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28 de julho de 2017

Haja Pança!


Fico expressionado (já falei aqui que "expressionado" é um impressionado mais evidente, pra fora, "ex"!) com o número de crianças que nos consultam com dores na barriga para as quais se pede tudo quanto é tipo de exame (hormônio tiroidiano, por exemplo, para que, mesmo?) mas das mesmas quais se esquece de fazer um histórico detalhado da alimentação.
E aí, muitas (muitíssimas) das causas de dor passam batidas.
Por exemplo:

Dia desses, uma determinada mãe (nem tentem adivinhar quem é, não revelo nem ao padre!) contou sobre a dor do seu pequeno filho, de cerca de 3 anos. Sem alterações do hábito intestinal (intestino preso, por exemplo), sem possibilidade de verminose, sem outra alteração que não fosse sua "irresponsável" dieta:
  • cerca de 1 litro de leite por dia (mais que a dieta de alguns pequenos bezerros!)
  • um pacote quase diário de "pipoteca" (acho maravilhoso esse nome, me lembra as adoradas bibliotecas, mas é uma combinação de farinha de milho com corante)
  • suco de frutas (na maioria naturais, mas grande no volume diário) e...
... quase mais nada! Mas com o detalhe de uso frequente de antibióticos (a maioria deles desnecessários, o que contribui para a mudança da flora intestinal, além de outras agressões).
Haja barriguinha!
Já veio com o popular ultrassom. Com o laudo sério, mas que devia trazer escrito:
Um enorme balão de gases!
A fermentação de todo esse carboidrato, mais a frutose dos sucos, mais a alteração provocada pelos antibióticos não precisava de muito exame para ser evidenciada em dor e "pança"!
Se fosse uma adulta do sexo feminino teria mais um exame para ser pedido:
Teste de gravidez!

25 de julho de 2017

Quem Tem Medo da Desidratação Levanta a Mão


Vai acontecendo cada vez menos com as mães mais novas, mas ainda hoje quando crianças pequenas apresentam diarréia, uma palavra assustadora que vem à mente: desidratação.
Ainda é uma realidade em áreas muito desprovidas de recursos de todo tipo, mas para regiões com um nível de vida mais "decente" a desidratação* virou fato muito raro, notadamente nos últimos dez a quinze anos.
Por dois grandes motivos:
1) a desidratação era muito vinculada à desnutrição, principalmente à desnutrição protéica (proteínas "seguram água no organismo, e vice-versa). Hoje não se vê mais dietas tão deficientes em proteína nas regiões menos pobres do planeta
2) a vacina do rotavírus tem aparentemente funcionado muito bem, e era esse vírus um grande causador de diarréias que levavam à desidratação 
Há outros fatores como a melhoria dos níveis de educação, a procura mais imediata por cuidados médicos, etc.
Mas tenho falado para os pais: desidratação virou manchete de jornal. Pelo menos jornal médico.

* Desidratação é o termo médico para a perda de água (com sais, como o sódio e o potássio) numa velocidade maior do que o organismo consegue repor, gerando sintomas como grande prostração, diminuição do turgor da pele, alterações cardíacas, etc. Não deve ser confundido com desnutrição, que é o resultado da insuficiente quantidade de nutrientes (como as proteínas) no organismo.

21 de julho de 2017

Inócuos, Pelo Medo


Os pais deixam de usar uma medicação ainda muito útil no tratamento dos problemas respiratórios pelo medo dos efeitos colaterais. A medicação, você já deve estar adivinhando, é o broncodilatador (fenoterol, nome comercial Berotec, ou o salbutamol, nome comercial Aerolin). 
E aí, fazem tratamentos inócuos, pelo medo. Desconsiderando o fato de que "quando não se morre pelo remédio, pode se morrer pela doença". Claro que isso é um mote infeliz (sei lá se existe, acho que criei agora!), querendo dizer que às vezes temos que arriscar algum efeito colateral para buscar a melhora. Isso é muito verdade no caso da asma mais severa, por exemplo.
O "truque" ao se fazer a nebulização* com esse tipo de remédio é o seguinte:
Morre de medo? Injustificado, mas tudo bem, se foi prescrito, por exemplo, 4 gotas em 2 ml de soro fisiológico, faz na primeira vez 1 gota (desde que o caso não seja muito grave!) nos mesmos 2 ml. Foi tudo bem? Aumenta para 2 gotas (sempre no mesmo volume de soro). Tudo bem ainda? Três, agora. Até chegar às quatro prescritas. Ah, mas aí deu agitação, ou aumento dos batimentos cardíacos... Volta para as três gotas, e aí fica daí em diante!
Simples! Não tem como dar errado.
O que não pode é ficar medicando falta de ar (ou secreção brônquica) com soro fisiológico, só.



*Só lembrando que hoje em dia, na maioria dos casos (mesmo em bebês), é mais interessante e prático fazer medicação inalada com os aerossóis ("bombinhas") do que com os "antigos" inaladores (o duro é - de novo - convencer certas famílias de que "aquilo não é perigoso"!)

18 de julho de 2017

"Meu Filho Passou Mal" (Uma História Real)


Veja essa história "quase real" que acontece de vez em quando:

"Doutor, o Paulinho passou mal nessa semana..."
"O que aconteceu?"
"Ele estava no ônibus da escola, e quando desceu, caiu. Foi achado caído pela avó."
"Desmaiou?"
"Não sei."
"Como, não sabe? Ele perdeu consciência? Não respondia às pessoas?".
"Não sei. Foi a vó que viu."
"Ela não contou?".
"Se ele perdeu consciência? Não...".
"Seria bem importante perguntar isso pra ela. E você, Paulinho, o que é que você sentiu? Conta pra mim."
"Não sei."
"Não sabe? Mas você não "passou mal"? O que foi que você sentiu nessa hora que se sentiu mal?".
"Não sei."
"Foi tontura? Dor de cabeça? Dor no peito?"
"Dor de cabeça..."
"Só?"
"Só!"
"E daí a dor de cabeça fez você cair?"
"Não sei".
"Não sabe? Mas, Paulinho, a gente quando tem dor de cabeça não cai! Você caiu por causa da dor de cabeça?".
"Não sei. Acho que foi."
"Mas você lembra como caiu?".
"Não."
"E você lembra se tinha alguém por perto?".
"Tinha."
"E eles ajudaram você?"
"Não. Só perguntaram por que é que eu tinha caído..."
"E você disse o que?.."
"Não lembro".
"Não lembra por que tinha caído, ou não lembra o que disse pra eles?"
"Por que tinha caído..."
"E quando a vó chegou, você estava bom, já?"
"Não".
"Não? O que é que você estava sentindo?"
"Eu tava passando mal!"
...

Percebe a encrenca? Esse tipo de história, por vezes quase interminável, com informações-chave ausentes ou desencontradas, ao chegar ao médico, geram mais do que esclarecimentos, confusão. Se a criança for a 10 médicos, vai investigar com exames que vão do eletroencefalograma ao raio X de seios da face, vai ser encaminhada do cardiologista ao psicólogo. Se se insiste no interrogatório, gera ansiedade nos pais, mas principalmente na própria criança, que a partir de um certo momento começa a responder qualquer coisa, pra se livrar do incômodo de ser interrogada! 
Imagina tudo isso com consulta rápida, então!
É o tipo do caso em que se tem quase que esperar por uma próxima vez para se criar qualquer proposta de investigação ou tratamento. Ou, principalmente, torcer pra que nada mais ocorra.



(E o que é pior: às vezes é uma historinha só pra conseguir um atestado!)

14 de julho de 2017

Já Pra Cama!


Pais perguntam tudo pra gente, pediatras.
E às vezes perguntam coisas para as quais não temos resposta, claro.
Uma das perguntas que me dão mais soninho é:
"Onde o bebê deve dormir?"
Responder "na cama" não satisfaz esses pais tão insatisfeitos. Querem mais. No nosso quarto? No dele? Pode ser com a gente? E etc.
Inicialmente devemos lembrar que a sociedade muda sempre. Se estamos lidando com um casal "convencional" (pai, mãe, dormindo no mesmo quarto), a orientação pode ser uma bem diferente da orientação para a mãe solteira, para o casal com (ainda) vários filhos, para uma criança para a qual um quarto "dela" é um luxo impensável, etc. 
Além disso, desaconselharia totalmente uma coabitação de quarto com pai ou mãe fumante (independente do fato de fumarem fora desse quarto, pela eliminação de poluentes no ar expirado desses pais). 
A Academia Americana de Pediatria desaconselha firmemente o compartilhamento da cama do bebê com os seus pais (pelo potencial perigo de os pais sufocarem seus filhos acidentalmente), ainda que esse evento seja muito raro. No Brasil essa prática ainda é muito adotada (até porque somos raça muito mais aconchegante do que a turma de origem anglo-saxônica). 
Já a "firmeza" de manter a criança no seu quarto desde o momento que nasce é para poucos (e, naturalmente, firmes!). Costuma ser bom, mas é difícil que possa ser algum dia encarada como uma norma.
Complexo, mais do que pode parecer.
"Na cama" continua sendo, talvez, a melhor resposta.

11 de julho de 2017

Assombrados


Você repara no filho dos outros como nos seus?
Percebe, então, esse olhar característico da criança de pouco menos de um ano de idade para tudo que a cerca?
É (acho) fascinante observar a observadora: ela quase engole o mundo com os olhos*. É uma avidez visual sem comparação com qualquer outra idade.
(Diria somente comparável com a nossa descoberta de alguma maravilha natural ou feita pelo homem, na primeira vez que se viu - mesmo velho - ou com a visão, por exemplo, de uma mulher nua pelo adolescente - também é uma visão "gulosa", mas reforçada por outras gulas, não a visão despretensiosa, apaixonada, de sede de conhecimento, de entendimento de como as coisas funcionam nesse mundico).
E aí, você que está observando a observadora, percebe subitamente que seus olhares se entrecruzam. Susto! Você, porque flagrando aqueles momentos de êxtase visual. Dela, porque achou mais uma "coisa" muito interessante (ou exótica, ou monstruosa, ou...), e que, além de tudo faz contato!
Djã!...

*É justamente esse olhar que caracteriza a figurinha-símbolo do nosso caro blog!

7 de julho de 2017

Does Love Heal?


O Amor Cura?
(pus assim, em inglês, para dar cara de filme drama hollywoodiano...)
Todo mundo já está meio careca de saber que sim, o amor pode ajudar a curar. Ou se não cura exatamente (pois não há cura para tudo), pelo menos ameniza os sofrimentos de quem adoece. Também algo bem sabido.
Então pra que repetir isso?
Pra lembrar que a dose de cada ingrediente na cura de pequenos males, como os que afligem crianças com uma frequência grande, pode ser "mais amor e menos agressão". Funciona, e funciona muito bem.
Me explico: 
Uma determinada criança com uma pneumonia leve pode e deve se beneficiar mais com um tratamento antibiótico caseiro (desde que a coisinha tome o remédio, bem entendido!) e com o conforto e o carinho do lar e dos seus parentes (amor, em suma) do que com uma internação, onde será agredida desde a entrada (com a perda das referências domiciliares, como mínimo fator de agressão). Isso quando não tomará injeções, terá soro na veia, e etc. (só lembrando que falamos de casos leves, onde a troca pode ser feita sem grandes riscos de complicação). 


Por outro lado, em ambientes conturbados, problemáticos, onde rola pouco amor, a própria internação pode ser um fator reversor, onde se dará mais carinho e menos agressões (agressões muitas delas involuntárias, como a falta do que comer ou onde reposar adequadamente, como no caso de algumas famílias muito pobres). Víamos muito isso no passado. Tem melhorado.

4 de julho de 2017

Carentes


Você já percebeu que faça o que fizer (ou deixe de fazer), tenha que idade tiver, pertença a um grupo ou outro (por exemplo, o grupo dos ativos fisicamente versus os "couch potatos") você ultimamente tem um motivo para tomar suplementos vitamínicos, não-vitamínicos, alimentos especiais, sem isso ou com (muito d') aquilo, remédios preventivos, etc?
Ninguém é mais "normal", livre, independente para comer comida, acordar, dormir, fazer uma atividadezinha física semanal, tomar uma biritinha ou outra de vez em quando e ponto final.
Não, você é um carente. De vitamina B6. De zinco. De lactase (a enzima que digere a lactose). De ferro, de cálcio, de fibras solúveis. De manganês (ou magnésio? um dos dois!). 
E até recentemente a humanidade não sabia disso. Provavelmente por isso viviam tão pouco. Nada a ver com novos conhecimentos sobre bacteriologia e imunologia, com melhoria de saneamento básico, com acesso à médicos e alimentos, etc. Provavelmente foi o Ômega 3. 
Precisamos todos acreditar em alguma coisa.


Mas é incrível quanto uma informação pseudo-científica convença as pessoas de que realmente precisem de um plus, de algo a mais.