segunda nota), principalmente acima de 7? 
Comece a se despreocupar com tudo aquilo, pois o Apgar alto nos diz (ainda que com alguma controvérsia) que provavelmente não há motivos ligados ao parto para preocupações.

23 de janeiro de 2015

Esse Papa Tá Bem?


(Papa, de olho num coelhInho menino)


O ex-jogador, senador e "filósofo" Romário cunhou a frase para criticar Pelé. Disse que ele "calado" era "um poeta", mas acho que a frase vai devagar se ajustando ao "nosso" Papa argentino, que na semana passada afirmou que esse negócio de oferecer a outra face é balela: porrada em quem xingasse sua mamãe (na comparação com os insultuosos desenhos do Charlie Hebdo)!
Nesta semana (se você já não ficou de boca aberta, prepare-se para ficar) falou que "embora um filho seja uma verdadeira benção, as pessoas não deveriam continuar se reproduzindo como coelhos"!
Fecha a bíblia!
Gosto de gente (e só lembrando: Papa também é gente, gente!) que fala as coisas "na lata" (até porque também tenho esse grave defeito). Apenas acho que o "representante de Deus na Terra" (mais conhecido pelo diminutivo "papa", com maiúscula) deveria mandar suas opiniões por um porta-voz, um testa de ferro (para depois negá-las, quando percebesse a passada do ponto). Ou seja, que fosse mais falso, como os santos  papas Papas anteriores.
A sinceridade, no entanto, não foi aqui o maior problema. Foi a nada nova (mesmo com um papa Papa "moderninho") hipocrisia da igreja, que não quer muita gente pra dividir o bolo da Terra, mas não esclarece os meios para se atingir esse almejado objetivo. 

"Contracepção?
Naaaa! Não sou tão moderninho assim!" (parece que ouvi dizê-lo, mas deve ter sido somente algum zumbido).
"Conhecimento? Senso crítico? Questionamento? Contestação? Mas aí também vocês querem me derrubar! Eu, que recém subi!" (outro zumbido, esse meu ouvido...)
Fica , então, muito complicado conciliar a "diversão do pobre" (a grande massa que compõe qualquer religião) com o índice de natalidade do urso panda, pela lógica católica assexuada.

(Se virem Francisco me avisem, que já vou me esquivando...)

20 de janeiro de 2015

...O Inferno Está Cheio


Vi um programa na televisão que, como pediatra, me deixou incomodado.
Título do programa: "Deve-se amamentar a qualquer preço?"
A discussão principal foi sobre o "fanatismo", o proselitismo dos hospitais Amigos da Criança na promoção do aleitamento materno.
Acusam os produtores de se fazer a distinção nestas maternidades entre mães "certas", as que amamentam, e mães "erradas", as que por um motivo ou outro não querem amamentar.
É bom ouvirmos isso. Como em toda sociedade democrática, precisamos às vezes de um puxão  na orelha. Devemos estar mesmo "pegando pesado" às vezes (sempre?).
Esse fanatismo, essa "forçação de barra" tem um nobre motivo, uma nobre intenção.
São mesmo várias as vantagens na saúde da criança - ainda que a reportagem tenha tentando confundir a opinião pública com alguns falsos questionamentos.
O problema é que por mais que queiramos incutir nossas convicções na cabeça dos outros, não iremos conseguir. Felizmente!
A honestidade, como sempre, é fundamental para uma boa relação profissionais de saúde-pacientes. 
É que dói ao profissional consciente ("adestrado") ver uma oportunidade preciosa (o aleitamento) ser "jogada fora". É, na verdade, só isso.
Estaremos mais atentos. 

(o ministério da boa pediatria adverte: a promoção da liberdade de escolha é diferente do desprezo ao leite materno, uma situação também vista por aí...)

16 de janeiro de 2015

Cuidado: "Frangotas" Malhando!


Volta e meia vejo pelaí uma(s) ou outra(s) adolescente(s) na faixa etária dos seus 12-13 anos andando pelas ruas, fazendo a sua atividade física diária, e me ponho a pensar: está certo isso? 
Curiosamente estas adolescentes são a cópia escrita de suas mamães (ou titias): as mesmas roupas, as mesmas garrafinhas de água nas mãos, o mesmo bate-papo animado entre as companheiras de "andada". Tudo muito saudável, até porque mostram (inconscientemente) que suas mamães ou suas titias são mesmo as modelos a se seguir (só não conte pras moças!).
Então por que a preocupação, ó Mané?
Nenhuma real preocupação. O incômodo, digamos assim, é com essa aceitação inquestionável da preocupação com o corpitcho, com a boa forma - ou, mais exatamente, com a forma "padrão". É muito por isso que as moçoilas têm já andado cedo nas suas vidas. Um hábito, como disse, inegavelmente saudável, mas também meio escravo, meio alienador ("quem não está bem, não serve") e que deve estar sinalizando algum adiantamento da sexualidade (visto que nessa idade não se malha pra gente, se malha pros outros).

(ou será que não é nada disso, que ando enxergando demais?)

13 de janeiro de 2015

Nossos Senhores "Aparecidos" (Je Ne Suis Pas Charlie Non Plus)


Todo mundo gosta de aparecer. Não fosse assim, Mark Zuckerberg (Facebook, um contínuo desfile de caras e bocas) não estaria caminhando para ser mais milionário que Bill Gates (Microsoft, "apenas" o cérebro dos computadores), e o posterior sucesso do Insta prova que o que se mostra é mesmo mais importante do que o que se tem dentro - pelo menos no curto prazo.
Tresloucados raivosos empunhando armas servem a qualquer causa, desde que rendam a esses infelizes fotos em jornais. São dois momentos de muita mídia: na sua procura e no seu abate. E a causa "religiosa"* ou a causa política, claro, só acrescenta às suas glórias. 
São gente que não se sobressai em outra área, resta-lhes a violência.
Não são, na essência, diferentes de pobres idiotas que vão a estádios de futebol empunhando barras de ferro.
Não são, também, gente com menos intenção de aparecer do que motoqueiros barulhentos. Ou pichadores. Ou gente que bebe até cair na sarjeta, até causar um acidente, até virar a atração da noite. 
Todos queremos viver o nosso momento. Uns com mais desespero do que outros. Uns matando. Outros até se matando, literalmente.

* A religião muçulmana na Europa é a religião da periferia, dos excluídos (assim como a evangélica no Brasil). Não é melhor nem pior, é apenas mais uma. E a exclusão, a sensação de não fazer parte da(s) festa(s) atiça sentimentos raivosos, principalmente nos jovens. É a inversão do "se você não pode combatê-los, una-se a eles". As próprias crenças fundamentalistas do Oriente Médio prosperaram no vácuo das políticas públicas, da atenção às necessidades básicas do seu povo.
Por mais que eu goste do humor escrachado (e acho, claro, que deve mesmo existir - não gosta, não veja) entendo que ofende muita gente. Não vai ser "sendo Charlie" que o "Ocidente" vai resolver a questão do terrorismo, da violência que tem sido vítima. O jovem muçulmano (assim como os seus países, assim como os jovens de qualquer periferia) tem que ser incluído, convidado a participar da "festa", e não ser odiado ou escrachado. 
A respeito, leia a opinião (que eu assino embaixo) do ex-padre Leonardo, o Bofe (brincadeirinha!).


Cançãozinha ouvida na manifestação de domingo, em Paris (que como em toda multidão, teve de tudo, do radicalismo anti-árabe ao "paz e amor" da boca pra fora):

"Je suis un jihadiste
J'adore ma tête dans lés journaux 
Dès q'un avion touche la piste
C'est que j'ai fait mal mon boulot"

("Eu sou um radical jihadista
Adoro meu retrato nos jornais
Sempre que um avião alcança a pista


É porque fiz mal o meu trabalho")

9 de janeiro de 2015

Olhos nos Olhos


Os escândalos que têm pipocado na imprensa sobre médicos que fazem procedimentos para obter vantagens não são, infelizmente, nenhuma novidade.
Quando há uma indústria poderosíssima como a indústria farmacêutica (bem como a de materiais cirúrgicos) dependendo da indicação e da prescrição médicas para que seus produtos "saiam" (sejam vendidos ou utilizados) não é de se surpreender que assediem médicos inescrupulosos para que prescrevam ou utilizem tais produtos.
Sempre foi assim. E sempre continuará sendo. 
Pacientes devem, portanto, estar de olho. Quando, por exemplo, percebem uma incidência muito grande do mesmo tipo de cirurgia - ou a prescrição de um mesmo medicamento - por parte de um mesmo médico. Quando - assim como no caso de políticos corruptos - percebe um enriquecimento ou estilo de vida desproporcionalmente elevado em relação 
aos outros médicos da mesma especialidade. Quando percebe uma ansiedade ou uma "forçação de barra" para que o paciente se submeta a algum tratamento. Quando nota um radicalismo de conduta ("se quiser fazer comigo, é assim!"). 
Lembrando que nada disso é indício inequívoco mas que deve, sim, levantar suspeitas.
Há uma hierarquia no lobby industrial. Médicos de maior ranking são não só mais assediados, mas recebem também maiores prêmios. Um professor de uma grande universidade, por exemplo, pode receber altos valores (algumas vezes na forma de "prêmios", como viagens internacionais) para prescrever determinado medicamento ou utilizar algum material cirúrgico. 
Subespecialidades (ex.: reumatologia pediátrica, na comparação com pediatra geral) também são muito mais procurados por representantes dos laboratórios com vantagens, visto que os pacientes costumam dar muito mais crédito aos supostamente "mais entendidos" no assunto (o que é uma regra válida, desde que o subespecialista aja com a necessária honestidade).
Outro grande complicador do momento atual é a uniformização das condutas em nome de uma medicina mais científica, mais exata. Pode-se imaginar a tremenda pressão da indústria para influenciar em trabalhos científicos que serão responsáveis por essa uniformização. Médicos que sejam contra (por motivos éticos) a algumas dessas condutas são automaticamente taxados de "desatualizados" (o que é mais cruel, pelos próprios pacientes, o que facilita o trabalho da indústria).
Além disso, os grandes sites médicos da Internet são, naturalmente, "gratuitos" e atrativos, (com materiais de ensino de qualidade, como vídeos, materiais gráficos, etc.), o que significa: quase 100% patrocinado pela indústria.
Não há, então, para onde correr. A não ser estar atento a tudo, se informar, desconfiar. E perceber no olhar do médico se o que ele está propondo é realmente o melhor para você ou sua família.

6 de janeiro de 2015

"Tirou Com A Mão"


São poucos, muito poucos os remédios que nos últimos tempos (por exemplo, nas duas últimas décadas) fizeram grandes diferenças em tratamentos clínicos de quaisquer doenças.
Alegadas diferenças, aí a história é outra...
Um exemplo que me vem à cabeça é o caso do Helicobacter pylori. Pacientes com gastrite ou úlcera sofriam os diabos com dores recorrentes, faziam mil dietas, submetiam-se a cirurgias para se livrar de um problema que o tratamento atual (a erradicação do H. pylori, a bactéria imputada na maioria dos casos das gastrites e úlceras, com uma combinação de antibióticos mais um antiácido) "tira com a mão", como costumam dizer os pacientes.
A disfunção erétil (embora não seja exatamente uma "doença") também, aparentemente, se beneficiou de uma (ainda) nova droga nas últimas décadas. Velhinhos duram mais atualmente, e querem fazer (quase) tudo que os jovens fazem, e têm mesmo esse direito.
E quase que para por aí.
Deprimidos tiveram sua promessa, com o aparecimento da fluoxetina (Prozac). Mas não estamos vendo todas as pessoas saltitantes pela rua (graças a Deus!). Já saltando de pontes - sem corda amarrada ao tornozelo - parece que anda um pouco mais frequente.
Diabéticos também têm do que se queixar. Cada novo medicamento vem com mais decepção e perigos do que com alívio. Obesos, da mesma forma.
Vamos, assim, ficando desconfiados das novidades. 


Desconfiança que, aliás, faz muito bem para a nossa saúde. 

2 de janeiro de 2015

Evoluídos


Bem adentrados no âmago do século 21 estamos.
Século da ciência, da informação, da medicina de ponta (ainda que para poucos).
Longe da obscuridade, da magia, da crença em qualquer coisa pelo desconhecimento das causas de tudo.
No passado, mães levavam seus filhos a benzedeiras. Passavam água com açúcar nos olhos das crianças com conjuntivite. Tratavam o "amarelão" dos recém-nascidos com chá de picão. Aplicavam supositórios aromatizantes no ânus dos pequenos para "expulsar" o catarro dos seus pulmões. Passavam sebo de carneiro para as dores nas juntas. Medicavam supostas dores nas barrigas dos seus bebês com substâncias ou inócuas ou perigosas. 
Mas o mais assustador: cidadãos do passado decidiam que qualquer coisa que pudesse fazer mal a eles desaparecia simplesmente desacreditando as opiniões especializadas - ou não dando ouvidos à elas.


Felizmente, evoluímos...