Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

30 de maio de 2017

O Nome do Inimigo


Algumas vezes a gente lê no rosto dos pais uma expressão de decepção ao faltar a oficialização do diagnóstico da criança.
Afinal, o que ela(e) tem?
É bom saber o nome do inimigo para combatê-lo melhor, verdade. Ainda mais em tempos de sobrecarga de informação, quando parece que não informar é carência de tudo.
Ocorre que em muitos casos o diagnóstico ainda não pode ser dado de forma concreta (por falta de sinais ou sintomas característicos de uma ou outra doença ou mesmo da confirmação laboratorial/radiológica, ou ainda pelo fato dos sinais não terem "dado as caras" - ainda).
É o caso de se perguntar: o que vale mais? Uma certeza (que depois se revela) errada ou uma dúvida honesta?


Fico sempre com a segunda opção.

26 de maio de 2017

Remed


Vamos imaginar que você marcou uma super-consulta com um super-médico, e que ele levou uma hora dedicando à você toda a atenção. 
Soube muita coisa sobre suas queixas, seus problemas, suas dificuldades.
O examinou com muito cuidado. Pediu exames e analisou o que você já trouxe de outro(s) médico(s).
Discutiu, perguntou, sugeriu, perguntou de novo.
E você sentiu muita confiança. E se abriu, e confiou. 
Ainda assim - nessa suposta super-consulta - o que esse médico realmente sabe sobre você?
Sabe sobre sua preferência musical (ópera ou sertanejo)? Sabe sobre sua relação com quem você vive e trabalha? Sabe sobre sua alimentação nos pormenores? Perguntou sobre o seu sono? Sabe, ainda, se você é alguém que não gosta de tomar remédio? Se você está bem no plano financeiro? Tem idéia de seus maiores medos, angústias, etc?
Provavelmente não. Nada ou quase nada dos acima. Até porque a consulta levaria horas. E seria no mínimo muito cansativa. E faria de você o paciente único do dia. Quanto vale isso, em termos de custo de tal consulta?
Então: esse suposto super-médico sabe ainda muito pouco sobre você. E essa ignorância dele poderá (deverá) interferir na capacidade dele de tratá-lo, ou mesmo de diagnosticar corretamente sua condição, seus problemas. 
Admitindo que raramente temos acesso (ou capacidade econômica, ou mesmo tempo)  à essa super-consulta, o que temos é menos (na maioria das vezes muito menos). E com menos, dá pra fazer... menos por você. 
É por isso que tratamentos médicos podem ser tão frustrantes nos seus resultados. Não há mágica. Não se pode tratar (efetivamente) o que se desconhece. Por melhor que seja o médico. Por menores que sejam seus problemas. 


Ou ele cria uma maior intimidade com você (anos conhecendo você, disposição dele, acesso à ele, confiança sua, etc.) ou o que você terá não será um tratamento médico de verdade. Será um remendo. 

23 de maio de 2017

Quem É Que Manda


Chega um momento na vida de qualquer pai e mãe - ou de pelo menos um dos dois - que vão ter que mostrar ao(s) filho(s) "quem é que manda". 
É vital. É necessário para que qualquer lar funcione. E, como já escrevemos aqui, não será a criança esse "quem", sob pena de uma total desintegração nas relações domésticas.
O que tem sido difícil para os pais atuais - a geração mais "banana" da história das famílias - perceberem é que quanto mais eles demoram para atuar o poder (ou seja, mandar efetivamente, dar as ordens, definir o que pode, o que não pode, e o que vai ter negociação), mais difícil será para "virar o jogo" (ou seja, começar realmente a mandar, a se fazer obedecer) no futuro.
"O momento é já" parece slogan de campanha política. Mas é algo no qual insistimos com os pais desde que seus filhos ainda cabem no berço. 

19 de maio de 2017

Coli-Cids (Ou Algo Parecido)


Continuando o assunto da última postagem:

Você que comprou o Coli Cids (ou algo parecido) para a "cólica" (Ah, essa cólica!) do seu pequeno rebento notou o que diz na caixa - e também na bula? Ou já foi dando assim, sem mais nem menos, como banana na serra (com todo respeito à senhora)?
Está escrito em algum lugar: "remédio para a cólica" (do recém-nascido, ou de quem quer que seja)? 
Não, está escrito algo como "ajuda a regularizar a flora blá, blá, blá"...
Por que?
Porque a indústria - aquela fabriquinha de esquina chamada Aché - não tem "envergadura moral" para se comprometer (de novo, nem com você, nem com seu bebê, mas principalmente nem com os advogados de associações profissionais como as Sociedades de Pediatria - pelo menos até que "molhem a mão" das pessoas certas dos lugares certos). 
E por que?
Porque, claro, não funciona. Quer dizer, às vezes até funciona. Porque às vezes quase tudo funciona para alguma coisa. Essa é a base conhecida para o uso de outros placebos.
E por que é caro?
Dentre outros motivos, porque a indústria sabe que o caro é mais efetivo como placebo do que o barato. 
E por que, mesmo, que não funciona?
Além dos motivos "bacteriológicos" básicos como os mencionados na postagem anterior, porque ao dar "remédio para a cólica" você precisa primeiro reconhecer o que é exatamente uma "cólica" do recém-nascido (algo mais mal entendido do que brasileiro em Nova Iorque). Não se tratando em 99,9% dos casos de "dor que a criança tem quando chora", não vai resolver mesmo (a não ser nos casos em que resolve "placebamente").
(Só mais dois detalhes "bacteriológicos":


Uma coisa é o lactobacilo "fabricado na sua própria barriguinha" - flora autóctone. Outra coisa é um lactobacilo vindo "de não se sabe onde". Funcionam de forma bem diferente. E aí, o segundo detalhe: você sabe como é "fabricado" o lactobacilo do Coli Cids, ou algo parecido? Não? Então não vou nem te contar, senão seu bebê vai perder o apetite! Só uma dica: estamos falando de bactéria do intestino, não é? Pense você...)

16 de maio de 2017

Koli Kids (Ou Algo Parecido)


Tenho vontade de chorar (mas me seguro) quando ouço falar de "medicamentos" como o recente Koli Kids (ou algo parecido).
A evolução do conhecimento sobre a flora intestinal nos últimos anos mostrou algo surpreendente: os lactobacilos são uma "minoria esmagada" (em contraste com a maioria esmagadora de outras espécies de bactérias). Significa que, independente da ingestão ou não de leites e derivados, acham-se não somente em quantidade ínfima no intestino como também em algumas áreas restritas dele. 
Não que não tenham função. Têm. Inclusive alguma importância (não se sabe quanta!) imunitária. Ou seja, sua presença como "bactéria do bem" também deve ajudar a desenvolver o sistema imunológico (mas é uma ajuda, não toda uma diferença como sempre se quis - e ainda se quer - crer).
Daí pra frente, é tudo (em 2017, que é quando vos escrevo) especulação.
Dentre outras barbaridades não levadas em conta quando "se toma" lactobacilo na forma de "remédio" é que ele se esvai pelo trato digestivo como seu dinheiro pelo ralo quando compra remédios sem efeito comprovado pela ciência. Essas bactérias não "fazem casinha" ali. São rapidamente eliminadas pelo cocô. A flora autóctone (ou seja, as bactérias que habitam sempre o intestino, de maneira mais ou menos constante) são, além de uma "assinatura individual" do organismo, relativamente insensíveis a mudanças no prazo longo (insensíveis à ingestão, não ao uso de antibióticos, radiação, imunossupressão, etc.).


Voltaremos ao assunto na próxima postagem (isso, claro, se a Aché não me achar até lá!).

12 de maio de 2017

Defenda-se das Defesas


Friozinho chegando, e a gente se defendendo como pode.
Sempre é prudente lembrar, no entanto, uma regra de ouro na saúde:
Toda mudança filogenética (ou, seja, mudança feita na história recente da humanidade) tem implicações desconhecidas na nossa saúde. 
Explicando de maneira prática: 
Se o homem das cavernas (em qualquer era na qual se queira comparar) comia carne de animais crua (ou, mais recentemente, "churrasqueada") é provável que o nosso organismo de homem moderno lide bem com a capacidade de digerir carne dessa forma, pois os milênios de "prática digestiva" prepararam a raça humana para isso.
Inversamente, no frio, seguimos duas práticas às quais nosso organismo não se preparou para que acontecessem (e por isso, temos poucas defesas criadas nesse pouco tempo de humanidade para lidar com isso):
A primeira é a do banho quente (ou mais propriamente "pelando"!). Nossas peles  são agredidas no processo. E lesam. Acrescida à lesão provocada pelo próprio frio, temos no inverno os problemas característicos de dermatites rebeldes.
A segunda é a da ingestão de líquidos quentes (ou, de novo, "pelando"). Nenhum homem pré-histórico tomou líquidos mais do que "morninhos". Provavelmente nosso aparelho digestivo não está adaptado para lidar com temperaturas muito altas, o que teoricamente poderia acontecer somente daqui a alguns milênios mais. Consequência: sintomas digestivos vários, mas principalmente o câncer, em pessoas suscetíveis.
O recado, com sempre, é a moderação no uso disso tudo.

9 de maio de 2017

O Último Homem


Jogar a idade da aposentadoria "para o infinito" tem como uma das consequências o criar a impressão - quase real - de que a data do "descanso" nunca vai chegar.
E isso cria o desapego. Pra que vou correr tanto, se nunca vejo a linha de chegada? Melhor desistir bem antes do fim. Ou trocar de corrida.
Outro reflexo é na escolha da profissão, algo já tão complicado para o jovem.
Até pouco tempo, o erro tinha - mal ou bem - um fim (e claro que não era a situação ideal, no caso de erro): a aposentadoria, onde se poderia fazer, enfim, algo que se gostasse (ou mesmo, ficar de papo pro ar). 
Agora não mais. Pelo menos não mais como aposentado. Se morrerá (descanso eterno) com o desgosto do erro antes do prazo (descanso remunerado). Ou quase isto, visto que alguns resistirão até o fim. Ou, quem sabe, veremos guinadas completas nas profissões com muito mais frequencia do que hoje, e isso pode ser até bom.

Não adianta. Está ocorrendo no mundo inteiro. É a maldita "tendência" no gelado mundo globalizado, onde o ser humano vale menos do que pesa em termos de capacidade laboral. Vai ser assim. Teremos, de novo, que nos adaptar.

5 de maio de 2017

Memórias de Um Whatsapp Médico


Para quem começa hoje como médico, o título acima no final de carreira baterá "O Tempo e o Vento" fácil, fácil.
O aplicativo, como já disse aqui, veio muito mais para o bem que para o mal.
São muitas as situações de pequenos problemas, dificuldades, esquecimentos, e mesmo certas revisões em que o "zap" quebra um galhão.
Mas daí, como sempre, tem um ou outro que abusa.
Tem paciente que eu não vi mais desde a invenção do (meu, pelo menos) whats! Só no smart!
Tem paciente que manda histórico com Rx, tomografia, opinião do colega, laudo cirúrgico e pergunta: "o que é que o Sr. acha?". E fica brabo se eu não respondo!
Tem paciente (mais "pacienta", a igualdade de gêneros parece que não vai chegar aí) carente. Tem que dar uma perguntada diária, nem que seja se hoje chove.
Dia desses, posplantonado (aquele estado em que você tenta se recuperar do plantão da noite anterior, mas ainda está meio zonzo), abro uma foto do whats e está lá: uma vagina vermelha! Não era uma "brincadeira porn", comum nessas mídias. Era de uma pequena paciente (bebê). Só depois é que veio a pergunta: "o que é isso?". Resisti a tentação de arriscar: "uma... vagina?" (a pergunta era sobre a lesão de pele).
Fiquei pensando... Ginecologista passa por isso?

2 de maio de 2017

Não Importa o Que Nos Digam


Não há remédio para a morte.
Mas tem muita gente que acha que poderá evitá-la.
Também não há remédio que faça a imunidade melhorar (não importa o que digam a indústria farmacêutica e seus muitos paus-mandados).
Mas muita gente acha que tem.
Nem há remédio para curar gripes e resfriados.
Há, no entanto, muita, mas muita gente, que toma remédio na mais absoluta crença de que é ele que faz a diferença - e não o tempo.
Não há remédio que atenue de maneira eficaz os efeitos do tempo.
Mas é o ramo mais lucrativo da indústria cosmético-farmacêutica.
A boa notícia é que há remédios para a ignorância, para o desconhecimento, e até para a descrença.

Mas são pílulas difíceis de engolir. Por isso muita gente as evita.