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30 de junho de 2015

Um Problema Que Só Creche


Não há nenhuma medida mais efetiva para diminuir a incidência das infecções comuns das crianças pequenas do que... tirá-las da creche!
Aquelas escolinhas para todos os tipos de vírus comuns da infância não dão folga: os bebês curam de um, outro aparece no lugar - uns com mais "estragos", outros com menos, mas que dão aquela impressão desagradável e preocupante de que a criança "está sempre doente".
O busílis (problema) é que hoje em dia sugerir uma folga ou umas férias da creche equivale a pedir pra Dilma largar da Presidência: só um motivo muito forte (no caso da criança, da Dilma nem assim)! Uma ou duas faltinhas, já se ameaça que "perderão a vaga" (Por que? Porque aprendem equação de segundo grau? Não, porque não há creche suficiente pra todos, portanto cuide da sua vaga!).
O outro lado da história é que professores torcem o nariz quando as crianças vêm com um espirro, uma tosse, uma coriza a mais do que o combinado: devem ficar em casa (ou em qualquer outro lugar, menos aqui!). Sintomas esses que foram "adquiridos" ...justamente lá!
O que fazer? Correr pra onde? 
Uma opção é pro pediatra (Pediatra? Onde?) pra pedir atestado. Pro filho, vá lá, por prazo curto. Mas... e pra mãe (se as empresas não aceitam)?
Quem fica, então, com a criancinha? 


Avós: corram!

26 de junho de 2015

O Que Os Olhos Não Vêem (II)


Médico não é padre, e mesmo que fosse, seus pacientes dificilmente contariam todos os seus pecados a ele - como, de resto, dificilmente contam ao próprio padre!
E não sem razão isso acontece: lembro de alguns colegas que fazem cara de patrão do Dino da Silva Sauro (lembram?) quando seus pacientes confessam alguma "falha de conduta" em relação à sua saúde.
Na questão dos medicamentos, por exemplo:
Há aquelas medicações que o paciente diz para o médico que toma, mas não toma. Por vários motivos: preço, medo dos efeitos colaterais, por achar que não precisa realmente, preguiça, descrença, incapacidade pela apresentação (cápsula, injetável, etc.), desconfiança do diagnóstico, etc.
Há também aqueles remédios (na maioria falsos remédios) que o paciente toma, mas que não diz que toma. Igualmente por vários motivos: medo da "bronca" do médico, esquecimento, por achar a informação irrelevante, pela própria opção em relação ao medicamento prescrito, etc.
O segundo caso me parece menos frequente. E no caso da Pediatria, um "remédio" me vem logo à mente como principal exemplo (o dos "esquecidos"):
O tal do Vick Vaporub. Uma meleca fedorenta (fedorenta de cheiro bom, segundo a maioria), que só serve para piorar os sintomas dos pacientes (mas que desde o tempo da vovó é um campeão de vendas), como já descrevi aqui.
Quase que dá pra dizer: melhor não conte, mesmo!


23 de junho de 2015

LIBRAS


Esse assunto é sugestão da Renata, mãe, leitora e incentivadora (e que passou pela experiência abaixo citada):
É a questão do "Quem te falou? Ele?"
De uma maneira provocadora - mas às vezes tomada como grosseira ou mal educada - quando mães de recém-nascidos ou lactentes "adivinham" seus sintomas (notadamente "dores de ouvido", "dores de garganta" ou "cólicas"), costumo lascar a tal pergunta: "Quem te falou? Ele (a própria criança)?".
Os tais sintomas são quase sempre "chutes", muitas vezes bem longe da trave, quase na arquibancada. Mas são chutes aprendidos na cultura popular, arraigados, difíceis de desentortar.
E justamente por isso "cutucamos" a noção dos pais. Para que parem pra pensar: por que (por exemplo) dor? E por que os órgãos eleitos (ouvidos, barriga)? Por que não, sei lá, calor? Ou irritação com um ambiente barulhento, ou alteração emocional com alguma sensação desagradável sonhada anteriormente ao choro, ou até mesmo alguma dor (ainda que rara num bebê aparentemente saudável), mas fora da lista dos principais suspeitos (ouvido, barriga...).
Imediatismo, raciocínio simplista, crenças, "Maria-Vai-Com-As-Outrismos" são algumas das causas. E não raramente o próprio médico embarca nelas, por ignorância, preguiça ou concordância amiga. 
De quem ainda não fala, precisamos sim da história dos pais. Não dos seus diagnósticos prontos.

19 de junho de 2015

Camacaca


Então vocês fazem a nebulização com o Benotec e...
- O que? Ah, não! Com Benotec não vou fazer, não!
- Ué? E por que que não?
- Tá louco, doutor? Todo mundo fala que Benotec dá problema, faz mal pro coração...
- E você acredita?
- Ah, não sei... Minha vizinha disse que o coração do filho dela acelerou!...
- E?
- Sei lá, fez mal!...
- Desacelerou depois? Morreu? Foi pra UTI ou alguma coisa assim?
- Não sei, acho que não, mas...
- Isso que deu no filho da sua vizinha foi uma reação adversa do remédio. É algo esperado, mesmo na dose correta, na indicação correta, não quer dizer que fez mal, todo remédio que é remédio de verdade pode ter.
- É, doutor, mas sei lá, não tem um remédio melhor, que não tenha essa coisa de reação aí?
- Tem. Se você quiser, pode dar a acebobofilina. Ou então o amboboxol...
- Funciona?
- Não! Mas praticamente não tem reação adversa. Nem adversa, nem benéfica, nem nada.
- Ah, mas aí do que que adianta?
- Adianta que o seu filho toma alguma coisinha enquanto espera a melhora vir sozinha. Ou então piora e aí você se convence da necessidade de fazer nebulização com Benotec, um remédio "de verdade". Pode ter também algum efeito placebobo. 
- Placebobo? Não é placebo?
- Não. É placebobo. Bobo de quem dá dinheiro pra indústria pra ter um efeito psicológico que pode ser de graça. Bobo de quem espera que remédios não tenham algum efeito colateral. Bobo de quem acredita na conversa dos outros, especialmente outros leigos
- Nossa, doutor, o senhor tá com a macaca hoje, hein?
- Macaca? Deve ser alguma reação adversa de algo que eu estou tomando... Vou ler a bula pra checar.

Comentários?

16 de junho de 2015

No Tapa, Então



Eu acreditava numa posição oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria (quem mandou?), e recomendava para os pacientes:
Piretróides? À princípio, seguro. 
Agora, não param de aparecer novas preocupações ("bobagem", neurotoxicidade, só!) com o uso dos piretróides, que são base de tudo quanto é produto comercial contra "bichinhos" (do inseticida "de parede" ao produto para matar piolhos, passando pelos venenos utilizados na agricultura para frutas e legumes).



E o pior: por não serem muito voláteis (ou seja, não evaporam facilmente), tendem a ficar nos tapetes e carpetes onde a criança brinca (e põe a mão na boca, e lambe, etc)!
Os piretróides são mais uns daqueles produtos que são "naturais" na origem. Vêm dos crisântemos, curiosamente as flores usadas em funerais (não sei se pelo efeito anti-moscas ou anti-mosquitos). O que não quer dizer, claro, que não fazem mal (cocaína vem do que?), mas acabam dando a "aura" de inofensivos.
Não é. 
Ficou complicado recomendar algo pra matar mosquito.
Tapa (!)?

12 de junho de 2015

Ainda Impopulares


Olha, pra mim que sou descrente de quase tudo, considero uma vingança certos empecilhos que os tais remédios biológicos enfrentam.
Remédios biológicos têm em comum o fato de:
Precisarem de alta tecnologia para serem produzidos,
Ainda não poderem ser copiados (genéricos), justamente pela complexidade na produção,
Serem extremamente caros,
Terem uma quantidade grande de efeitos colaterais (alguns deles muito piores do que a doença que propõem tratar), fato "varrido pra baixo do tapete" pela indústria, pela mídia - tanto leiga quanto especializada - e, principalmente, por boa parte dos médicos que obtêm vantagens ao prescrevê-los,
Darem um ar up-to-date aos profissionais que os prescrevem (em comparação ao ar démodé dos que prescrevem os "baratinhos, mas ainda eficientes, e com efeitos colaterais já conhecidos de longa data"),
Contarem com uma tremenda verba (comparável aos seus custos) para intermediar liberações apressadas de órgãos governamentais, fraudar resultados de trabalhos científicos, gerar reportagens em que se decantam seus grandes benefícios,
Terem nomes muito mais impronunciáveis do que os remédios mais antigos, e etc.
Então: como escrevi no início, esses próprios estratagemas que a indústria se vê obrigada a fazer para popularizá-los, e o seu (graças à Deus?) altíssimo custo fez com que (ainda!) não caíssem no gosto e uso popular.
Mas já há muita gente arrebentando patrimônios. Há muita gente sendo cobaia para efeitos colaterais ainda desconhecidos. Há muita gente pagando duas férias anuais de médicos na Grécia e em remotas ilhas da Europa.

(a notícia da semana? jogue fora suas estatinas do tratamento do colesterol elevado! já temos maravilhosos biológicos aprovados!) Grrr!!

Vou sempre terminar essas postagens com a frase:
Eu ponho a boca no trombone! Mas eu não sou ninguém!...

9 de junho de 2015

Ácido Fólico: Pra Quem e Por Que?


O que a gente precisa saber sobre o ácido fólico?
Pouco.
Que é uma espécie de vitamina (ou é uma vitamina).
Que tem grande importância na gestação, visto que já há algum tempo que se provou que recém-nascidos de gestantes carentes do ácido fólico têm maior incidência de defeitos congênitos do sistema nervoso, e que a suplementação evita esses defeitos.
E quase que só.
Um pouquinho mais?
Recém-nascidos muito prematuros também devem precisar de um reforço.
Pra que serve? O ácido fólico participa decisivamente da divisão celular, por isso sua carência pode levar a defeitos na formação de órgãos (embrião) ou anemia no organismo já formado.
Fontes alimentares?
Um monte. Principalmente em alimentos ditos "saudáveis" (vegetais verdes, frutas, cogumelos, algumas carnes, etc.). Talvez aí resida algum perigo recente para a infância, devido à bobajada que as crianças têm comido.
E precisa suplementar as crianças pequenas, não prematuras?
Aí mais uma polêmica:
Vou citar uma frase famosa de um estudo científico:
"Não se conhece nenhuma informação sobre sintomas clínicos de deficiência de ácido fólico em crianças nascidas a termo que foram exclusivamente amamentadas ao seio".
Pronto. Fim de papo!
Mas começaram a aparecer recomendações, que (como vimos acima) podem ser consideradas "furadas". E só para variar, não se sabe com certeza dos efeitos deletérios da superdosagem de ácido fólico, ou da suplementação nos casos em que a dieta já é suficiente.
Já foi coisa demais, né?


Parei, então.

5 de junho de 2015

Besticeler


Entreouvido numa farmácia:
"Qual a fluoxetina mais barata (vagabunda) que você tem aí?" ...
... "Minha esposa acha que tem depressão".

Taí uma compra sensata! Se é pra comprar um placebo (falso medicamento, com efeito psicológico), melhor não gastar muito!
Nem tanto assim, claro. Até pelos perigos de um remédio de qualidade mais baixa. 
Mas há muito medicamento no comércio farmacêutico (muitos deles campeões de venda) que funcionam assim: baratinhos, baratinhos... Mas com efeito apenas placebo. Quase sem efeito colateral, mas com nenhum efeito benéfico, também. 
A pergunta que eu ouço: "Então pra que vendem?"
Porque vende! E se alguém compra, vão continuar vendendo. A não ser que um bom samaritano de órgão governamental resolva um dia implicar com o "medicamento" (o que vai ser muito difícil). O outro caminho? Pacientes se tornarem esclarecidos o suficiente para acabar com o sucesso. Ainda também muito difícil...

2 de junho de 2015

Um Simples Grão?


Às vezes, levamos bronca por tabela.
A bronca que levei a alguns dias atrás foi em relação à dieta sem glúten de um pequeno paciente com doença celíaca
O especialista questionou a mãe sobre a possibilidade de contaminação cruzada na dieta do filho.
O que é a contaminação cruzada? É mais ou menos o que acontece com a contaminação por germe: se o germe é muito agressivo, a mínima "bobeada", pode significar um grande risco para o paciente. No caso da doença celíaca um mínimo grão (de recipiente, prato, talheres, etc.) de um cereal proibido contamina a dieta sem glúten, interferindo na evolução do celíaco.
Achava - na minha ignorância - que "a coisa não era bem assim"... Que mesmo naqueles que não cumprem tão à risca a dieta, também não vão subitamente "explodir", como um alimento estufado, fora da data de validade. Uma preocupação minha era a de não criar um transtorno alimentar pelo pânico, tanto da mãe quanto da própria criança.
E não explodem, mesmo. Mas segundo os próprios especialistas, o cuidado extremo não é um exagero. Vai minando o restante dos esforços, com possíveis consequências nefastas.
Tomou bronca a mãe. Considerei a bronca pra mim, também.
Deve valer pra ela. Valeu pra mim.