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27 de novembro de 2015

Três Mesas


Três mesas.
Três histórias verídicas (em que não firo a ética por contar o milagre livrando a cara dos santos):

Primeira mesa:

Napoli, sul da Itália, um restaurante badalado à beira do Mediterrâneo.
À mesa, cerca de 12 jovens, de ambos os sexos, número apostólico, jovens na faixa dos 17 aos 22, 23 anos. 
Pra comer: saladas, pães, azeitonas, pizza...
Pra beber?
Água. Um ou outro refrigerante, mas sobretudo água, durante toda a refeição.
Coquetel, vinho, cerveja? 
Não, água.
Animados, educados, curtidores bebedores de água.
Iriam beber o resto da noite, por isso estavam se poupando? Não sei, não os segui.
Um grupo religioso, com propósitos abstêmios? Improvável, mas não posso afirmar.
Ainda há esperança...

Segunda mesa:

Curitiba, início da tarde, também do sábado.
Uma lanchonete-restaurante da área mais abastada da cidade.
Três bonitas moças, corpos bonitos, roupas sexy, na faixa dos 20 e poucos anos (mas, especialmente de uma delas, um rosto meio precocemente envelhecido) entram.
Sentam à mesa, agitadas.
Conversam alto, como quem quer ser ouvido.
Um só assunto: truques para se manterem ou ficarem ainda mais sexy e bonitas.
Os métodos vão de novos medicamentos para asma (os quais aparentemente estão usando), passando por hormônio de crescimento, até métodos cirúrgicos os mais variados. 
São muitas, intermináveis as maneiras de se conseguir um corpo perfeito.
O que pediram (hora de almoço)? 
Sucos detox. As três. E mais nada.

Terceira mesa:

Refeitório do hospital do Andaraí, zona norte do Rio de Janeiro, há quase três décadas.
Três médicos, na faixa dos 30 e poucos anos, um deles com cara de machão, bigode grosso, monopolizando a conversa.
Só ouço esse, falando alto, quando diz:
"Esses homossexuais (foi outro o termo), pego (também outro o termo) todos!"
Então tá!...



24 de novembro de 2015

Febre "Acostumada"




Aí um ou outro pai ou mãe falam:
"Acho que o remédio pra febre não deve estar funcionando mais, pois nós já tivemos que usar algumas vezes!..."
Errados a conclusão e o motivo, provavelmente.
Ainda que seja plausível a perda de efeito medicamentoso com o uso frequente (em muitos casos realmente acontece, e mais com determinados tipos de medicamento do que com outros), no caso da criança dificilmente o uso chega a ser tão frequente assim (e é mais o uso continuado do que o frequente que altera a ação).
Além disso, nesses casos em que os pais costumam verificar a ausência de efeito tende a ser por algo chamado virulência do germe, ou seja, a sua capacidade de produzir maior ou menor febre, dentre outros sintomas. Uma outra explicação (que pode se somar à anterior) é o momento de reação imunológica da criança, que pode estar com uma tendência à uma reação mais "violenta" (ou até desproporcional, por imaturidade imunológica), que se traduz por febre mais alta.
Relembrando, então, a noção de que nem sempre mais febre significa coisa mais séria ou mesmo mais perigosa.

20 de novembro de 2015

Cybersickness


A turma que não desgruda das telas dos tablets, smarts e computadores já tem um nome para o mal estar que sentem de vez em quando - mas pode ser que não pegue:
cybersickness.
Cybersickness pode ser traduzido como? Mal estar cibernético? Não parece que vai dar ibope...
Mas o que é?
Coisa que a gente vê toda hora: dores de cabeça, uma leve tontura, alguma contração muscular, náusea leve ou sintomas estomacais. Com intensidade proporcional ao número de horas jogando, vendo filme, etc. Aparentemente excluídas as atividades em que o olhar fica mais "parado" na tela, como a simples leitura de ebooks em tablets, por exemplo (ufa, então, para mim!). Isso porque é o movimento ocular intenso (por exemplo, nos games) que cria a sensação parecida com o movimento dos barcos e navios no sistema de equilíbrio do organismo (apenas que, como explica o blog Well, do New York Times, no caso do enjôo de movimento - dos navios - o corpo mexe e o olhar fica parado, no cybersickness os olhos mexem e o corpo fica parado, com resultados semelhantes).
Com uma gama grande de diagnósticos diferenciais, que precisam ser pensados pra não virar a história da "virose", o "chute" que inclui todos sintomas num pensamento diagnóstico só.

Gente mais propensa a sofrer? Enxaquecosos e quem já enjoa fácil aos movimentos, como nas viagens.

17 de novembro de 2015

Quem Não É Visto... *


Viés de recência.
Com esse nome estranho, é mais um dos cuidados que pacientes têm que ter em relação aos seus médicos ou qualquer espécie de terapeuta.
Viés é toda situação que complica a norma, ou seja, que faz o raciocínio correto desviar do seu caminho.
Recência diz respeito ao que é recente.
O viés de recência é, então, a indução que o médico (ou o psicólogo, ou o dentista, ou o fisioterapeuta...) terá para fazer um diagnóstico (e por consequência, um tratamento) incorreto pelo fato de ter estudado (ou aprendido ou re-estudado) sobre determinada doença recentemente.
Em outras palavras, o que está "fresco na cuca" tende a vir como primeira opção quando se trata de fazer um diagnóstico. Mais ou menos assim: eu acabei de ler sobre varicela, vou começar a achar que toda criança com bolinhas pelo corpo tem... varicela! 
Quase todos já fomos vítimas disso. É diferente de uma má intenção, de uma desonestidade de quem trata. E cabe ao terapeuta estar com "o leque dos diagnósticos aberto" até ter suas certezas, baseadas nos fatos concretos, mais do que nas suas (por vezes precipitadas) suposições. 



*O conceito publicitário de marcas "top of the mind" (aquelas marcas que vêm primeiro à mente) tem o mesmo princípio: as marcas que estão sendo marteladas no cotidiano serão mais lembradas. Por isso propagandas podem ser tão chatas.


13 de novembro de 2015

Desparelho


Para os pais que nesse momento estão olhando para as perninhas dos seus bebês e considerando se há alguma diferença de tamanho entre elas (fato mais ou menos comum, e motivo de uma ou outra consulta), apenas três numerozinhos a considerar (retirado do artigo do jornal médico Medscape):
1) cerca de 1/4 das pessoas têm alguma diferença de tamanho entre um membro inferior e outro
2) cerca de 1 em cada 1000 crianças apresenta uma diferença significativa, que exigerá tratamento (calçado ou cirúrgico - normalmente o encurtamento da perna mais longa, e não o alongamento da perna mais curta, muito mais complicado), e
3) 2 cm, é a diferença a partir da qual o tratamento se justifica
Como se pode perceber, como muito problema médico infantil, embora muita gente tenha algo, é leve, e pouca gente precisará tratamento.



Ouvi falar (não sei se é verdade, e a frase pode ter sido erradamente atribuída à ele) que Napoleão, ao ouvir comentários sobre sua relativa baixa estatura (1,68 m) disse que "o valor de um homem é medido da sobrancelha pra cima, e não da sobrancelha pra baixo". Se disse, disse bem!

10 de novembro de 2015

... E Mostra o Pau!


Na semana passada todo o Brasil comentou a história do menino "comedor de cobra" do Rio Grande do Sul, mostrado no Jornal Nacional.
"Grande coisa!", pensei, enciumado.
"Quem manda não fazer publicidade?", retruquei, irritado.
Como esse desconhecido blog era ainda menos conhecido há 8 anos atrás, vou recontar (ou melhor, vou copiar e colar, como contei na época) a história talvez mais fantástica que já atendi até hoje, de outro inacreditável "P.C.C." (pequeno comedor de cobra): 

Suave Veneno:

Tenho por norma não comentar sobre pacientes atendidos, mas hoje a exceção vale a pena pelo ineditismo da história:
Estava o menino de 11 meses engatinhando no chão da sala da humilde casa sob o olhar atento da irmã de 4 anos – daí provavelmente a tranqüilidade da mãe – quando um filhote de jararaca preta (perdão, foto de celular) subiu pelo seu frágil corpinho. Ao dar a volta no pescoço do menino (talvez procurando um melhor ângulo para o bote) foi surpreendido pela agilidade do mesmo que, dum só golpe, agarrou-a e tascou-lhe uma gengivada fatal na sua cabeça.
Embora, segundo os familiares, o veneno amarelado tenha se espalhado pela boca da “vítima”, o menino e a família passam bem.
Quanto aos familiares da cobra, ainda não se "recobraram" (ah, ah, sem graça!...)
Honorários? "Cobrei"! (ah, ah, de novo!...)

Então:
Talvez esse fato não seja tão incrível assim. É possível que mais cobras sejam vítimas indefesas de crianças maldosas Brasil e mundo afora. 
Não sei.
Só sei que quando ando por algum terreno baldio, tomo o maior cuidado.

Pode haver alguma criança ali dentro!

6 de novembro de 2015

A Nossa Turma


Maurício de Souza está completando oitenta aninhos.
Sou da turma (da Mônica) que acha que deveriam ser erguidas algumas estátuas.
Seus gibis atravessam gerações, mas parecem que perdem fôlego com o bombardeio audiovisual de smarts, tablets e superTVs. E nessa arena Cebolinha, Bidu, Horácio e companhia curiosamente nunca se saíram muito bem.
Suas histórias criativas e verdadeiramente animadas (diferentes dos personagens dos quadrinhos da Disney, aborrecidos e enrolados, além de pouco engraçados) foram o início do interesse pelas letras para muita gente. Me incluo nessa.
Que dure para sempre. Que não se extingua sua maneira precisa em se comunicar de forma inteligente com as crianças. Que existam parafusos no cérebro infantil que só se liguem através da leitura e da interpretação (e, sobretudo, da própria interpretação) dos nossos amados quadrinhos.
Persista, Maurício! Siga em frente!

3 de novembro de 2015

"Suiçídio"*


É sempre um tema extremamente complicado, mas que cedo ou tarde a maioria de nós vai ter que se confrontar, e é melhor estar minimamente preparado.
Na Suíça e em países próximos como a Bélgica a questão de se pôr fim à vida que insiste em não terminar sozinha tem sido cada vez mais debatida.
É um debate mais de sociedades ricas, que de alguma maneira vamos nos aproximando.
Pessoas idosas com vários tipos de incapacidade (cegueira, surdez, dificuldade de mobilização, etc.), muitas vezes somadas, se insistem em "sair de cena" têm como única resposta ouvidos moucos de parentes e/ou cuidadores, o que é muito compreensível por parte de um ser humano.
É muita insensibilidade ajudar alguém a pôr fim à vida? Pode ser da mesma forma fazer de conta que tudo está muito bem.
Com o risco enorme de se banalizar tais decisões, precisaremos evoluir para métodos menos doloridos do que o "deixe que eu faço sozinho", quase sempre muito mais desagradável para todos os envolvidos.
Decidido sobre adultos, idosos, vividos, outro debate ainda mais doloroso se imporá: a criança incurável, com doenças que impõem tremendos sofrimentos.
Num ótimo debate da TV suíça sobre o assunto, o cartunista tratou toda essa questão simplificando e fazendo rir um pouco. Dois túmulos lado a lado, em que de um deles um sujeito morto fala: "eu escolhi a morte assistida", e o outro: "eu decidi ir até o fim!". Parabéns para ambos... E parabéns ao cartunista.
Mas que essas coisas têm muito pouca graça, lá isso têm.



* O erro de português do título é proposital (diferente de outros aqui frequentes), de novo somente um jogo de palavras. Precisamos hoje esclarecer: "olha gente, vou contar uma piada!", para não sermos trucidados, como bem lembra o jornalista José Trajano, da ESPN Brasil.