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29 de março de 2016

Bico Doce


Veja como nós somos levados no bico facilmente:
Desde o início da comercialização dos adoçantes (há décadas), acreditamos no que parecia ser uma boa idéia: tira-se as calorias de algo que pareça "docinho" - ou seja, engana-se o paladar - e pode se consumir quase tudo sem o risco de engordar ou ter diabete.
Algo parecido com a balela dos probióticos mais atuais, ou mesmo dos iogurtes "soltadores de intestino", e por aí vai...
Não havia grandes estudos que comprovavam que dava certo. Era mais ou menos lógico ("não tem caloria, não engorda", "não é açúcar de verdade, evita o aparecimento de diabete"), queríamos acreditar, e pronto! Pode mandar vir que nós consumiremos!
Então. Alguns pesquisadores chatos não se conformaram com verdades não confirmadas. Até porque foram percebendo que décadas de consumos das "melecas" não viram os índices de diabete e obesidade declinarem. 
E os estudos recentes estão mostrando: provavelmente os adoçantes causam mais mal do que bem. E o consumo regular modifica a flora intestinal, desregula as vias metabólicas dos açúcares facilitando o aparecimento de altos níveis glicêmicos e diabete. Outros estudos já haviam mostrado que o apetite também sofre influência negativa (pra mais) no consumo frequente.
Promessas, portanto, não cumpridas. 
Resta saber se vão ter alguma influência no consumo.

25 de março de 2016

Adaga Poupada


A cada nova época, só se faz confirmar o gênio shakespeariano.
Um dos seus mais célebres monólogos, o do "ser ou não ser" (Hamlet), continua com um convite à morte, pois com o "sono" (a morte) "terminamos com o pesar do coração, e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne".
Sim, a morte deve ser muito efetiva pra isso - ainda que não se possa ter uma certeza absoluta até que se "chegue lá".
Mas nossa época inventou mais uma poderosíssima "arma", com grande eficiência, sem que se necessite recorrer à drasticidade da morte: a tecnologia (e mais especificamente, a internet). 
Se vivo hoje, Shakespeare provavelmente criaria algum monólogo enfatizando a capacidade dos gadgets de nos afastar da dura realidade, dos conflitos, mesmo quando aparentemente vamos de encontro a eles. É interessante (e chega a ser mesmo meio bizarro) que a gente recorra à violência (games, séries e filmes) para esquecer das nossas próprias angústias, que a gente busque as notícias dos problemas dos outros pra esquecer dos nossos próprios problemas. 

Assim 
preenchemos os espaços ociosos das nossas vidas 
com tantas (e "viciantes") coisas que, 
nos raros momentos em que abrimos os olhos 
(quando falta energia ou quando estamos no "modo avião"), 
ao nos darmos conta, 
percebemos que andamos mais casinhas 
do que pensávamos estar andando. 

(Por essa, Shakespeare também não esperava).

Adaga poupada.

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22 de março de 2016

Zinco Frio


E o zinco, doutor, serve exatamente pra que?
Serve exatamente... pra nada!
De vez em sempre, a indústria redescobre novos usos para velhos conhecidos. O zinco é só mais um deles. 
Agora, com o efeito que todos os pais esperam de qualquer coisa nova para seus filhos pequenos: que aumente a imunidade. Imunidade que não apresenta qualquer problema, a não ser o habitual desconhecimento dos seus principais inimigos - conhecimento que vai se fazendo com alguns atchins, cof, cof, uma ou outra febre, uma ou outra diarréia ou vômito. 
O zinco é daqueles chamados micronutrientes que vão meio "de carona" na alimentação normal (carnes e grãos sendo as principais fontes).
E a única coisa de realmente importante que se sabe há tempos é a expoliação do próprio em crianças desnutridas com diarréia crônica (situação clínica muito rara hoje em países minimamente desenvolvidos), caso em que a suplementação de zinco é uma ótima idéia. E só. Decepcionantemente só. 
Passemos aos próximos candidatos.

18 de março de 2016

Momento Político


A menina mostrada na TV, no cangote da mãe gritando:
"Renuncia! Renuncia! Renuncia!"
Bonitinho. Muito bonitinho. Tão jovem, e já participando de um movimento político importante.
Aí, a dúvida:
O que é "renuncia"?
Sei lá! A mãe tá falando, ela quer, eu também quero... "Renuncia!"
E, por falar nisso, mesmo sem saber o que é uma renúncia, quem mesmo nós queremos que renuncie?
"A Dilma, filha, a Dilma!"
O que que ela fez, mãe, para a gente querer que ela "renuncia"?
"Nada, filha, essa mulher nunca faz nada de bom!"
Então, quem não faz alguma coisa de bom tem que "renuncia"?
"É, filha!"
Se eu não fizer alguma coisa de bom, também vou "renuncia"?
"Não, minha filhinha, de você nunca vou renunciar".
Beijo apertado na bochecha. Mas vida que segue:

"Renuncia! Renuncia! Renuncia!", com ânimo renovado.

15 de março de 2016

Sabe Nada!


Sabe qual é o problema?
Quando o paciente já vem com seu diagnóstico de predileção:

"Não é a adenóide?"
"Não, não é a adenóide".
"Mas não tem que fazer um exame pra ver a adenóide?"
"Um exame para ver a adenóide pode ser feito. Mas o problema do seu filho é a respiração nasal prejudicada pelo fato de usar chupeta o tempo todo associado aos resfriados próprios da idade".
"Então pode ser a adenóide mesmo..."
"..."

Seja pelo fato de que se eximem de algumas culpas (como no exemplo acima, em que poderiam estar tentando diminuir o uso da chupeta), seja pela busca da solução mais "mágica" ou mais definitiva ("operou, resolveu", no caso acima).
Em muitos casos o "é, não é" é apenas o que vai interessar. Pior: quando "não é", vai se procurar o médico que diga que "é". E aí, quando isso acontece: "Viu, falei que aquele outro não sabia nada?".


11 de março de 2016

Regimes


Estávamos falando de filhos tirânicos na postagem anterior.
Agora, algo sobre o "regime" dos pais:
Pais hoje estão muito democráticos. É claro que é bom pois, entre outras vantagens, desenvolvem a capacidade de negociação e melhoram a auto-estima dos filhos. 
O busílis é quando a aparente negociação e a democracia tem como resultado o enfraquecimento da autoridade dos pais.
É aí que devemos pender pro lado do autoritarismo.
É a história do:
"Que horas você tem que dormir? Não é às 10?"
"É, mas hoje tem um programa que eu quero ver que... É, mas você vai dormir mais tarde... É, mas o Gean dorme sempre depois da meia-noite... É, mas..."
"Aqui em casa, vai ser às 10 e ponto final!"
A "crise de autoridade" é um fenômeno difuso. Tem complicado a relação dos pais com os filhos, mas também de professores com alunos, de governos com cidadãos, de clientes com servidores, de empregados com patrões, etc. 
Não se pode educar para a servidão. Não nos dias de hoje. Mas escolas, instituições, empresas, cidades e países não andam se todos formos apenas... contestadores. Há que se entender o lugar que cada um deve ocupar. E isso era pra começar em casa.

8 de março de 2016

Tirânicos


Tirânicos costumam brotar dos engraçados, dos petulantes, dos ridículos, dos pretensiosos, dos "bobinhos".
Deixem crescer. Não podem seus ambiciosos galhinhos. Verão o que pode suceder.
Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, é o personagem da vez. Com uma campanha só menos ridícula que suas propostas, de tão bobo parece inofensivo. Melhor não dar a ele algum poder.
Crianças e adolescentes com tendências tirânicas suscitam risinhos de admiração dos seus pais. É novidade toda aquela personalidade numa criatura pequena ou imatura. Além disso, denota inteligência, esperteza, qualidades que os pais admiram. 
Suas respostas, desejos, vontades, manias vão ganhando corpo. Até se transformarem em condições inegociáveis. Já sem sorrisos, sem graça. E, às vezes, sem saída.


Tirânicos não crescem da noite pro dia. Precisam do solo fértil da condescendência de alguns ou de muitos. Nutrem-se do vazio das vontades dos outros para expandir suas próprias. Mas podem e devem ser mantidos no seu lugar devido, acompanhando o crescimento dos outros, respeitando seu espaço.

4 de março de 2016

Odorado


É muito comum que os pais façam seus "diagnósticos" pelo faro.
Por exemplo, o "cheirinho" da garganta da criança pequena. Não significa quase nada, exceto pelo fato da respiração bucal (num mero nariz trancado) impedir a renovação adequada da saliva. Inflamações banais (por alergia, por inflamação viral) também causam o odor mais acentuado. Ou seja, "cheirinho" pode, sim, indicar alguma coisa (ou mesmo uma "disfunção"), mas raras vezes vai contribuir para algum diagnóstico importante.
Outro exemplo: xixi. É bem verdade que se pode fazer alguns diagnósticos pelo aspecto - ou mesmo pelo odor característico - da urina. Mas são fatos raros, e o simples exame básico da urina ao microscópio revelará muito mais que a visão "a olho nu".
Cocô: é uma grandeza o que as mães se preocupam com o cheiro do cocô. O cheiro das fezes tem muito a ver com o que se come (e como se come, ou onde se come e, principalmente a combinação do que se come, o que abre possibilidades infinitas de aspecto das fezes). A lembrança que a gente faz às mamães (caso elas tenham esquecido) é: "cocô fede"!
Como se vê, poucas pistas para doenças baseadas nos cheiros. Ainda mais em tempos de medicina "tecnológica".

1 de março de 2016

Amarelinha




O olhar para a pessoa "amarela" sempre foi um olhar preconceituoso - como de resto para alguém de qualquer outra cor (os verdes, marcianos, e os roxos estando no ápice da lista, visto que estes provavelmente estão mortos).
Até um passado recente (antes das vacinas de hepatite e das melhorias sanitárias) via-se muita gente amarela, com causas de gravidade variável. 
Esse número diminuiu muito. 
É talvez por isso, pela relativa raridade das outras causas que, quando o recém-nascido apresenta uma icterícia, os olhares vêm (e vêem) feios. Ainda mais em casos benignos mais prolongados, como a "icterícia do leite materno". Há uma impressão geral de que se "tenha que fazer alguma coisa", quando na verdade a alteração da cor da pele melhora com o tempo.
É mais uma daquelas coisas em Pediatria que temos (um pouco) que parar de olhar...