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31 de dezembro de 2016

Novo


O que faz um ano ser melhor - ou pior - que o outro?
Não é uma pergunta fácil de ser respondida, pois a nossa vida não se conta - apesar das aparências - em anos. 
Podemos ter passado os piores trinta segundos da nossa vida num ano que na soma não foi tão ruim. E vice-versa: Adoráveis momentos podem ter sido inseridos num ano lembrado como muito, muito sofrido.
Nossa retrospectiva mistura as datas, tanto quanto a receita de um bolo mistura ingredientes. De forma que no final das contas, o que fica é um sabor marcante e único. Com nuances tão delicados e indistinguíveis que será impossível a rotulagem, mil novecentos e isso, ou dois mil e aquilo.

Ainda assim:  

Feliz 2017!

27 de dezembro de 2016

Semana Morta


Essa semana entre Natal e Ano Novo não existe.
Se você, por exemplo, nasceu nesta época, pode se apalpar. Viu? Você não existe!
Vi anteontem na televisão: sessenta milhões de pessoas estão esta semana em Nova Iorque. Sessenta milhões? Não pode ser verdade, a ilha afundaria! 
Sessenta milhões de pessoas fazendo selfie numa vitrine da Quinta Avenida? Faça as contas, é rapidinho: uma semana tem 10.000 minutos. Sessenta milhões de pessoas na semana, dá 6.000 pessoas se acotovelando para tirar a melhor foto de uma boneca a cada minuto (ou 100 pessoas por segundo)! Não vão ficar boas. Um vulto sorridente sendo empurrado por outro vulto.
Enquanto isso, há muita cidade morta. Se você mora em alguma cidade pequena e deixou casa fechada e está preocupado, não se preocupe: mesmo os ladrões estão em Nova Iorque, fazendo selfie em vitrines da Quinta Avenida!
Mesmo em meio a essa terrível crise política e econômica, brindemos, tentando não deixar a água no champanhe estragar a festa.

(Como disse um conhecido:
"Nossa situação só não está pior que a de dois lugares: da Venezuela e de Caracas!"
"Mas Caracas é a capital da Venezuela!"


"Caraca! Então é a de um lugar só!")

23 de dezembro de 2016

Entrevista Com Um Desiludido


"E então, quando foi que você descobriu que o Papai Noel não existe de verdade?"
"O que? Papai Noel... não... existe?"
"Bem..."
"Tô brincando! Descobri lá por volta dos 6 anos de idade."
"E foi muito... doído?"
"Doido?"
"Não, doído, acento agudo no i"
"Sei. Brincando de novo... Não vou dizer que não foi. Aquela sensação de que todos te enganavam, sabe? Muito chato saber que todos participavam de um teatro para te enganar, a você, seu irmão mais novo e aos seus primos, igualmente novos e crédulos. Mas imagino que mais doído do que foi para mim, foi mesmo para os meus pais. Ainda hoje lembro do olhar da minha mãe, sofrida por confirmar uma verdade que eu já há muito suspeitava. Lágrimas escorriam, mas ela tentava disfarçar, pobrezinha."
"E você acha que isso, essa descoberta da verdade, de alguma forma influenciou na sua personalidade, na sua maneira de ver as coisas, ou mesmo de encarar outras supostas verdades?"
"Não. Quer dizer, não tenho muita certeza a respeito. Só quem pode te responder isto é o meu psicanalista. Ainda que eu suspeite que nem ele vá saber respondê-lo. Além disso, ele tem uma barba branca e uns óculos redondinhos, que eu não sei, não! Se fizer rou-rou, saio correndo!"
"E com os seus filhos? Você falou a verdade, ou fez o mesmo que seus pais fizeram com você?"
"Não foi uma vingança inter-geracional, mas, claro, deixei que eles de alguma forma aprendessem a verdade por conta própria."
"E não fez mal?"
"Não. Também eu me aproveitei do mito para manter quartos mais arrumados, para que comessem um espinafre de vez em quando, para que me deixassem ver um programa de televisão sossegado no período noturno."
"Então a sua conclusão é de que devemos manter o mito vivo?"
"Sim. Acho que sim."
"Não é mentir para as crianças?"
"Talvez seja. Mas não acho que fará mais mal que o mito da Branca de Neve, da Alice, do Hulk ou do Airton Senna."
"Ei! Mas o Airton Senna existiu!"
"Existiu. Mas virou mito, inclusive para muitos adultos, que acreditam piamente que virou um santo, que tinha uma missão, que viu Jesus Cristo numa curva, e etc."
"Verdade! Só mais uma pergunta... Você faria o papel do bom velhinho para sua família?"


"Não. Desculpa, sei que toda essa conversa é muito lugar-comum. Bom velhinho já posso até ser, mas realmente não tenho mais o saco!" 

20 de dezembro de 2016

De Boca Aberta


Pediatra não é dentista tanto quanto dentista não é pediatra e a gente sempre começa a conversa sobre os dentes das crianças com essa ressalva.
Com que idade começa escovação, que tipo de pasta e escova usar, passa ou não passa fio dental?
São perguntas que os pais fazem e que têm como respostas um tanto de aprendizado com profissionais, outro tanto de leitura que se supõe "especializada", algo de bom senso, e por aí vai.
A questão é que muitas dessas recomendações têm passado nos últimos tempos pelo crivo da comprovação científica, das "evidências".
E aí têm aparecido surpresas para nos deixar um pouco "de boca aberta".
Por exemplo: o fio (ou fita) dental, tão apreciado por quem quer ter a sensação de uma boca limpinha (e recomendado por quase todos os dentistas) não tem sua confirmação como algo que previna cáries (e até mesmo, talvez, as gengivites). 
(Um parênteses aqui: e o mau hálito? E as amidalites caseosas - aquelas causadas por restos alimentares "presos" nas amígdalas? Ainda fecho com ele, pelo menos por isso!)
A profilaxia semestral também tem sido questionada. E aí a questão custo entra em jogo. 
Outra: o tipo de escova realmente importa? Escovas têm progredido para engenhocas diferentes das que sempre conhecemos, mas... precisa? O debate está ainda aberto.
Número de escovações diárias, importância do flúor na água, tipo de pasta também carencem de comprovação (a fluoretação da água, por exemplo, é só um exemplo de situação da qual talvez nunca tenhamos comprovação científica, pela dificuldade técnica de estudos abrangentes).

Ou seja: perdoe seu profissional se ele disser a você algo como: "Não tenho certeza!".

16 de dezembro de 2016

GPS


Acho o tema "orientação sexual" interessante porque afeta o dia a dia da sociedade como um todo, mas afeta o sistema de saúde pública muito mais do que se possa imaginar.
É interessante porque com toda cara de liberalidade com a qual levamos nossas vidas, ainda vemos enormes, terríveis preconceitos.
Ao mesmo tempo assusta um pouco (e temos que falar isso com muito cuidado para não termos nossas janelas quebradas) o recente "proselitismo gay", essa coisa das novas gerações de que a homossexualidade deva quase que ser obrigatoriamente experimentada para que se possa dizer que não se gosta, como se a relação sexual com alguém do mesmo sexo fosse um sashimi esotérico ou um pedaço de brócoli. 
Boa parte da mídia é gay. Ótimo. Ajudou muito a quebrar barreiras, a derrubar tabus. Artistas, cantores, publicitários e mesmo donos de indústria também são homossexuais. Sem qualquer problema. Com a exceção de que têm exercido um crescente papel na educação das crianças, no vácuo da presença dos pais (e especialmente da figura masculina educadora). Isso não é conversa de machista-conservador-enrustido. Não. 
Meninos "vocacionados" ao comportamento hetero não precisam se sentir incomodados, tanto quanto não deveriam sentir um choque quando encostados por alguém do mesmo sexo. Sexualidade é identidade. Deve ser sempre - e cada vez mais - respeitada. Mas a balança não deveria pender para um lado ou outro ao sabor dos modismos, da mídia, ou mesmo da pressão social. 
Isso sempre tem feito pessoas (e seus parentes) infelizes, doentes, fisica e psiquicamente.
Se você é gay, sugiro que se assuma. É o melhor que tem a fazer. Por mais sofrimentos que cause no curto prazo, sua vida será mais "leve" no futuro (ainda que não exatamente "fácil" como esperamos que seja num futuro ainda longinquo).
Se você tem convicções hetero, seja firme na sua heterosexualidade. Se ainda por um outro lado sente-se "curioso", se sente aquele "choque" que me referi acima, talvez deva mesmo repensar sua orientação, tarefa que demanda algo de coragem e sinceridade.
A brincadeira da música do Adnet de que "todo mundo é gay" não deve ser verdade. Mas ela interessa para fazer as pessoas repensarem suas posições. Interessa também para que cheguemos mais próximos dos "números reais" do comportamento sexual. Fará bem a todos, imagino.


(Só lembrando que o próprio conceito do limite entre a homo e a heterosexualidade está tendendo a ser borrado hoje em dia. É possível que todos os "alfarrábios" sejam jogados fora em questão de poucos anos e eu precise pedir desculpas por essa postagem tão démodé)

13 de dezembro de 2016

Síndrome do Porquinho


"Doutor, minho filho engoliu uma moeda!"
"De quanto?"

Sei que parece uma piada. Mas não é.
O "preço" do acidente importa. E o tamanho das nossas atuais moedas servem muito como uma referência. 
A moeda de 1 real (além do maior prejuízo) tem diâmetro de 2,7 cm. É o diâmetro limítrofe, com chances maiores de ficar "entalado" no estômago.
Valores menores (50 centavos ou menos), além da economia, têm diâmetros menores, raramente deixando de progredir em direção à "saída". Mas sempre é importante tentar recuperar a moeda nas fezes (e não só pelo prejuízo, mais pela necessidade de confirmação da eliminação).
Claro que não é só o diâmetro que importa. Objetos mais perigosos, como ponteagudos ou baterias  (mesmo pequenas) e imãs provavelmente irão requerer endoscopia emergencial para retirada.
E qual limite de espera de eliminação dos menos perigosos? 

Com algum acompanhamento (radiológico, inclusive), até cerca de 3 semanas!

9 de dezembro de 2016

Sem Fim


Não sei se sou eu o pessimista ou eles os otimistas (provavelmente os dois).
Mas nessa conversa toda de se jogar as aposentadorias "mais para a frente" o governo só leva em consideração uma hipótese: a de que estamos vivendo cada vez mais e (aí o perigo!) iremos sempre viver cada vez mais!
Será?
Quem disse?
Muita gente diz. Sempre com o argumento do avanço da ciência, notadamente da ciência médica.
Mas... Será isso mesmo necessariamente verdade?
Tem muita gente boa começando a achar que talvez não, não iremos viver tanto assim. Ou, pelo menos, não viveremos bem (para estarmos com capacidade para trabalhar, que é o que em última análise importa para a Previdência) durante tanto tempo. E precisaremos, sim, de auxílio governamental para conseguirmos nos manter "minimamente vivos".
Alimentação pouco saudável, poluição, stress, competição por trabalho cada vez mais exíguo, sedentarismo, lares desfeitos, alterações climáticas graves são alguns dos argumentos convincentes para que não consigamos viver tanto quanto as previsões otimistas profetizam.
E aí, cabe a pergunta técnica: se vivermos menos (digamos com uma expectativa de vida de 60 anos) vamos "voltar para trás" na idade de concessão de benefícios?

Perguntar, às vezes, não ofende...

6 de dezembro de 2016

I & I


Ineditismo e intensidade.
Com frequência os pais de crianças com sintomas de "bronquite" (ou asma) perguntam se devem fazer um raio X no momento do aparecimento dos sintomas.
Na maioria das vezes é desnecessário. Se não há dúvida diagnóstica. Se os sintomas são inequívocos. 
Há duas excessões, no entanto.
Se a criança nunca teve sintomas de "bronquite" antes - especialmente se é uma criança um pouco mais velha (ineditismo). Porque os sintomas de outros problemas (principalmente uma aspiração de corpo estranho) podem simular uma "crise banal de bronquite".
Ou uma crise de intensidade desproporcional ao que já teve antes (intensidade). Até porque dá alguma tranquilidade "ver um Rx normal" nesses casos (ainda que uma crise intensa possa alterar o raio X a ponto de simular outras doenças, como a pneumonia, por exemplo).
No restante dos casos (a maioria, portanto), nada de raio X.

2 de dezembro de 2016

Nunca "A Favor"


Não sou ninguém pra falar de aborto. Até porque minha lida é com os resultados de quem não abortou (as crianças, os anti-abortos por definição).
Parece, no entanto, que nós vamos caminhando para a "institucionalização" do aborto também. 
Claro que as coisas vão ainda demorar muito para acontecer da forma certa (forma certa lá fora é como tem que ser, diferente da nossa forma certa que é do jeito que dá e olha lá). Vão haver clínicas especializadas servindo ao SUS, vão ser atendidas na maternidade como nossos abortos "espontâneos" costumam ser, vamos ter uma especialidade obstétrica à parte? Sabe-se lá! Provavelmente uma mistura incompleta de tudo isso, como tudo aquilo mais é.
Como alguém que pensa mais do que crê também acho que em muita coisa pode melhorar a situação atual de mulheres que arriscam (e frequentemente perdem) suas vidas. Concordo com a definição de hipocrisia os preceitos religiosos sempre (e muitas vezes raivosamente) alegados.
Uma coisa, entretanto, me angustia:
Somos o país do otimismo sem motivo, do deixar pra depois, do não-vai-acontecer. Estamos num momento (que pode ser longo) muito vulnerável em termos de políticas públicas, de educação, de condição social e econômica, e etc.
E nessas situações, um aborto "anunciado, anistiado e facilitado" pode mesmo se transformar numa "pilulona do dia seguinte", do estímulo à irresponsabilidade (ou ao desestímulo à responsabilidade, como queiram). Temos sido assim em quase tudo: remediando mal o que poderíamos tranquilamente evitar. 

Poderemos (e até mesmo devemos) tentar. Mas ainda devemos refletir sobre.

29 de novembro de 2016

A Grades


Passamos em pouco tempo do casamento arranjado para o casamento com (suposto) amor, para o casamento com data de validade (hoje, raramente "eterno").
Nossos pais, avós e bisavós (se você que está aqui a ler não é um adolescente) foram, então, a turma que vivenciou o "casamento por amor eterno", aquele pessoal que escolheu um parceiro com quem - a princípio - iria viver até que um dos dois batesse as botas. Pouco problema para o sistema judiciário.
Mas agora filhos vêm quase como um efeito colateral de relações findáveis, em que quando o amor acaba (se é que realmente chegou a existir), o que sobra é a divisão de responsabilidades entre pais muitas vezes rancorosos, com as cabeças (meio que literalmente, desculpa a grosseria) já mergulhadas em novos relacionamentos.
O resultado disso? Infindáveis processos, audiências conciliatórias, mandados de prisão, ameaças, e etc. Haja justiça pra essa gente toda!
Ninguém que não seja muito calculista manda um "acho que estou te amando" adicionado a uma declaração de renda. São raros pais que na maternidade começam a fazer conta (de divisão, de subtração) antevendo a separação. Mas a se bem pensar, não seria nada tão estranho.

Estranho mesmo é ver um pai ignorante e pobre atrás das grades como solução final para algo que um dia foi inocentemente chamado de amor.

25 de novembro de 2016

Esculhambose


Sempre se usou certos diagnósticos médicos em vão
Mas talvez não tanto quanto agora. Sei lá.
A culpa só pode ser da universalização da informação e da internet, onde cada um pode ser seu próprio médico. Só que não. 
Houve uma época (dizem!) em que boa parte da humanidade era esquisofrênica. Aquela coisa do "Que tanto você fala disso,tá esquisofrênico, é?". 
Outra que eu já me lembro era o do raquítico. Eu, por exemplo, magro como um louva-Deus durante toda minha infância, era um "raquítico". Nada a ver com a vitamina D. Mas era!
A tosse comprida, enquanto existiu como doença frequente na infância, frequentava a boca de todas as vovós. Ninguém podia tossir, que as velhinhas já emcompridavam a tosse pra caberem nos seus diagnósticos.
Agora, falando de hoje, deste exato momento, milhares de crianças (e mesmo adultos) estão recebendo seus diagnósticos de intolerantes à lactose. Basta um punzinho meio atravessado e cria-se um drama.
Hiperatividade: crianças que não chegam quietas e saem paralisadas são hiperativas. Diagnóstico principalmente da alçada de professores, do jardim à universidade.
Há 27 anos não vejo um sarampo. Mas mensalmente atendo crianças que devem estar com ele. Interessante como o estigma demora a se resolver na sociedade.
Pneumonia, infecção no intestino, cólica, bipolaridade, rinite, fimose. São outros dos vários diagnósticos auto-dados. E com certificado googliano de qualidade. Difíceis de confutar. 
Um antigo professor costumava dar um diagnóstico, esculhambose - ou algo parecido - ao seus pacientes saudáveis, ansiosos por possuírem "alguma coisa". A internet o teria desmascarado...

22 de novembro de 2016

Um Por Cento de Nada



Uma pesquisa tem dado o que falar este ano.
Pesquisadores fizeram uma espécie de "Enem" (quando me refiro a Enem quero dizer aquele original, que tinha por função avaliar escolas) de médicos recém-formados na cidade de Baltimore (EUA) para que eles demonstrassem o seu conhecimento quanto a real capacidade de tratar certas doenças. Curiosamente, os médicos falharam (e falharam muito) em superestimar suas capacidades, principalmente no que diz respeito aos exames diagnósticos (ex.: mamografia no caso do câncer de mama) e medicamentos (como, por exemplo, os tratamentos medicamentos disponíveis para tratar a osteoporose).
Em alguns casos, a discrepância entre a efetividade dos medicamentos real e a "acreditada" chegou a ser quase de 70 vezes!
Muita ignorância?
Isso em boa parte se explica pela maneira como se ensina. Principalmente como se ensina em sociedades voltadas para o consumo e o imediatismo, como a sociedade americana (e, por consequência, a nossa própria, copiadora do modelo americano). 
Mais ou menos assim:
Doença X, o que se propõe como medicamento?
Isso, isso e aquilo.
Algumas vezes param por aí.
Mas algumas vezes, vai-se além:
Efetivos?
Pouco. O medicamento Y é o mais efetivo.
Conclusão?
Y neles (os pacientes)!
Onde quase nunca se chega é no analisar profundamente os riscos x benefícios, os interesses da indústria, o interesse do professor ou da própria faculdade no promover o tratamento, no abordar o problema com sinceridade com o paciente (muitas vezes no sentido de "abrir o jogo" expondo a inexistência de terapias efetivas), etc.
Então, pela "comodidade" (do ensino, do médico - que sente-se na obrigação de oferecer algo - ou dos pacientes e familiares, que precisam de tábuas terapêuticas onde se agarrar), pela pressão da indústria farmacêutica, ou mesmo pela desonestidade envolvida no processo, o tal medicamento Y vai tendo seu uso consagrado. Mesmo que essa "maior efetividade" chegue a incríveis 1%!

18 de novembro de 2016

Como É Linda Essa Minha Profissão (Parte III)



Quem é que tem esse privilégio?
Você chega para trabalhar no período da tarde, com alguma preguiça, talvez um pouco desanimado, com uma dorzinha aqui outra ali própria da sua tenra idade e avista:
Uma belíssima figura loira de olhos incrivelmente azuis, na porta do seu consultório, de quatro. Ao admirá-la, ela devolve seu olhar surpreso com um lindo sorriso, vira de bumbum pra você e engatinha agilmente em busca da sua mãe.
Pronto! 
Ânimo renovado.
Nada contra outras faixas etárias, mas fico com alguma pena de meus colegas que não saboreiam esses momentos no seu ambiente de trabalho, onde às vezes tudo parece queixa, sofrimento, frustração. Mesmo que ganhem mais do que a gente, o que costuma acontecer.
Estamos sendo muito bem pagos.


(esse "parte III" do título é puro charme!...)

15 de novembro de 2016

Espelho, Espelho Nosso


Minha especialidade não permite extravagâncias monetárias, por isso fui poucas vezes aos Estados Unidos. 
Nesta última vez que fui, entretanto (neste mesmo mês que acabou de acabar), uma das coisas que me chamaram atenção foram os comerciais de televisão lá veiculados. Duas mercadorias são insistentemente oferecidas: junk food, como sempre, e, não por coincidência, a novidade dos recentes anos: remédios. Não mais os "remedinhos" - ainda que comerciais destes ainda existam, e mais do que deveriam - mas os medicamentos ditos "biológicos". 
Já falei aqui algumas vezes sobre os biológicos.
São remédios que podem ser resumidos com três adjetivos: caríssimos, não copiáveis (sem genéricos, ainda) e perigosos, pois repletos de efeitos colaterais (muitos ainda desconhecidos).
Não é que devam ser desprezados. O que incomoda é a glorificação. Têm aparecido como "solução definitiva" para males para os quais até então pouca coisa podia ser feita. E aí é que está: tem problemas médicos que vão ser melhor conduzidos com boa dose de compreensão e outra tanta de resignação (uma combinação, convenhamos, que não se integra com a maneira ocidental de se ver as coisas, ainda mais no país que a representa) mais do que com falsas promessas de cura porque "em preço alto e alta tecnologia todo mundo há de confiar".
Sei que falo (e escrevo) para o vento. Já fui vencido nesta também. Me preocupa saber que o estilo americano é molde para o brasileiro, médicos incluídos. E não tem custado quase nada para quem já gastou tanto com pesquisa, desenvolvimento, propaganda incluir algumas sumidades médicas no paycheck* também.

(Outra coisa interessante é que a legislação americana obriga a incluir a advertência sobre muitos dos efeitos colaterais no final do comercial, o que o torna quase um filme, e faz pensar: alguém vai ter coragem de encarar isto? Em países como o Brasil a norma há de ser diferente, pensam os fabricantes)

*Paycheck: folha de pagamento. É só uma infeliz coincidência a maneira como os próprios americanos pronunciam meu sobrenome (Peitcheco)!

11 de novembro de 2016

Capitalismo $elvagem





(A postura de "vencemos" tem uma cara de "f... you all"!)

Acabamos de ver onde regimes de governo com tendências esquerdistas podem nos levar. É quase sempre uma desgraça, porque capitaneado por lobos com a maior pose de carneirinho.
O capitalismo não é um regime único, e bastam olhos pra se ver que tem seus vários defeitos. Importam muito as intenções do governante. Há que se ter o maior cuidado.
Por duas vezes escrevi aqui sobre Donald Trump. Aconteceu. Paremos de esfregar os olhos, de achar que foi pesadelo. Aconteceu, de verdade.
Não é o americano médio que não pensa. Foi o americano humilde, o desprezado, o que se levantou sem preguiça de ir às urnas, o que é apaixonado por armas e não quer perder o seu direito ao porte e etc. Foram esses que elegeram um cara com a cara típica do americano arrogante, que acha que são só eles no mundo, que acha que o paraíso é presidido por alguém que enrola o "r" pra falar.
Quem pensa um pouco deveria se perguntar o que governos com a cabeça voltada exclusivamente para os negócios, para o crescimento, para a expansão, acham sobre a àrea da saúde.
A saúde só é lucrativa quando atende aos interesses dos menos interessados, que são os que precisam dela. Não se pode pensar em saúde como um negócio. Não é, e nunca vai ser. E quando passa a ser, trocamos os pés pelas mãos. Nos transformamos nessas aberrações de ponta-cabeça que acham que estão bem assistidos porque têm insulina de graça, porque têm direito a uma prótese, porque têm uma farmácia em cada esquina. 
Pergunte, por exemplo, a um japonês (ou mesmo para um canadense, mais próximo) se ele concorda com esses conceitos.
Trump venderá tudo e comprará tudo, se não houverem grandes reviravoltas no seu governo. É assim que sua cabecinha funciona. Não irá vacilar em cortar gastos em áreas "ineficientes", como cuidar de velhos, pobres e imigrantes. Sabe que é bom de papo, agora mais ainda. E quando descobrirem que o pastel é de vento, já terá sido comido.

8 de novembro de 2016

Fé Compulsória


("Prefiro a imagem da manjedoura")

Não lembro de quase nada da minha catequese, talvez porque faça pouco tempo (!).
Lembro apenas que era parte da "grade curricular" de um colégio de freiras, e que eram horas nas quais aproveitávamos para "descansar" da parte pesada, como matemática, história, geografia, etc.
Algo como "Educação Artística com Severidade Celestial".
Minha educação religiosa veio muito, muito mais da curiosidade intelectual. Aos 9 anos, ganhei (de Natal!) um livro grosso chamado "A Bíblia para Crianças", fartamente ilustrado, e li inteiro (claro, gostei muito mais das histórias fantásticas do Velho Testamento...). O resto veio de filmes, missas frequentadas de forma compulsória, etc.
Talvez por tudo isso fico com "peninha" das crianças que hoje são submetidas a um rigor (ao meu ver) exagerado na catequese. E com 2 anos de duração. Que poderiam ser melhor aproveitadas com noções elementares de Filosofia, por exemplo.
Fica aquela coisa do "obrigado é sem nenhum prazer" e acaba tendo o resultado contrário ao esperado pela igreja. Afasta os futuros fiéis. 
E cria mais um motivo para escrivinharmos atestados, verdadeiros ou nem tanto. 

4 de novembro de 2016

Dedada Azul


Não estou aqui pra julgar o afeto que cada homem de meia-idade nutre pelo seu urologista, mas há muito tempo que as evidências vêm mostrando que pouco adiantam as dedadas anuais a que têm se submetido uma legião deles (alguns a real contragosto).
O mesmo vale para as mulheres e suas mamas. A idéia vendida de que "se previne" (vale dizer: "se livra", "se evita") o câncer é, em boa parte, falsa. 
Acontece que alguém que ousa falar (escrever) isso é visto como inimigo público número um. 
Sempre fico imaginando a multidão de mulheres para as quais se diz: "é, tem algum nodulozinho aí, mesmo", o que costuma vir depois: portas do SUS se abrem milagrosamente e a paciente em questão (agora uma "paciente", se antes não era) tendo seu pronto agendamento com os melhores especialistas, acompanhamento psicológico (porque o achado de um "nodulozinho" é carregado de um plúmbeo significado para todos(as)) imediato e continuado, acesso aos melhores exames confirmatórios da sua condição (se benigna ou maligna), bem como a medicamentos senão de graça, pelo menos subsidiados pelo estado.
Quem já vivenciou isso, sabe que é fantasia. 
E nas mulheres, como nos homens, anualmente se abarrotam ambulatórios, salas de exames, laboratórios com pessoas que iriam viver muitos anos na feliz ignorância de uma condição que mata mesmo é aqueles que já iria matar de qualquer forma. E que põe o benigno na vizinhança do maligno (e o pouco maligno na vizinhança do muito maligno), todos com os mesmos terrores e expectativas.
Isso está errado. 
Mas vamos ter muitos meses rosas e azuis até percebermos que é um esquema que deve ser afrontado e mudado.


(Outro fato curioso é a própria nomenclatura "rosa" e "azul". Então não temos ensinado a diversidade? A aproximação dos gêneros? E aí a mulher é "rosa", sendo que muitas mulheres ficam magníficas num vestido azul? E o homem é "azul", mas poderia ser igualmente "marrom" ou "preto", mas que nenhuma cor deveria (mais) simbolizar um gênero? Só não está pior do que as "antigas" camisetas que pintavam um alvo (!) nos peitos das mulheres...)

1 de novembro de 2016

Calmaria


Imagina um salva-vidas que, a cada banhista que adentrasse ao mar, saísse correndo desesperado, gritando: "Cuidado!", "Veja lá por onde vai!", "Pode se afogar, hein?!".
Um afogamento é coisa muito séria. Mas a grande maioria dos banhistas pula na água, toma seu banhinho, mergulha, nada, bóia e sai... incólume.
Com o parto deveria acontecer mais ou menos a mesma coisa.
Não é porque um ou outro bebê pode às vezes "se afogar" (por assim dizer), que em todos os partos o "salva-vidas" (pediatra) deve estar trêmulo, ansioso, correndo para lá e para cá, como quem esperasse o pior.
A postura ideal tanto de um quanto de outro (do pediatra como do próprio salva-vidas) deveria se limitar a "estar por perto em caso de necessidade", mais do que realizando manobras intepestivas, cruentas, que só irão contribuir para semear mais desconforto à gestante, ou mesmo aos obstetras e parentes próximos.

28 de outubro de 2016

Mais Essas


Fluorsurfactante.
Apostaria um pirulito (daqueles grandes, multicolores, com gosto de nada) que você nunca ouviu falar disso. E não me pergunte onde acho essas coisas (achei, ué!). 
É só mais uma dos compostos químicos recentes que vêm se somar às preocupações de saúde no que comemos, bebemos, vestimos, e etc.
Os PFS (sigla da coisa) estão presentes em praticamente todas as embalagens lipofílicas (que bloqueiam a passagem de gorduras e, portanto, de umidade). Ou seja, estão em embalagens de chocolates, biscoitos, massas secas, manteigas, alimentos congelados, etc. E, adivinhem?  Passam pros alimentos estes compostos, principalmente quando em tempos mais longos de conservação, ou em aumentos de temperatura. 
O que causam?
Mais uma vez - assim como nos compostos plásticos - causam principalmente interferência no funcionamento hormonal dos organismos (fazem parte dos chamados perturbadores endócrinos), dos bebês no ventre materno aos vovozinhos (além de alguns tipos de doenças chamadas autoimunes, e câncer em alguns órgãos).
E está se fazendo alguma coisa a respeito? 


Não. Exceto alguns protestos isolados (principalmente por parte do Greenpeace). Até porque 1) a descoberta dos problemas é muito difícil de ser comprovada individualmente 2) é de introdução relativamente recente (e esses efeitos tipicamente levam décadas acontecendo até que se tomem providências), 3) outros compostos têm sido implicados em sintomas semelhantes, confundindo resultados de estudos e 4) para variar, a indústria vai negar até o fim os problemas com estas substâncias.

25 de outubro de 2016

Itaí


Acho que sou das poucas pessoas que, não sendo publicitário, se preocupa com propagandas.
Nada a dizer das sempre novas cervejas com velhos chavões comerciais, que transformam todo brasileiro em jovem torcedor de futebol fanático e machistamente mulherengo (e que, além disso, odeia ou teme a "patroa"). 
Minha velha implicância é com o Itaú. Faz propagandas lindíssimas. Muito preocupado com o social esse banco! 
E das últimas, a que me faz rir muito é o "leia para uma criança".
Mesmo? É sério isso? Para que pais estão falando? De qual país (ou planeta)?
Pais? Lendo para filhos? Lendo uma história infantil? Algo mais interessante que o conteúdo pronto do smartphone (mais interessante que Peppa para crianças e Face para adultos)? Quem vai para esse sacrifício? 
A leitura, Itaú, já está irremediavelmente perdida. Morta. Enterrada. Talvez não para a geração atual dos pais, pois alguns ainda resistem à transformação do cérebro em algo que não lê (só ouve, vê, e eventualmente raciocina, nesta ordem). Mas para os filhos, pfuu! Desista! Invista em causas mais úteis sua obrigatória verba de cunho social.

Um filme (dublado) infantil é a dica.

21 de outubro de 2016

O Meu Primeiro


Não estou aqui pra defender governo, longe disso.
Mas as "compras" na área da saúde há muito tempo não poderiam serem mais feitas na base do "Quanto custa? Dá!". Ninguém, exceto alguns milionários, compram no sistema "Quanto custa? Dá!"! E é isso que se pede dos governos de países pobres como o nosso (pobres em relação às milhões de necessidades)!
Toda compra responsável se faz contando o dinheirinho da palma da mão e vendo se dá, mesmo quando é algo que necessitamos muito. E aí é que está: quase todos são unânimes em concordar que a saúde é algo que se necessita muito. Mas ainda assim é preciso que as moedinhas cubram o valor cobrado, ou...
Ou se racionaliza na compra do que é possível. 
E nos governos brasileiros, até hoje, isso não tem sido (ou não tem sido adequadamente) feito. 
O dinheiro usado na compra do medicamento caríssimo contra o câncer de um faz faltar a penicilina barata no tratamento da sífilis de outro. A ressonância magnética das comuns dores de cabeça fazem o dinheiro do exame da tuberculose faltar. É o que tem acontecido. E para tratar a todos com tudo o que se necessita, nunca mais vai dar! Então como é que faz?
Primeiro, conta-se a verdade. Isso tem o mesmo nome em todos os países: educa-se! Por dolorido e antipático que seja. A medicina de hoje conta com procedimentos e tratamentos caros (e nem sempre tão eficientes) como nunca houve. O problema é que não cabe mais no bolso! É preciso dizer isso abertamente. O que os governos fazem (ainda, por questões essencialmente eleitorais) é o mesmo que os planos de saúde fazem: cobriremos tudo (sabendo que não dá)! Os planos de saúde individuais sumiram do mercado por isso. Quebraram. O SUS não pode "sair do mercado". Mas precisa ser gerido antes do caos.
A mídia também, precisa deixar de ser apenas simpática com o povo. Tem que explicar, e não balançar a cabeça ao mostrar as filas nos postos de saúde.

O povo brasileiro pegou muito dinheiro emprestado nos últimos anos, até perceber que a devolução é muito mais cara, que é dificílimo pagar. Assim vai sendo na área da saúde. "As contas não fecham" é discurso de gente responsável, por desesperador que seja. Não para não comprar. Para comprar pra todos, somente na medida do possível.


(Que? Tava de férias!.. Não posso?)

4 de outubro de 2016

Onde Crianças Deveriam Ficar


Hospitalizar ou não? Eis a questão.
Não sei ao certo (só hipotetizo) quais fatores têm levado a um muito menor número de hospitalizações infantis. O fato é que na maioria dos hospitais a ala pediátrica encolheu nas últimas duas décadas.
Um dos fatores foi, com certeza, a diminuição do número de doenças graves que a exigiam. Vacinas, nível de renda, nível educacional, saneamento, atendimento primário são alguns dos contribuintes para isso.
Há outros fatores menos suspeitados, certamente. O próprio desestímulo médico  (ganho) em manter enfermarias cheias. Mas a pressão muito maior por parte de pais que hoje não admitem uma internação que eles próprios enxergam como desnecessária deve ter um papel preponderante (algum tempo atrás, a palavra do médico era lei...).
Descontados estes fatos - ou exatamente por eles próprios - ficamos às vezes na corda bamba com pacientes com patologias "mais ou menos graves", que podem evoluir tanto pra cá (melhora) quanto pra lá (piora, ou até mesmo um eventual óbito). Interná-los, e sofrer com os dardos e setas (desculpa aí, Hamlet!) de agulhas, soros, papais e mamães extremamente angustiados e nervosos (a norma), ou tratá-los em casa, no carinho do lar, com colinho mais aconchegante da poltrona do papai ou da cama da mamãe, sem rostos estranhos e assustadores, sem gritos de quartos vizinhos, sem visitas de seres assustadoramente brancos e pálidos? 
Às vezes precisa. Às vezes precisam ser arduamente convencidos da necessidade. E se mantidos em casa e as coisas vão mal (nem sempre piores do que iriam no ambiente hospitalar), somos com frequência culpados da "má decisão".
Mas é, por outro lado, tão bom perceber a melhora de pequenos pacientes em casa, que é onde crianças deveriam ficar...

30 de setembro de 2016

Código de Defesa do "O Mundo é Meu"


Pais, ensinem aos seus filhos:

Dar sinal para direita ou esquerda no carro é para os outros (os otários). Você dirige pra você mesmo. Os outros é que adivinhem o que você vai fazer!
Pedestre só tem prioridade nas poucas vezes em que você for um deles. Senão, é passar por cima. No sentido figurado, claro, porque literalmente tem alguma chance de dar encrenca.
Mas também lembre-se: nessas raras vezes em que você for pedestre, exija seus direitos. Caminhe vagarosamente à frente dos carros porque eles são obrigados (é lei!) a parar pra você passar. Nada de dar aquela corridinha em respeito ao tempo dos outros. Agradecer à alguém que parou, nem pensar!
Fila, filho, não foi feita para gente como você, criado a pão de ló. Dê um jeito de achar alguém que conheça lá na frente e, no joão-sem-braço, se imiscua como quem não quer nada (logo você, veja você, que quer tudo...). Não esquecendo de reclamar da lerdeza do funcionário muito bem pago pra te atender nos guichês.
Ao abrir uma porta, entre primeiro. Educado, como dizia sua avó, só se ferra. Não espere os lerdos, os idosos, os que competirão pelo seu espaço.
Não pague. Pegue. Não faça. Copie. Não construa o seu. Destrua o dos outros. 
Ao enfrentar um problema, qualquer que seja, lembre: você é a prioridade. Outros não sofrem, sentem, aguardam, como você. Outros terão o seu tempo, se tempo sobrar. Por isso use bem o seu.


Ah, e reclame do governo. Porque é por isso que esse mundo está assim. Por causa deles. Eles têm dificultado muito nossa vida. Nós, que só queremos o que é de nosso direito.

27 de setembro de 2016

Enigma?



Se você que está me lendo agora é mãe de um pequeno menino, deveria saber o que é esmegma.
Nada a ver com vulcão. Aquilo é magma.
Esmegma é um acúmulo de células mortas mais secreção sebácea presente na região do prepúcio (a pele que recobre a glande, a "cabeça" do pênis).
Pra que serve? Pra nada, ainda que se assuma que deveria ter função lubrificante dessa região.
O esmegma é fonte de alguma ansiedade (e motivo de consulta) quando os pais notam a secreção esbranquiçada ou amarelada que "escapa" da parte visível da glande nos meninos (ou algumas vezes forma pequenos cistos por baixo da pele próximo à junção do corpo peniano com a glande - que se dissolvem espontaneamente com o tempo). Essa secreção pode ter bactérias, normalmente pouco agressivas, mas que podem gerar irritação ou inflamação da região.
O que se faz com isso? A remoção do esmegma se dá apenas com a higiene local (água e sabonete, suficiente durante o banho, desde que esse seja com frequência diária) e é normalmente um indicador da higiene local. 
Há questionamentos de longa data se a presença do esmegma (e da irritação que provoca) pode ser um causador de câncer de pênis. O fato é que o câncer do pênis é quase invariavelmente relacionado à má higiene, o que pode ou não se somar a ação irritante do esmegma.
Meninas tem esmegma? Podem ter também, com quase a mesma frequência. Mas costuma ser mais visível, e associada com "sujeirinha" local (mais facilmente removível com higiene diária).

23 de setembro de 2016

Anos de Azar


A humanidade, ignara, está sempre reverenciando os ídolos errados.
Se o Neymar morresse hoje veríamos alguns milhões de brasileiros chorando pelas ruas, num cortejo que atrapalharia o trânsito por pelo menos dois dias. Não desejo nada de mal ao Neymar, mas ele é tão importante para uma população adulta quanto a Peppa Pig é para as crianças. E felizmente a Peppa Pig não morre, não atrapalha o trânsito.
Se incomoda a idolatria, incomoda mais o espelhamento que os jovens fazem nela. 

E aí sobra, num país como o nosso, a aspiração ao reino do futebol, à música do rebolado, ao estrelato ocasional, e não ao esforço recompensado "apenas" no saber-se útil, o que não rende selfies ao se sair às ruas.

20 de setembro de 2016

Nem Tudo O Que Reluz


O assunto "mascaramento" de infecções é um assunto muito pouco falado, mas que se reveste de uma importância maior em tempos de uso de antibiótico indiscriminado.
Um agravante recente é a carência de pediatras em serviços públicos e de emergência, o que leva a um uso ainda maior de antibióticos por causas erradas - ou pela própria ansiedade e cobrança familiar.
É aquela situação de toda hora: "Ah, é infecção de garganta (o mordomo da história das febres infantis), por isso está aqui o antibiótico...".
Salva muita gente por indicação errada. Gente que term alguma outra infecção iniciando e, pelo uso do antimicrobiano, melhora.
Mas também (muito mais raramente, mas não por isso menos importante) pode induzir a um subtratamento de alguma infecção incipiente mais grave (como uma meningite ou pneumonia em fase inicial, por exemplo), resultando em germe mais resistente, atraso no reconhecimento, maior chance de sequelas.

16 de setembro de 2016

Brrr! Que Magreza!


Eu não recomendaria pra ninguém, mas que é interessante, é (e talvez possa explicar mais sobre diferenças individuais de peso no futuro do que imaginamos hoje):
Quando estamos "pelados" no frio e nos metemos em baixa de uma grossa coberta, muitas vezes não leva mais de 2 minutos para nos sentirmos confortáveis. O calor vem da coberta? Claro que não! Ela serve apenas para isolar o calor produzido pela queima de calorias do nosso próprio corpo!
Pensando nisso, pesquisadores têm realizado estudos comprovando a perda de peso apenas... passando frio.
Num deles, a queima calórica da turma exposta ao frio se equiparou a um período razoável de corrida.
O motivo explicado seria a transformação no organismo de parte da chamada "gordura branca" (depósito de energia, muito devagar na "queima" calórica) em um maior percentual de "gordura marrom" (presente nos recém-nascidos e lactentes, muito mais ativa metabolicamente para conversão dos estoques energéticos em calor, ou seja, cria-se uma gordura mais "volúvel" energeticamente).
O exercício faz isso. Mas o frio também faz. 

Possivelmente no passado, além de todas as diferenças de dieta e de atividade física forçada (busca de alimentos, migração, luta por sobrevivência, etc.) também as defesas "civilizatórias" contra o frio sendo muito escassas, contribuíam para um físico muito mais "enxuto".

13 de setembro de 2016

Só Sei Que Não Sei Não


Pelo olhar dos pais (e, principalmente, das mães) a gente normalmente consegue perceber se vão realizar alguma mudança na vida dos seus filhos.
A questão da retirada da chupeta, por exemplo. Explicam-se os motivos por A + B da necessidade da intervenção (mesmo nos casos em que a criança já é quase um "caso perdido" de estragos na dentição, de respiração bucal, de deformidade facial, etc - sim, a chupeta pode causar tudo isso!), e aí, olha-se para a mãe, e ela faz aquela cara de: "mas já, tadinha(o), acho que não vou ter coragem, não!...", saca?
Não podemos fazer mais do que sermos chatos, de esclarecer razões, de querer ajudar. A partir daí é com os responsáveis pela criança. 
Isso vale para tudo: alimentação, hábitos, aceitação da medicação proposta, etc.
Por isso, ficamos atentos aos olhinhos que dizem muito, tanto dos pais quanto da comunicação visual entre pais e filhotes. Pra sabermos se não estamos ali meio que "perdendo tempo".