Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

28 de agosto de 2015

Linguinha de Fora


De quando em vez um pai ou mãe de paciente comenta sobre o médico ter - veja você! - consultado sobre a dosagem de alguma medicação (no computador, no smart, no livro, etc.). Ou mesmo um resultado de exame, ou o exame necessário pro caso em questão.
Normal.
"Como, normal? Não era pra ele saber?"
Não.
Quer dizer, nem sempre. Principalmente não em medicamentos nos quais tem pouca frequência no uso. Ou mesmo menos experiência. Ou num exame mais "raro". 
E não é obrigado a saber de tudo.
E mostra humildade para querer acertar.
Ou cuidado extremo para não errar.
E... para por aí!
Porque também não dá pra praticar medicina com o "pai dos burros" (a fonte do conhecimento, seja ela física, real ou virtual) o tempo todo do lado, sendo consultado a cada mínimo passo...
E, infelizmente, a gente percebe essa "transferência de memória" (do cérebro para os GB do aparelho) principalmente nas gerações mais novas (porque, claro, ela costuma estar ali, disponível!). 
Como sempre, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
É que buscamos segurança na figura do médico, ela exista de verdade ou não. 

E a imagem de alguém de linguinha de fora digitando suas dúvidas dá meio que uma manchada nela. Não deve ser sempre.

25 de agosto de 2015

Sabendo Usar...


Morei no Rio de Janeiro, há vários anos.
Não deixava de viver, apesar de um certo medo da violência urbana. Ia, por exemplo, ao Maracanã à noite sozinho, com camisa do clube e tudo, às vezes caindo inadvertidamente no meio da torcida adversária*.
Hoje, se quero ir novamente, meu medo é muito maior.
Racional?
Provavelmente não.
Efeito do noticiário diário sobre mortes, assaltos, sequestros, etc. Que já havia na época. Mas como estava lá, via que a vida continuava, normal para a grande maioria.
O mesmo tem ocorrido com certos medicamentos:
Mães que usavam - por exemplo, com os filhos mais velhos - esses remédios sem grandes medos, começaram a se "superinformar", e efeitos colaterais de sempre (conhecidos, incomuns ou não) passaram a assustar, com o resultado evidente da demonização de medicamentos úteis.
Informação não é ruim. Apenas que da sua fonte surgem grandes interesses, ignorância, preconceitos, preferências, muitas vezes somados - e não de forma benévola.
Estamos nós, prescritores de medicamentos, na tarefa inglória de educar, convencer, compensar,     reinformar. Até lobby (o que nos põe em posição constragedora de suspeitos) temos tido que fazer!
De que remédios falo? Falo, por exemplo, dos broncodilatadores, temidos como nunca. Falo da famosa Benzetacil, que tanta pneumonia curou. Falo da dipirona, com mais de meio século de uso no Brasil, com perfil de segurança pra lá de aceitável. Falo da quase extinta aminofilina (veja no Wikipedia brasileiro a vastidão de informação a respeito!), uma opção no tratamento da asma, a custo de banana (banana nossa, pra nós brasileiros). Falo do dextrometorfano, vendido sem controle até recentemente, e por isso tendo gerado uso irresponsável. E etc!

*(Claro que as guerras urbanas são travadas mesmo é nas periferias de qualquer cidade média, mas não é esse o ponto...)

21 de agosto de 2015

Leite de Vaca Velha


leitinho já existe aparentemente há dois anos, mas só agora apareceu o comercial - minha fonte de conhecimento da novidade.
Mais essa, agora... E estava demorando!
Curiosamente, sempre ironizo um pouco as mamães muito preocupadas com qual leitinho dar para seus filhos de 6 meses, 1 ano, 2 ou 10 anos (aqueles já saídos do peito): "Qualquer leite, ora! E isso se ele gostar de leite, o que muitas vezes não se leva em consideração." É muito leitinho "fifi" por aí. A comentada ironia era: "Espere, e logo você vai ver um leitinho Soldado, para quando seu filho estiver ingressando no Exército (com a devida propaganda: "Afinal, para se carregar um fuzil, há maiores necessidades de cálcio e magnésio, com demandas protéicas blá, blá, blá, blá, blá..."). 
E pensa que não vende? Pois até CD do Luan Santana bem propagado vende!
Então: nem sabia do leitinho do idoso, Santa Ignorância!
Para as necessidades blá, blá, blá, blá, blá...
E o que me deixou mais - vamos dizer assim - indignado: para os que estão acima dos 50 anos!...
Ora, dona Nestlé (como diria o personagem do programa televisivo), a senhora vá catar coquinho no meio do mato!
Perderam a boquinha os senhores (sêniores, para ficar mais elegante) da meia idade. Já estão sem dentinhos. Não digerem bem uma fatia de queijo. Um sorvete, então, nem pensar! Cálcio neles na forma de pozinho insípido espalhado na salada de fruta! 

Me dá minha bengala e me ajuda a levantar daqui, que eles vão ver só!

18 de agosto de 2015

Vitamina Z e Cama!


Quando o que temos que fazer é nos conformar, sempre surgem novidades.
É a história da imunidade das crianças pequenas.
Já não bastou a polêmica de mais de meio século da vitamina C, já não basta o engodo dos "imunomoduladores" (nome pomposo para caras cápsulas de pouco mais que nada), agora o foco tem sido na vitamina... C? Não, passa pra próxima: D.
Não há nenhuma comprovação científica de que um grande grupo de crianças seja deficiente da vitamina. E muito menos de que a sua suplementação vá mudar algo que é comum a todas as crianças: a incidência muito maior de gripes, resfriados e uma ou outra eventual infecção bacteriana, dada principalmente pelo contágio em ambiente escolar nos primeiros anos de escola.
A suplementação da vitamina D pode até ser necessária em alguns casos, com a finalidade de uma saúde óssea otimizada. Provavelmente não pra todos. E certamente não como booster pra imunidade das crianças de resto saudáveis. 
Tem efeitos colaterais - alguns não pouco sérios. Não se sabe o efeito da suplementação em longos prazos.
Ainda não é a "mágica" que se espera. E que provavelmente nunca vai existir.

Um detalhe curioso é que boa parte da população (adultos e crianças) que dosa os níveis sanguíneos de vitamina D os têm baixos. Isso provavelmente significa que a faixa de normalidade é que tem que ser revista!

14 de agosto de 2015

Anjos Caídos


"Sabe como era quando não existiam essas portas de carro com auto-travamento?"
"Não"
"As crianças caíam do carro à toda hora. Era fazer um curva mais forte, e lá ia uma criança rolando pra fora! Uma desgraça!"
"Sério?"
"Sério! E sem cinto traseiro, então... Porque não sei se você sabe, mas cinto traseiro também não existia. Ou até existia, mas ficava ali dentro dos assentos a vida toda, entre a chupeta perdida e os grãos de pipoca. Muito menos airbag, em qualquer parte do carro. Então era aquele festival: criancinhas inocentes, catapultadas nas vias públicas. Um horror! Sem falar no atrapalho no trânsito, com todas aquelas mães à procura dos filhos caídos, como se fossem anjos do céu..."
"Você não tá exagerando, não?"
"Exagerando? Imagina! É porque você não viveu essa fase! Você vive na era da segurança total, do erro zero, da ausência de falhas, onde todos os perigos são previstos"
"A não ser esses casos..."
"Que casos?"
"Esses casos, de crianças esquecidas dentro dos carros por um dia inteiro..."
"Ah, mas daí você me sacaneia! A criança ali, com cadeirinha, cinto de segurança, porta auto-travamento, airbag lateral... Segurança total, né? Você ainda quer que os pais lembrem sempre de tirar elas do carro?"


11 de agosto de 2015

A Liga


Faça a seguinte experiência:
Coma algum alimento bem gorduroso e salgado à noite.
O resultado?
Sede. Que vai ser "morta" (pois a sede, coitada, é sempre morta!) com... algum líquido (água, de preferência). Dãr! Óbvio.
O resultado? Xixi, levando embora sal (mas não a gordura).
Agora, o que vai "dar liga" de verdade mesmo pra essa sede, esse mal estar do alimento "do mal" não será a água propriamente. Será algum alimento (mais comida!) rico em fibras solúveis (legumes: entrada ou acompanhamento ou frutas: normalmente uma sobremesa).
O resultado? Menos necessidade de tanto líquido (pois as fibras solúveis contêm e retêm o líquido nelas mesmas) e... Cocô! Levando embora resíduos, entre eles o próprio sal (aliviando um pouco da carga renal) e as próprias gorduras.
Tudo muito óbvio. Mas ao mesmo tempo, um conceito pouco usado na prática, especialmente pela geração junk food.
Uma geração constipada (intestino preso) e sedenta.

7 de agosto de 2015

É Ladrão de Muié!


Dia desses, na praça de alimentação de um lotado shopping center, ao me deliciar com um sorvete de menta com chocolate italiano, ouço, vindo de trás de mim, sons estranhíssimos. Uma coisa meio "dãr", com altos altíssimos e baixos não tão baixíssimos assim.
Ao me virar, me deparo com duas figuras noutra mesa: um provável filho, meio com cara de aborrecido (ou envergonhado), na faixa dos 6 ou 7 anos de idade, e seu provável pai (ou tio?), supostamente adulto.
Quem emitia os estranhíssimos ruídos (que, fui descobrindo, simulavam aviões intergalácticos, robôs, personagens de desenhos animados, todos retirados de uma imensa sacola de presentes)? O suposto pai!
O filho até fazia alguma contida participação nas histórias. Mas era o (suposto) pai o grande astro, o que mobilizava as platéias (eu, incluso), o que buscava a atenção (e estava conseguindo) toda para si.
Não era alguém tão novo, que pudesse justificar sua performance na imaturidade, nos ardores da juventude. Nem parecia ter qualquer problema mental (nada de grave, pelo menos).
Terminado o show, passou feliz por todos nas mesas, inclusive pela minha e da minha esposa (tão impressionada quanto eu). Não passou chapéu. Mas cumprimentou educadamente duas senhoras que lhe sorriam, e comentou qualquer coisa que não consegui ouvir (provavelmente algo como: "essas crianças!...").
Até pouco tempo, filhos olhavam para seus pais para o alto, com olhar de quem busca inspiração para crescerem, para se tornarem eles mesmos adultos.
Hoje vemos (supostos) adultos que fazem tudo para se manter no nível das crianças, numa tentativa meio patética de agradar o tempo todo, de ser a atração, de competir com os brinquedos.
Não à toa ficam ambos perdidos nos seus papéis.
Uma peça que não agrada. Nem mesmo às próprias crianças.

(Sei que pouca gente entenderá esse título. Era a frase do Carequinha, palhaço da minha infância, que respondia ele mesmo à pergunta: "E o palhaço, o que é?")

4 de agosto de 2015

Demora


Por volta de 1860.
Há cerca de 150 anos a indústria alimentícia vem tentando (tira cálcio, põe cálcio, põe fósforo, põe ferro, acidifica, desacidifica, põe magnésio, acrescenta carboidrato, acrescenta vitaminas A,B1,B2,B6,B12,C,D,E,K e niacina, e ácido fólico e ácido pantotênico, põe bactérias liofilizadas, põe zinco, põe manganês, ufa! - ah, e põe PUFA, polyunsaturated fatty acids, ács. graxos poliinsaturados...) se aproximar da composição do leite humano.
Pelo tempo que está levando, dá pra ver que não tem sido nada fácil.
A variedade de opções (e a variedade de opções pra cada idade, do prematuro ao "velhote") também tem mostrado que a tarefa é inglória.
Mas uma das coisas que mais "pega" é a embalagem. Vai ser muito, mas muito difícil aparecer alguma mamadeira com cheirinho de mãe, com gostinho de mãe, com voz de mãe, com "aura" de mãe!
Em propaganda, no entanto, eles excedem. Quase nos fazem acreditar que chegaram lá. Nomes difíceis (alguns deles citados aí acima), indicações as quais eles mesmos criam para seus novos e variados produtos, uma impressão forte de que seu filho terá algo que outros não terão para crescerem robustos, saudáveis e inteligentes.

Dêmos à eles mais alguns séculos.