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31 de março de 2015

Cabeçadas


Seu filho gosta de bater uma bolinha de vez em sempre?
Não tenho moral pra reprová-lo, pois sou como um cachorro atrás do osso quando vejo uma bola rolando em algum gramado ou quadra.
O problema é que têm pintado na área muitos estudos comprovando os estragos para o cérebro (principalmente o cérebro em desenvolvimento da criança, mais frágil, menos "enraizado" na caixa craniana) desse esporte. 
Cabeçadas (nas outras cabeças, péssimo, claro, mas também na bola, pouco mais macia) são as responsáveis pelos estragos verificados (ressonâncias de crânio, necrópsias!), bem como traumas bruscos com mudanças de direção do corpo.
Solução?
Capacetes! - pensará você.
Então. Provavelmente vão aparecer como "a solução para o problema".
Só que não!
Capacetes podem proteger o crânio, ou os ossos da face. Não protegerão o cérebro. Este continuará a sofrer os impactos, como a gasolina dentro de um tanque de combustível do carro.
Proibir a cabeçada na regra pode ser uma solução. Deixará o esporte muito menos bonito. Teria acabado com a carreira de muitos jogadores, especializados neste lance, principalmente os atacantes altos.
Preocupa...

27 de março de 2015

Tulogistas



Médicos recém-formados, ansiosos para tratar (quase exclusivamente) de você 


Quando tenho algum problema de saúde (qualquer que seja, mesmo os por mim inventados) qual especialista gostaria de ter sempre à mão?
O especialista em mim ("eulogista", ou da perspectiva do médico, um "tulogista")!
Impossível, claro.
Quem mais se aproximaria desse especialista em mim (fora eu mesmo, ainda que minha visão de mim mesmo seja algo distorcida, sem grande - ou qualquer - distanciamento, tudo em mim é potencialmente grave) seria um parente próximo (tive durante muitos anos um eulogista na figura do meu pai, pediatra como eu) ou um grande amigo, que supostamente me conhece tanto quanto eu mesmo me conheço (ou, curiosamente, do ponto de vista médico, isento, até mais).
Nada disso é o caso da grande maioria das pessoas. O simples acesso ao médico já é um luxo para quase todos.
Com o desenvolvimento das especialidades das últimas décadas, este especialista (o "tulogista", na perspectiva dele) tornou-se uma figura não mais do que mítica. Não só ele não existe, mas está cada vez mais enterrado nos livros de história. Exceção a uma ou outra pessoa, muito importante ou rica.
Hoje vai-se ao médico de partes. Não de nós mesmos. De partes generalizáveis de nós mesmos, o que é uma tremenda roubada. Minha pressão alta, minha úlcera ou simplesmente meu problema digestivo pode ter alguma causa em 99% dos casos atribuíveis a isto ou àquilo. Mas no meu caso, a história pode (e mesmo deve) ser totalmente diferente. 
Especialistas (exceto os "eulogistas") não estão ali para prestar tanta atenção a nós mesmos!

Até porque a fila anda...

24 de março de 2015

Tomando Palcohol




Da seção: Quando Você Achava Que Já Tinha Visto De Tudo...
Nem adianta espernear: o álcool em pó logo, logo será uma realidade.
Álcool em pó pra que?
A indústria se protege dizendo que só serão benefícios. Para uso hospitalar, pra economizar no uso de garrafas, na economia de transporte, etc. Vem em pó e você acrescenta água no volume necessário pra você fazer o que quiser. De desinfetante a bebidinha, de alimentos "para adultos" a produto de limpeza.
Mas tá na cara que criará novos usuários na turma do uso irresponsável, na turma ávida por novidade, na turma do "vamos ver quem morre primeiro com esse negócio".
Por que seria diferente?
Os criadores do Palcohol (o nome da novidade, mas pra nós brasileiros o nome mais interessante seria: Talcool - quero royalties!) garantem que pelo menos cheirá-lo será inviável. E dá pra acreditar. Arderá pra xuxu o nariz do usuário e o volume necessário pro "barato" é meio impraticável. Supositório provavelmente também causará problemas. Mas o povo dá um jeito! O povo é criativo...
Papais, mamães, se preparem. 

Já tenho até as músicas escolhidas para os comerciais:

1) "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!"
2) "Subo nesse Palcohol, minha alma cheira a talco, como bumbum de bebê..."

20 de março de 2015

Af!


Doutor, me explique tudo de uma maneira que eu entenda, mas não esqueça que eu entendo muito, mas muito pouquinho mesmo!
Entendo só o básico, tipo 2 + 2, que é quanto, mesmo? Bom, deixa prá lá, que não vem ao caso...
Lembre também que a minha atenção é limitada, exceto na hora de ver a novela. Nessa eu presto uma atenção danada! Falar nisso, hoje é o dia que o Comendador vai voltar pra casa, então apressa aí, doutor!
Me explica isso que o meu filho tem. É do vento, não é? Foi do sorvete que ele tomou ontem, não foi? "Atacou as bixa", não é verdade? É infequição? Tipo uma leucemia? Dá da anemia da mãe na gravidez? 
E os germe? Pegou do chão? Mas, e esse remédio que o senhor tá dando, diz que ataca o coração, é verdade? Se é verdade, não vou dar não. Tem um chá que diz que faz efeito, não sei se o senhor acredita. Receita da benzedeira, pra filha da minha cunhada funcionou, que o que ela tinha era a mesma coisa.
(Senhor pode dar uma baixada no ar condicionado, que esse frio daqui com o calor que tá lá fora, meu filho pega uma peneumonia!)
Mas me diz uma coisa, doutor. Isso vai dar sempre? 
Mais uma coisa, doutor, pode dar uma olhadinha também nesse, que tá se queixando faz dois meses de uma dor na barriga? Pode ser verme? Posso dar o mesmo remédio? Mas vai fazer mal pro coração (se faz mal pro coração, não vou dar, não!).

Tem retorno?
Tem desconto?
Faz recibo?
Doutor, tô achando o senhor meio pálido. É infequição? Tipo uma leucemia?

17 de março de 2015

Tabuleta


Existe uma condição (condição é aquele problema médico que temos alguma vergonha de chamar de doença) em que a grande recomendação é: não esqueça a tabuleta!
A incidência da urticária cresce na medida que as doenças infecciosas que se parecem com ela diminuem. 
É, às vezes, "feia" - mas quase nunca séria - provocada em muitos casos por medicações ou alimentos "artificiais" (com corantes, conservantes, e outros "antes") e, por isso mesmo, em ascensão.
Como a memória de todos traz à tona doenças "perigosas" (sarampo, rubéola, escarlatina - que na era pré-antibiótico matava - etc.) e contagiosas, bota todo mundo aquele olhão na criança com urticária.
Essa não "passa" para os outros (pode encostar, pode abraçar, pode beijar, pode morder). A criança poderia, então, ir à aula normalmente.
Falo poderia porque é difícil a compreensão justamente do que estou explicando aqui.
Solução? 
A tal tabuleta, pendurada no pescoço da criança:
"Não contagioso!"

(Gente, isso da tabuleta é brincadeira. Fico com algum medo que essas brincadeiras vinguem...)

13 de março de 2015

De Olhos Fechados

- E pra febre, tá dando o que?
- Iprupro... Ibrubro...
- Ibuprofeno?
- Esse aí!
- E por que não está dando paracetamol, dipirona?
- Porque o médico receitou...
- Ah, o médico receitou!... Então agora tudo o que médico receita, você dá de olhos fechados?
- ?...
- Se o teu médico mandar você comprar uma Brasília amarela, você compra sem discussão? Se o teu médico disser que você tem que usar calça boca de sino com suspensório, você usa? Você sabia que o iprupro... o ibrubro... o ibuprofeno causa com frequencia sangramento no estômago ou no intestino?
- Não...
- Você sabia que o ibuprofeno provoca ou piora sintomas respiratórios do tipo asmático?
- Não!
- Você sabe que o ibuprofeno é, na verdade, um antiinflamatório travestido de analgésico para que venda mais?
- Não, eu...
- Você sabia que o lobby a favor do ipru... ibuprofeno é o lobby da poderosa indústria americana de medicamentos contra a "mais honesta" indústria européia?
- Não, doutor, como é que eu ia saber isso?
- Se informando, minha senhora. Parando um pouco pra pensar nos motivos pelos quais médicos que antes receitavam paracetamol e dipirona, hoje em dia só receitam esse tal de ibru, ibu-pro-feno!
- Mas, doutor, foi receita médica... E depois, esse remédio é meio gostosinho, branquinho, esse o Juninho aceita!
- Ah, gostosinho, branquinho, o Juninho aceita, a senhora dá? Vou te receitar, então, outro gostosinho, branquinho, pra ver se o Juninho aceita!
- Açúcar, né, doutor (rindo)?
- Não! Diabo verde! (perdendo a paciência)

(Mas, agora, falando um pouco mais sério: deve haver algum excelente trabalho de marketing ou algum apelo de aspecto ou nome ou uma imagem de novidade frente aos analgésicos mais "antigos" ou um gostinho mais interessante ou o que quer que seja que faz com que essa medicação tão cheia de reações adversas seja tão bem aceita por médicos e mesmo pelos pacientes...)


10 de março de 2015

Espécie em Extinção



Anteontem comemorou-se mais um Dia Internacional da Mulher.
Que para nossa parte do planeta poderia estar se tornando uma data quase simbólica: ainda somos minoria no que diz respeito a uma vida relativamente decente nas diferenças de gênero (mas, claro, sempre há melhorias a se fazer).
Dia da Mulher deve ser como dia do Ar, dia da Água, dia da Importância Óbvia das Coisas.
Deveria ser, então, um dia apenas de lembrança das injustiças, opressões, desigualdades passadas.
Homens reclamam hoje seu direito. E já há situações em que se vêem marginalizados, pela ascensão das mulheres, por perceberem que onde elas tomam conta a conversa é diferente - até porque tem conversa!
Mas o que eu queria ver homenageada não é propriamente a Mulher, mas sim a Feminilidade.
Essa já está fazendo falta. 
Não é a fragilidade física ou emocional. É a inteligência, a intuição, a admissão das fraquezas (o que as torna fortes). É a capacidade de agrupar, de compreender (quando o homem já partiu para a agressão há muito tempo). É a fala mansa e (por que não?) sensual. É o afago. É a esperteza à décima potência. É o olhar de quem deu a luz à tudo o que está aí - ainda que na educação se tenha cometido falhas.
Não há avanço que valha o desprezo, o cancelamento da feminilidade. Sem ela se chega mais perto da almejada igualdade. Mas o mundo fica triste, árido. "Macho". E desumano. 

6 de março de 2015

Isso Pede... Aquilo, Claro!



Não são só os pacientes que "embarcam" na muitas vezes enganosa nomenclatura dos grupos de medicações. Também os médicos (e aí é imperdoável) vão na mesma onda.
Onde tem inflamação: antiinflamatório.
É gripe? "Antigripal".
Tosse? Antitussígeno ("xarope para a tosse" ou "contra a tosse").
Dá mesmo margem à confusão. 
Alguns desses termos foram criados até que com boa intenção. No caso dos antiinflamatórios, por exemplo. Surgiram como uma solução. Mas na prática (principalmente na prática pediátrica) foram se revelando muito mais como bandidos que vilões. E aí já era meio que tarde. Popularmente a prática já tinha pego. Inflamações são autolimitadas na maioria das afecções das crianças. Não precisam de ajuda. Ou, no máximo, precisam de analgésicos. Tão eficazes quanto (mas não em tudo) e com muito menos perigo de reações adversas.
No caso dos antigripais, foi maldade mesmo. Nunca houve um efeito "antigripal" no sentido de curar (ou mesmo melhorar de forma significativa) os sintomas da gripe. As combinações de substâncias ali presentes, mesmo com efeito positivo próximo de zero, mesmo com efeitos colaterais, sobreviveu graças ao marketing farmacêutico e à ignorância da população. Paciência.
Tosse é manifestação de um monte de coisa. Ninguém que se chama médico pensaria em dar um remédio para a tosse para um paciente com tuberculose, por exemplo. Mas tuberculoso tosse. E muito. Linfoma torácico se manifesta, entre outras coisas, por tosse. O paciente asmático tosse por "irritação" ou "inflamação" das vias aéreas. Mas a turma quer o que? Xaropinho pra tosse!
Cabe à gente informar. Dá um trabalho danado! Porque a desinformação é mais rápida, aparentemente mais evidente, conta com apoio do uso corrente e da vovozinha (que aprendeu tudo de medicina no Almanaque do Biotônico Fontoura - mas alguns médicos também!) e, principalmente, gera um lucro (com o perdão da palavra) desgraçado para a indústria farmacêutica.

3 de março de 2015

Febre "Emocional"


O escritor Victor Hugo, no seu livro "Notre-Dame de Paris" (sobre o drama do famoso "corcunda") faz alusão à "febre de Saint Vallier", uma febre que um condenado à morte pela guilhotina (o conde de Saint Vallier) começou a apresentar no exato momento em que soube da sua iminente decapitação (o que, segundo a lenda, depois contestada, o matou antes de ter que enfrentar o cadafalso).
Nos parece óbvio que uma tal situação (a condenação à morte por uma guilhotinada) balançaria tanto todo nosso sistema emocional a ponto de nos deixar realmente muito doentes.
Situação bem diferente da encontrada no dia a dia de algumas crianças que adoecem por "culpa
do emocional". Mas mesmo assim, pelo menos alguma parcela da "culpa" - ainda que difícil de ser provada - nos parece ter alguma plausibilidade.
Por exemplo:
Uma criança de 2 anos de idade grudou num pacotão de bala todo colorido num supermercado, mas sua mãe (maldosa!) não a deixou levar o tal pacote para casa. A criança voltou chorando (se esbugalhando!) e, já na mesma noite, apresentou febre, que durou dois dias.
"Febre de Saint Vallier"?
Um pouco demais como única causa. Mas vai saber que grau de contribuição para a doença (na maioria das vezes viral, de caráter benigno e de curta duração) realmente houve...
Ainda assim, mamães:
Não cedam!
(o problema é que a consulta médica pode custar muito mais que um pacote de balas!)